Fanfic: Memories - Primeira Temporada

Shido ainda me segurava, parecia já não ter vontade de bater em Aoi. Vira que era alguém com motivos e intenções nobres, olhou para o lado sentindo uma estranha sensação nascer em seu coração. Estava bravo por ele ter mentido, tinha respeito por ele, por saber tudo o que Aoi fazia por mim. Porém, ao mesmo tempo sentira algo realmente estranho. Pensava que nunca chegaria a ser alguém tão nobre como ele, bufou e logo depois começou a querer bater em si mesmo. Não entendia o que era a sensação estranha que surgia. Viu que eu já não me relutava para ir atrás de Aoi e Shiki que já deveriam estar em um luxuoso carro. Olhou para mim estranhando o meu comportamento.
- Satsuki...? Você está bem? – perguntava já preocupado.
- Ele se foi. De novo. – falei olhando para o chão, eu sabia que não adiantava nada, Aoi nunca iria me obedecer.
Shido olhou-me assustado, eu estava pálida.
- Vamos já para a enfermaria, você está mais pálida que um vampiro. – falava.
- Não. – respondi brava.
- Por que está tão brava?
Eu balancei a cabeça.
- Por que eu tenho que obedecer vocês...?! “Fique aqui”, “eu te protejo”... Vocês só dizem isso! Por acaso sou uma princesa em uma masmorra?! – falei empurrando Shido.
- Satsuki...? – ele parecia assustado com a minha reação.
- Como sabem que eu tenho tanto valor? Por que tantos sacrifícios?! São tão idiotas assim?!
Ele apenas me encarou, deu uma risada.
- Você reclama por que não gosta de ver todos se sacrificando por você, mas para nós isso não é um sacrifício em si. Iromi se sacrificou por você, por sua vida. Isso não mostra que ela realmente te amava?
- Se eu fosse embora, então vocês parariam de ser tão idiotas? – perguntei.
- Não tem o direito de fazer isso, você está aqui por que precisa de nós. E nós precisamos de você de uma maneira extrema. Nós dependemos de seu sorriso, é tão difícil entender?
- Não gosto que as pessoas se sacrifiquem por mim, já não basta eu estar aqui?
Shido fez que não com a cabeça.
- Shiki quis te usar, mas duvido que ele a magoaria. São irmãos. Se não fosse você eu seria uma pessoa bem mais rancorosa, a Ren sempre foi sozinha e você nunca a julgou... Você não sabe como uma simples palavra pode ser o fio de esperança de uma pessoa, não é verdade? E também tem o Aoi. Ele fez o que fez por que depende que você esteja de pé, encare a realidade. Você é a irmã mais nova, a amiga que mudou nossas vidas com só uma palavra... É nossa “estrela”. Nossa pequena flor que lutamos com tanto empenho para proteger. Precisamos de você aqui.
Eu o encarei, não sabia que eu tinha feito tanto por eles. Mas é claro, eu nunca havia desistido de nenhum deles. Mesmo que as palavras de Shido tivessem sido de tamanha grandeza, elas ecoaram em minha mente e em questão de segundos e caí ali mesmo, tudo ficara preto. Sentia-me fraca, apenas ouvi a voz de Shido, eu havia desmaiado. Eram tantas coisas que haviam acontecido, tantas emoções misturadas. Abri levemente os olhos ainda me sentindo fraca, me vi em um lugar escuro, olhei á minha volta e não pude ver nada além de um espelho. Levantei-me e fui até ele, encarei meu reflexo perguntando á mim mesma: “Isso é um sonho?”. Balancei minha cabeça negativamente como se eu quisesse acordar.
- Você está sonhando. – uma voz falava, eu encarei o chão chocada ao ouvir a voz doce, sem coragem para virar, olhei-me no espelho, uma mulher dava um sorriso para mim, estava atrás de mim e encostava a mão sobre meu ombro. Fiquei em silêncio por algum tempo, uma lágrima caíra de meu rosto, me virei a encarando.
- Mãe...?
Ele curvou a cabeça, eu a abracei fortemente já chorando de tanta saudade, meu coração estava pesado.
- Filha. Está tudo bem, você não está sozinha... – falava.
- Por que todas as pessoas que são importantes para mim Katsui têm que roubar...?
