Fanfics Brasil - CAPITULO X ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO X

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Dulce queria dormir com ele. Enroscada ao lado do marido, apoiada num dos braços fortes, ouvindo o som da respiração regular, sentia-se feliz. Essa proximidade era diferente de tudo o que jamais experimentara antes. Estranho sim, porém, pela primeira vez, não pensava em fugir ou evitar os sentimentos. Ins­pirando o perfume másculo daquela pele quente, queria apenas permanecer junto ao corpo viril para sempre. Não conseguia entender por que encontrava tanto conforto junto ao Cavaleiro Vermelho. Mas o fato é ele lhe trans­mitia calor, aconchego e a fazia se sentir... desejada.

Imersa na escuridão, conseguia até imaginar que se tratava de um casamento normal, talvez até melhor do que a maioria, porque ambos pareciam se importar um com o outro, algo incomum nas uniões entre nobres. Dulce tinha consciência de seu afeto em relação a Christopher e, apesar da hostilidade inicial, acreditava que ele lhe dedicava alguma consideração. Pelo menos era o que po­dia entrever através dos momentos de paixão.

Ali terminava a pretensão pela normalidade, pois qual esposa nunca conseguira enxergar o próprio marido à luz do dia ou à luz de velas?

Por mais que tentasse visualizá-lo, a tarefa se mos­trava impossível. Embora tivesse acompanhado os con­tornos do rosto dele com as pontas dos dedos, não era nenhuma artista para imaginar a realidade a partir do toque. Seriam os cabelos de Christopher negros como a noite,castanhos ou avermelhados, para fazer jus ao título? Oh, Deus, como gostaria de saber...

- Querida... - A voz do marido, baixa e profunda, desviou o rumo de seus pensamentos. Ele beijou-a na testa, fazendo-a sorrir e aconchegar-se de encontro ao peito largo. Será que o homem nunca a deixaria descansar? Mas mesmo exausta, sabia muito bem que poderia ser facilmente persuadida a se entregar aos prazeres do sexo outra vez... e outra vez. - Está ficando tarde. É melhor você ir para seu quarto agora.

Dulce abriu os olhos surpresa, apesar de não ser possível enxergar nada além da escuridão. Então ele a estava mandando embora? Não poderia passar a noite ali? Os sentimentos maravilhosos que cresciam em seu coração foram reduzidos a pó. Imediatamente levantou-se e procurou o vestido. Quando não conseguiu achá-lo, pra­guejou baixinho. Ou seria um soluço?

- Dulce, querida...

O tratamento carinhoso só lhe provocou desdém. O toque de ternura não tinha a menor importância. Afinal qual o motivo de ser enxotada da cama como uma mulher da vida, a quem se paga por um instante de prazer com algumas moedas de prata? Agarrada a um resto de dig­nidade, continuou procurando as roupas, as mãos tre­mendo incontrolavelmente. Christopher segurou-lhe os pulsos e tentou abraçá-la. Porém ela se recusou a aceitar o con­tato e deu um passo para trás, tropeçando nos cães.

- Ai! - Sentindo-se à beira de uma explosão nervosa, Dulce já estava disposta a sair dos aposentos do marido enrolada num cobertor quando ele entregou-lhe as rou­pas. Em questão de segundos, vestiu-se e se preparou para ir embora.

- Dulce... suas sapatilhas.

Será que Montmorency estava debochando dela? Como é que pudera imaginar que aquele homem arrogante lhe dedicava um pouco de afeição? Oh, Deus, só queria de­saparecer e esquecer o que acontecera naquela cama casal.

- Boa noite, minha esposa. Durma bem.

Furiosa, ela teve vontade de bater a porta com força. Só não o fez porque a porta era pesada demais e um de Cecils aguardava do lado de fora. O criado a acompanhou até o quarto sem dizer uma única palavra. De repente sua própria cama lhe pareceu enorme, vazia e solitária. Seria uma longa noite. Como poderia dormir bem?

Na manhã seguinte, enquanto Alice a ajudava a vestir-se, Dulce procurava se convencer de que precisava agir de maneira mais sensata. Talvez estivesse perdendo mesmo a razão. Descobria-se ansiosa para pular na cama do Cavaleiro Vermelho e relutante na hora de deixá-lo. Passara sua vida inteira esquivando-se dos sentimentos e protegendo o coração. Por que agora se sentia impelida a entregá-lo de bandeja ao marido?

