Fanfics Brasil - CAPITULO XVI ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

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Capítulo: CAPITULO XVI

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A coragem e a fibra de Dulce de pouco ajudaram. Embora Hexham não mais ameaçasse com a espada, não havia nada que pudesse fazer a não ser se agarrar à crina do cavalo enquanto fugiam em disparada. Se caísse, seria pisoteada pelos outros animais.

Ao entrarem na floresta, Hexham diminuiu a velocidade do galope e fez sinal para que o grupo de homens se dispersasse. Surpresa, ela percebeu que o barão planejara cada detalhe da operação e que, apesar de todos os cuidados tomados, devia temer os soldados de Dunmurrow porque continuava a correr como um louco.

A esperança de ser resgatada logo era muito pequena e apesar de se esforçar, não conseguia pensar num plano, para se safar daquela situação. A proximidade do corpo de Hexham lhe causava náuseas terríveis, impedindo-a de raciocinar com clareza e cada segundo que passava a deixava mais distante de Dunmurrow.

Fechando os olhos, Dulce tentou relaxar até que, fi­nalmente, a imagem do marido lhe veio à mente trazendo um, pouco de ordem ao caos interior. Ao pensar em Christopher, no poder e no amor que ele lhe tinha, sentiu a calma tomar conta de seus sentidos sobressaltados, como se, por um milagre, a força de Montmorency a amparasse em meio a tanto desespero.

Mais serena, Dulce concluiu que nada podia fazer no momento, ou pelo menos, até que parassem para um descanso rápido. Talvez aí... conseguisse escapar. Hex­ham era cruel sim, porém não tão inteligente quanto ela. Contudo, será que seu intelecto superior poderia preva­lecer à força das armas?

Finalmente Hexham parou, os ouvidos atentos, a es­pada outra vez de encontro ao pescoço da sua presa. Dulce prendeu a respiração. Entretanto, além do ba­rulho das folhas e do canto dos pássaros, não se escutava nada. Ninguém os perseguia. Os outros três cavaleiros que os acompanhavam riram alto, cheios de confiança. Logo deixavam a floresta para trás e ganhavam o campo aberto, direto ao encontro do pequeno exército, fortemen­te armado, que os aguardava.

Por um breve instante Dulce sentiu as esperanças se renovarem achando que a tropa viera de Dunmurrow. Porém logo tornou-se óbvio que aqueles homens não per­tenciam ao castelo de Christopher e nem a Belvry. Eram sol­dados de Hexham, que agora ria e gritava, entusiasmado pela vitória fácil.

Amargurada pela descoberta, Dulce tentou não se entregar ao desespero enquanto o barão a colocava no chão e lhe amarrava os pulsos com uma corda.

- O que é isso, meu lorde? - indagou um dos homens.

- Pensei que você tivesse vindo salvar uma dama.

- A dama precisou de uma pequena persuasão - ­Hexham respondeu seco. - Ela foi enfeitiçada por aquele demônio do Montmorency.

Tão logo o nome de seu marido foi mencionado, Dulce percebeu a onda familiar de murmúrios que a reputação de Christopher sempre levantava.

- Cavaleiro Vermelho! Esta é a mulher dele? - Um dos soldados perguntou.

- Já ouvi falar do barão Montmorency - falou outro homem fazendo o sinal da cruz. - Dizem que tem parte com o próprio diabo.

- Bobagem. - Para mostrar seu completo desdém, Hexham cuspiu no chão, junto aos pés de Dulce. - O Cavaleiro Vermelho não passa de uma sombra e só Deus sabe há quanto tempo não é visto por alguém. Ou está morto ou não passa de um velho fraco, incapaz de sustentar o peso da própria espada.

- Pois eu lhe digo que ele é jovem, forte e poderoso além da sua imaginação - Dulce falou muito calma. - Com certeza já sabe o que você fez e vai caçá-lo implacavelmente.

- Ele não sabe de nada! - Hexham levantou a mão para esbofeteá-la e desistiu, começando a rir. - Vou possuí-la tantas vezes, e com tanto ardor, que logo você esquecerá da existência de Montmorency.

