Fanfic: Memories - Primeira Temporada

Eu estava entrando no colégio ainda pensando em tudo que acontecera, eu nem sequer sabia que Katsui havia prendido o pai de Shido, Nokosaki Koyuki. De certa forma me senti terrivelmente incomodada com o ódio que ele sentia de mim, eu merecia mesmo levar a culpa pelas covardias de meu pai? Eu nunca culparia Shido, deveria ser um choque ter o pai preso injustamente. Eu não queria ganhar a imagem ruim de meu pai, suspirei profundamente enquanto andava pelos corredores. Apesar de tudo eu estava orgulhosa de mim mesma, com as atividades que teria no grêmio estudantil eu certamente não pensaria mais em Aoi. Fui ler um aviso que havia em um mural, fechei os olhos suspirando profundamente até sentir a mão de Ren tocar meu ombro.
- Ren... Que surpresa te ver tão cedo no colégio. – comentei.
- Resolvi chegar cedo hoje, como foi o seu primeiro dia no grêmio?
- Ah, digamos que foi agitado... Parece que Shido realmente não gosta de mim. Quando ele me viu logo começou a me ofender falando de minha mãe e que o grêmio não precisava de uma garota mimada. – eu contava encarando Ren.
- Vamos tirar essa história á limpo, quem ele pensa que é? – falava ficando irritada de imaginar a cena.
- Ele brigou comigo, mas o Sokohara o repreendeu. Foi bem gentil da parte dele... – comentei, Ren mudara a expressão dando um leve sorriso.
- Então o presidente te protegeu? Quem diria Satsuki...
Eu a olhei sem entender.
- Ele só o repreendeu, está bem que depois ele me acompanhou até um bom caminho... Mas, isso não quer dizer nada.
- Se tratando dele, nunca se sabe. Ele era tão estranho quanto você quando chegou ao colégio, sabia? – falava andando pelo corredor.
- O que quer dizer com isso? – perguntei a seguindo pelo corredor.
- Ele é uma pessoa completamente fechada, parece que leva tudo á sério até demais... O tipo de pessoa que cumpre seus deveres á risca.
- Ah, entendi... – encarei o chão, de certa forma ele lembrava-me um pouco o jeito de Yohei, se preocupando com os outros e sempre cumprindo o seu dever. Eu parei ficando quieta por alguns minutos.
- Satsuki? O que houve?
- Você sabia que a minha mãe também foi no grêmio e que a mãe de Sokohara foi amiga dela?
- Nossa... Sério? – ela sorria.
Fiz que sim com a cabeça, ela entrara na sala de aula enquanto eu andava até a sala do grêmio pensando em como a minha mãe era nas atividades escolares, do nada cresceu dentro de mim a vontade de saber como ela era no colegial. Parei no corredor como se eu tivesse sido puxada para a realidade. Lembrei-me que estava convicta de falar com Shido. Era o melhor a se fazer e quem sabe eu pudesse tirar esse ódio do coração dele? Mas eu mal o conhecia, a única vez que pude falar com ele foi uma briga e Sokohara tivera de me proteger. Suspirei profundamente e ficando alguns minutos em silêncio pude ouvir um som de piano, tentei seguir o som com medo que acabasse. Cheguei até o salão do colégio, abri a porta lentamente com medo de fazer barulho, pude ver um piano branco no meio do salão e a silhueta de uma pessoa conhecida, permaneci paralisada ali mesmo, parecia que aquela música prendera toda a minha atenção. A pessoa parava a música e virava-se para olhar quem estaria espionando, me olhou através de seus óculos e deu um meio sorriso. Era ninguém mais que Sokohara. Eu retribuí o sorriso e aproximei-me dele, sentei ao seu lado encarando o piano.
- Cada vez me surpreendo mais, não sabia que tocava piano... – comentei ainda sem jeito de ter sido pega espionando.
- Venho aqui sempre que quero parar para pensar. Quando surgem problemas, entende? – falava dando um leve sorriso.
- O que houve Sokohara?
Ele suspirou profundamente.
- Eu simplesmente fico cansado de vez em quando, é estranho...
- Isso é normal, ainda mais pra você que é o presidente do grêmio. – comentei tocando uma tecla do piano.
- Ainda pretende ir ao grêmio? – perguntava encarando as teclas do piano e evitando me olhar.
- Sim, algum problema...?
