Fanfics Brasil - CAPITULO XI ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO XI

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Quando Dulce acordou, horas depois, Christopher há havia se retirado e ela ficou se perguntando o que fora sonho ou realidade. Lembrava-se ter ido visitar a viúva Nebbs com a vaga esperança de quebrar o encantamento que a ligava ao marido, mas não se lembrava de pedir ajuda à curandeira. Contudo, a velha realmente lhe dera uma mistura de ervas e acabara tomando a infusão, porque logo depois caíra doente. A poção fora capaz de fazê-la eliminar tudo o que havia em seu corpo, exceto os sentimentos por Montmorency.

Portanto tais sentimentos iriam permanecer em seu coração pois não eram produto de magia ou encantamento. Enfim Dulce compreendeu que este fascínio tinha causas naturais. As emoções que sentia não podiam ser negadas ou ignoradas. Também não eram uma doença para a qual se busca a cura.

Quer gostasse da idéia ou não, a verdade é que se importava com Christopher e o melhor era ir se acostumando logo com o fato pois tinha certeza que esses sentimentos iriam crescer ao invés de diminuir. Se ao menos conseguisse ignorar as sombras que o cercavam...

A tarde, Dulce já se sentia bem o suficiente para demonstrar impaciência, embora Alice não a deixasse sair da cama.

- Tenho ordens estritas para impedir que você se canse, minha lady.

Apesar do tédio, Dulce permaneceu na cama o dia inteiro mas à hora do jantar, tentou levantar-se para ir ao encontro do marido.

- Não, minha lady - Alice falou decidida, empur­rando-a de volta para os travesseiros. - Cecil me disse para impedi-la de colocar os pés fora deste quarto hoje porque seu marido quer que você se cuide bem. - Seria essa mulher, que agora demonstrava aprovação por uma atitude do Cavaleiro Vermelho, a mesma que o temia tanto na chegada a Dunrnurrow? - Vamos, minha lady, beba isso. Glenna lhe preparou uma sopa especial, bem leve por causa de seu estômago.

Irritada, Dulce começou a tomar a sopa. Claro que Christopher não iria querer a sua companhia. Com certeza ainda devia estar zangado. Será que ele descobrira, através de Glenna ou da própria viúva Nebbs, o verdadeiro objetivo da poção?

Oh, Deus, só esperava que agora, depois de tê-lo aceito com todo o coração, que ele não lhe desse as costas.

- Quero meu marido. Quero vê-lo agora. - Dulce entregou o prato vazio à criada, sabendo que choramin­gava como uma criança. Mas não tinha importância. Pre­cisava do conforto que apenas o Cavaleiro Vermelho era capaz de lhe dar.

- E você o verá, minha lady. Vou pedir a Cecil que lhe transmita o recado. Posso me retirar agora, ou você vai querer algo mais?

Dulce balançou a cabeça e dispensou a serva, não sem antes recomendá-la para ir atrás de Cecil logo. Na verdade, se Alice fosse mais corajosa, a mandaria dar o recado ao Cavaleiro Vermelho pessoalmente.

- Alice! Por favor... apague todas as velas. E feche as cortinas da minha cama antes de sair.

Sozinha outra vez, ela sorriu ao pensar no engano da criada. Não precisava das sombras para repousar e sim para aguardar o marido.

Não foi necessário esperar muito. Uma leve corrente de ar, O ruído das cortinas sendo abertas e logo uma presença grande e sólida dominava a escuridão. Ao es­tender a mão para tocá-lo, Dulce se surpreendeu ao perceber que Christopher usava uma espécie de robe, quando na verdade preferia sabê-lo nu.

- Você mandou me chamar, esposa? -A voz profunda soava séria como sempre.

- Sim. - Será que fora apenas imaginação sua, ou ele a confortara ao amanhecer, abraçando-a ternamente? Aquelas mudanças repentinas de humor a deixavam confusa, sem saber o que pensar. Porém sentia-se incapaz de experimentar qualquer sentimento de raiva em relação do marido. Não depois de se dar conta do quanto aquele homem era importante na sua vida.