Ainda sentia o perfume de Christopher impregnado na sua pele, o corpo marcado pela noite de amor. Se resolvesse tomar um banho a esta hora da manhã, para livrar-se das lembranças, Alice acabaria desconfiando do motivo e recomeçaria com a mesma ladainha sobre o Cavaleiro Vermelho tê-la enfeitiçado.

Ela fitou a serva cheia de reservas, esperando o mo­mento de ser acusada de participar, como cúmplice, de cerimônias de magia negra. Entretanto, para sua com­pleta surpresa, Alice não estava lhe prestando a mí­nima atenção. Em vez de queixar-se sobre a vida em Dunmurrow, como era de seu costume, a criada man­tinha-se ocupada trançando os cabelos da ama enquan­to... cantarolava.

Com uma pontada de inveja, Dulce concluiu que al­guma coisa especial devia ter acontecido. De repente sen­tiu-se mais sozinha do que nunca. Estava tão acostumada a defender o marido dos ataques da criada que agora se perguntava de quem iria defendê-lo?

- Descobri como Cecil pode estar em vários lugares ao mesmo tempo.

- Verdade? - Alice indagou sem muito interesse, voltando a cantarolar uma melodia totalmente diferente da anterior.

- Sim. Ele não é sequer um homem só, mas dois. São gêmeos - ela anunciou, aguardando a reação da outra. Para sua decepção, a expressão do rosto da serva continuou inalterada.

- Sério? Então não é de se estranhar que ele faça trabalho dobrado. Ou talvez não façam nada, com a des­culpa de serem dois. Um fica empurrando o serviço para o outro.

Dulce fitou-a atentamente, atônita com o sorriso es­tampado no rosto de Alice e com as palavras despreo­cupadas. Esperara assombro, discussão, comentários so­bre a magia negra que reinava em Dunmurrow. Só não estava preparada para que a criada aceitasse suas explicações com uma tranqüilidade quase indiferente.

- Muito bem, minha lady, terminei de trançar seus cabelos. Você está linda esta manhã. Vai precisar de mim para mais alguma coisa?

Ela balançou a cabeça de um lado para o outro. Até parecia que quem estava enfeitiçada era Alice...

Determinada a não passar o dia inteiro alimentando pensamentos que envolvessem o marido, Dulce atirou-­se ao trabalho, porém, por mais que tentasse, não con­seguia parar de desejá-lo.

Ansiava pelo toque daquelas mãos fortes, pelo som da voz baixa e sensual. Contudo não eram apenas os mo­mentos de paixão carnal que a perturbavam. Também sentia falta da ternura, das cócegas, da segurança ofe­recida pelo seu abraço.

Talvez Christopher a tivesse enfeitiçado e assim não mais possuía uma vontade própria. Não, não era verdade. Ti­nha vontade própria sim, estava apenas enfraquecida. Como voltar a ser o que era? A mulher independente e segura? Agora mais do que nunca estava certa de que os rumores envolvendo o Cavaleiro Vermelho não tinham o menor fundamento, principalmente depois de descobrir que Cecil não passava de um mortal comum.

Embora Dulce duvidasse que Christopher possuísse poderes especiais para encantá-la, não podia negar que sentia alguma coisa especial por ele, alguma coisa que a fazia se entregar sem qualquer hesitação ou pudor. Porém, à luz do dia, algumas certezas a magoavam de forma pro­funda. Afinal não aprendera, tempos atrás, de que não vale a pena ansiar pela proximidade de alguém? Depois de todos esses anos, ainda era difícil lidar com a rejeição. Em particular agora, quando conhecera a mais deliciosa intimidade nos braços do Cavaleiro Vermelho.

Ela tentava se convencer de que nunca desejara ou precisara de quem quer que fosse. Por que então se sentia atraída pelo marido, uma figura estranha e misteriosa que fazia questão de se manter escondido nas sombras? O fato é que sentia-se impotente diante do próprio destino e isto a perturbava profundamente. A imagem de Christopher não lhe saía da cabeça, impedindo-a de viver em paz, e de repente só queria tornar-se indiferente em relação ao marido, como sempre fora em se tratando de outros homens.

