Fanfic: Memories - Segunda Temporada
A morte tão recente de Katsui fez-me pensar em tudo o que ele havia feito talvez tudo melhorasse agora. E mesmo depois de ter sido morto por meu até então irmão, Shiki Sokohara, eu ainda pensava nele. Katsui era meu pai e afetou-me de forma completa. Por que ele tinha feito aquilo tudo? Qual era o prazer de ver sua própria filha sofrer? Meu deus, não era dever dele proteger-me e me ajudar nas horas difíceis? Não importa o quanto ele machucava-me fisicamente, as palavras eram muito mais cruéis. Eu nunca conheci o sentimento de amor paternal, eu tinha ainda mais ódio por não saber a resposta que ele daria. O que eu tinha de errado? O que eu fiz? Eu queria tanto que ele tivesse sido carinhoso e atencioso comigo como qualquer pai, realmente mesmo morto ele não pararia de me atormentar. Ele havia ferido meu coração de forma irreversível, as cicatrizes nunca sumiriam. Eu suspirei fundo e forcei meu coração a perdoá-lo, eu sei que ele não merecia, mas ele estava morto e eu desejava que pelo menos sua alma mudasse. De certa forma eu nunca o perdoaria de ter “roubado” Iromi de mim, ela era a pessoa que eu mais amava. Suspirei profundamente, olhei o corredor, eu estava no hospital de Yohei. Era onde Aoi estava em repouso, parecia que sua saúde não era da mais instável. Vi um homem de jaleco andar até mim, ele parava e me encarou por alguns minutos, eu fiz o mesmo e parecia que eu havia perdido todas as palavras, era Yohei. Eu dei um leve sorriso triste, fui até ele e o abracei fortemente. Ao fechar os olhos pude sentir a presença de minha mãe, pensei que era só uma sensação boa. Tanto ela quanto Yohei tinham aquela aura boa. Abri os olhos, ainda o abraçando fortemente.
- Você cresceu... Como está? – ele falou bagunçando meu cabelo.
Eu deixei uma lágrima cair, abaixei a cabeça. Depois de uns minutos o encarei.
- Desde aquele dia, você ainda trabalha aqui... Foi neste corredor que ela...? – perguntei não conseguindo terminar a pergunta.
- Sim... Foi aqui. Nós conversamos e quando eu a vi havia se jogado da janela do final deste corredor. – falava com ar triste, eu o encarei já com lágrimas nos olhos.
- E você ainda trabalha aqui desde aquele dia...?
Ele fez que sim com a cabeça.
- Era a única forma de mantê-la viva em meu coração.
- Por que nunca tentou esquecer? – perguntei.
- A existência de cada tem um motivo. O meu era a sua mãe, sem ela... A minha “existência” acabou. – falava com um sorriso.
- Mas, você deve viver assim...?
Ele encarou-me novamente.
- Vivemos tão vazios, precisamos ser completados de alguma forma. É por isso que passamos a vida inteira procurando o que falta. Ela me fez mais feliz do que você imagina só estando ali, do meu lado, mesmo que fosse durante alguns minutos. Eu só existia enquanto ela estivesse ali. – falava com um pequeno sorriso.
- Yohei...
- Eu só consegui superar a perda quando pensei: “despedidas são dolorosas, mas necessárias. Vou viver por ela, se eu continuar sorrindo logo a dor passará. Farei isso por ela, pelo amor que senti por Iromi”. – falava passando a mão sobre minha cabeça, eu fiquei parada por alguns minutos até encarar o chão.
- Eu sinto saudade dela, muita na verdade. – falei com ar triste.
- Não faça essa cara de tristeza. Aoi fica com raiva de si mesmo quando via essa expressão. – comentava.
- Sentia raiva de si mesmo? O que quer dizer com isso?
Yohei olhou-me com ar de piedade.
- Ele é uma pessoa orgulhosa, antes era agressivo com os outros e fazia de tudo para que ninguém entrasse em seu “mundo isolado”. Na verdade, ele tinha medo de ter pessoas próximas a ele e que o abandonassem, ele tinha medo. Apesar de parecer confiante e uma pessoa forte, ele vivia se cobrando muito. É um trauma de infância, a mãe dele o cobrava demais...