Alguns homens riram e outros pareceram se sentir desconfortáveis. Foi a esses últimos que Dulce se dirigiu, embora mantivesse os olhos no barão.

- Marque bem minhas palavras, Hexham. O Cavaleiro Vermelho virá e arrancará o seu coração para comê-lo.

De repente a lenda de Montmorency pareceu se tornar uma coisa viva e explodir no grupo como uma ameaça pairando no ar. Vários homens deram um passo para trás.

- Fique quieta! - Hexham berrou. - Ou vou surrá-la até deixá-la sem sentidos. - Ele virou-se para os soldados e ordenou: - Parem com esses murmúrios idiotas e co­loquem essa vaca num cavalo. Vamos para casa.

Alfred Morling ergueu o elmo e olhou os campos vazios, os olhos treinados procurando sinais de Hexham. Vaga­rosamente, esfregou o pescoço, como se já sentisse a cabeça sendo decepada. Sendo o responsável pela segurança da propriedade, com certeza era isso mesmo o que ia acontecer, caso não encontrasse o barão.

Montmorency o tinha ordenado proteger o castelo e zelar, em especial, pelo bem-estar da lady de Dunmurrow.

Entretanto ele falhara. Alguém conseguira entrar e seqüestrar a castelã debaixo de seus narizes. E, de acordo com um dos servos, fora aquele filho da mãe do Hexham, o mesmo que enviara um desafio direto a Montmorency.

Somente o mais covarde dos homens seria capaz de atrair um cavaleiro para o campo de batalha enquanto roubava a esposa dele pelas costas. Parecia-lhe algo im­pensável, contudo acontecera. Alfred passou a mão outra vez pelo pescoço, pensando que se não trouxesse lady Montmorency de volta, seria um homem morto. O pior é que já anoitecia e haviam perdido o rastro dos agressores.

- Clyde! - ele gritou. Imediatamente um jovem sol­dado aproximou-se, para receber a ordem que todos te­miam. - Cavalgue à nossa frente, direto para Belvry, até encontrar o barão Montmorency. Diga-lhe que Hex­ham raptou a mulher dele.

- Sim, senhor - Clyde respondeu, empalidecendo. Os que conheciam o temperamento de Christopher tinham medo de executar a tarefa, porém não havia como evitá-la. O barão tinha o direito de saber. - Eu vou avisá-lo. - O jovem tomou as rédeas do cavalo e saiu em disparada.

Dulce mudou de posição no chão duro. Há dias es­tavam cavalgando enlouquecidos, como se as próprias criaturas do inferno estivessem ao seu encalço, ou à sua frente. Embora Hexham jurasse não temer o Cavaleiro Vermelho, ele obrigava o grupo a galopar numa veloci­dade brutal. Sinal de ansiedade, claro. Dulce continua­va falando sobre a chegada iminente do marido para salvá-la e apesar dos comentários debochados de Hex­ham, percebia que o barão não ficava imune à ameaça.

Por outro lado aquela correria era bem-vinda, pois quando a noite chegava Hexham estava tão cansado que conseguia apenas comer e dormir. Algumas vezes o sur­preendia fitando-a, cheio de desejo, e sabia que cedo ou tarde o barão tentaria possuí-la.

O fato de ser mulher de outro homem e estar carre­gando um filho no ventre não significava nada para al­guém destituído de honra.

Ela não tinha dúvidas de que fora deixada em paz até o momento apenas porque Hexham estava exausto e tam­bém porque o orgulho e a arrogância do barão o impedia de estuprá-la na frente de seus homens. Ele se considerava bonito e elegante demais para dormir com uma mu­lher ao relento além de não suportar a idéia de ter que se impor à força diante de testemunhas. Pelo menos en­quanto durasse a jornada estaria salva, a menos que o irritasse além dos limites.

Entretanto, quando chegassem ao seu destino, Hex­ham se sentiria livre de quaisquer amarras. Ansiosa dian­te do futuro, Dulce colocou as mãos sobre o ventre num gesto protetor, pedindo a Deus que o Cavaleiro Vermelho não demorasse muito.