- Não pense em Katsui por que é isso que ele quer. Ele deseja que você pense que tudo está acabado. – falava colocando as mãos em meu rosto e me encarando.
- O que eu devo fazer...?
Ela sorriu.
- Deixe o destino seguir seu rumo, assim como a dor... A tristeza tem um fim. Nunca se esqueça que aquele que quer a destruição é destruído por seus próprios desejos. A fraqueza não é ser derrotado, mas sim fazer da derrota uma vitória.
- Como faço isso...? – perguntei.
- A vida é constituída tanto por vitórias quanto por cicatrizes, não importa o quanto não gostem de alguém que é visto como perdedor. Ele sempre sorri. Por que sabe tirar da dor, a força. Do ódio, a compaixão. Ele escolheu ser assim... Só o que pode fazer é escolher. Faça o que o seu coração realmente quer. Agora acorde... Você já sabe o que fazer.
Tudo ficara preto novamente, abri meus olhos e finalmente acordando vi que estava na enfermaria, não vi nenhum sinal de Shido.
- O que meu coração quer...? – perguntei a mim mesma, balancei minha cabeça como se eu quisesse clarear minhas idéias. Levantei-me e corri saindo dali tentando pensar em onde meu pai estaria, pensei que ele estaria me esperando ao invés de Aoi. Onde ele estaria? Nunca seria em algum lugar público, lembrei-me de uma casa que ele tinha também em Tóquio, que usava para encontrar colegas de trabalho sem ter que se preocupar com a presença de minha mãe, na época.
Enquanto isso, no carro a caminho da mesma casa estavam Shiki e Aoi que pareciam sérios, sem falar nada até o momento. Pareciam duas pessoas que eram o oposto de cada uma. Aoi o encarou por alguns segundos como se quisesse falar algo importante.
- Vingança é terrível, sabe? – comentava.
- Não pedi sua opinião.
Aoi fechara a cara dando um empurrão em Shiki.
- Fala. O que ele te fez além de transformar a vida da sua mãe em um inferno?
- Ele a engravidou e o pai dela a expulsou de casa, não sabe como ela sofreu. – explicava.
- Você deve saber tudo o que a Satsuki passou. Foi trancada no porão, vivia machucada, perdeu a mãe... Mesmo sabendo de tudo, queria usá-la? Levá-la até Katsui?
Shiki bufou olhando para o lado.
- Minha intenção era levá-la desde o começo, não me importava se ela fosse machucada...
- Sua intenção “era” essa? – perguntou encarando o garoto.
- Depois de saber de tudo, mesmo não gostando tanto dela para chamá-la de “irmã”, acho que não deixaria ele machucá-la.
Aoi ria levemente.
- Eu sabia.
- Você sabia o quê?
- Você parece com ele na aparência, é meio estranho... Mas, tem coração. – comentava ainda rindo.
- Se não ficar quieto eu vou ajudar Katsui a te matar.
- Shido parecia meio chateado com você, o ofendeu?
- Queria ofender a todos, assim ficariam com raiva de mim... E não se importariam comigo.
- Por que deseja isso?
Ele abaixou a cabeça.
- Caso aconteça alguma coisa, pelo menos assim ninguém ficará triste.
Aoi o olhou assustado, não entendia o que ele estava falando. O carro parava á frente de uma casa grande que estava com a porta da frente aberta. Shiki saiu do carro fazendo sinal para que Aoi saísse também, os dois caminhavam até a casa sem falar uma só palavra. Ao entrarem a expressão dos dois mudava, parecia que o clima estava mais pesado. Andavam subindo as escadas para o segundo andar da casa, Aoi parecia tenso enquanto Shiki ficara cada vez mais sério. Ao entrarem em um quarto espaçoso que mais parecia um escritório, viram ao lado da janela, um homem de terno levantar-se de uma cadeira. Era elegante como qualquer homem da elite, era alto e belo e extremamente parecido com Shiki. Ele segurava um cigarro já aceso. O apagava, forçando-o contra o cinzeiro. Ao fundo tocava uma música de blues, ele mostrou um sorriso para os dois jovens e após uma risada mexeu em seu próprio cabeço, passando a mão e forçando o cabelo para trás, o mesmo gesto de Shiki.

- Isso vai ser divertido. Há quanto tempo não nos falamos... Aoi.

Katsui dera uma leve risada ao encarar o garoto.