- Por que ele nunca me contou isso...?
- São assuntos delicados demais. Talvez ele não tivesse comentado por medo, eu sei que você compreenderia a dor... Mas, ele não se permitia “perder” a sua presença. Consegue entender? – falava olhando para o lado.
- Me sinto tão suja. Todo o tempo em que ele esteve ao meu lado eu só falava de meus dramas, mas eu nunca perguntei nada sobre a própria vida dele... Como pude ser essa pessoa tão egoísta?
Ele riu.
- Não se sinta mal, dificilmente ele falaria... Por que você foi a única pessoa que conseguiu tocar no próprio coração dele, não sabe o bem que fez para ele. - falava sorrindo novamente e andando pelo corredor deixando-me ali, fiquei pensativa e confusa. Mas, por fim, respirei fundo e prometi para mim mesma fazer o possível para ajudar Aoi. Por agradecimento, por necessidade. Olhei para o final do corredor e fiquei surpresa. Shiki andava ao lado de Shido, Ren e Kaoru. Andei até eles abraçando Shiki levemente e cumprimentando a todos. Kaoru e Ren estavam de mãos dadas e mostravam uma expressão aflita enquanto Shido ainda estava pálido e parecia não ter dormido na noite anterior.
- Está tudo bem com o Aoi? – Shiki perguntava com a mão em meu ombro.
- Está descansando, Katsui bateu bastante nele. Mas, não é nada sério. – comentei tentando manter a voz firme.
- Então, encontrou Aoi e agora o Katsui está morto... Aconteceram bastantes coisas, me desculpe por não vir antes. – Ren falava abraçando a amiga. Kaoru permaneceu quieto e olhando pro chão, fitou a todos e depois de um prolongado silêncio soltou a frase que todos queriam falar.
- Bem feito! – ele falou com voz firme e deu uma leve risada como se quisesse aliviar a situação triste, Shido deu um soco na cabeça do amigo falando sinal negativo com a cabeça.
- Kaoru, Shido. Sem tumulto... Por favor. – Shiki falava bufando.
Eu encarei meu irmão e dei um leve sorriso.
- Pensei que você levaria uma surra de Kaoru depois de ter armado aquela confusão dos papéis sobre a vida de Ren... – comentei.
- Ele foi pessoalmente pedir desculpa para nós, eu realmente quis bater nele, mas... Apesar de tudo, ele só queria que nós ficássemos longe enquanto ele se vingava de Katsui. – Kaoru explicava abraçando Ren.
- Viu só? Está tudo indo bem... – Shiki falava enquanto encarava Shido que continuava quieto.
- Também não bati no Shiki por que ele é o meu garoto predileto. – Kaoru falava após uma longa risada, depois sendo repreendido por uma enfermeira que fazia o sinal de silêncio. Eu fui até Shido seguida por Shiki, o encarei e dei um leve sorriso.
- Shido? Está tudo bem? – perguntei.
- Estou sim. Parece que tudo está indo bem... Vocês ficam aqui? Eu vou pegar um copo de água para mim. – ele falava calmamente e dava as costas para todos dali. Shiki foi atrás dele, eu respirei profundamente não entendendo o que acontecia ali. Virei-me para Ren e Kaoru e curvei minha cabeça.
- Fique calma, ele tão tem conseguido dormir direito faz algum tempo. – Ren comentava tentando não me deixar mais preocupada.
- Se importam se eu for visitar o Aoi? É que eu prometi que o visitaria, ele detesta hospitais... – falei, o casal fez que sim com a cabeça, andei um pouco até o quarto 203, abri a porta lentamente até poder entrar no quarto, vi que ele ainda estava adormecido. Fechei a porta com cuidado e andei até uma cadeira que ficava ao lado da cama. Sentei-me e o olhando, comecei a pensar em tudo que Yohei tinha dito sobre ele, olhei para a vista da janela. O céu estava limpo, completamente azul. Senti algo sobre minha mão, olhei e vi que Aoi acordara depressa e colocara sua mão sobre a minha, ele sorriu levemente. Sentou-se mostrando o roxo que tinha no peito causado pelos chutes de Katsui. Ainda segurando minha mão, ele continuava a me encarar.
