Fanfic: derrepente pai [aya]

O automóvel parou e o motorista buzinou. Ananhi  conteve a respiração. Percebeu que Alfonso a fitou, mas procurou ignorá-lo. Aquele lugar maravilhoso fora o cenário de todos os seus pesadelos.
 “Ana Paula”, ela disse a si mesma. “Pense apenas em Aninha”
 O carro parou. O motorista saiu e apressou-se em ajudá-la a descer. Uma porta-balcão azul se abriu para lhe dar passagem. Anahí retesou o maxilar e moveu as pernas trêmulas. Uma cigarra cantou preguiçosamente, escondida em alguma árvore.
 Nenhum outro som. Nada. Sem pensar, ela buscou a mão forte de Alfonso enquanto entravam na penumbra fresca do interior da casa. Tudo era tão familiar! Os belos quadros nas paredes, a elegante combinação de móveis escuros e polidos com ornamentos delicados, os vasos com flores...
 E lá estava a governanta de cara fechada, parada alguns metros adiante.
 Nenhuma criança veio saudá-la.Anahi  fitou Alfonso , os olhos ansiosos. Ele se adiantou e conversou com a governanta em tom baixo. Em seguida, voltou-se e segurou a esposa pelo braço.
 __ Por aqui __ disse, o rosto tenso, fazendo com que ela o seguisse pela porta em forma de arco que levava a uma das várias escadas de pedra.
 A mansão fora construída em vários níveis. Na parte de baixo, ficava a área de serviços: cozinha, garagem e acomodação dos empregados. Ali também se situavam as salas de visitas, onde a família se divertia. O piso seguinte era destinado inteiramente ao império Herrera  com escritórios equipados com o que havia de mais moderno. Um andar acima ficavam as suítes, sob o piso que abrigava a área mais informal, com piscinas, televisões e o terraço com jardim que levava à pequena enseada.
 Enquanto caminhava, Anahí  sentia as pernas enfraquecidas. Revivia lembranças que preferiria manter enterradas em algum canto secreto da mente. Era as lembranças de uma linda suíte, de uma enorme cama com dossel e de um homem nu e bronzeado deitado sobre os lençóis brancos imaculados. Um homem que adorava ficar ali, observando-a caminhar pelo quarto, que adorava vê-la pentear os cabelos, passar creme na pele e...
 __ Anahi? __ Ela parara. Não percebera isso até ouvir o próprio nome. Alfonso a fitava. __ Por aqui.
 Ela o seguiu. Em silêncio, chegaram ao nível das suítes. Alfonso  parou diante de uma delas, como se estivesse tomado fôlego para o que estava por vir. Anahi também conteve a respiração.
 A porta se abriu e ela entrou. Ficou completamente paralisada ao ver a cena.
 Diante de uma das portas deslizantes de vidro temperado, havia um homem. Os cabelos estavam mais grisalhos do que ela conseguia se lembrar, o porte imperial reduzido a nada. Aconchegada a seu peito, uma garotinha com fralda e um vestidinho de algodão branco. A cabecinha loura acomodava-se no ombro do homem, e os bracinhos rodeavam-lhe o pescoço.
 Anahí  gelou. Sua filha nos braços de seu pior inimigo!
 Franco a fitou e ela entendeu a mensagem contida naquele olhar entristecido. Durante a doença, Franco Herrera encarara a morte. Imaginara como seria morrer sem abraçar a netinha. Ele a queria, nem que para isso fosse necessário seqüestrá-la.
 __ Não!
 Ela se aproximou, quase cambaleante, e viu, horrorizada, as mãos encarquilhadas envolverem a sua filha, num ato de posse.
 __ A menina só ficou tranqüila em meu colo! __ ele exclamou, triunfante. __ Veja como está agarrada a mim, veja!
 __ Não!
 Anahí  ofegou, negando ao homem o direito de ter algum sentimento por Aninha, pela neta à qual negara o direito de conhecer o amor do próprio pai.
 Pressentindo a proximidade da mãe, a garotinha agitou-se no colo do avô e ergueu a cabecinha sonolenta. Fitou a mãe com os olhinhos luminosos, suspirou e simplesmente estendeu os braços.
 Anahi inclinou-se, tirou a filha do colo de Franco e abraçou-a ternamente. Lia enrodilhou-se como um feto no colo da mãe, aconchegando-se em seu peito, os bracinhos entre os seios de Anahi.
 Ninguém se moveu. Ninguém falou. Ninguém nem mesmo chorou. Anahi simplesmente fechou os olhos. A emoção que sentia era tão profunda que nem transparecia no rosto pálido.