Entretanto saber que seus sentimentos por Christopher não podiam ser mudados em nada diminuía o impacto das emoções recém-descobertas. Era doloroso demais desejar alguém com tamanho desespero. Não podia se culpar por ter tentado se proteger da força incontrolável das emo­ções. Mas sempre fora uma mulher corajosa e estava disposta a enfrentar a situação. Embora não pudesse al­terar o desejo, conhecia uma maneira de amenizá-lo.

- Será que foi imaginação minha, marido, ou hoje de manhã você me prometeu filhos?

Seguindo um impulso ousado, Dulce deslizou a mão para dentro do robe de Christopher. - Lembro-me perfeita­mente de você haver prometido plantar sua semente den­tro de mim... bem fundo dentro de mim.

Mesmo notando que o membro masculino já estava ereto, ela continuou acariciando-o devagar, de uma ma­neira sensual e provocante.. Montmorency permaneceu imóvel durante alguns segundos, pego de surpresa pela atitude da esposa. Então tomou-a nos braços e manteve a palavra empenhada.

Para seu alívio, ele não falou uma palavra sobre o mal que a acometera, porém fez questão de amá-la com uma delicadeza especial. Ao acordar, na manhã seguinte, Dulce não foi capaz de reprimir o desaponto ao se descobrir sozinha. Contudo melhor assim do que ser convidada a se retirar do quarto.

Desse modo ficou estabelecida uma rotina. Durante dia ela dirigia o castelo, ao anoitecer jantava nos aposentos principais e na calada da noite, fazia amor com o marido. Dulce dizia-se que era mais do que suficiente que sua estranha experiência com a viúva Nebbs afastara quaisquer pensamentos ligados à feitiçaria. Porém con­tinuava se perguntando por que motivo Christopher se mantinha nas sombras e porque nunca ficava ao seu lado até ao amanhecer. E como dizem, o fruto proibido é sempre o mais desejado...

Por algum tempo manteve-se satisfeita. Os prepara­tivos para o Natal a ocupavam bastante, evitando que pensasse nos mistérios que cercavam o marido. Ou pelo menos adiando o momento de tomar uma atitude concreta.

Depois de decidir o cardápio do dia com Glenna, ela voltou para o salão e sentou-se à mesa com a intenção de escrever uma carta para seu administrador em Belvry. Porém logo sua concentração foi interrompida pela che­gada de Alice, com Pasqua a tiracolo. A criada derretia-se em sorrisos enquanto o soldado não dava a impressão de estar muito satisfeito.

- Calma, mulher - ele resmungou ajeitando a espada na bainha. - Eu lhe disse que ainda não estava pronto para descer. Que idéia é essa de sair correndo sem a companhia de seu guarda pessoal?

- Tenho trabalho para fazer, Pascoal Gallway, e não posso me dar ao luxo de passar a manhã inteira na cama, como certos soldados que conheço.

- Por acaso você está me chamando de preguiçoso, mulher? - O sorriso brincalhão tirava a aspereza das palavras.

- Se a carapuça lhe serve, pode vesti-la.

Dulce fitava a serva fascinada. Quando chegaram a Dunmurrow, a criada agia como quem estivesse partici­pando de um eterno funeral, mas agora, de uns dias para cá, voltara a agir de maneira natural e relaxada. Aliás, Alice realmente mudara. Remoçara, seria a pala­vra mais adequada. Será que o relacionamento com o guarda-costas havia ido além de um flerte?

Quando a criada não aparecera em seu quarto de manhãzinha, para ajudá-la a vestir-se, sequer se preo­cupara, porque estava com os pensamentos ocupados com outras coisas. Contudo agora, tentava imaginar o que atrasara Alice...

- Calma lá, Alicezinha - Pasqua ordenou num tom sério, - Acho que já está na hora de você aprender quem é seu senhor.

- Verdade?

- Sim. Agora sente-se e escute o que vou lhe dizer. Já fazem muitos anos desde que um de nós foi casado e talvez tenhamos que refrescar a memória para nos lembrarmos como é que um homem e uma mulher se relacionam.

- Pois me parece que você se lembra bastante de algumas partes.

- Bem, ah, sim - ele admitiu. - Contudo tem certas coisas que você parece ter se esquecido, como por exemplo, que uma mulher deve sempre obedecer ao seu homem. Sei que você tem vivido sozinha e acabou se acostumando a agir de acordo com a própria cabeça, porém espero que a partir de agora passe a me obedecer, porque é esse o jeito natural das coisas.

