Fanfics Brasil - CAPITULO XIV ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO XIV

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Dulce estava no salão principal quando che­gou um mensageiro de Belvry.

- É um rapaz chamado Benedict, minha lady - o guarda a avisou.

- Deixe-o entrar! - ela exclamou, deliciada com a idéia de receber notícias de seu antigo lar. Conhecia Be­nedict há anos e o vira galgar cada degrau de responsabilidade até tornar-se assistente do administrador.

- Alice, traga cerveja e comida para o nosso convi­dado. - Dulce olhou ao redor e encontrou tudo na mais perfeita ordem. Embora Dunmurrow não fosse tão bonito quanto Belvry, sob os seus cuidados o castelo transfor­mara num ambiente agradável e aconchegante, sem nada da atmosfera lúgubre inicial. Sentia-se satisfeita em receber o rapaz.

- Benedict, como é bom voltar a vê-lo! - Com ambas as mãos estendidas, ela deu as boas-vindas ao viajante, porém o ar abatido do jovem preocupou-a imediatamente.

Será que havia alguma coisa errada em casa?

- Sua aparência está ótima, minha lady.

Talvez a expressão estranha de Benedict não estivesse relacionada a possíveis problemas em Belvry e sim ao próprio castelo de Dunmurrow. Naqueles dias maravi­lhosos que se seguiram ao Natal, acabara se esquecendo dos rumores terríveis que cercavam o Cavaleiro Vermelho e aqueles que viviam em seus domínios.

- Quanta gentileza a sua. Estou bem sim, obrigada. Por favor, sente-se. Você precisa descansar depois da longa jornada.

Benedict pareceu relaxar assim que uma em caneca de cerveja e um prato de carne assada foram colocados à sua frente. Também contribuiu para estabelecer um clima de tranqüilidade a presença de Alice, sempre atarefada ou então chamando a atenção de Pasqua.

Ou talvez o jovem estivesse apenas faminto, tal o fervor com que atacou a comida enquanto Dulce contava-lhe sobre as melhoras feitas em Dunmurrow e perguntava-lhe notícias dos amigos deixados em Belvry. Somente depois de terminar a refeição é que as feições de Benedict voltaram a ficar sombrias. Dulce concluiu que não era Dunmurrow que o afligia. Alguma coisa estava errada. Alguma coisa séria, porque Matthew Brown preferiu mandar um mensageiro a escrever uma carta.

- O que está acontecendo? Por que você veio até aqui?

- Minha lady... Sinto dizer-lhe, mas vim lhe trazer más notícias. Lorde Hexham tem se tornado inquieto na sua ausência. Matthew acha que muito breve, provavelmente quando o tempo melhorar, ele atacará Belvry.

- Há algo mais? - ela indagou, a voz apertada na garganta, os olhos arregalados numa expressão de profundo horror.

O rapaz pigarreou e fitou as próprias mãos, sabendo que precisava ir até o fim, por mais desagradáveis, fossem as novidades.

- Hexham clama que seu casamento com o senhor de Dunmurrow não é válido porque seu pai a prometeu a ele...

Furiosa, Dulce o interrompeu no meio da frase.

- Aquele maldito mentiroso!

- Sim, minha lady. Hexham diz que você lhe pertence por direito, assim como Belvry.

Cheia de ira, ela apertou os punhos, num gesto de impotência e frustração.

- Aquele filho da mãe! O próprio Edward arranjou meu casamento! Como Hexham tem a ousadia de desafiar e pôr em dúvida um decreto do rei? Temos que procurar Edward e contar o que está acontecendo...

De repente, ao perceber a maneira estranha como Be­nedict a fitava, Dulce se deu conta do que acabara de dizer. Com certeza o jovem devia estar se perguntando por que alguém iria incomodar Edward quando tinha como marido o cavaleiro mais temido de todo o reino?

