Fanfics Brasil - CAPITULO XII ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO XII

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Dulce acordou devagar, uma sensação de calor e bem-estar inundando-a por inteiro.

Numa reação instintiva, esfregou o rosto de encontro ao peito largo, absorvendo o cheiro delicioso da pele do ma­rido. Seria um sonho ou estavam juntos mesmo? O pen­samento destroçou os vestígios de sono, trazendo-a de volta à realidade, pois sabia que devia estar sozinha.

Será que já havia amanhecido? Um início de pânico ameaçou dominá-la ao se lembrar dos acontecimentos da noite anterior. Talvez, apesar de todos os seus cuidados, tivesse dado uma dose grande de sonífero a Christopher. Grande o suficiente para fazê-lo passar a noite inteira no seu quarto. Agora não havia como fingir que nada tinha acon­tecido. Nada poderia continuar a ser como antes...

Pela primeira vez, Dulce se permitiu pensar no acon­tecido e enfrentar a única conclusão possível. O homem ao seu lado era perfeito e, com exceção da cor dos olhos, vira cada detalhe do corpo de Montmorency. Não existia coisa alguma que o obrigasse a viver nas trevas, exceto um pacto com o diabo.

Uma batida à porta assustou-a.

- Minha lady? - Alice chamou-a, entrando no quarto. -Você está se sentindo bem? Já passou da hora de se levantar.

Dulce engoliu em seco.

- Sim, estou bem, porém gostaria de ficar na cama um pouco mais. Pode ir cuidar das suas outras tarefas e me deixar sozinha.

Apesar da dispensa, a criada não deu mostras de mover do lugar.

- Tem mesmo certeza de que está se sentindo bem

- Já disse que sim. Estou com meu marido. Deixe-me a sós!

Nada teria feito a criada se afastar com maior rapidez do que a menção do Cavaleiro Vermelho. Dulce sorriu ao ouvir a porta do quarto sendo fechada com força, contudo o sorriso desapareceu de seus lábios diante do som pastoso da voz do marido.

- Já é de manhã?

- Sim. Hoje é véspera de Natal e você está na minha cama.

Aparentando mais calma do que sentia, Dulce abriu as cortinas da cama e ficou de pé. Por um instante a coragem lhe faltou. Será que o encontraria transformado numa fera horrenda ao amanhecer? Quaisquer que fos­sem as conseqüências, sabia que precisava olhar. Com a respiração suspensa, voltou-se para fitar o marido.

Apesar de seus mais loucos medos, Christopher não tinha se transformado numa criatura de chifres ao ser banhado pela luz da manhã. Ontem chegara a suspeitar que a luz da vela aumentara os charmes masculinos, porém se enganara inteiramente. Montmorency era maravilhoso, da cabeça aos pés.

Tratava-se de um homem enorme, mas bem propor­cionado. Peito largo, estômago firme, quadris estreitos, mal cobertos pelos lençóis. Os músculos dos braços so­bressaíam sob a leve camada de pêlos louros e cabelos da mesma cor se espalhavam pelo travesseiro, brilhantes e macios. Deitado de costas, Christopher tinha um dos braços apoiados sobre os olhos e as sobrancelhas pareciam con­traídas, um sinal evidente de angústia. Era como se ele quisesse negar a presença da esposa. O queixo forte e os lábios generosos a atraíam como um imã.

- Você é lindo, meu marido - Dulce murmurou cheia de carinho, admirando os contornos perfeitos. An­siava tocá-lo, como se apenas o contato direto pudesse tomar essa visão de beleza real. Entretanto Montmorency virou-se para o lado oposto e sentou-se, puxando as cor­tinas com raiva.

- Me deixe sozinho! - ele falou entre os dentes, apoiando a cabeça nas mãos. - Vá chamar Cecil e me deixe só, sua mulher estúpida!

Atordoada pelas palavras ásperas, Dulce vestiu um robe, porém, em vez de chamar Cecil, aproximou-se do marido, sentindo um peso sufocante no peito, um peso que quase a impedia de respirar e lhe trazia lágrimas aos olhos.

Entretanto, não se tratava de medo, mesmo sabendo que Christopher podia fazê-la parar do outro lado do quarto com um simples empurrão. Ela conhecia a intensidade daquela ira e sabia o quão assustador Christopher podia ser no auge da raiva. Ainda assim, não conseguia se afastar. Preferia se expor a quaisquer riscos a deixá-lo. Procu­rando manter a calma, ajoelhou-se diante do marido e tocou-o de leve, fazendo-o baixar as mãos que lhe cobriam o rosto.