Curiosa, Dulce tentou enxergar o rosto da criada, que conversava a distância com o soldado.

- Então você quer que eu o obedeça em tudo? ­

Alice indagou muito calma.

- Sim. - Apesar da afirmativa, Pasqua não parecia tão positivo quanto antes.

- Está bem.

Dulce quase caiu da cadeira ao ouvir a resposta da criada. Afinal esperara uma cena.

Pasqua, que estivera andando de um lado para o outro não se conteve de satisfação.

- Ótimo, assim é que se fala. Fico feliz que você seja capaz de agir com bom senso.

- Se o assunto está resolvido, tenho alguns trabalho de costura a fazer para a minha lady. - A serva levantou-se e caminhou na direção de Dulce.

- Vou consertar as roupas agora - Alice falou em alto e bom som para logo depois diminuir o tom da voz, uma expressão conspiratória no rosto simpático. - Dei­xe-os sempre pensar que estão no comando e faça o que você bem entender.

Com uma piscadela, Alice saiu e Pasqua a acompanhou como um cachorrinho treinado... e feliz.

Por um momento Dulce experimentou uma pontada de inveja da relação entre o soldado e a serva. Os dois não eram obrigados a se encontrar somente durante a noite, como amantes secretos, e podiam estar juntos a qualquer hora do dia, deixando aparente a afeição que os unia. Queria tanto que seu casamento com Montmo­rency pudesse ser assim... Irritada com o rumo dos pen­samentos, imediatamente censurou-os.

Na verdade podia-se considerar uma mulher de sorte. Depois de ter se casado com um homem de quem ouvira falar horrores, acabara encontrando alguém que a dei­xava administrar a vida dentro do castelo, além de ser um parceiro maravilhoso na cama. Por que se sentir in­feliz quando recebera esses presentes inesperados?

Talvez fosse melhor ignorar a escuridão que a cercava e a curiosidade que lhe pesava sobre os ombros como um fardo. Embora procurasse manter a atenção fixa na carta que pretendia escrever, as palavras insistiam em lhe faltar. Só conseguia pensar no marido, sozinho, nos aposentos enormes e sombrios.

O que será que ele fazia o dia inteiro? Será que sentia falta de caçar e treinar seus homens? Claro que Christopher devia ter se dedicado a esse tipo de coisa até algum tempo atrás ou não teria participado de tantas batalhas ao lado do rei. O que o levara a uma vida tão solitária? Talvez um interesse real pela magia negra? Eram muitas as perguntas sem respostas. Sempre fora capaz de solucio­nar os problemas do dia-a-dia, ainda que envolvessem quantos sérios ligados à administração do castelo, abor­dando-os de maneira lógica. Entretanto o comportamento bizarro do Cavaleiro Vermelho parecia desafiar a razão.

Cada vez que tentava descobrir algum detalhe envol­vendo-o, sentia-se bloqueada. Cecil nunca dizia nada, Afonso mantinha a boca fechada e Christopher subia pelas paredes sempre que procurava tocar no assunto de seu exílio vo­luntário. E se havia algo que a chateava mais do que as sombras eram exatamente as explosões do marido. Não tinha a menor vontade de atrair aquela ira para si mesma.

Foi a passagem de Cecil pelo corredor que a trouxe de volta à realidade, fazendo-a perceber que o papel de carta continuava em branco. Suspirando, forçou-se a es­crever rapidamente e ao terminar reparou que o outro Cecil passava correndo na direção do celeiro. Se os dois irmãos haviam se ausentado, quem então estaria a pos­tos, guardando a toca do Cavaleiro Vermelho? Ninguém. De repente Dulce experimentou um impulso incontro­lável de dar uma olhada.

Sem parar para pensar ou considerar o peso dos atos, subiu as escadas que conduziam aos aposentos de Christopher, uma sensação de estar desafiando o proibido dominando-a a cada passo. Exceto os Cecils, não havia uma única pessoa no castelo que pudesse entrar nos domínios par­ticulares do lorde de Dunmurrow. Os gêmeos se encarregavam da limpeza e de atender qualquer ordem, reve­zando-se na tarefa quase as vinte e quatro horas do dia.