Dulce abaixou o olhar, sentindo na boca o gosto da derrota. Seu marido cego não poderia ajudá-la. E quem o faria então? Claro que havia a alternativa de mandar uma mensagem para o rei, colocando-o a par da situação. O problema é que Edward viajava bastante e além de tudo não se interessava de modo especial por Belvry. O rei e ela nunca haviam sido muito íntimos e com certeza esse relacionamento se tornara ainda mais frio depois que tentara enganá-lo na escolha de um marido.

Embora Hexham não gozasse de uma simpatia especial junto a Edward, tampouco ela podia se dar a esse luxo. Por outro lado Hexham, como cavaleiro, tinha um exército a colocar a serviço do rei, enquanto ela... O que poderia oferecer? Nada. E Christopher? Os dias de guerreiro de seu marido haviam terminado e Dunmurrow não era uma propriedade tão rica assim para comprar um favor real. Quanto será que triunfos passados do Cavaleiro Verme­lho pesariam na balança? Dulce engoliu em seco, sen­tindo-se à beira do desespero. Sabia-se num beco sem saída e o futuro se apresentava sombrio e incerto.

Era impensável que aquele seu vizinho arrogante e inescrupuloso viesse a tomar-lhe Belvry. Era impensável, porém bastante provável: Dulce levantou-se decidida. Por mais que a situação lhe parecesse sem esperanças, não iria se entregar sem lutar.

- Venha comigo, Benedict. Quero que você conte tudo ao meu marido, o barão Montmorency.

O alívio estampado no rosto do rapaz era tão palpável a fez rir. Mas não espere auxílio do terrível Cavaleiro Vermelho, ela pensou sem amargura. Amava o marido acima de tudo e ficaria ao lado dele em qualquer circunstância, mesmo que isso significasse perder tudo aquilo que um dia lhe fora caro.

As sombras dos aposentos principais não deixaram de intimidar Benedict. Dulce sorriu, tentando se lembrar dos dias em que aquela escuridão a tinham assombra ou de quando Christopher, sentado no meio das trevas e ladeado pelos dois cães, lhe parecera ameaçador. Contudo as lembranças perdiam-se num passado recente. Tudo o que conseguia ver era um quarto tão cheio de amor e calor humano que impedia o aparecimento das sombras.

- Meu lorde. Este é Benedict de Belvry, assistente de meu administrador. Ele nos trouxe algumas notícia que eu gostaria de colocá-lo a par.

- Sente-se - Christopher ordenou. Dulce levou o rapaz até o sofá junto a lareira. Depois, ignorada pelos cães enormes, deu um passo para dentro da escuridão e ficou de pé, atrás do marido. Ao apoiar as mãos nos ombro maciços, sentiu os dedos masculinos cobrirem os seus num gesto tão reconfortante que lhe trouxe lágrimas aos olhos.

- Fale, Benedict. - Montmorency ouviu as novidades com atenção, a voz nervosa do jovem ecoando pelo ambiente.

- E o que esse tal de Hexham diz de mim? - Christopher indagou.

Um silêncio pesado se estendeu por vários segundos.

- Vamos, Benedict - Dulce o tranqüilizou. - Você pode falar livremente aqui. Não há o que temer.

Ela tentava imaginar qual seria a nova calúnia que Hexham teria inventado a respeito do Cavaleiro Verme­lho. Devia ser algo terrível, já que o rapaz parecia apavorado. Finalmente Benedict concordou em responder como se soubesse não ser possível fugir ao próprio destino.

- Hexham diz que o Cavaleiro Vermelho já deve estar morto há tempos e que Dulce vive escondida aqui, atrás de uma sombra. Porém, por mais que tente se esconder, ela não irá lhe escapar.

Dulce sentiu a tensão e a raiva se espalhar pelo corpo de Christopher e por um momento temeu que o marido se entregasse a um daqueles acessos de fúria. Entretanto Montmorency permaneceu sentado, mantendo um con­trole de ferro.

- Não é uma notícia interessante? - Quando Bene­dict, que dava a impressão de padecer de um desconforto supremo nada respondeu, Christopher continuou. - Nosso inimigo pretende atacar Belvry ou Dunmurrow?

Dulce demorou um pouco até perceber onde o marido queria chegar.