Ele encarou-me balançando a cabeça negativamente.
- Pensei que talvez estivesse ofendida por causa de Shido.
- Talvez seja até lógico ele não gostar de mim. Meu pai, Katsui Nitsu, prendeu o pai dele injustamente. – falei com ar cansado.
- O que pretende fazer agora?
- Vou falar com ele, não quero receber a imagem ruim de meu pai... - falei dando uma leve risada e olhei para o meu relógio e vi que já estava na hora da aula.
- Está na hora, nos vemos mais tarde na sala do grêmio. – ele falou ajeitando os óculos, eu fiz que sim com a cabeça e me levantei. Corri para fora do salão com medo de chegar atrasada na sala, tentei correr mais rápido até trombar com Shido no corredor. Eu caí, e passei a mão sobre minha cabeça, o olhei com ar de surpresa. Ele me encarou e senti o clima ficar pesado. Levantei-me ajeitando meu uniforme.
- Ah... Senhor Koyuki. Desculpe, eu estava com pressa.
- Isso não importa, só não tente encostar-se a mim novamente. – falava, dando as costas e andando na direção do salão que eu saíra ainda segurando uma bola de vôlei.
- Koyuki... Desculpe-me por causa de seu pai...! – falei ainda nervosa.
Ele sentiu uma raiva crescer e virando-se mostrou uma expressão de frieza.
- Não toque no nome de meu pai. Já não basta o que a sua família fez á ele?
- Espere, eu não tenho culpa... Eu nem sabia. – tentei me explicar.
- Você tem tanta culpa quanto o seu pai, não se faça de sonsa! – falava aumentando o tom da voz.
Eu encarei o chão, séria.
- Por que é tão insensível?! Falou de minha mãe como se fosse nada, acha que é fácil superar que sua própria mãe cometeu suicídio? E ainda por cima me culpa por algo que meu pai fez! Eu sinto muito pelo seu pai, mas você nem faz questão de quanto eu sofri por causa de meu próprio pai? Acha mais fácil mexer na ferida dos outros, Shido?! – falei aumentando o tom de minha voz para que ela não ficasse trêmula, ele olhou-me espantado.
- Só pode estar brincando, aposto que teve a vida que sonhou!
- Se você não sabe, você não é o único que sofre, sabia?! Por que você nunca consegue ter o mínimo de gentileza?! Não estou falando pelo meu pai, mas por mim mesma! Esse ódio só vai te destruir, é por isso que vive? – falei tentando me manter séria e esquecer a vontade de correr dali.
Ele parara de falar, talvez estivesse espantado a me ver daquela forma. E já não agüentando mais apenas tampei minha boca, lágrimas já caíam de meu rosto. Eu não era uma pessoa boa em brigas como Ren, tive vontade de sentar e chorar ali mesmo, Shido agora me olhava com um ar estranho. Pude ver Sokohara parado no corredor vendo a cena sem saber o que fazer, quando vi já estava correndo dali procurando ficar sozinha. Sokohara olhara Shido com ar de decepção, o fitara com jeito sério e resmungara algo como “depois conversamos”.
Quando percebi estava correndo sem rumo, senti alguém puxar meu braço para me fazer parar de correr. Fechei os olhos pensando que era Shido e por um minuto o puxão de braço havia me lembrado dos machucados que eu tivera causado por Katsui. Passaram-se alguns segundos, a pessoa me largara, abri meus olhos e pude ver Sokohara encostar-se á parede e ficar com a respiração ofegante como se tivesse corrido uma maratona e que tentasse recuperar o fôlego. Eu o encarei sem entender, era o tipo de aluno que jamais perderia uma aula por mais que a situação fosse urgente e deixara de ir para correr atrás de mim e me parar, realmente como Ren havia dito: “Se tratando dele, nunca se sabe”. Para mim, ele estava mostrando-se uma caixa de surpresas.
- Espera um pouco, não corre... Faz tempo que eu não corria assim, estou ficando fora de forma. – ele falava dando uma risada como se aquela situação fosse a mais normal do mundo, eu o olhei sendo tomada pela vergonha.
- Me perdoe Sokohara... Desde que entrei para o grêmio eu só tenho te dado trabalho. – falei limpando minhas lágrimas.
- Já está tudo bem, fazia tempo que a minha vida não era tão agitada. – falava recuperando o fôlego.