Abandonando as tarefas num impulso, Dulce foi até a cozinha. Quem sabe um pouco de companhia antes do almoço não a arrancaria daquele mau humor? Glenna recebeu-a com prazer.

- Obrigada por ter cuidado tão bem da queimadura de Moira. Está cicatrizando que é uma beleza.

Dulce sorriu, porém as palavras da cozinheira dei­xaram-na inquieta. Fora somente alguns dias atrás que imaginara ser Christopher portador de alguma queimadura que o desfigurasse, que o obrigasse a permanecer nas som­bras? Agora tinha certeza de que este não era o caso. Não havia nada de errado com seu marido. Apenas não conseguia entender por que ele permanecia trancado den­tro da escuridão.

Outra vez as velhas suspeitas, envolvendo o Cavalheiro Vermelho, a assaltaram. Ele afirmara que os rumores não tinham fundamento e chegara a rir das suas preo­cupações. Mas quem, em sã consciência, admitiria estar envolvido na prática de magia negra?

- É bom ter uma lady em Dunmurrow que conheça a arte de curar - a cozinheira falou agradecida.

- Concordo - emendou uma voz masculina. - Eu confio mais na minha lady do que na curandeira da al­deia, Dulce reconheceu o rapaz que a acompanhara tocan­do flauta na primeira vez que cantara para o barão Mont­morency. Thomas era o nome dele.

- Você está se referindo à viúva Nebbs? -Glenna indagou ao recém-chegado.

- Sim. Eu preferia cuidar de mim mesmo do que acei­tar o conselho daquela mulher.

- A viúva Nebbs é muito sábia. Está velha agora e raramente se dedica à arte da cura, porém tem um grande conhecimento de ervas.

- Hum... Poções de amor e coisas parecidas - o rapaz desdenhou.

- Não é bom desrespeitar os mais velhos - Glenna aconselhou num tom maternal. Thomas não disse mais nada enquanto Dulce voltava para o salão, pensativa.

Viúva Nebbs. Já ouvira falar da curandeira da aldeia antes e. chegara a planejar visitá-la a fim de trocarem algumas receitas envolvendo o preparo de ervas. Como qualquer outra mulher com as suas habilidades, a viúva costumava ser vista pelos aldeões tanto como uma santa quanto uma bruxa, dependendo do resultado dos trata­mentos prescritos, é claro. Ela sentia-se inclinada a con­cordar com Glenna. Pessoas como a viúva Nebbs costu­mavam saber mais do que deixavam transparecer, pois durante uma vida inteira acumulavam conhecimento talvez até utilizassem um pouco de magia.

Magia. Dulce irritou-se com os próprios pensamentos. Nunca acreditara em tamanha bobagem antes. Entretanto jamais desconfiara que pudesse ser enfeitiçada um dia, em especial por alguém como o Cavaleiro Vermelho. Será que a viúva Nebbs saberia como quebrar esse encantamento?

Alice entrou naquele exato momento, rindo de algum comentário feito por Pasqua e embora se sentasse ao lado da ama, quase não lhe deu atenção. Ótimo, Dulce pensou aliviada. Sinal de que a serva estava se acostumando à vida em Dunmurrow.

- Você vai precisar de mim hoje à tarde, minha lady Porque senão, Pasqua prometeu me levar para um passe pelos campos. - A criada corou até a raiz dos cabelos e de repente Dulce se deu conta de que ela parecia anos mais jovem... e mais bonita também.

- Não, não vou precisar de você. - As roupas que planejava costurar podiam ficar para outro dia. Que Alice aproveitasse a tarde fora.

- Você não quer vir conosco, minha lady? - a mulher perguntou de repente. - lhe faria bem sair um pouco respirar ar puro.

- Não, mas de qualquer maneira obrigada pelo con­vite.

O almoço transcorreu tranqüilo, Alice e Pasqua trocando olhares sugestivos e rindo a troco de nada.

- Tem mesmo certeza de que não quer vir conosco? - a criada indagou preparando-se para sair.

Dulce sorriu e balançou a cabeça de um lado para o outro, olhando-os com benevolência e compreensão.

- Então vamos, minha garota - Pasqua falou orgu­lhoso. - Tem uma paisagem bonita lá fora que quero lhe mostrar.