Era o máximo que podia fazer,já que não sugira ne­nhuma chance de tentar escapar e, quando chegassem ao castelo de Hexham, a vigilância seria redobrada. Du­rante o dia cavalgava com os pulsos amarrados e, à noite, dormia cercada pelos homens do barão.

Dulce olhou ao redor, analisando o grupo. Todos pa­reciam adormecidos, exceto os dois homens designados para montar guarda. Um deles vigiava os arredores, enquanto o outro a observava. Não conseguia imaginar um plano capaz de enganá-los... Vencida pela exaustão, adormeceu.

De repente alguém a tocou de leve, acordando-a. Era o guarda designado para vigiá-la.

- Venha - o homem murmurou. - Vou ajudá-la a escapar.

Dulce apoiou um cotovelo no chão, o coração batendo descompassado no peito. Escapar? Como?

- Depressa! - ele insistiu, os dedos grossos pene­trando-lhe a carne.

Esforçando-se para ficar de pé, Dulce conseguiu en­xergar o rosto do soldado, porém em vez de uma fisio­nomia confiável, descobriu um sorriso maldoso e desdentado. De repente imaginou-se fugindo com aquele homem apenas para ser violentada e morta em seguida. O pavor era tanto que começou a tremer.

Ao sentir as mãos imundas forçando-a a ficar de pé, ela pensou em gritar, mas antes mesmo que conseguisse emitir qualquer som, um movimento intenso rompeu o silêncio da noite. Imediatamente o soldado jogou-a no chão e desembainhou a espada. Ofegante, Dulce pro­curava entender o que estava acontecendo.

Palavrões. Muitos dos homens estavam praguejando enquanto outros riam. Alguns seguravam armas, embora não houvesse nenhuma ameaça no ar.

- Maldito seja você, Rhys, por ser tão imprestável - ­Hexham falou irritado. - Aquele veado daria uma ótima refeição.

- Eu não poderia matar um veado branco, meu lorde. Trás má sorte.

- Seu estúpido! Você é tão ignorante que chega a ser imbecil! Não tem inteligência nem para pensar com a própria cabeça!

- Então era um veado branco? - Dulce indagou no silêncio que se seguiu.

- Qual o problema se fosse? A carne seria tão saborosa quanto qualquer outra.

- Aquele veado branco não era para ser morto e de­vorado. Era um sinal do Cavaleiro Vermelho. Meu marido está para chegar.

Por um instante Dulce achou que havia forçado o barão para além dos limites e que a casca de falsa civi­lidade iria finalmente se romper.

- Alguém faça esta vaca calar a boca - Hexham ordenou furioso. Como ninguém se mexesse, preocupados com a possível chegada do Cavaleiro Vermelho, ele mes­mo tomou a iniciativa. - Vamos, me dê aquele trapo ali. - Depois de amarrar um pano imundo na boca de Dulce, Hexham deu-lhe um tapinha no rosto de mur­murou: - Seja boazinha, querida, e muito breve estará sugando algo bem mais agradável.

Christopher ergueu o elmo e passou a mão na testa para limpar o suor. Depois de aguardar dias e dias qualquer sinal do exército de Hexham, haviam resolvido procurar a tropa inimiga e depois de encontrá-la, fizeram-na recuar sem derramamento de sangue. A vitória fora fácil demais, tão fácil que lhe cheirava a uma armadilha. Porém, até o momento, Hexham não dera as caras.

Uma vez que fora o barão quem lançara o desafio, Christopher suspeitava de traição. Dulce o avisara que seu antigo vizinho não era capaz de lutar de forma limpa, seguindo os preceitos da honra. Na verdade ela o implorara para permanecer em Dunmurrow. E agora não conseguia evitar uma sensação estranha, como se algum coisa estivesse, realmente, muito errada.

A chegada repentina de um dos soldados deixados em Dunmurrow pouco contribuiu para melhorar o seu humor. Talvez o desafio fosse um engano, apenas uma maneira de afastá-lo das suas terras. Se aquele filho da mãe do Hexham tivesse atacado o castelo enquanto Dulce estava lá dentro...