- Não me mande embora - pediu num murmúrio.

Com um gemido rouco, Montmorency ergueu a cabeça e mais uma vez Dulce sentiu um choque profundo diante de tão grande beleza. Cabelos louros e pele dourada faziam sobressair ainda mais os olhos mais lindos que jamais vira. Profundos e azuis como o mar. Subjugada por uma emoção tão forte que ameaçava sufocá-la, Dulce engoliu em seco, incapaz de desviar a atenção da­queles olhos. Olhos maravilhosos, de um azul intenso e que ainda assim... .

Não podiam vê-la.

A força da revelação foi como uma punhalada e de repente tudo ficou claro, as peças do quebra-cabeça se encaixando sem esforço. A escuridão, o isolamento, a presença constante dos servos. O Cavaleiro não era nenhum feiticeiro e nem se escondia nas sombras por causa algum traço que o desfigurava.

O Cavaleiro Vermelho era cego.

Christopher permaneceu imóvel, cada linha do rosto contraído como se preparasse para um ataque. Era uma visão arrepiante, uma visão que teria feito muita gente de coração frágil correr. Porém Dulce era forte e não se moveu.

- Quando? - perguntou simplesmente.

Apesar de atenta, ela não estava preparada para movimento repentino do marido. Num acesso de raiva Christopher levantou-se da cama e empurrou-a para o lado fazendo-a perder o equilíbrio enquanto praguejava violentamente. Dulce ficou de pé, o coração batendo descompassado no peito, os olhos fixos no animal desvairados e enfurecido que varria o quarto num ímpeto de destruição. Ao esbarrar na cômoda, Montmorency pegou-a e jo­gou-a de encontro à parede, partindo a madeira pesada em dezenas de pedaços. Assustada, Dulce se encolheu de encontro a cama.

Estava apavorada sim, mais apavorada do que jamais estivera durante toda a sua vida. Seu temor de feitiçaria, de encantamentos ou das trevas não era nada comparado ao terror que a gelava até aos ossos. Porque à sua frente estava um estranho, um estranho enorme, feroz e imprevisível, um estranho capaz de qualquer coisa. E não havia como tentar chamá-lo à razão. Tampando os ouvidos com as mãos para não ouvir os urros irados, Dulce fechou os olhos tentando não enxergar a demons­tração de raiva crua e desprovida de qualquer controle.

O silêncio inesperado a fez abrir os olhos outra vez. Christopher estava imóvel agora, ofegante, as feições bonitas transformadas numa máscara de ódio.

- Eu devia matá-la - ele murmurou baixinho.

As palavras tiveram o efeito de um golpe e por um instante ela desejou ter sido agredida fisicamente. Talvez a dor fosse menor. Então significava tão pouco assim para o marido? Toda a ternura, todo o carinho, toda a paixão que existira entre os dois... Fora tudo em vão? De repente o medo desapareceu como por encanto, deixando apenas o vazio, uma calma estranha, como se estivesse morta por dentro.

Dulce ergueu a cabeça esforçando-se para conter as lágrimas inúteis. Deus sabia o quanto já chorara na noite anterior, e de que valera tanta emoção se hoje de manhã o marido a queria morta?

- Não fale comigo neste tom, nem que seja movido pela raiva. Perguntei-lhe quando aconteceu e estou es­perando uma resposta.

Christopher estendeu o braço para frente, procurando a pa­rede. Então encostou-se e virou a cabeça para o outro lado, a fúria aparentemente extinta. Ele continuava nu e Dulce precisou se esforçar para ignorar os músculos das costas, as nádegas firmes, as pernas longas e atlé­ticas. Aquele corpo, próprio de um deus, a maravilhava...

- Meses atrás.

- Como?

- Durante uma batalha. Eu não estava usando elmo, apenas um barrete, o que deixava meus olhos sem pro­teção. Quando um galês me jogou ao chão e se preparou para desferir um golpe mortal em meu rosto, Afonso con­seguiu acertá-lo por trás. O machado do inimigo bateu numa rocha próxima à minha cabeça. Fiquei coberto de sangue e estilhaços de pedra. Desde então só me restou a dor e a escuridão.

Cheia de angústia, Dulce queria abraçar o marido, oferecer conforto e curá-lo. Mas temendo provocar um novo acesso de raiva, permaneceu imóvel.