Ela os observou afastarem-se a caminho da claridade enquanto tudo o que lhe restava eram os aposentos som­brios de Dunmurrow. Ainda assim, sabia que se o Ca­valeiro Vermelho a chamasse, seria capaz de se esquecer até da luz do Sol para passar o dia inteiro na cama, ao lado do marido. Será que chegaria o dia em que se agarraria a ele de tal forma que acabaria se tornando uma criatura da noite também, uma sombra como Christopher Montmorency?

Dulce estremeceu amedrontada. Havia desejado ser a esposa dele em todos os sentidos, mas agora reconhecia o perigo de uma intimidade total. O fato é que vivera melhor e mais tranqüila antes, num mundo repleto de deveres e trabalhos a serem feitos e não assim... ator­doada por desejos e... emoções que preferiria não sentir. Se ao menos pudesse voltar no tempo! Cedendo ao impulso, levantou-se, colocou uma capa pesada ao redor dos ombros e marchou para o estábulo. Estava na hora de fazer uma visita à viúva Nebbs.

Dois dos guardas do castelo insistiram em acompa­nhá-la até a aldeia, porém ao se aproximarem do chalé onde morava a velha senhora, pediu-os que a aguardas­sem a distância. Apesar de tentar se convencer de que era natural uma visita à viúva, já que ambas viam-se sempre às voltas com o uso das ervas, não conseguiu evitar o nervosismo ao bater à porta.

Uma voz firme e grave mandou-a entrar. Quase não era possível enxergar por causa da penumbra espessa que se espalhava pela sala pequenina e por um instante Dulce achou que estivesse sozinha. Então seus olhos se ajustaram à ausência de iluminação e pôde enfim vis­lumbrar uma mulher pequenina que se entretinha me­xendo um caldeirão sobre o fogo da lareira.

- Viúva Nebbs? Sou Dulce Montmorency. Trouxe-­lhe um pouco de queijo e pão - ela falou, colocando uma cesta sobre a mesa.

- Então você é a nova lady do castelo. Chegue mais perto para que eu possa vê-la melhor.

Talvez fosse apenas um reflexo da sensação estranha que a acompanhava o dia todo, ou talvez estivesse sob os efeitos dos rumores horrendos que acompanhavam o Cavaleiro Vermelho... mas o fato é que tremia por dentro ao se aproximar da velha senhora. Bem no fundo do co­ração, preferia sumir dali.

A viúva Nebbs era bastante idosa e tinha os cabelos já inteiramente brancos. O rosto, marcado por rugas pro­fundas, mantinha-se bronzeado e apesar da idade avan­çada ela não aparentava a menor fragilidade.

- Então você veio tomar o meu lugar?

- Não, de jeito nenhum! - Dulce respondeu de­pressa.

- Pois já está na hora, criança. Estou cansada demais para continuar cuidando dessas criaturas ingratas. - A velha sorriu e fez um gesto para que Dulce se sentasse. Como não havia nem um banco à vista, ela sentou-se no chão de terra batida. Um aroma de alho, alfazema e açafrão enchiam o ar enfumaçado. Embora continuasse mexendo o conteúdo do caldeirão com uma concha, os olhos da viúva Nebbs a analisavam com interesse, como se fossem capazes de lhe enxergar a alma. Não se ouvia nada no chalé, exceto o crepitar das chamas.

- O que a aflige, minha filha?

- A mim? - Pega de surpresa, Dulce não sabia como reagir. - Nada me aflige. Estou bem.

A viúva riu baixinho.

- Ninguém me procura por nada. O que você quer, criança? Está doente?

Estou enfeitiçada, ela teve vontade de dizer. Mas fal­tou-lhe coragem.

- Ah, entendo. - A velha continuou mexendo no cal­deirão alguns segundos antes de voltar a falar. - Como uma curandeira que é, você deve saber que há males para os quais não existem curas.

- Sim, eu sei. - O fogo a estava deixando sonolenta e como quase nada dormira na noite anterior, começava a sentir dificuldade para prestar atenção no que a viúva Nebbs dizia.

- E, claro, em alguns casos a cura é pior do que a doença. Isso sempre acontece nos assuntos do coração...

Dulce inspirou fundo, tentando permanecer alerta. Sobre o que será que a velha senhora estava falando? Alguma coisa sobre dores no fígado?