- Entendo o seu ponto de vista, meu lorde. Talvez aquele verme covarde esteja planejando atrai-lo para fora daqui com a intenção de tomar Dunmurrow na sua ausência. Um plano assim é bem de acordo com a perso­nalidade de Hexham - ela comentou.

- O que você acha que o homem deseja mais, Belvry ou Dulce? - Montmorency perguntou a Benedict.

O rapaz não respondeu de imediato. Levou alguns se­gundos pesando a pergunta e procurando respondê-la da forma mais objetiva possível.

- Hexham deseja minha lady, sim, pode estar certo disso. Mas ele sempre ambicionou possuir Belvry, pois as terras dos de Laci são muito mais prósperas, além do número de empregados para trabalhar no plantio ser maior também. Ele já se apossou de uma das mansões da propriedade e, na minha opinião, não sossegará até se apossar de todas.

Dulce acompanhou Benedict até os estábulos para se despedir. O rapaz parecia mais tranqüilo agora, depois de receber instruções de Christopher sobre a maneira como o administrador de Belvry devia agir no que dizia respeito às ameaças de Hexham. Era difícil não ter fé no Cavaleiro Vermelho, Dulce pensou vendo o jovem se afastar, o sorriso de encorajamento desaparecendo tão logo se viu sozinha. Como gostaria de adiar o momento de voltar para o lado do marido.

Se ela chorasse sobre a perda do lar iria apenas deixar Christopher ainda mais frustrado e atingido na sua virilidade pela incapacidade de protegê-la. Lembrava-se muito bem daquela noite em que Montmorency se julgara menos do que um homem e, fora de si, fora para o pátio no meio da noite e extravasara toda a ira e revolta que o consumia.

Finalmente o anoitecer obrigou-a a entrar. Chamando-se de covarde, resolveu enfrentar a fúria do marido. Surpresa, descobriu que os aposentos principais estavam iluminados por vários castiçais e Cecil servia o jantar, como sempre.

- Mandei chamar Afonso - Christopher falou sem preâmbulos.

- Preciso consultar meu vassalo antes, mas acho que terei que dividir minhas forças. Talvez Afonso deva levar a maioria dos homens para Belvry. Uma demonstração de poderio provavelmente fará Hexham hesitar antes de cometer alguma tolice.

Dulce inspirou fundo, os olhos fixos no marido. Ele estava sentado à mesa, o corpo enorme e musculoso parecendo dominar o ambiente inteiro, o rosto sério e inteligente fazendo jus à lenda que se criara em torno do Cavaleiro Vermelho.

- Por acaso você está pretendendo desafiar Hexham?

- Não, mas tampouco pretendo deixar que aquele co­varde se apodere de Belvry. - Christopher olhou na direção da mulher, como se a avaliasse. - Você pensou que eu não faria nada? Que não tomaria nenhuma atitude?

- Não! Claro que não! - ela mentiu, enrubescendo até a raiz dos cabelos. Deus sabia como preferia não enfurecê-lo. - Mas você tem homens suficientes?

- Uma vez que Benedict não foi capaz de me dar informações detalhadas sobre as forças de Hexham, não posso lhe responder já. Certamente não tenho tantos ho­mens quanto gostaria, porém Dunmurrow jamais esteve sob qualquer tipo de ameaça antes. Creio que será pos­sível enfrentar o desafio.

Um profundo sentimento de culpa percorreu-a de alto a baixo. Embora Christopher não a acusasse de nada, ela sabia muito bem que a culpa era sua. Se não fosse por causa dela, Dunmurrow não estaria em perigo. Se não fosse por causa dela, Montmorency teria sido deixado em paz... Angustiada, Dulce levantou-se e caminhou na direção da lareira.

- Talvez deveríamos permitir que ele fique com tudo - Dulce falou com delicadeza.

- O quê? - Assombrado com o que acabara de ouvir, Christopher concluiu que não escutara bem.