- Conheço um pouco da arte da cura. Talvez eu possa ajudá-lo.

- Você acha que já não tentei de tudo? - Christopher gritou caminhando pelo quarto como uma fera enjaulada. - ­Mandei buscar cada feiticeiro e curandeiro do reino. Mas nada pôde ser feito!

- Não sei nada a respeito desses feiticeiros e curandeiros, porém tenho um bom conhecimento da arte cura. Pelo menos deixe-me tentar.

- Por quê? - Christopher perguntou num tom irônico cruel. - Porque você quer ter um verdadeiro homem como marido? Um cavaleiro que seja capaz de protege as suas propriedades e não um tolo idiota de quem se pode arrancar qualquer coisa em questão de segundos?

- Você não é indefeso. Você tem homens e Afonso para os liderar em caso de...

Montmorency cortou-a no meio da frase.

- Um bom show, entretanto de pouco servirá quando a verdade vier a tona. Essa desculpa da magia negra não nos protegerá para sempre. Será apenas uma questão de tempo até que alguém decida colocar a lenda à prova e me desafiar ou desafiar o meu direito à posse daquilo que você me trouxe através do casamento.

- Mas com certeza o rei...

O riso amargurado de Christopher cortava como aço.

- Você acha que Edward precisa de um vassalo cego para cuidar dos interesses da coroa? Para participar de batalhas e proteger as fronteiras do reino? Pois eu acho que não! Ele sabe que estou inválido e me deixa em paz, entretanto não poderá me proteger. Cedo ou tarde o mito que criaram sobre mim cairá por terra. E então o que será de você?

- Então faremos o que deve ser feito - Dulce res­pondeu muito calma.

- Qual a sua opinião sobre a sua sábia escolha agora, minha lady? Está muito arrependida?

- Não! - ela gritou determinada. - Não me arre­pendo de nada e você não será capaz de me fazer mudar de idéia usando essas palavras odiosas.

De repente Christopher estava ao seu lado, abraçando-a. Trê­mula de emoção, Dulce pressionou o rosto de encontro ao peito largo, sabendo que a única coisa que realmente a magoara havia sido a explosão do marido.

Entretanto tinha certeza de que Montmorency falara apenas da boca para fora porque não a queria morta e muito menos que o rejeitasse como marido. Ele apenas expusera seu estado de dor e vulnerabilidade atroz. Ali estava um grande guerreiro acostumado à vida ao ar livre, um verdadeiro líder, forte e inteligente, um homem especial que de repente vira-se obrigado a esconder-se dos olhos do mundo... Primeiro em Dunmurrow e então, quando uma noiva lhe fora imposta, exilado no próprio quarto, cego e só.

Ao se lembrar do absurdo das suas suspeitas iniciais, Dulce não conseguiu controlar a vontade de rir.

- E eu que pensei que você fosse uma criatura do mal, condenado a viver nas trevas por causa de algum pacto com o demônio. Todas aquelas histórias horríveis que Alice me contou a seu respeito... Eu jurava não acre­ditar em nenhuma delas, porém em que mais podia acre­ditar? Pois vou lhe dizer uma coisa, Christopher Montmorency. Prefiro estar apaixonada por um cego do que por um demônio.

- O que foi que você disse? - Christopher perguntou, os sentidos imediatamente alertas.

- Agradeço a Deus que você não seja o homem que os rumores insistem em transformá-lo. Porque quer fosse ma intenção, quer não, eu... eu tinha medo que os boatos possuíssem um fundo de verdade.

Christopher tocou a face da mulher com as pontas dos dedos, como se quisesse reter a beleza e a doçura de cada traço, O rosto viril, transtornado pela emoção, deixava evidente a força dos sentimentos que o abalavam. Mas ainda assim, ele mantinha um controle de ferro.

- E? - Montmorency indagou baixinho, a voz rouca e ansiosa.

- E eu te amo - ela respondeu com simplicidade. De repente velhos medos caíram por terra e foram subs­tituídos pela insegurança dos que se sabem irremedia­velmente apaixonados. Porém preferia enfrentar os so­bressaltos da paixão do que suportar uma vida longa vazia sem amor.

Embora achasse que o marido iria beijá-la, ele apenas abraçou-a com tanta força que quase a impediu de respirar.

- Dulce... - Christopher murmurou cheio de ternura. Porém, apesar do clima romântico e propício a confissões, ele não disse mais nada e manteve as rédeas das emoções sob controle.