- Meu lorde - Clyde começou, o rosto pálido voltado para Montmorency -, meu lorde, o barão Hexham seqüestrou sua esposa.

O urro que irrompeu do peito do Cavaleiro Vermelho foi tão violento que fez estremecer seus próprios homens. Christopher levantou a espada, como se pretendesse atirar Clyde para fora do cavalo com um só golpe. Foi então que Afonso se aproximou.

- Para onde ele a levou? Está pedindo resgate? ­- Afonso indagou, a voz controlada acalmando a ira de Mont­morency e fazendo-o baixar o braço.

Trêmulo, Clyde procurava se manter firme na sela, agradecendo silenciosamente a intervenção do vassalo, pois de outra forma talvez já estivesse morto. Entretanto, ao fitar o Cavaleiro Vermelho, sentiu um pesar enorme.

O sofrimento estampado no rosto de Christopher era tão intenso que se tornava doloroso de testemunhar.

Montmorency amava a esposa. Sem saber como lidar com o peso daquela revelação, Clyde desviou o olhar, não querendo se intrometer na privacidade do barão.

- Não sabemos - o rapaz respondeu afinal. - Sa­bemos apenas que ele veio nesta direção e presumimos que esteja a caminho de Belvry. Uma serva afirmou que se trata de Hexham, entretanto nenhum resgate foi pedido.

- Talvez agora ele esteja pretendendo nos arrastar para uma armadilha - Afonso sugeriu.

- Agora? - A voz de Christopher vibrava de ódio. - Ele já me arrastou para uma terrível armadilha, aquele filho da mãe!

Dulce quase caiu da montaria, um cansaço insupor­tável drenando cada gota de sangue das suas veias. Se ao menos pudesse dormir! Apesar dos pulsos amarrados e da boca seca e inchada, ainda tapada pelo trapo nojento, sentia que seria capaz de dormir para sempre. O bebê sugava o resto das suas energias e a velocidade com que vinham cavalgando era demasiada... Quando será que Hexham iria deixá-los parar?

Obrigando-se a abrir os olhos, ela olhou ao redor. Já estava quase anoitecendo, graças a Deus. De repente re­conheceu um riacho que corria ao longo da estrada. Es­tavam se aproximando de Belvry.

Um desespero profundo ameaçou engolfá-la. A com­pleta exaustão, física e emocional, a impedia de lidar com as perguntas que lhe toldavam a mente. O que Hexham faria agora? Será que pretendia ir para o próprio castelo ou se instalar em Belvry de uma vez por todas? Onde estaria Christopher? O modo confiante como Hexham se compor­tava sugeria a ausência de qualquer possível ameaça.

Claro que o grupo de vinte homens, fortemente arma­dos, poderia enfrentar o ataque de uma pequena brigada. Mas e Christopher? O nome do marido não lhe saía da cabeça.

Será que Hexham não levava em consideração a exis­tência do exército do Cavaleiro Vermelho ou era simples­ mente tolo demais para ter cautela? Quem sabe estariam caminhando direto para uma armadilha? Neste caso, melhor ficar alerta para se afastar da linha da bate assim que preciso, pois não tinha nenhuma intenção de ser morta por engano.

A esperança de Dulce ganhou novo alento quando surgiu um cavaleiro solitário. Já estava anoitecendo e as árvores ao redor poderiam servir de ótimo esconderijo para outros soldados. Porém Hexham não demonstrava menor preocupação com o aparecimento do desconhecido. Seguro de si, ameaçou:

- Saia do caminho ou vou parti-lo em dois.

O cavaleiro não se moveu um centímetro.

- Por acaso você sabe que está nas terras dos de Laci?

Dulce espreitou o estranho, a excitação inicial da lugar ao medo. Vestido para a guerra e usando um elmo que lhe cobria todo o rosto, o cavaleiro poderia ser dos homens de Christopher sim, mas então por que não dissera que as terras pertenciam a Montmorency?

- Estas terras são minhas, idiota! E é melhor sair daqui antes que eu corte sua cabeça fora! - Os soldados de Hexham cercaram o desconhecido e Dulce teve pena do coitado que estava para ser assassinado a sangue frio.