- Se ao menos você não lutasse assim contra os sen­timentos, criança. Mas posso ver que você é teimosa. São tantas as pessoas que gostariam de possuir um amor tão grande. Elas vêm a mim, implorando encantamentos e poções capazes de conjurar uma imitação pálida daquilo que você tem. Tem certeza de que não quer mesmo este amor?

Querer? Querer o quê? Confusa e entorpecida pelo sono, ela acenou que sim.

- Menina tola. Vou lhe dar o que você quer, porém não posso lhe garantir que dará certo. Existem coisas neste mundo, criança, que simplesmente têm que ser, quer nós, simples mortais, queiramos ou não. Mas cui­dado, tentar mudar o curso dos acontecimentos pode ser ainda pior.

Dulce bocejou e ergueu os olhos. Surpresa, descobriu que a viúva Nebbs havia desaparecido. Segundos depois, a velha estava de volta, trazendo um pacotinho nas mãos.

- Misture este pó num pouco de cerveja ou vinho e beba tudo. Talvez possa ajudá-la. Venha me visitar quan­do quiser, minha lady. Gostei muito da nossa conversa.

Ela guardou o pacotinho de ervas no cesto e despe­diu-se, sentindo-se estranhamente desorientada. Na ver­dade não conseguia se lembrar de quase nada que havia sido dito no chalé porque o fogo estivera tão gostoso e seu cansaço tão grande.

Só depois de estar de volta ao castelo, ao colocar o cesto na cozinha, foi que se lembrou do pacote.

- O que é isto, minha lady? - Glenna perguntou, segurando o embrulho.

- Oh, foi a viúva Nebbs quem me deu.

- É uma das poções que ela costuma preparar. É para você, minha lady?

- Sim. - Por que será que resolvera trazer o paco­tinho para casa? Não conseguia se lembrar. Glenna re­tomou o trabalho de preparar o jantar enquanto ela per­maneceu imóvel, sentindo os olhos de Cecil fixos às suas costas. Algo lhe dizia que as ervas estavam relacionadas a Christopher, embora não fizesse muito sentido.

Decidira procurar a viúva Nebbs com o único objetivo de discutir tratamentos, mas a visita acabara sendo tão estranha. Será que adormecera no meio da conversa?

Recordava-se de que queria livrar-se dos laços que a pren­diam ao marido, contudo não chegara a mencionar isto para a viúva... Ou será que sim? Horrorizada, percebeu que as ervas talvez tivessem o poder de quebrar o encantamento lançado pelo Cavaleiro Vermelho.

Imediatamente Dulce largou o embrulho, como se o pacote a tivesse queimado.

Bobagem. Era uma mulher inteligente, esclarecida, portanto incapaz de acreditar em poções de amor e coisas afins. Christopher não era nenhum feiticeiro, Cecil não passava de uma criatura inofensiva e a curandeira da aldeia uma senhora idosa que não tinha como fazer desaparecerem os laços que a ligavam ao marido. Ainda que ela própria quisesse matar os sentimentos que nutria por Christopher.

Ou será que não?

Sem saber o que pensar, Dulce encostou-se na parede de pedras, lutando para colocar um pouco de ordem no caos interior. Claro que ficara magoada com a maneira que Montmorency a tratara na noite anterior, quando a convidara a retirar-se do quarto. Também precisava ad­mitir que a afeição que sentia pelo marido parecia dei­xá-la... indefesa, uma sensação de que não gostava nem um pouco. Mas e quanto às outras sensações que ele a fazia experimentar?

Enrubescendo até a raiz dos cabelos, Dulce pensou nas coisas que Christopher havia feito com seu corpo... o prazer intenso a cada vez que se entregavam ao amor. Como esquecer o calor dos braços fortes que a protegiam e aninhavam? A voz profunda e agradável? O humor fino e inteligente que temperava suas conversas? Será que real­mente desejava abrir mão de tudo isso e voltar àquela vidinha calma e vazia de antes?

O fato é que Christopher despertara seus sentimentos mais profundos e pela primeira vez na vida, sentia-se viva de verdade. Não iria arriscar tudo isso aceitando uma poção de ervas preparada por uma velha curandeira.

- Minha lady! - Dulce foi arrancada dos pensa­mentos pela aparição repentina de um dos Cecils. - Afonso enviou alguns trabalhadores para nos ajudar nos reparos do castelo e eu gostaria de saber onde devo alojá-los.