- Talvez deveríamos deixar que Hexham se apodere de Belvry - ela repetiu, fitando-o. A fúria estampada no rosto do barão assustou-a. - Belvry não significa nada para mim agora. Minha vida é aqui em Dunmurrow. Ao seu lado.

A raiva desapareceu do rosto de Montmorency.

- Dulce... minha esposa.

Obedecendo ao chamado implícito, ela se entregou aos braços fortes e aconchegou-se ao peito largo, procurando proteção e conforto. Toda a fortaleza que se vira obrigada a representar durante o dia ameaçou ruir na doçura da­quele abraço. Tinha vontade de chorar pelo antigo lar, pela culpa em relação ao marido e pela alegria que a nova vida lhe dera. Uma alegria que acabara de ser posta a prêmio.

- Se eu não fizer nada será ainda pior - Christopher mur­murou apertando-a de encontro ao coração. - Mas se eu mostrar que não aceitaremos provocações, talvez o verme se encolha outra vez dentro da própria toca.

Dulce sorriu, notando que o marido já havia enten­dido a personalidade covarde e sem escrúpulos de Hexham.

- Não tenha medo, querida. Só porque meus homens não estão aquartelados aqui isso não significa que não tenha um número suficiente de soldados. Eles seguem Afonso agora. - Havia uma nota de amargura no comentário. - E Afonso vai aonde eu o mandar. Meu vassalo levará adiante a lenda do Cavaleiro Vermelho, mantendo-a viva e atual. Talvez isso seja o bastante para desencorajar nossos inimigos.

 

Afonso chegou alguns dias depois liderando o exército do barão Montmorency. Ao ver tantos e tantos home acampados do lado de fora do castelo, Dulce experimentou, pela primeira vez desde as notícias sobre ameaças de Hexham, uma sensação de segurança e tranqüilidade. Com certeza esse número expressivo de soldados seria suficiente para fazer seu vizinho mudar idéia porque, apesar das bravatas, Hexham não passa de um covarde.

Christopher e seu vassalo passaram a tarde inteira conversando e traçando estratégias para um possível ataque. Enquanto isso, Dulce cuidou para que todos os soldados tivessem onde dormir e o que comer. Tanto serviço a fez perder a noção de tempo e quando Cecil veio chamá-la para jantar, a refeição já havia sido servida.

- Boa noite, meu lorde - Dulce falou, apreciando a claridade e o calor vindos dos castiçais. Era tão bom poder enxergar a própria comida! Lá estava o vassalo, parecendo exausto depois da longa jornada. - Afonso, é um prazer vê-lo outra vez.

- Minha lady. - Dando dois passos na direção da Dulce, ele tomou as mãos delicadas entre as suas. ­- É quase impossível, mas tenho a impressão que você se tornou ainda mais bela durante a minha ausência.

- Obrigada. - Apesar do sorriso gentil, Dulce ime­diatamente retirou as mãos. - E você se tornou ainda mais eloqüente.

Dulce riu e aproximou-se do marido, temendo despertar ciúmes desnecessários. No mesmo instante Christopher passou um braço ao redor da cintura delicada, num gesto obviamente possessivo.

 

Afonso não ficou nem um pouco surpreso com o compor­tamento do barão. Apenas sorriu de maneira conspiratória.

- Presumo que vocês dois tenham ajeitado as coisas de maneira satisfatória para ambas as partes. Está tudo as claras agora?

- O quê? - Christopher parecia não compreender as insi­nuações do vassalo.

- Estou falando sobre o casamento de vocês. Todo mundo percebia que se tratava de um casamento de amor. Por que aquela encenação antes? Quase caí na risada quando vocês dois tentaram me convencer de que não se conheciam e que o casamento fora arranjado por Ed­ward. Qual o motivo do segredo? - Quando Dulce e Christopher o fitaram aparentando nada entender, Afonso balan­çou a cabeça como se estivesse enfrentando pessoas tei­mosas. - Algum dia, quando eu conseguir descobrir toda a história, aposto que terá algo a ver com o asqueroso desse Hexham.