Na sua opinião, não havia muita necessidade de tanta segurança. Afinal quem ousaria se aproximar do antro do Cavaleiro Vermelho? Mesmo os que obtinham permis­são pareciam relutantes em aceitar o convite.

E entrar sem permissão era exatamente o que ela pre­tendia fazer.

Apesar do bom senso a aconselhar do contrário, não conseguia conter a curiosidade. Ali estava uma oportu­nidade de descobrir mais sobre o marido, observando os aposentos à luz do dia. Será que ele estava lá? Será que acenderia velas quando sozinho, para aliviar o peso das sombras? Talvez conseguisse enxergá-lo, se a penumbra não fosse muito espessa. Agora, se o quarto estivesse vazio, poderia procurar sinais capazes de revelar detalhes sobre a personalidade do Cavaleiro Vermelho.

Ao chegar junto aos aposentos, seu coração batia tanto no peito que dava a impressão de querer saltar pela boca. Sem hesitar um segundo, abriu a porta e entrou. Porém, para seu desaponto, nenhuma revelação lhe foi feita.

Como de costume, as sombras dominavam cada canto e apenas o fogo da lareira quebrava a escuridão total. O crepitar das chamas era o único ruído audível. De repente alguma coisa esbarrou em seus pés. Os cães! Como pudera esquecê-los?

- Dulce? - Ela quase desmaiou ao ouvir a voz do marido, saída da escuridão como uma ameaça. - O que foi, minha esposa?

Embora tentasse julgar o humor de Christopher baseando-se no tom da voz, nada conseguiu. Seu nervosismo era ta­manho que a impedia de raciocinar com clareza. Será que ele estava muito irritado pela invasão inesperada?

- Será que posso incomodá-lo durante alguns segun­dos? - Dulce perguntou embaraçada, o corpo inteiro tremendo. - Escrevi uma carta para meu administrador, em Belvry... e gostaria de ler para a sua aprovação.

- Onde está Cecil?

- Eu o vi saindo antes de vir para cá. - Ela achou melhor não explicar por que entrara daquela maneira precipitada, sem ao menos bater na porta. - Mas se você estiver muito ocupado...

- Não. Sente-se, por favor. - O tom seco de Mont­morency deixava claro que ele sabia muito bem que a tal carta não passava de uma desculpa. - Leia para mim.

Sentada junto ao fogo, Dulce fez o que lhe foi pedido, satisfeita por ter sido capaz de manter a voz calma e controlada. Agora precisava apenas aguardar o parecer do marido.

Embora se importasse com Christopher mais do que um dia julgara possível se importar com quem quer que fosse, o poder que dele emanava ainda a intimidava e como uma criança pega em flagrante, tinha consciência de que tentara colher o fruto proibido entrando ali sem ser con­vidada. Será que seria repreendida?

- A carta está muito bem escrita. - O comentário lhe trouxe um alívio indescritível. - Acho que deve man­dá-la sem demora. Você sentiu minha falta, esposa?

A pergunta pegou-a de surpresa por causa da mudança repentina de assunto.

- Sim. - E era a pura verdade. Sentia falta da pre­sença do marido e procurava se consolar daquela ausência dedicando-se a atividades variadas.

- Então venha cá.

Surpresa e feliz, Dulce caminhou na direção da voz, ignorando os cachorros e a escuridão. Logo braços fortes a enlaçavam.

- Você é uma mulher ardente que não parece capaz de se manter longe do marido.

- É uma triste verdade. - Ela suspirou e recostou a cabeça no peito largo, sentindo os lábios quentes roça­rem seus cabelos de leve.

- Talvez seja triste para você, mas é um prazer para mim.

Ela o abraçou com o desespero de quem se agarra à própria vida.

- Não. É uma alegria para mim.

- Dulce...

A palavra ficou parada no ar, como um gemido, uma súplica, uma prece. Então os lábios de ambos se encontraram com avidez, numa fome que não podia ser saciada.

Os mistérios que envolviam o Cavaleiro Vermelho foram momentaneamente esquecidos, a magia que os atraía um para o outro envolvendo-os numa teia de sedução e encantamento. Dulce esqueceu-se dos afazeres e passou a manhã inteira na cama do marido.