- Sabia que cumpriria sua promessa de vir me ver. – falava.
- Acabou não é? Katsui... Ele está morto.
- Sim. Agora você é completamente livre para fazer o que quiser. – falava olhando a vista da janela escondendo uma expressão estranha, que nunca havia mostrado. Eu o encarei confusa.
- Aoi. Eu sempre vou estar aqui, eu não vou embora... Não consigo viver sem que a “Tempestade” me mostre o caminho certo a se seguir.
Ele se virou para me encarar, deu uma leve risada coçando o cabelo. Puxou minha cadeira para mais perto, me fazendo ficar mais próxima dele.
- Quando se perde algo, só aí sentimos a dor da perda e sabemos o quanto necessitávamos do que foi perdido. Eu mal conseguia dormir sem pensar se você estava bem, Yohei já perdeu a conta de quantos remédios para dormir eu tomei... E de quantas vezes eu me trancava em meu quarto. – falava voltando a segurar em minhas mãos.
- Eu senti tanto a sua falta... Pensei que nunca mais te veria. – falei com a voz trêmula.
- Quando me vi sozinho, meu próprio orgulho foi substituído pela dor que era não te ter em minhas mãos. Nunca pensei que tal dor fosse tão arrasadora... Eu não me importaria se Deus me levasse, sem você ao meu lado tenho certeza que eu não agüentaria. Eu não vou mais embora nem que você me bata. Prefiro a dor de uma espada em meu peito do que a dor de te perder.
- Promete que não vai mais embora? – perguntei deixando uma lágrima cair, ele a secou lentamente e acariciando minhas mãos deu um sorriso.
- Eu prometo. – falava.
- São só palavras, nem tem provas que vai permanecer aqui. – falei brincando dando uma leve risada, ele riu levemente e colocando as mãos em meus ombros me olhou seriamente.
- Então, só tem um jeito. Tenho de falar algo que eu sempre quis, mas nunca tive coragem.
- O que é? – perguntei hesitante.
Ele deu um sorriso sincero, mexeu em meu cabelo e após suspirar profundamente, olhou em meus olhos.
- Eu não posso te perder novamente. Desde que a vi naquele porão eu já tinha certeza que era ao seu lado o meu lugar. Eu não existo mais sem você em meus braços, no lugar de meu orgulho permaneceu só o desejo de te amar sem medo. Assim como a vida precisa de uma razão e como um coração precisa ser completado, eu preciso de você para continuar a viver. Casa comigo?
Eu o olhei extremamente vermelha, pude até sentir os batimentos de meu coração. Balancei a cabeça pensando ser alguma alucinação, o encarei. Ele me encarava com um meio sorriso, vendo o meu silêncio abaixou a cabeça e bagunçou seu próprio cabelo.
- Levei um fora. Bem, tem a primeira vez para tudo... – falava.
- Não é isso! Aoi Hajitsu pare de brincar comigo desse jeito! – falei já ficando brava.
Ele riu, em questão de minutos ele rapidamente me puxou me fazendo ficar ao lado dele na cama, o olhei espantada com tal ação. Ele me segurou e me deu um beijo no canto de minha boca, o que me fez ficar ainda mais vermelha. Ele apoiou sua testa na minha.
- A-Aoi...! O que deu em você?
- Você pensou que era brincadeira, sabe que é difícil para um homem confessar os próprios sentimentos?
- Eu sei... Desculpe-me...
Ele olhou-me espantado, fechou os olhos bufando parecendo irritado.
- Como assim você sabe? – perguntou olhando pro lado.
- Bem... Você foi embora, comecei a andar com meus amigos atuais. Tem o Shiki, o Kaoru e o Shido... Na verdade, o próprio Shido não gostava de mim no início. Mas, acabamos nos entendendo. – expliquei, o olhei para ver se ele deixava aquela expressão.
- Entendi. Você gosta do Shido. – falava bufando novamente parecendo mais irritado.
- Não! Não tem nada haver! – falei aumentando o tom de minha voz, Aoi fitou-me por alguns minutos.
- Então, você me ama mais que do Shido?