Sorrindo, Afonso concluiu:

- Vocês não podiam me enganar por mais que tentassem, porque eu sabia que nenhuma mulher em seu juízo perfeito iria escolher um homem com a reputação de Montmorency, a menos que o conhecesse bem.

Dulce fitou o vassalo por alguns instantes e depois começou a rir, incontrolavelmente, enquanto o som das risadas de Christopher enchiam o quarto também.

No dia seguinte, Dulce estava separando suprimen­tos para o exército do Cavaleiro Vermelho quando Alice veio procurá-la, o rosto redondo da serva cheio de preocupação. Acostumada a ver a criada sempre feliz nos úl­timos tempos, concluiu que o problema só podia ser sério.

- O que foi, Alice?

- Oh, minha lady, é Pasqua. Ele foi convocado para se juntar às forças de Afonso.

- Mas ele é um soldado...

Alice interrompeu-a no meio da frase.

- Eu sei. Só que Pasqua não é mais nenhum rapaz, minha lady!

- Sim, porém trata-se da vida que ele escolheu ­Dulce retrucou, colocando um ponto final nos argumen­tos da serva. Então parou para imaginar como se sentiria se fosse Christopher quem estivesse liderando os homens e não Afonso.

Claro que experimentaria uma pontada de orgulho. Mas esse orgulho não duraria nada diante da idéia de seu marido empenhado numa batalha, correndo o risco de nunca mais voltar.

- Talvez possamos persuadir Afonso a deixar Pasqua como guarda no castelo - sugeriu, sabendo que Christopher planejava dividir suas forças para que Dunmurrow não ficasse desprotegido.

- Não, minha lady. Pasqua não aceitará isso. O tolo teimoso quer ir lutar!

Sem saber o que dizer, Dulce fitou a criada procu­rando uma solução para o impasse. O que faria caso Christopher estivesse determinado a partir?

- Talvez se você dissesse a Pasqua como se sente, o quanto está preocupada. Quem sabe não deveria lhe pedir para ficar, implorar até...

- Nunca implorei coisa alguma a homem nenhum ­

Alice falou orgulhosa, o rosto corado de indignação -, e não pretendo começar agora. - Segurando a ponta da saia com a mão, ela saiu quase correndo, resmungando baixinho.

Aparentemente Alice mudou de idéia porque horas depois tornou a procurar a castelã, desta vez sorrindo e trazendo um Pasqua nervoso e acanhado a tiracolo.

- Nós dois queremos nos casar, minha lady - a serva anunciou.

- Alice! Que notícia maravilhosa. - O sorriso de con­tentamento desapareceu tão logo se lembrou de que não havia sacerdote para realizar a cerimônia. - Mas como?

Depois de levar o assunto ao conhecimento de Christopher, ficou decidido que Alice viajaria com os soldados até Belvry, onde o capelão celebraria o matrimônio. Durante a jornada ela seria escoltada não apenas por Pasqua, mas por toda a guarnição. Assim estaria bem protegida.

Nem a possibilidade de virem a se encontrar com o exército de Hexham no meio do caminho serviu para di­minuir a animação de Alice, tão ansiosa estava para se casar. Dulce sorriu surpresa com o desenrolar dos acon­tecimentos. A mesma mulher que chorara de medo do Cavaleiro Vermelho agora se preparava para enfrentar uma possível batalha sem pensar duas vezes. A vida tem caminhos estranhos...

As duas só voltaram a se encontrar quando a criada veio atendê-la, antes do jantar.

- Você quer que eu trance os seus cabelos, minha lady? - ela perguntou inibida e Dulce sabia que esse constrangimento era devido ao fato de estarem, para se dizer adeus. Afonso iria partir no dia seguinte.

- Não, obrigada. - Acostumara-se a usar os cabelos soltos porque Christopher gostava deles assim. - Mas você pode escová-los para mim.

Satisfeita por ter algo para fazer com as mãos, a serva atirou-se à tarefa com empenho, desembaraçando e es­covando os fios longos e sedosos até deixá-los brilhantes.

- Eu queria lhe agradecer, minha lady, por ter feito todos os arranjos necessários para a minha ida a Belvry.