À medida que o dia de Natal se aproximava, Alice tornava-se mais e mais ansiosa para ajudar. De fato a mudança que ocorrera na criada desde a chegada a Dun­murrow era impressionante. Inúmeras vezes a surpreen­dera cantarolando feliz enquanto trabalhava e hoje não era exceção.

- Creio que vamos ter uma quantidade suficiente de bolos, minha lady, mas acho que deveríamos assar mais pães para os aldeões levarem para casa.

- Então na sua opinião pães extras atrairão o povo ao castelo?

- Sim, minha lady. Será bom para as pessoas ter um dia de fartura e celebração.

A opinião de Alice sobre a celebração de Natal era tão diferente de algumas semanas atrás que Dulce não resistiu à vontade de provocá-la.

- Mesmo se o Cavaleiro Vermelho decidir se juntar a eles?

- Bem, você deve compreender que eu ainda não posso aprová-lo, porém Pasqua está sempre dizendo que se trata de um homem bom. Assim resolvi reservar meu julga­mento final.

Por um instante Dulce sentiu-se irritada porque a serva parecia acreditar mais na palavra de Pasqua do que na sua própria. Depois concluiu que talvez a culpa fosse mesmo sua porque não defendera o marido com a vee­mência necessária. Claro que refutara os rumores que o cercavam, mas será que dissera a Alice que seu marido era gentil, delicado e... ardente?

- Claro que ele é um homem bom.

- Provavelmente deve ser mesmo, já que Pasqua o tem em tão alta conta. Mas devo admitir que ainda tenho minhas dúvidas. - A conversa foi interrompida pela che­gada do próprio Pasqua saído da cozinha com um copo de cerveja nas mãos.

- Alicezinha, Glenna está precisando de você na co­zinha - ele anunciou, mastigando alguma guloseima.

- E posso saber o que o senhor estava fazendo lá? - a serva indagou com um dedo em riste. - Com certeza se empanturrando de bolos e doces que estão sendo pre­parados para a ceia de Natal.

O soldado sorriu sem um pingo de remorso, os farelos ao redor dos lábios denunciando o que andara lambis­cando. Alice marchou para fora do salão, resmungando alto sobre velhos que se comportam como crianças.

A sós com o soldado, de repente Dulce o fitou como se o visse pela primeira vez. Ali estava alguém que de fato conhecia o seu marido.

De acordo com a conversa da criada, Pasqua admirava e respeitava o Cavaleiro Vermelho, portanto devia co­nhecê-lo bem. Provavelmente o homem estava a serviço do barão há tempos e quem sabe não poderia responder algumas das perguntas que a assombravam?

Com o coração aos pulos de ansiedade, sentou-se junto de Pasqua embora mantivesse os olhos voltados para a porta da cozinha, caso Alice aparecesse. Queria que essa conversa fosse em particular.        

- Pasqua - ela começou cautelosa -, você está a ser­viço do Cavaleiro Vermelho há muitos anos, não é?

- Isso mesmo, minha lady - o soldado respondeu antes de tomar um longo gole de cerveja.

Ela aguardou, certa de que outros comentários seriam feitos. Porém Pasqua permaneceu calado, o olhar fixo no fogo que crepitava na lareira. Pelo visto, ele só era falante quando estava de bom humor ou quando o assunto o interessava.

- Há quanto tempo? - Dulce insistiu, não querer se dar por vencida.

- Oh, há anos, minha lady.

E como é a aparência dele?, ela ansiava perguntar porém o pudor a impedia. Como teria coragem de admitir para o soldado que jamais pusera os olhos sobre a figura do marido?

- Aqueles que, como eu, se juntam ao Cavaleiro Vermelho em geral permanecem no posto porque o barão um homem justo e um grande guerreiro.

Mas como é a aparência dele? Nunca se sentira tão perto e tão longe de descobrir a verdade sobre Christopher.

- Imagino que só a alta estatura de meu marido já impunha medo aos seus inimigos.

- Sim. Ele é um homem grande.

E...? Por um instante ela pensou em pegar uma faca e ameaçar o soldado para obrigá-la a lhe dar as informações que procurava. Qual seria a cor dos cabelos de Montmorency? Dos olhos? Como seria o rosto? Desfigurado, talvez?

- Meu marido... assusta os inimigos?

