Fanfic: x Amarga Traição (Aya)

- Por acaso ela é alguma bruxa histérica? - perguntou o outro homem com sarcasmo.

- Nada disso! Pelo contrário, tem o corpo mais bem-feito que já vi. Mas ai do pobre diabo que tentar tocá-la! Annie tem pavor dos homens. Não quer vê-los nem pintados! Sério! Deve ser algum trauma de adolescência.

- Você quer dizer que por causa de uma paixão que não deu certo ela agora sente ódio mortal dos homens? Pelo amor de Deus, o que é isto, Pedro, já estamos quase no século XXI!

- Bem, algumas pessoas levam tudo a sério demais! Estou lhe avisando só para facilitar as coisas! Ela é a melhor secretária que já tive, dá um duro danado e é muito eficiente.

- Até pode ser. Mas se precisa ser tratada com tantos cuidados, acho que está no lugar errado.

Nos últimos meses tinha havido mudanças no jornal e Annie ficou apavorada com a possibilidade de ser despedida. Não podia nem pensar nisso. Dependia muito do emprego, pois, além de ganhar bem, seu chefe era muito flexível com relação ao horário que ela fazia. Porém Pedro estava indo embora e agora ela trabalharia para um homem que já detestava antes mesmo de conhecer.

O intercomunicador tocou e ela atendeu com frieza.

- Annie, você poderia vir aqui um minuto? - pediu Pedro. - Há alguém que eu gostaria que conhecesse.

Ela se levantou, pegando o bloco de anotações e o lápis, como costumava fazer. De pequena estatura, Annie tinha longos cabelos loiros, um rosto oval e grandes olhos azuis. Sua pele era clara e macia, e as feições, muito delicadas. Só se percebia a amargura em seu olhar quando algum homem tentava ofendê-la sexualmente.

Com vinte e três anos, era dona de uma tranqüilidade comum a mulheres dez anos mais velhas do que ela. "Fria e insensível" eram dois dos insultos que homens frustrados já haviam lhe dirigido, mas, ao contrário de ofender, eles eram até lisonjeiros. No tocante aos homens, suas emoções estavam enterradas, deixando transparecer, às vezes, um sentimento de profundo rancor. Apesar disso, Pedro admirava sua secretária. Fria e calma quando surgia uma emergência, era a pessoa ideal para enfrentá-la. Todos os dias trabalhava das oito às dezoito horas e, se necessário, ficava durante o horário de almoço ou até depois do expediente. Em compensação, quando tinha algum problema, Pedro mostrava-se sempre compreensivo.

As colegas de Annie brincavam dizendo que ela vivia só para o jornal, sua verdadeira família.

Ao abrir a porta, seu chefe lhe sorriu. Tinha cerca de cinqüenta anos, muita energia e trabalhava em jornais desde que havia se formado. Ele e Annie sempre se deram bem, ou pelo menos era o que pensava até ouvi-lo falar tão abertamente sobre ela. Bem casado, Pedro nunca representou ameaça à sua paz de espírito.

Ela lhe retribuiu o sorriso, mas seus olhos continuaram claros e frios como vidro.

O outro homem permaneceu de costas para ela, parecendo não notar sua presença. Tinha os cabelos escuros e espessos, cortados na altura do colarinho da camisa.

- Alfonso, apresento-lhe sua nova secretária, Annie. Annie... Alfonso Herrera.

- Annie? - Ele se virou, mostrando-se assustado. Embora aterrorizada, Annie tentou não demonstrar o que sentia. Deixe que ele pense o que quiser! Mas um rápido olhar foi suficiente para perceber que ele não havia mudado em nada. Aquele rosto de traços másculos continuava ainda bastante perturbador. A pele dele estava bronzeada, os cabelos um pouco mais longos e a roupa mais formal.