- Oh, sim. Tenho certeza de que daremos um jeito para alojá-los. - Com a atenção focalizada em Cecil, Dulce começou a caminhar na direção do salão prin­cipal e sequer percebeu quando o pacotinho de ervas caiu no chão. Glenna apressou-se a apanhá-lo, dizendo à ajudante:

- Isto é para minha lady. Misture ao que lhe será servido no jantar.

Ela mal podia se conter na pressa de chegar aos apo­sentos do marido. Embora tentasse se convencer de que não gostaria de se atrasar por uma questão de educação, sabia que o pulso acelerado devia-se a motivos bastante diferentes. Será que Christopher a receberia com prazer? Será que a possuiria sobre o tapete diante da lareira ou a levaria para a cama onde fariam amor loucamente e de onde seria dispensada assim que ele se cansasse dela? Ao entrar no quarto do marido, alimentava dúvidas a respeito de tudo.

- Minha lady.

- Christopher - ela respondeu ofegante. Ansiosa, levou o cálice aos lábios, a garganta seca de antecipação. O vinho estava um tanto quente e doce esta noite, mas não tinha importância, precisava aplacar a agitação que consumia. ­

- Foi um dia longo sem você, esposa.

Dulce corou, o corpo respondendo à voz baixa e profunda de Montmorency. Era como uma carícia que lhe penetrava pela pele e lhe aquecia a alma. Porém estava disposta a não sucumbir ao encanto esta noite sem re­sistir ao menos um pouquinho.

- Foi uma longa noite sem você, meu marido.

Ao ouvi-lo rir, ela levou o cálice aos lábios e tomou o resto do vinho, procurando acalmar-se.

- O gosto da cerveja está estranho hoje, você não acha?

- É mesmo? Não percebo nada quando estou na sua companhia.

Dulce sorriu, entregando-se ao fascínio que o marido exercia sobre seus sentidos. A bebida a tinha acalmado, assim como o evidente bom humor de Christopher. Apesar de ter andado chateada, já se esquecera de tudo e só con­seguia pensar na noite ardente que teriam pela frente. Será que ele arrancaria suas roupas ou a possuiria ves­tida mesmo, dominado pela urgência do desejo?

Ansiosa para tocá-lo, inclinou-se para frente, porém uma sensação estranha obrigou-a a permanecer no mes­mo lugar. Com muito esforço, tentou sentar-se ereta, embora tremesse da cabeça aos pés.

- Dulce? - A voz de Christopher parecia vir de muito longe e quando ela se moveu de novo foi como se suas entranhas estivessem em fogo.

Em questão de segundos Montmorency estava ao seu lado, entretanto o toque daquelas mãos fortes davam a impressão de lhe queimar a pele enquanto a escuridão dos aposentos enormes a engolfava.

- Não faça isso - ela pediu ofegante, esforçando-se para afastá-lo com gestos frenéticos e desajeitados.

- Cecil! - Atendendo imediatamente ao chamado do barão, o servo entrou no quarto e ergueu-a do chão. En­quanto era carregada para o próprio quarto, Dulce ou­via a voz do marido praguejando baixo.

Então já estava deitada na cama e Alice colocava um pano úmido em sua testa para aliviar a quentura. Mas não havia nada no mundo capaz de suavizar as sensações terríveis que pareciam destroçá-la por dentro. Fechando os olhos, Dulce perdeu-se num labirinto escuro e des­tituído de qualquer pensamento coerente.

- E então? - Christopher mal conseguia conter a impaciên­cia. Parecia que o criado estivera ausente durante horas, deixando-o louco de preocupação.

- Ela não está nada bem, meu lorde, porém tudo indica que se trata de um mal passageiro.

- Claro que será passageiro! Não me faça perder a calma com, explicações dignas de uma criança. O que provocou essa indisposição?

- Glenna, a cozinheira, diz que sua esposa bebeu uma poção preparada pela curandeira da aldeia. A cozinheira insiste que se trata de uma espécie de purgante que foi misturado ao vinho. Também não sabe dizer ao certo se sua esposa pretendia ou não tomar a infusão de ervas. Talvez tudo tenha sido um acidente.

- Um purgante? - Confuso, Christopher sentou-se na bei­rada da cama. Por que Dulce iria procurar uma curan­deira? Será que andara doente? Mas ontem mesmo ela lhe parecera perfeita. Ainda se lembrava do ardor como reagira às suas carícias...