- Bem, claro que sim. Especialmente depois que o barão recebeu o título de Cavaleiro Vermelho, dado pelo próprio rei Edward. Foi assim que todas aquelas histórias absurdas começaram a ser contadas. - Pasqua deu de ombros, demonstrando todo o seu desgosto com os rumo­res estranhos que cercavam o senhor de Dunmurrow.

Então Pasqua também não acreditava naquelas boba­gens envolvendo feitiçaria, Dulce concluiu. Entretanto o soldado admitia que a mera presença de Christopher atemo­rizava os inimigos. Inspirando fundo, Dulce tentou as­similar a revelação. Só havia uma conclusão lógica. Mont­morency devia ter nascido com alguma deformidade, ou então ficara terrivelmente desfigurado por ferimentos so­fridos durante uma batalha. Entretanto essa possível de­formidade não pudera ser detectada quando o tocara com as pontas dos dedos.

- Pasqua - Dulce indagou muito séria -, por que de já não treina pessoalmente os próprios homens?

O soldado ficou em silêncio vários segundos, os olhos fixos no copo de cerveja.

- Não sei dizer com certeza. Nós todos, que estamos sob as ordens do Cavaleiro Vermelho, achávamos que depois de ter recebido Dunmurrow como prêmio pelos serviços prestados ao rei, ele merecia um descanso. Pre­sumo que seja isto o que o Cavaleiro Vermelho esteja fazendo. Descansando.

Um descanso? Dulce mal podia acreditar no que aca­bara de ouvir. Aquela era o tipo de resposta que em nada explicava os mistérios incontáveis que cercavam Christopher Montmorency.

- Mas ele nunca sai do quarto!

- É mesmo? - O tom desinteressado do soldado dei­xava claro como o comportamento do Cavaleiro Vermelho não lhe causava a menor estranheza. - Nada sei sobre os hábitos do barão, minha lady. Agora, se me der licença, vou à procura de Alice. Afinal fui encarregado de pro­tegê-la, não é?

Dulce permaneceu onde estava, certa de que por mais que tentasse Pasqua não revelaria coisa alguma. Christopher soubera escolher bem os homens que o cercavam e ne­nhum deles quebraria o voto de fidelidade.

Cansada de se ver às voltas com tantas perguntas sem respostas, resolveu dedicar-se às tarefas do dia. Pegando o copo de cerveja que o soldado esquecera sobre a mesa, começou a caminhar na direção da cozinha. De súbito, olhando para o resto do líquido escuro e opaco, lembrou-se da poção que a viúva Nebbs lhe dera. Se ao menos existisse uma erva capaz de fazer as pessoas fa­larem livremente, sem qualquer tipo de censura... Quem sabe assim não encontraria as explicações para as dúvi­das que a atormentavam.

A idéia que lhe ocorreu teve a força de um raio. Infe­lizmente não havia ervas capazes de obrigar alguém a falar a verdade, entretanto existiam muitos outros tipos de ervas, cada qual com poderes especiais e particulares.

Segurando um pacotinho com uma mistura de ervas para fazer dormir, Dulce bateu na porta dos aposentos principais e aguardou que o marido a mandasse entrar.

Ainda não era tarde demais para voltar atrás, pensou com um aperto no coração. Bastava guardar o embrulho pequenino num dos bolsos do vestido e pronto, assunto esquecido. Entretanto nunca fora o tipo de desistir depois de tomar uma decisão e agora não seria diferente. Mordendo os lábios nervosamente, entrou.

- Sou eu, Dulce, meu lorde.

- Você chegou cedo hoje, esposa. Sua fome é tão grande de assim? - Na verdade, apesar das palavras aparen­temente inofensivas, o que Montmorency queria sugerir era que ela sentia fome de sexo. Apesar de estar sempre pronta e disposta a receber as atenções do marido, precisava aguardar o momento certo ou seus planos iriam por água abaixo. Queria Christopher em sua cama sim, só que mais tarde... Não aqui, neste momento.

- Sim, estou faminta! - Dulce retrucou achando melhor se fazer de desentendida. Montmorency nada res­pondeu, entretanto o desaponto dele era palpável e ema­nava em ondas através da escuridão.