- De nada. Fico feliz por tê-la ajudado. Caso você e Pasqua desejarem permanecer em Belvry, tenho certeza que Matthew poderá encontrar algo para mantê-los ocupados lá.

- Oh, não, minha lady. Eu nunca seria capaz de abandoná-la aqui. - Por um momento a velha senhora pareceu tão horrorizada quanto nos primeiros dias da chegada a Dunmurrow.

- Pois lhe asseguro que serei capaz de me sair muito bem - Dulce respondeu rindo. - Estamos adquirindo, novos servos a cada dia que passa. Tenho certeza de que encontrarei alguém para trabalhar como minha criada pessoal.

Alice não pareceu muito satisfeita com a possibilidade.

 - Nós voltaremos e mais, trarei gente nossa comigo.

 - Somente aqueles que desejem se mudar. Não quero ver ninguém infeliz aqui.

A criada teve a delicadeza de reconhecer a própria culpa, abaixando a cabeça por alguns segundos. Depois retomou a tarefa.

- Minha lady, eu... eu temo ter lhe dado uma informação errada, embora a culpa não tenha sido exatamente minha. - A vermelhidão do rosto da pobre coitada deixou-a intrigada. O que seria desta vez?

- Quando você... - Alice inspirou fundo tomando, coragem e continuou. - Na sua noite de núpcias, minha lady, eu lhe disse algumas coisas... Desde então descobri que essas coisas nem sempre são verdadeiras.

- Oh? O que foi mesmo que você me disse? - Dulce indagou, tentando disfarçar o sorriso e se manter séria.

- Foi sobre o ato de consumação do casamento, minha lady. Eu lhe disse que era breve e doloroso, quando ne­cessariamente não é nenhum dos dois. Na verdade... podo ser bastante agradável e... demorado.

Dulce precisou apertar os maxilares com força para não rir. Quando enfim se sentiu capaz de controlar o riso, respondeu:

- Está certo, Alice pois foi o que descobri por mim mesma.

- Verdade, minha lady? - a criada perguntou sur­presa, a escova suspensa no ar. - Você está querendo dizer que o Cavaleiro Vermelho...

- Estou querendo dizer que a reputação do Cavaleiro Vermelho não é nada em comparação às habilidades dele... na cama. 

Quando Christopher acordou a escuridão lhe deu as boas ­vindas e por um momento sentiu-se lançado de volta ao inferno negro em que vivera durante tantos meses. Então lembrou-se de que era o cortinado da cama que mantinha o mundo lá fora e que sua visão melhorava a cada dia. Ainda continuava recusando-se a admitir, mesmo para si mesmo, que estava vivendo o processo de recuperação da visão porque não suportaria enfrentar a realidade caso suas esperanças dessem em nada.

A cada amanhecer, Christopher não esperava nada além do que tivera no dia anterior. Só pedia a Deus que a escu­ridão total jamais retomasse, pois apesar de ter Dulce ao seu lado, não sabia se seria capaz de descer ao inferno outra vez.

Dulce. Ao senti-la mover-se ao seu lado, ele tomou uma mecha de cabelos entre os dedos, apreciando a ma­ciez dos fios. Diziam que os cabelos de sua esposa tinha o brilho do fogo. Bem que tentava imaginar aquele tom de vermelho vivo, refletindo-se à luz do Sol, porém não conseguia. Embora estivesse enxergando cores agora, a tonalidade dos cabelos de Dulce lhe escapava e quanto tentava vê-la, tampouco obtinha sucesso porque a imagem querida recusava-se a tomar forma.

- Hum... Bom dia, marido.

Como é que aquela mulher podia ficar inteiramente desperta tão depressa quando sua mente continuava en­volta em névoas? 

Escorregando o corpo depressa pelo de Christopher, e dei­xando-o enrijecido no processo, Dulce pulou para fora da cama.