Finalmente Dulce rompeu o silêncio.

- Venha, sente-se perto do fogo e pelo menos me deixe dar uma boa olhada em você.

Tomando-o pela mão, ela o conduziu até a lareira e o fez sentar-se no sofá. Então fitou os olhos azuis com atenção.

Eram tão lindos e brilhantes que tornava difícil acreditar que para nada serviam.

- Seus olhos doem?                                                 

Christopher apenas resmungou algo incompreensível. Com certeza o desconforto era bem maior do que ele deixava transparecer.

- Pelo que você me contou, creio que fragmentos de rocha ou metal penetraram em seus olhos. Você os lavou depois do acidente com bálsamos apropriados?

- Sim, mas de nada adiantou.

Dulce tentava raciocinar depressa e encontrar pos­síveis soluções. Em geral estilhaços costumavam ser ex­pulsos numa reação do próprio organismo, contudo havia uma possibilidade dos fragmentos terem ferido a retina de tal maneira que Christopher jamais voltaria a ver. Não, não podia aceitar que se tratava de uma condição permanente.

- Em Belvry, aprendi muitas coisas com uma mulher dedicada ao estudo das ervas antes de morrer.

- Já bebi misturas nojentas na tentativa de me curar e a última poção quase me matou. Passei vários dias sofrendo de terríveis dores de estomago. Não quero mais saber desse tipo de cura.

- Mas você já conversou com um medico?

- Sim, procurei muitos deles, embora jamais tivesse me apresentado com meu verdadeiro nome. O último, um cirurgião, queria retirar um de meus olhos para que eu pudesse voltar a enxergar com o outro.

Horrorizada, Dulce passou a mão pelo rosto do ma­rido possessivamente, como se quisesse protegê-lo de qualquer ameaça futura.

- Há uma fonte perto de Woolpit que dizem ser de águas medicinais, ótimas para doenças dos olhos.

- Não! Não acredito nestas tolices.

- Então vou lhe preparar uma beberagem que servirá para aliviar a dor.

- Não, obrigado. Já tomei minha cota de poções es­tranhas e estou farto.

- Vou lhe preparar uma beberagem sim - Dulce repetiu decidida. - E você vai tomá-la porque sou sua esposa e não temo a ira do Cavaleiro Vermelho.

De repente ela se deu conta de que o marido estava nu ao seu lado e um desejo de tocá-lo por inteiro suprimiu todos os outros pensamentos.

- Você é lindo - sussurrou apaixonada. - Agora fique quieto até que eu termine meus cuidados.

Lentamente, Dulce começou a beijá-lo nas faces, no queixo, no pescoço forte. Depois deslizou a língua pelo peito largo até atingir um dos mamilos. Então tomou-o na boca e sugou-o com força.

Christopher estremeceu e deixou escapar um gemido alto, os músculos tensos dos braços traindo o estado crescente de excitação. Dulce sentiu-se dominada por uma onda avassaladora de paixão. Ali estava seu marido em toda a glória viril: amante carinhoso, guerreiro feroz e homem vulnerável. Percebendo que ele tentava se levantar para tomá-la nos braços, empurrou-o de volta para o sofá.

- Me deixe fazer isso... - pediu num murmúrio rouco. - Me deixe olhar cada pedacinho de você... Você é tão, tão lindo.

Com o coração aos pulos, ela ajoelhou-se diante do marido e beijou a parte interna das coxas musculosas, o pênis, duro e ereto, parecendo ainda maior sob a luz. Então, bem devagar, tomou o membro intumescido na boca.

Por um instante Christopher ficou rígido. Depois mãos fortes a seguraram pelos cabelos puxando-a de encontro a si com avidez. Excitada pela reação do marido, Dulce re­dobrou as carícias, ouvindo-o gemer de prazer até que, estremecendo violentamente, Montmorency gritou seu êx­tase para o infinito.

- Como é que você conseguiu esconder tanta beleza do mundo? - ela perguntou, traçando círculos com as pontas dos dedos sobre o peito largo.

Christopher cruzou os braços atrás da cabeça, as veias e ten­dões parecendo querer saltar. Fascinada, Dulce não con­seguia desviar o olhar daquele corpo perfeito.

- Odeio desapontá-la, esposa, mas raramente alguma mulher se encantou com minha beleza antes.