Sentada no lugar de costume, ela reparou que a mesa estava vazia. Em geral, ao chegar, já encontrava o jantar servido. Porém hoje fizera questão de aparecer antes de Cecil para facilitar a execução do plano. Determinada a preencher os minutos intermináveis de espera, falou so­bre o que fizera o dia inteiro, embora os pensamentos vagassem numa direção bastante diferente.

Finalmente Cecil apareceu trazendo as travessas e de­positou-as sobre a mesa, aliás uma tarefa quase impos­sível por causa das trevas. Oh, Deus, e se o servo notasse o que estava para fazer? Não, tarde demais para mudar de idéia. Iria até o fim. Quando Cecil depositou o cálice de Christopher, ela estendeu a mão, como se fosse ajeitá-lo me­lhor, e despejou o conteúdo do pacotinho dentro do vinho.

Hoje o Cavaleiro Vermelho dormiria ao seu lado a noite inteira.

O criado foi dispensado e a refeição prosseguiu como de costume. Dulce contou a respeito dos preparativos para o natal enquanto lambiscava a comida, o coração batendo descompassado no peito. Será que dera uma dose muito grande de sonífero? Ou será que não fora o sufi­ciente? Christopher era um homem grande e calcular a tempo necessário para que a droga surtisse efeito era crucial.

Ao ouvi-lo bocejar, Dulce levantou-se depressa.

- Venha me ver - falou docemente. - Vou esperá-lo no meu quarto. - Então saiu depressa, tentando conter o nervosismo.

Mesmo já tendo feito amor alternadamente na cama de ambos, Dulce sabia, que o marido preferia ir ao seu encontro porque assim podia deixá-la quando quisesse, antes do amanhecer. E sempre na completa escuridão.

Nas trevas ele a abraçava, desvendava cada pedacinho de seu corpo com as mãos e a boca, o membro pulsante penetrando-a fundo, transformando-os numa só carne até que, louca de prazer, ela gritava em êxtase. Entretanto...

Apesar de todas as intimidades que haviam partilhado, sabia que se encontrasse o marido em plena luz do dia não poderia reconhecê-lo...

A situação era intolerável. Não podia aceitar nem com­preender aquelas sombras eternas, nem agora, nem nun­ca. Ela agarrava-se à idéia de que Christopher era desfigurado de alguma maneira que seu toque não conseguia detectar, porque a alternativa era muito mais aterradora.

Ainda que Alice tivesse parado com os comentários absurdos, tinha consciência dos rumores que envolviam seu marido. Embora estivesse certa que o homem que a levava para cama não era nenhum feiticeiro do mal, uma dúvida constante costumava atormentá-la, principalmente durante as longas horas do dia, quando se encontrava a sós. E era essa dúvida que precisava ser eliminada.

Bem no fundo do coração alimentara a esperança que Christopher acabaria confiando nela e se revelando inteiro, como fazia com Afonso e com os Cecil. Na verdade sentia-se ferida por essa falta de fé, pela barreira existente entre os dois. Talvez, com o tempo, ele abaixaria a guarda. Porém nunca fora uma mulher muito paciente. Estava cansada de esperar.

Hoje a noite veria o rosto e o corpo de seu marido.

Com a cabeça recostada no peito largo de Christopher, Dulce o ouvia respirar enquanto procurava aquietar as batida do próprio coração, temendo acordá-lo. Ele havia feito amor mais lentamente, como se as ervas já estivesse afetando-o. Contudo a paixão fora a mesma, intensa sem medidas. Oh, Deus, será que estava fazendo a coisa certa? Agora que o momento havia chegado sentia-se mais apavorada do que aliviada diante da perspectiva de ver o Cavaleiro Vermelho.

- Christopher?

Nenhuma resposta.

Mesmo não gostando muito dá idéia de se apressar, precisava agir o quanto antes porque não sabia por quanto tempo as ervas o manteriam dormindo. Chegara a hora de desvendar o segredo do Cavaleiro Vermelho, um homem cuja reputação atravessara todo o reino, o homem de quem se dizia ter parte com o diabo....

Dulce sentou-se e abriu as cortinas da cama, pronta para dizer que precisava atender a um chamado da na­tureza, caso Christopher acordasse de repente. Procurando não fazer o menor ruído, vestiu um robe e pegou o vestido que deixara sobre a cadeira, em cujo bolso escondera um castiçal e uma vela grossa. Com as mãos trêmulas, foi até a lareira e acendeu a vela. Depois obrigou-se a ca­minhar até a cama.