- Volte aqui, mulher - ele pediu, porém o cortinado já estava sendo aberto. Christopher fechou os olhos saboreando o momento, sem nenhuma pressa de deixar o calor da cama. Como era bom acordar ao lado da esposa e partilhar aqueles primeiros instantes da manhã antes que as responsabili­dades do dia se intrometessem. Então via-se obrigado a enfrentar as longas horas de isolamento e frustração en­quanto a mulher se ocupava das várias obrigações.

- Está um belo dia, querido! - Como se obedecendo à atração exercida pela voz musical, Christopher abriu os olhos. Por um momento pensou que seu coração iria explodir no peito, tal a força das batidas. Diante da janela, inundada de luz, estava uma visão maravilhosa.

Aquela era sua esposa. Não uma sombra, nem uma mistura indistinta de cor, mas Dulce... A primeira visão a ser captada há tanto tempo. E não podia acreditar no que estava diante de seus olhos.

Sempre soubera que se tratava de uma mulher adorável. Ouvira outras pessoas elogiarem a beleza e o charme da castelã de Dunmurrow, mas ainda assim estava literalmente sem fala. Nenhum de seus mais loucos sonhos chegara perto da realidade. Dulce era tão bela que lhe tirava o fôlego.

A luz matinal iluminava feições delicadas e cheias da vida. Os cabelos, tão vermelhos que pareciam sangue e tão brilhantes que davam a impressão de refletir a luz do sol, caíam sobre as costas até a cintura.

Ela estava nua. Atônito, Christopher mal notara esse detalhe, mas agora se maravilhava diante de tão grande perfeição.

A pele macia como veludo tinha um brilho dourado, os seios pequenos e empinados, lançavam os mamilos enrijecidos, por causa do frio, para o alto. Cintura estreita, pernas esguias e bem torneadas. Só de admirá-la ficava excitado de uma maneira quase dolorosa. Contudo, por mais que a desejasse, Christopher temia quebrar o encantamento fazendo qualquer movimento brusco. Não supor­taria vê-la desaparecer numa mistura de cores e jamais voltar a enxergá-la com nitidez.

Com a atenção voltada outra vez para o rosto angelical, Christopher concluiu que jamais vira tanta beleza. Por um longo instante permaneceu imóvel, quase sem respirar, beben­do na imagem da esposa como um homem sedento. Mes­mo se vivesse cem anos, nunca mais se esqueceria daquele momento.

Dulce, Dulce, Dulce, ele queria gritar. E de re­pente era como se todos os sentimentos guardados dentro do peito quisessem explodir. Tudo aquilo que tentara ig­norar por causa da cegueira agora ameaçava vir à tona descontroladamente. Era como um dique arrebentando, a água antes represada atravessando as barreiras e tor­nando-o impotente para controlar a força da emoção.

Ele deve ter deixado escapar algum som, porque Dulce virou-se para fitá-lo. Os olhos grandes e esverdeados tinham o brilha da prata. E aqueles lábios... os mais suaves e rosados, capazes de deixá-lo em fogo com um simples roçar.

- Christopher? - ela indagou. - O que foi?

Incapaz de falar, ele deixou escapar um gemido aba­fado. No mesmo instante Dulce estava ao lado do ma­rido, fitando-o atentamente. Montmorency permaneceu imóvel, mergulhado nos olhos esverdeados da esposa, tão inteligentes, tão amorosos... Deus, era possível enxergar a alma da sua mulher estampada no rosto ado­rável. Enxergar...

- Christopher! - Então Dulce começou a chorar ao se dar conta de que um milagre acabara de acontecer. - Christopher! - ela repetiu, tentando fazê-lo falar alguma coisa, sacudindo-o nomeio dás lágrimas.

- Psiu. Não há motivo para chorar, mas para se ale­grar, esposa. - Temendo não conseguir controlar a forte emoção interior, Montmorency evitava tocá-la.

Durante toda a sua vida lutara para manter os sen­timentos sob um controle de ferro e o fizera muito bem, até que ficara cego. Daí em diante tornara-se vítima do próprio temperamento, entregando-se aos momentos de raiva com uma fúria que beirava o desatino. Entretanto Dulce soubera como aplacar aquela ira bestial, desper­tando sentimentos que jamais julgara existir dentro de seu coração. E esses sentimentos eram tão fortes agora que já não podia contê-los...