Naquele instante gritos irromperam por detrás das árvores enquanto vários homens aproximavam-se a galope. Embora não pudesse dizer exatamente quantos, ela tinha certeza de que eram o suficiente para subjugar grupo de Hexham. Exausta como estava, ainda assim conseguiu afastar-se um pouco, para não ser pega no meio da luta.

Se o primeiro pensamento de Dulce havia sido em relação à sua segurança, no momento seguinte só pensava em fugir dali. Como não tinha a mínima idéia de quem eram esses homens, não podia se arriscar entregando-se à incerteza. Procurando raciocinar depressa, decidiu atra­vessar o riacho, que sabia ser raso, e deixar a luta o mais distante possível.

Com o coração batendo descompassado no peito, galo­pou na direção da liberdade. Só precisava não despertar atenção dos soldados.

Quando começava a pensar que estava segura enfim, o barulho de cascos logo atrás.

- Pare! - alguém gritou. Imediatamente Dulce obe­deceu, incapaz de arriscar a vida do bebê e a sua própria na tentativa de ganhar a liberdade. Inspirando fundo, virou-se para encarar o novo adversário, pois Hexham não levara a melhor.

Claro que estava satisfeita por ter se livrado do barão, contudo não sabia quem eram esses homens e nem por que haviam atacado Hexham. Ao fitar o rosto cruel de seu captor, temeu haver caído em mãos ainda mais pe­rigosas do que as anteriores.

- É uma mulher! - o soldado avisou aos companhei­ros, e Dulce rezou para que estivessem a serviço de Christopher, Pelo menos seria bem guardada até a chegada do marido. Deveria dizer seu nome ou essa informação le­varia os soldados a pedir um resgate?

- Traga-a aqui - gritou uma outra voz.

Ela tentou enxergar o homem que acabara de falar, pois obviamente tratava-se do líder, porém nada conseguiu ver além das costas. Procurando manter a calma, preparou-se para enfrentar o desconhecido. Ao se apro­ximar, notou que se tratava de um homem mais alto e mais musculoso do que Hexham. Então ele se virou e ficou imóvel, olhando-a como se tivesse acabado de deparar com um fantasma.

- Meu Deus... - o cavaleiro murmurou.

Enquanto Dulce pensava numa maneira de responder àquele estranho cumprimento, o desconhecido já estava dando ordens.

- Livrem-na da mordaça!

Aquela voz lhe parecia vagamente familiar e tinha quase certeza de que já a ouvira.  Porém antes que tivesse tempo de apelar para a memória o trapo estava sendo tirado da sua boca. No mesmo instante passou a língua pelos lábios ressequidos.

- Dulce! Você não está me reconhecendo? - Então o homem tirou o elmo, expondo a massa de cabelos escuros. Ela fitou o rosto masculino e começou a escorregar pela montaria, desmaiada.

Se não fosse pela agilidade do soldado ao seu lado teria caído no chão. Inconsciente, Dulce não se da conta de que aquelas mãos enormes a seguravam com delicadeza e ao voltar a si deixou escapar um grito de pavor, sentindo-se ameaçada pela expressão que julgava feroz. Entretanto a criatura sorriu, como se estivesse acostumado a segurar mulheres aos berros.

- Dulce! Sou eu, Nicholas, seu irmão - alguém falou secamente. Desviando o olhar do rosto do soldado, Dulce tornou a fitar o líder, como se não pudesse se convencer da realidade. Ela gemeu, certa de que estava frente a frente com um homem morto.

- Você está bem? - Nicholas indagou impaciente parecendo mais irritado do que preocupado. Fazia muito tempo que não se viam, porém Dulce reconhecia o tom autoritário dos machos da sua família. - O que você estava fazendo na companhia daquele canalha do Hexham? E o que ele quis dizer quando afirmou que esta terras lhe pertenciam?

Convencendo-se de que o fantasma não tinha intenção de deixá-la em paz, ela ergueu os olhos e fitou-o com atenção. Sim, era mesmo seu irmão. Tão alto e com cabelos tão escuros quanto o pai de ambos.