- Ha! Não acredito numa só palavra, Christopher Montmorency! Uma mulher teria que ser...

- Cega? - Christopher completou.

- Desculpe-me, mas é isso mesmo. Uma mulher teria que ser cega ou então estar quase morta para não se atirar aos seus pés.

Christopher riu com prazer, o som vibrante fazendo-a arrepiar inteirinha, o coração cheio de orgulho e amor pelo marido.

- As únicas mulheres que se atiraram aos meus pés eram aquelas em cujas terras eu marchava com meus homens.

- Mas com certeza na corte... - Enciumada, Dulce mal podia pensar nas damas da corte flertando com Christopher e ostentando os decotes exagerados em que metade dos seios ficavam de fora.

- Raramente tive oportunidade de freqüentar a corte. O que, por sinal, pouca falta me fez. Passei a maior parte da minha vida nos campos de batalha e depois que adquiri essa reputação bizarra, poucas mulheres tinham coragem de se aproximar de mim.

O instinto lhe dizia que Montmorency estava lhe es­condendo alguma coisa, como alguém que omite certas partes da história e vai direto ao final.

- Não acredito em você, marido. Aposto que desde o berço as mulheres disputavam a sua atenção e não lhe davam sossego.

- Não é bem assim. Quando eu era rapaz, na Nor­mandia, até que tive minha cota de conquistas. Porém assim que me aliei a Edward, logo alguém metido a en­graçadinho começou a me chamar de o "belo vassalo" do rei, num sentido pejorativo, é claro. Como se minha apa­rência fosse um empecilho à excelência nas artes da guer­ra. Talvez eu tenha tentado me livrar do apelido nos campos de batalha, lutando com uma ferocidade incomum e fazendo com que os comentários fossem canalizados numa outra direção.

- Quer dizer que você gostou quando o rei o apelidou de Cavaleiro Vermelho?

- Claro. É muito melhor do que ser chamado de "belo vassalo" - Christopher respondeu desgostoso.

- Só não consigo entender como é que você não se casou mais cedo. As mulheres deviam tentar agradá-lo de todas as maneiras possíveis.

- Estava ocupado demais fazendo guerra para pensar em outros assuntos. Além de tudo, jamais amei alguém de verdade.

- Também devia estar ocupado demais criando uma lenda em torno de seu nome como aquele que fizera um pacto com o demônio e se tornara uma criatura das tre­vas, sedenta de sangue - Dulce o provocou.

- Acertou. Enquanto procurava melhorar minha sorte e ser respeitado pelo meu valor pessoal, tive pouco tempo para me dedicar às mulheres e depois, ao adquirir esta reputação apavorante, tornou-se difícil atrai-las. Com uma única e notável exceção, diga-se de passagem. ­- Christopher estendeu a mão e acariciou os cabelos macios da esposa, num gesto cheio de carinho.

- Fico feliz que sua beleza seja o segredo mais bem guardado do reino porque não tenho a menor vontade de dividi-lo com ninguém. Agora, depois de casada, descobri que sou muito possessiva em relação ao que é meu. Não toleraria concorrência.

- Será que é impressão minha ou eu já disse algo semelhante?

O sorriso luminoso do marido, de dentes brancos perfeitos, quase a fez perder o fôlego.

- Acho que você disse sim... na primeira noite em que veio ao meu quarto e me tornou sua mulher de fato.

 - Ótimo. Fico feliz que concordemos em algo que preciso lembrá-la de que você é minha, esposa? As palavras sugestivas foram acompanhadas de carinhos deliciosos ao redor de seus seios.

- Sim, por favor... - Dulce murmurou, erguendo os lábios para receber um beijo longo e apaixonado.

- Bom dia, marido. - Satisfeita consigo mesma, ela levantou-se da cama e abriu as cortinas do quarto enor­me, deixando a luz daquela manhã de Natal penetrar nos aposentos escuros do Cavaleiro Vermelho e iluminar a figura adormecida.         

Não se cansava de admirá-lo e a emoção era sempre forte e inevitável. Fora privada durante tanto tempo de vê-lo que agora não se fartava de observar cada detalho do corpo musculoso e atlético. Os mistérios que o envol­viam nem de longe chegavam perto dos fatos e tinha vontade de gritar ao mundo a verdade. Era duro manter em segredo o que fazia sua alma transbordar de felicidade.