- E você ainda perdeu a aula...
Ele me encarou, sorria.
- Vamos sair do corredor, se nos pegarem aqui vamos levar uma advertência.
- Mas, não somos da mesma sala...
- Não vamos para a sala de aula, não estamos em condições. Você acabou de chorar e eu já estou cansado. Vem. – andava ainda respirando profundamente e fazia sinal para que eu o seguisse, eu o olhei espantada e apenas o seguia. Após andarmos um pouco notei que fomos para a parte de trás do colégio, onde havia um campo, ele se sentou encostado á uma árvore, me sentei ao lado dele ainda estranhando a situação. Cada vez mais eu me surpreendia, suspirei profundamente ainda me sentindo envergonhada em ver todo o trabalho que estava dando para ele.
- Eu fui atrás de você por que sabia que Shido te magoaria de novo. – ele falava ainda se acomodando.
- Estou me sentindo culpada... Sempre dou trabalho para todo mundo.
Ele riu.
- Mas, você me surpreendeu. Brigando com ele daquele jeito...
- Eu me descontrolei... – falei me sentindo ainda mais envergonhada.
- Quando entrei para o grêmio ele também era rude, mas com o tempo ele amolece. – falava rindo.
- Não sei como agradecer por tudo que tem feito. Obrigada.
Ele sorriu levemente, naquele dia pareceu que minha amizade com Shiki aumentara cada vez mais e que Ren não era a única a se importar comigo, eu também estava surpresa comigo mesma por ter brigado com Shido. Mas, quando corri por apenas desespero e mesmo que tenho morrido de vergonha depois, acabou que valeu a pena. Shiki realmente era uma pessoa que se importava comigo, a presença dele era calma e plena assim como uma brisa suave. Aquilo me acalmava e me ajudava a esquecer cada vez mais as lembranças obscuras que surgiam á minha mente.
Depois de conversar por um bom tempo vi que já era hora de ir para o grêmio, Shiki falara que se quisesse poderia ir para casa, mas eu decidira ajudá-lo. Enquanto andávamos senti que até meus próprios pensamentos se tornavam mais leves. Eu havia parado no mural de recados onde Kaoru havia colocado uma lista com o nome dos clubes do colégio que teríamos de visitar, desta vez eu não trabalharia com Shiki e sim sozinha. O que mais me preocupava e encontrar Shido. Eu não estava bem para ter a mesma conversa. Entrei na sala do grêmio e pude ver Kaoru folheando uma pilha de papéis.
- Tsuki, bom te ver. – falou dando um leve sorriso.
- Onde estão os outros, Kaoru?
- O Shiki está resolvendo o assunto da festa de final de ano com a diretora já que o festival cultural não vai acontecer... E o Shido está vendo algumas coisas no time de vôlei. – falava.
- Ah...
Ele me encarou com ar irônico.
- Então, seus filhos vão ser loiros... Ou morenos?
- Quê? – perguntei sem entender, ele soltou uma risada alta.
- Desculpe, eu não resisti. É tão engraçado ver o Shido brigando com você e o Shiki sendo o príncipe de cavalo branco... Sinto-me o bobo da corte.
- Kaoru... Isso não tem graça.
- Desculpe... Não posso fazer essas brincadeiras com você, a minha namorada me bate. – falava rindo e ainda folheando as folhas.
- Sua namorada...?
- Ah, eu não te contei, não é? Eu sou o namorado da Ren. – falava dando um grande sorriso, eu fiquei surpresa com tal revelação.
Enquanto eu conversava com Kaoru, Sokohara andava pelos corredores e chegando á sala dos professores entrava e se sentava no sofá, acomodando-se. Parecia estar descansado. Via a diretora olhar os papéis de uma pasta que tirara de seu armário. Ele encarava a mulher e depois olhava o teto.
- Como está indo o grêmio?
- Está tudo bem. – respondia.
- Há boatos que tem se dado bem com Satsuki, isso é bom. Não queremos que Katsui volte para esta cidade, não é? Só não exagere com ela.
Ele perdera o sorriso do rosto, parecia irritado ao ouvir o nome de meu pai. Voltara a olhar o teto, passara a mão nos cabelos.
- Tudo bem, vou fazer o que você mandar... Mãe. O que eu menos quero é ver Katsui aqui. – falava bufando e voltando a olhar o teto com uma expressão pesada de ódio.