Ninguém teria suspeitado de que eram irmãos, entretanto uma análise mais demorada logo revelaria as se­melhanças dos traços fisionômicos. Nicholas era muito bonito para um homem, aliás um detalhe que ele odiara desde a infância. Passara anos e anos brigando com os outros dois irmãos por causa da sua bela aparência, sempre motivo de piadinhas. Será que aquela beleza toda se fora ou então apenas se transformara, endurecida pelas experiências difíceis impostas pela vida? Sob a luz do entardecer, ele dava a impressão de ter envelhecido muito mais do que era de se esperar naqueles cinco anos em que não se viam.

- Mas você está morto - ela murmurou.

Se Dulce esperava uma reação de surpresa ao seu pronunciamento, enganou-se redondamente.

- Sim, eu sei. É uma longa história, irmã, e a noite se aproxima. Agora me diga, para onde Hexham está indo?

- Para o inferno, espero.

- Dulce!

A firmeza da voz finalmente obrigou-a a sentar-se ereta na sela que ainda dividia com o soldado que a impedira de cair no chão ao desmaiar..

- Hexham desapareceu? - ela indagou.

- Sim. O covarde fugiu, como era de se esperar. Mas não me escapará. Você tem idéia para onde o canalha possa ter ido?

- Não sei. Hexham não me disse nada. Presumi que tivéssemos indo para o castelo dele, embora agisse como se agora Belvry lhe pertencesse.

- E Belvry lhe pertence? - A voz de Nicholas era tão cheia de ódio que Dulce quase não a reconheceu.

- Outra vez, não sei como lhe responder. Hexham me seqüestrou de Dunmurrow, depois de forçar meu ma­rido a se afastar, desafiando-o para um combate que nun­ca ocorreu.

- Seu marido? - Nicholas apertou os olhos, como se notícia o surpreendesse, o que a desagradou um pouco.

- Então você se casou?

- Sim. Meu marido é o barão Montmorency, chamado por muitos de Cavaleiro Vermelho. Já ouviu falar dele?

- Não, mas estive fora muito tempo... - Nicholas falou secamente, balançando a cabeça de um lado para o outro. - Tempo demais.

- Então é por isso que você disse que estas terras pertencem aos de Laci - ela murmurou quase que para si mesma, dando-se conta, enfim, da verdade. Se o seu irmão estava vivo, a disputa pela posse de Belvry não mais envolvia Christopher. E não apenas isso... A existência um irmão, um de Laci para levar adiante o sobrenome do pai e proteger a propriedade, a teria desobrigado de casar-se!

Tanta coisa poderia ter sido evitada... Entretanto o impossível imaginar uma vida sem Christopher. Sentia-se feliz pelo fato de Nicholas haver passado anos desaparecido porque não se arrependia nem um pouco do casamento que lhe fora imposto pelas circunstâncias.

Arrependia-se apenas de ter colocado o marido em perigo por causa das terras de seu irmão.

- Você é o herdeiro legítimo de Belvry - Dulce falou satisfeita.

- Sim. Embora eu não tenha dúvidas de que Hexham tentará disputar minhas terras. E quanto ao seu marido?

- Christopher? - Ela teve vontade de rir. - Não, ele é dono de suas próprias terras e nunca ambicionou possuir Belvry. Esta propriedade é sua, meu irmão. Mas primeiro precisamos encontrar meu marido. - Revigorada pela esperança de que seu irmão a ajudaria a encontrar Christopher, Dulce sentiu todo o cansaço desaparecer como por encanto. - Você tem um cavalo para mim?

- Vá buscar um cavalo para minha irmã - Nicholas ordenou a um dos soldados. - No momento deixamos aquele verme do Hexham escapulir, mas logo o obrigaremos a sair do buraco onde se meteu e o caçaremos nem que seja até o fim do mundo. Vamos na direção de Chiswill agora, onde o resto de meus homens está acampado.

- Você tem mais homens? - Dulce indagou assombrada enquanto alguém a ajudava a montar num garanhão negro.

- Sim - Nicholas explicou. - Tenho soldados fiéis a mim, além de mercenários.