Cabelos louros escuros serviam de moldura para o rosto de um verdadeiro deus, o deus da guerra. A cicatriz numa das têmporas e uma outra, menor, na face esquerda, proclamavam a todos a sua profissão. Entretanto em nada diminuíam o impacto da beleza viril: queixo forte, nariz reto, lábios firmes e sensuais. Christopher Montmorency era o homem mais bonito que jamais vira em toda a sua vida. E vira muitos em Belvry e na corte do rei Edward.

- Você abriu as cortinas.

As palavras pegaram-na de surpresa porque achara que o marido continuava adormecido. Porém, antes de tudo, Montmorency era um cavaleiro altamente treinado, o que o impedia de dormir profundamente quando à mer­cê de terceiros.

- Como é que você sabe?

- Posso sentir a corrente de ar. Por acaso estava me admirando outra vez, esposa? Não se cansa de me olhar? - Quando Montmorency abriu os olhos, Dulce inspirou fundo, atordoada pela intensidade do azul profundo. Não conseguia aceitar que olhos tão belos estivessem mortos para a vida.

- Sim - ela respondeu com fervor. - Juro que você é o homem mais belo que jamais vi. Oh, Christopher, seu sorriso é tão lindo!

De repente um braço forte puxou-a para cama enquan­to lábios ardentes procuravam os seus com sofreguidão, envolvendo-a numa paixão que desconhecia limites.

A magia daquele homem penetrava seus sentidos de uma maneira avassaladora, ameaçando, como sempre, fazê-la perder a noção de tempo e espaço. Entretanto, apesar de atordoada, ela resistiu e não sucumbiu ao de­sejo desta vez.

- Preciso me apressar ou vou perder a missa - avisou, procurando se desvencilhar dos braços musculosos que se esforçavam para mantê-la na cama.

- Missa? Como? Com que sacerdote? - Christopher per­guntou um pouco chateado ao perceber que seu prazer teria que ser adiado já que a esposa não retribuía as carícias.

- É por isso que não posso me atrasar! Serei eu o sacerdote.

- Que história é essa? Quer dizer que você resolveu vestir o hábito, agora? - Ele sentou-se na cama exibir o torso nu ao olhar apaixonado da mulher.

- Oh, querido, você é tão lindo! Quisera poder ficar aqui e amá-lo vezes sem conta, vendo seu corpo banhado pela luz do dia. Mas tenho que ir embora.

- Primeiro me fale sobre essa sua nova vocação. Preciso temer uma promoção iminente ao bispado?

Dulce riu, colocando o vestido às pressas e passando as mãos pelos cabelos rebeldes num gesto rápido e preciso.

- Não. Embora eu tenha requisitado a presença de um capelão para Dunmurrow semanas atrás. Temos necessidade de um padre para atender aos aldeões e a nós do castelo também. Só que ainda é muito cedo para uma resposta da Igreja. Essas coisas levam algum tempo. Você não se importa, não é mesmo, querido?

A resposta de Christopher foi uma mistura de gemido e risada.

- Que diferença faria se eu me importasse?

- Se eles mandarem alguém, você não irá assustar o sacerdote, não é? Ou então aborrecê-lo tanto a ponto de ser excomungado? - Apreensiva, Dulce fitou o ma­rido. Porém ele sorria e tinha uma expressão tranqüila no rosto.

- Obrigada, querido! - Satisfeita, ela terminou de abotoar o vestido e calçou as sapatilhas. - Enquanto isso - prosseguiu explicando -, na falta de um sacer­dote, eu mesma conduzirei as orações de Natal na capela, antes da festa.

 - Ah, que alívio, É bom saber que você não está pre­tendendo tomar o hábito em caráter permanente porque eu não seria capaz de respeitar seus votos de celibato, esposa.

- Pare de falar assim - Dulce o repreendeu rindo, o olhar fixo no guerreiro glorioso que tomara por marido.

- Na minha opinião seu apelido foi um engano, meu lorde. Na verdade, Cavaleiro Dourado seria muito mais adequado. Basta reparar no tom da sua pele e nos pêlos macios que o cobrem.

- Pare de me provocar, minha lady, a menos que esteja disposta a tirar as roupas e voltar para a cama imediatamente. Aliás, livrá-la das roupas é um detalhe que eu mesmo posso resolver em questão de segundos.

Tem razão, melhor não provocá-lo.