Erguendo o braço, iluminou a figura de um homem alto, um cavaleiro de enorme estatura. Então puxou as cobertas para olhar, pela primeira vez, o corpo de seu marido adormecido.

As pernas longas e musculosas, cobertas por uma ca­mada de pêlos claros, a faziam pensar na solidez da rocha. A virilidade, grande mesmo sem estar ereta, descansava sobre os cabelos louros em torno das virilhas. Uma das mãos, de dedos esguios, repousava sobre o estômago fir­me. Como não percebesse qualquer desfiguração até ali, Dulce continuou a examiná-lo.

O peito era forte, a pele dourada, os ombros incrivel­mente largos, os braços musculosos. Não havia nada de errado com o corpo de seu marido, Dulce pensou es­tarrecida. Ele parecia um deus atlético, esculpido à per­feição.

Tremendo de maneira incontrolável, ela ergueu o cas­tiçal para iluminar o rosto, certa de que ali encontraria o motivo que o obrigava a permanecer envolto pelas trevas...

Vagarosamente as feições foram se tornando nítidas. Chocada, Dulce sufocou um grito de surpresa.

Christopher Montmorency era lindo.

Cabelos louros-escuros desciam até o pescoço. Sobran­celhas bem delineadas, cílios longos e espessos, nariz reto. Queixo forte e lábios generosos, sem serem excessiva­mente carnudos. Um rosto perfeito. O rosto de um anjo.

Apenas uma pequena cicatriz que corria de uma das sobrancelhas até a têmpora.

Fascinada pela visão, Dulce deu um passo para a frente e aproximou ainda mais o castiçal da figura ador­mecida, procurando algo que explicasse o porquê daquele homem se esconder nas sombras. Hesitante, tocou a ci­catriz. Fora um ferimento recente, concluiu. Porém já vira coisas bem piores em outros cavaleiros. Não era nada que diminuísse a beleza de Christopher, muito pelo contrário. A marca o tornava mais viril, másculo, real... como se o anjo tivesse vencido um combate mortal com o demônio.

O demônio. Não, não queria pensar nisso, decidiu, murmurando uma prece. De repente Christopher mudou de posição na cama e Dulce se deu conta da enormidade do que havia feito. Na sua pressa de fechar as cortinas da cama quase acabou deixando o castiçal cair. Rapidamente apagou a vela e escondeu-a outra vez no bolso do vestido. Depois voltou para o seu lado da cama, perdida numa confusão total.

Mordendo os lábios de puro nervosismo, experimento o gosto do medo ao decidir que devia tornar a deitar-se.

Era incrível pensar como havia mudado. Antes de casar se nunca tivera receio de nada, nem da escuridão, nem da ausência da sua mãe, nem das histórias de fantasma e seres diabólicos que faziam Alice estremecer de pavor nem mesmo da falta de significado da sua vida que pro­curara remediar com trabalho em vez de amor.

Engolindo um soluço, Dulce tirou o robe e deitou-se, as pernas recusando-se a mantê-la de pé por mais um segundo sequer. As lágrimas, que jamais chegara a der­ramar antes, começaram a correr livres pelo rosto deli­cado, trazendo um alívio inesperado. Dominada pela emo­ção, passou um braço ao redor do peito largo do marido, apertando-o com força de encontro a si. Finalmente a verdade a atingira como um raio, obrigando-a a enfrentar o que tentara ignorar. Não importava quem ou o que o Cavaleiro Vermelho era. Ele viera preencher o vazio da sua vida, um vazio tão grande que nem suspeitara existir. Ele a fizera desabrochar.

O fato é que o amava acima de tudo e com toda a sua alma.

 

 


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Autor(a): nathyneves

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Dulce acordou devagar, uma sensação de calor e bem-estar inundando-a por inteiro.Numa reação instintiva, esfregou o rosto de encontro ao peito largo, absorvendo o cheiro delicioso da pele do ma­rido. Seria um sonho ou estavam juntos mesmo? O pen­samento destroçou os vestígios de sono, trazendo-a de volta à realidade, p ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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