Quem sabe era somente uma indisposição feminina... De repente um pensamento terrível lhe ocorreu. Muitas mulheres costumam tomar um tipo especial de pur­gante quando querem se livrar de uma gravidez inde­sejada.

- Não! - Montmorency gritou, levantando-se num impulso. - Dulce não faria isso!

- Ela poderia estar grávida - Cecil falou, como se fosse capaz de ler a mente do barão.

- É possível. Mas minha mulher ainda não poderia sabê-lo. É cedo demais. - Oh, Deus, fora apenas alguns dias atrás que lhe tirara a virgindade.

- Sua esposa poderia ter medo de que um filho seu fosse a reencarnação do demônio...

- Não! - A voz angustiada de Christopher ecoou pelo quarto silencioso. Não era verdade, não podia ser verdade. Dulce não temia o Cavaleiro Vermelho e nem acreditava nas histórias absurdas que se contavam. Por que então iria pedir uma poção a uma curandeira qualquer para se livrar da criança? 

- Não! - Christopher esmurrou a parede do quarto com força e não reparou que o criado saíra e nem que de suas mãos escorria sangue. ­

 

- Vamos, vamos, minha lady - Alice falou baixinho. - Você vai ficar boa agora. Já esvaziou todo o estômago, pobrezinha. Vamos, beba isso aqui. Vai fazer a dor passar e você poderá descansar.

Dulce sentiu um líquido amargo sendo colocado na sua boca e gemeu.

- Quietinha, minha lady. Foi a infusão de ervas que lhe provocou todo este mal estar. Como é que você foi confiar numa aldeã velha e ignorante? As curandeiras são loucas, ou pelo menos a maioria delas é. Agora des­canse um pouco, vou ficar ao seu lado.

Dulce fechou os olhos, sentindo os membros pesados. Porém a cabeça latejava e o estômago ardia, dificultando a chegada do sono. Mas quando finalmente conseguiu adormecer, sonhos estranhos e vívidos a atormentaram, sempre girando em tomo do Cavaleiro Vermelho. Angus­tiada, acabou acordando para logo em seguida voltar a dormir.

De repente a atmosfera do quarto mudou. Era como se o ar estivesse carregado de eletricidade, como acontece antes de uma violenta tempestade. Dulce sentiu a pre­sença de alguém ao seu lado, e não era Alice.

- Aqui, minha criança - a viúva Nebbs dizia em seu sonho, o rosto enrugado, os olhos penetrantes, as mãos morenas segurando um pequeno pacote. - Você precisa apenas misturar um pouco deste pó no vinho de seu ma­rido e ficará livre dele para sempre.

- O que você está dizendo? - ela perguntou confusa. Será que adormecera junto à lareira? - Não estou­ entendendo nada.

- Está entendendo sim - a viúva confirmou sem hesitar. - Isto aqui é para seu marido, para o barão Montmorency. Faça-o beber e ele perderá o poder de enfeitiçá-la.

Dulce se encolheu, horrorizada. Será que a mulher estava lhe dizendo para envenenar Christopher?

- Assim você ficaria livre, minha criança. Livre para voltar ao seu lar, à sua vida antiga. Livre para administrar seu próprio castelo sem interferências... ou distrações.

- Sim, mas...

- Então você precisa colocar apenas um pouco dessas ervas na cerveja de seu marido.

Ela balançou a cabeça de um lado para o outro, os pensamentos voltados para o conforto e o prazer que en­contrara naqueles braços fortes. Não importava quem ou o que Christopher era. Jamais teria coragem de matá-lo.

- Não posso fazer isso - murmurou desesperada.

- Menina tola. Não será preciso matá-lo. Apenas usa­rá as ervas para se ver livre dele para sempre. Afinal não é isto o que você quer? Você tem que decidir agora - a viúva Nebbs insistiu, acuando-a. - Não é isto o que você quer?

- Não! - Dulce gritou com todas as suas forças e sentou-se na cama. - Eu quero Christopher!

- Estou aqui. - A voz calma e profunda afastou o pesadelo. Então ele a abraçou, fazendo-a sentir-se segura, protegida... e querida.

Logo antes do amanhecer Dulce acordou. Inspirando fundo, ela sentiu-se repentinamente bem. Devagar, abriu os olhos e reconheceu o próprio quarto. Um braço forte rodeava-lhe a cintura.