- Preciso ir agora, não apenas para as orações na capela como também para vistoriar os últimos preparativos da festa. Vamos abrir as portas do castelo para todos os aldeões e estamos plenamente preparados para alimentar cada um deles. Claro que não poderemos servir carne de javali, porque não há ninguém para cuidar da caça, porém temos carne de vaca e de veado, além de peixe e tortas de pombo. É uma abundância tão grande de pratos que fará jus ao tamanho de seu apetite, meu lorde.

- Por favor, você sabe que eu não poderei comparecer à sua celebração. É impossível me expor dessa maneira.

Ela ficou em silêncio alguns instantes, desapontada demais para falar, apesar, de no íntimo não ter dúvidas que o marido estava certo. Ambos sabiam muito bem que tão logo a cegueira do senhor de Dunmurrow fosse descoberta, algum outro cavaleiro ambicioso e sem es­crúpulos, tentaria colocar as mãos gananciosas nas terras do barão Montmorency.

- Eu sei - Dulce murmurou afinal. - Virei cear na sua companhia mais tarde. Porém faço questão de lhe pedir um presente neste dia de Natal, querido.

- E o que é? - O tom desconfiado do marido não lhe passou despercebido.

- Venha dar um passeio comigo ao ar livre - ela pediu, colocando um dedo sobre os lábios masculinos para impedi-lo de responder com um sonoro não. Precisava dar um jeito de convencê-lo. - Seria apenas nós dois. Você poderia usar um elmo e cavalgaríamos não muito longe do castelo. Eu... eu quero que você venha comigo procurar pelo veado branco.

- Veado branco? - Christopher estava perplexo.

- Sim, isso mesmo. Se alguém avistar um veado bran­co no dia de Natal poderá ter certeza de que a boa sorte está a caminho.

- Nunca ouvi esta lenda antes.

- Talvez porque seja uma lenda celta. Alice me contou quando eu era pequena e desde então, todos os Natal saio à procura do veado branco.

Apesar de Christopher não ser capaz de ver, pouca coisa lhe passava despercebida. Como agora, por exemplo, quando enxergava exatamente o que se passava no coração da mulher.

- Por acaso você está dizendo, minha castelã eficiente e organizada, minha lady racional e objetiva, que no fundo da alma não passa de uma romântica?

- Não é bem assim. - Dulce corou da cabeça aos pés, totalmente embaraçada. - Eu apenas... É apenas uma tradição.

Christopher riu com vontade, o som cristalino fazendo-a es­tremecer de prazer.

- Não é nenhum crime, querida, ter um coração de mulher.

Ela abriu a boca para retrucar, porém ele a impediu, tocando-a de leve no peito, como se quisesse provar o que acabara de dizer.

- Agora, quanto ao pedido... Não há nenhuma outra coisa que eu possa lhe dar de Natal em vez de um passeio ao ar livre?

- Sim, há outras coisas que você pode me dar. En­tretanto nenhuma delas eu desejo tanto quanto passear ao seu lado em plena luz do dia.    ­

- É perigoso demais. Um risco que poderia me custar caro e cujas conseqüências acabariam provocando a queda de Dunmurrow.

- Então mande Cecil nos seguir, a uma distância dis­creta, é claro - Dulce sugeriu esperançosa, não que­rendo abrir mão do sonho.

Montmorency não parecia nem um pouco convencido mas ainda assim ela insistiu, tomando as mãos fortes entre as suas num gesto de súplica e amor.

- Por favor, querido.

Ele praguejou baixinho, as feições bonitas repentina­mente transformadas numa visão de dor e raiva. Era fácil perceber por que o Cavaleiro Vermelho havia ad­quirido aquela reputação terrível. Entretanto Dulce não se deixou abalar e permaneceu firme, as mãos postas sobre as do marido.

- Mais tarde então, quando os seus convidados já tiverem bebido o suficiente para mantê-los quietos nos lugares.

- Oh, obrigada, querido. Tenho certeza de que você não vai se arrepender. Sei que vamos nos divertir muito e apreciar o ar puro. Talvez este ano sejamos capazes de vê-lo!

- Ver quem?

- O veado branco, ora! - Dulce inclinou-se e beijou nos lábios antes de sair. - Agora preciso ir. Devo separar suas roupas?

- Não. - Apesar de controlada, ainda havia uma certa aspereza na voz de Christopher, como se ele estivesse fazendo um esforço sobre-humano para atender ao pedido da esposa, um esforço que poderia lhe custar o futuro. - Chame Cecil. E, por Deus, feche essas cortinas!



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Autor(a): nathyneves

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

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    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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