Eu paralisei com a pergunta extremamente direta de Aoi. Fiquei ainda mais sem graça.
- Aoi... Está falando sério?
- Naquela época, você nunca me olhou, sabia? Sempre que eu te encarava você ficava olhando pro chão. Eu queria que você me olhasse do mesmo jeito que eu te olhava, entende? Eu te amo mais do que qualquer um, Satsuki. Por isso, por mais que eu seja bom para os outros... Não quero que ninguém fique entre nós. – falava ainda sério.
- É que você é tão direto, às vezes me assusta.
Ele sorriu.
- Qual a diferença? Do que você sente por mim e pelo Shido.
- Não sei por que cismou com o Shido... Mas, é totalmente diferente. Você foi o meu herói, eu nem soube o que fazer quando você foi embora... Já o Shido, ele é um bom amigo apesar de ás vezes ser um pouco grosseiro com os outros... – falei.
- E então? Aceita ou não o meu pedido?
- Tenho muito medo de me magoar novamente, meu coração sempre parecia pesado quando você foi embora. Mas, eu sei que não consigo viver longe de você. E não quero cometer o mesmo erro que minha mãe... De acabar com alguém que não presta e eu sei que você é a melhor pessoa que eu já conheci...
- Não brinque comigo, fale logo sua resposta. – ele falava ainda com sua testa encostada na minha.
- Sim. Desde que me prometa nunca mais ir embora... Não agüentaria se acontecesse de novo, seria como se todas as estações fossem arrancadas do ano. Sem o calor, sem as flores... Assim como o céu necessita da noite, eu preciso de você.
Nós dois nos olhamos, parecia que Aoi havia demorado a cair a ficha, deu um sorriso radiante e me abraçando e tocando seus lábios nos meus e dando um longo beijo, acariciando meu rosto deu um leve beijo em minha testa dizendo em voz baixa “Wo Ai Ni”, que em mandarim, significava “eu te amo”.
Enquanto isso no corredor, Shido estava com ar de angústia, andava de um lado para o outro falando repetidas vezes “tenho que ir embora”. Bufou olhando para o teto e uma enfermeira o chamou atenção falando que ele estava fazendo muito barulho, ele andou mais um pouco tentando aliviar-se e procurar um bebedouro. Deparou-se com uma pequena criança que sorria para ele dizendo gostar da cor dos cabelos dele. Ele a olhou desanimado forçando um sorriso, mas o máximo que conseguiu fazer foi uma cara irônica.
- Se ama alguém, desista de viver. Ninguém tem saída. – ele falou com ar de um doente terminal, a criança começou a chorar e saiu correndo procurando a mãe.
- S-H-I-D-O! O que você está fazendo?! – Shiki encarou o amigo com ar de surpresa.
- Shiki... Desculpe, mas eu quero ficar sozinho.
- Espere! Shido, eu te entendo... Você gosta da Satsuki. Mas, é melhor encarar a realidade. Ela é apaixonada por ele.
Shido suspirou.
- Não entendo! O que ele tem de tão surpreendente?
- Ele a salvou e enfrentou Katsui pelo bem dela. Desculpe, mas ela é minha irmã de certa forma e eu não gostaria que ela sofresse... Se você tentar “ficar” no lugar de Aoi vai ser um erro. Está certo que aqueles dois são de fato um casal. – Shiki falava, Shido suspirou profundamente e olhando para o lado balançou a cabeça negativamente como se quisesse afastar seus próprios desejos e pensamentos. Colocou a mão no peito e olhou para Shiki.
- Não tem jeito. Quando se descobre que sente algo, já é tarde demais... Apenas podemos aceitar. Mesmo que meu coração não queira aceitar que poderei perdê-la para Aoi... Não posso aceitar isso. Desculpe.
Autor(a): akaisora
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Havia se passado um final de semana, agora era segunda-feira e eu já estava acordando. Espreguicei-me e olhei para o chão, havia um colchão para que Aoi dormisse. Minha tia confiava nele para tudo, até mesmo para dormir no mesmo quarto que eu. Estranhei o fato de ter acordado mais cedo, suspirei profundamente olhando para a vista da janela. Eu ain ...
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