- Dulce... Dulce... - ele gemeu, tocando o rosto delicado com as pontas dos dedos.

De repente alguma coisa explodiu em seu interior. Gri­tando o nome da esposa, Christopher puxou-a para a cama beijou-a com uma sofreguidão assustadora, a língua ardente vasculhando o interior da boca quente e úmida enquanto mãos fortes percorriam o corpo delgado com uma possessividade incomum. Dulce não hesitou um segundo, mas retribuiu as carícias do marido com o mesmo ímpeto, entregando-se à paixão que os consumia.

Louco de desejo, ele tomou os seios na boca e sugou os mamilos rígidos quase com desespero. Ouvindo-a gemer baixinho, sabia que não estava sendo muito gentil, porém não conseguia parar nem diminuir a intensidade dos carinhos. Num gesto rápido, separou as pernas esguias, expondo o centro da feminilidade.

- Dulce, Dulce... - tornou a murmurar, como se pedisse desculpas pelo comportamento descontrolado.

Como única resposta, ela arqueou as costas e ergueu os quadris, ansiosa para receber o membro rígido e pulsante. Segurando-a firme pelas nádegas, Christopher enterrou ­se até o fundo, até que já não sabiam onde terminava um e começava o outro.

Então fitou a esposa demoradamente, apreciando os cabelos vermelhos espalhados sobre o travesseiro, o rosto afogueado, os olhos fechados, os lábios entreabertos. A visão mais perfeita do mundo. Apoderando-se outra vez da boca sensual num beijo áspero e exigente, ele aumentou o ritmo das investidas até se tornarem frenéticas, vagamente consciente de que a esposa mordia seus ombros e enterrava as unhas nas suas costas largas.

Ao ouvi-la gritar o seu nome, no auge do prazer, Christopher cravou os dedos na pele macia até que uma investida final libertou-o da tensão insuportável.

- Dulce - ele gritou, o corpo inteiro estremecendo com a violência do orgasmo.

Quando pôde pensar com clareza outra vez, abraçou-a com ternura, deslizando os dedos pelas costas delicadas como se quisesse suavizar as marcas que ali deixara. Depois beijou-a na testa e fitou os olhos maravilhosos, cheios de amor e lágrimas de alegria.

- Sempre temi que sua paixão, uma vez liberada, pudesse me subjugar - Dulce sussurrou feliz.

- E? - Montmorency indagou tenso, temendo ouvir a resposta.

- E, como todos os meus outros temores em relação a você, não passava de um receio infundado. Quando foi que a sua visão retomou?

- Foi um processo gradual. - carinhoso, Christopher aca­riciava os cabelos da esposa, incapaz de desviar o olhar do rosto querido.

- Por que não me contou?

- Eu não queria alimentar esperanças. Nem as suas, nem as minhas - ele respondeu sincero. - Eu tinha medo que não fosse durar, que qualquer dia voltasse a acordar para a escuridão eterna.

- O quê? O Cavaleiro Vermelho com medo de alguma coisa? - Dulce sorriu, provocando-o. - Não posso acreditar.

Pois pode acreditar, Christopher pensou. Mais uma vez, olhou bem dentro dos olhos esverdeados, molhados de lágrimas, e então puxou-a de encontro ao peito, incapaz de fitá-la mais um segundo sequer. Temia que se continuasse a fazê-lo, iria começar a chorar como uma criança, tão gran­de a emoção que o consumia.

 



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Autor(a): nathyneves

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- Christopher! Vamos - Dulce falou de repente. - Levante-se! - Ela pulou da cama e agarrou o braço do marido com ambas as mãos procurando, sem sucesso, obrigá-lo a se mexer. Era como tentar arrancar um carvalho gigante, com as raiz firmemente plantadas no solo. - Você não pode me negar isso agora.Quando Christopher a fitou, um ar céti ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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