- Christopher? - chamou baixinho, o rosto encostado ao peito largo do marido. As lembranças começaram a voltar, depois das horas seguidas de total confusão. Lembrava-se da visita à viúva Nebbs, da volta a Dunmurrow, de haver jantado com Christopher... e dos pesadelos horríveis.

A viúva tinha-lhe dado uma mistura de ervas, mas podia jurar que jogara o pacote fora. Por nada deste mun­do, por mais difícil e estranho que pudesse parecer, ja­mais teria coragem de abrir mão de Christopher.

Hesitante, deslizou os dedos pelo peito másculo, que­rendo ter certeza de que aquele marido misterioso con­tinuava inteiro e respirando, apesar de sua tentativa de exorcizá-lo.

- Dulce? Você está se sentindo bem agora?

Ela acenou com a cabeça, comovida demais para confiar na própria voz. Como pudera ter sido tão idiota? Como fora capaz de desejar romper o encantamento que os li­gava um ao outro? Ah, como desejava não ter sequer ouvido falar da viúva Nebbs.

- Por quê? - Christopher perguntou num tom rouco e emo­cionado.

Será que ele sabia da história toda? Sentia-se en­vergonhada de ter procurado a curandeira e embara­çada pela própria fraqueza e estupidez. Nunca deveria ter trazido o embrulho para casa porque de algum modo as ervas haviam ido parar em seu estômago, pondo-lhe em risco a saúde, a paz de espírito e a trégua com o marido.

- Para que servia a poção? - Estava claro que Christopher seria persistente na sua busca de explicações. Embora soubesse que precisaria dizer alguma coisa que justificasse sua atitude, Dulce não suportaria contar a ver­dade. - Era um purgante para livrá-la de nosso filho?

- Christopher! - ela exclamou horrorizada. - Eu jamais, faria uma coisa dessas! - O fato é que a idéia de um filho não lhe passara pela cabeça, apesar de ser uma conseqüência natural depois de haverem estado juntos...

Um bebê... Como seria o filho do Cavaleiro Vermelho? O pensamento trazia embutida uma série de novas preocupações, mas Dulce simplesmente as ignorou. Havia feito uma escolha e era tarde demais para voltar atrás, à vida antiga, a vida sem Christopher Montmorency.

- Você está dizendo que eu estou grávida?

- Não. Ainda é muito cedo para saber, a menos que sua menstruação esteja atrasada.

Dulce corou e baixou, a cabeça.

- Mas eu poderia estar grávida, não é? Embora seja possível que esse meu mal estar tenha... matado o bebê. Oh, Christopher, eu não queria tomar nada, juro! Foi tudo tão estranho, como num sonho... Fui visitar a viúva Nebbs para conversar sobre medicamentos e quanto voltei Glen­na encontrou um pacote de ervas dentro da cesta. Eu o joguei no chão e saí com Cecil para resolver um assunto. Glenna deve ter presumido... Oh, Deus, não vou suportar se fiz mal ao bebê...

- Ainda é muito cedo para saber. - Christopher abraçou-a com força, parecendo aliviado.

Ela retribuiu o abraço, jurando a si mesma que o ma­rido jamais saberia que aquela poção tinha como objetivo arrancá-lo da sua vida.

- Você quer... filhos?

- Sim, claro - ela respondeu aconchegando-se de en­contro ao corpo forte.

- Então iremos começar a fazê-los assim que você se sentir melhor. Vou amá-la vezes e vezes sem conta, es­posa, até que minha semente esteja firmemente plantada nas suas entranhas.

A promessa apaixonada a fez estremecer da cabeça aos pés, confirmando o quanto aquele homem a fascinava. Era um fascínio tão real que superava qualquer feitiço ou encantamento.

- Você não vai aceitar mais nada da curandeira da aldeia. São mulheres tolas ou ainda pior.

- Não se preocupe, estou curada.

 



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Autor(a): nathyneves

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Quando Dulce acordou, horas depois, Christopher há havia se retirado e ela ficou se perguntando o que fora sonho ou realidade. Lembrava-se ter ido visitar a viúva Nebbs com a vaga esperança de quebrar o encantamento que a ligava ao marido, mas não se lembrava de pedir ajuda à curandeira. Contudo, a velha realmente lhe dera uma mistura de er ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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