- Então você sabia que encontraria problemas quando regressasse?

-Sim.

As respostas do irmão eram curtas e desprovidas de qualquer emoção, como sempre. O breve interesse que Nicholas demonstrara nela desaparecera assim que ficara claro a sua falta de informações a respeito de Hexham.

Sem que conseguisse evitar, Dulce não pôde deixar de comparar o irmão ao marido. Christopher era um homem capaz de ser descrito com muitos adjetivos, exceto frio. Os dois também eram extremamente bonitos, porém as semelhanças terminavam aí.

Dulce não estava muito animada em deixar os lençóis perfumados e a cama macia na mansão de Chiswill. Tanto conforto era uma lembrança agradável de sua vida antiga, como a filha e, herdeira de Clarence de Laci. Entretanto sabia que Nicholas pretendia partir cedo e se queria to­mar um bom banho, depois dos dias passados na estrada, precisava se apressar. Era tão estranho pensar que seu irmão estava vivo e que agora, neste mesmo minuto, tran­sitava pelo grande salão, lá embaixo.

Apesar de nunca terem sido muito íntimos, Dulce experimentava um prazer fraternal de sabê-lo de volta além de sentir que lhe fora tirada uma carga dos ombros quanto ao destino de Belvry. Jamais se imaginara dei­xando o antigo lar para trás sem experimentar um certo pesar, porém depois dos novos acontecimentos sentia-se pronta para virar a página do passado sem arrependi­mentos. À beleza e o esplendor de Belvry não mais a seduziam. Nada se comparava ao fascínio e a atração que Christopher exercia sobre ela.

Depois dos dias na companhia de Hexham, em que era tratada como uma prisioneira comum, um simples banho lhe parecia um verdadeiro luxo e a paz e segurança de Chiswill se tornavam um bem precioso. A mudança operada em seu temperamento era tão significativa que Dulce quase chorou ao descobrir vários de seus velhos vestidos ainda guardados em baús enormes. A última vez que estivera em Chiswill fora no verão de dois atrás.

Passando a mão de leve pelo ventre, ela se deu conta de que estava muito mais feliz agora, apesar de todas as dificuldades que se vira obrigada a enfrentar. Sim, vivera contente antes, ocupada com a administração de Belvry e entretida com mil e um afazeres, porém sempre estivera só. Hoje percebia que se dedicara ao trabalho com tamanho empenho numa tentativa de preencher o vazio interior, um vazio que fora totalmente ocupado pela presença de seu marido.

Inspirando fundo para manter a calma, Dulce rezou pela segurança de Christopher. Só pedia a Deus que o encontrasse vivo e bem de saúde para poder dizer-lhe sobre a criança que estava a caminho.

Alguma coisa havia forçado Hexham a agir, Christopher pen­sou enquanto liderava seus homens ao encontro do exército que se aproximava. Teria sido o seqüestro de Dulce? Embora soubesse que precisava considerar essa possibi­lidade, não conseguia suportar a idéia de que a esposa estivesse nas mãos de outro. Tenso, porém controlado, obrigou-se a fixar os pensamentos na batalha iminente. Hexham finalmente começara a se movimentar e os mo­tivos que o levaram a tomar essa atitude tomavam-se, secundários no momento. Estivera certo quando decidira aguardar, julgando que lhe havia sido preparada uma armadilha. Porque se antes o barão se mantinha às ocul­tas, agora mandava os soldados avançarem com ousadia.

O exército de Hexham era grande e parecia um opo­nente à altura do seu, Christopher concluiu, arrependendo-se de ter deixado parte de sua tropa em Dunmurrow. Aliás, uma tropa que não fora capaz de proteger sua esposa da chegada do inimigo. A ironia da luta que estava para acontecer não lhe passou despercebida. Iria arriscar a vida de seus homens, e a sua própria também, por causa de um castelo sem qualquer importância enquanto a mulher a quem prezava acima de tudo lhe havia sido roubada. Belvry era insignificante aos seus olhos enquanto Dulce...

Orgulho. Orgulho e honra são freqüentemente os cul­pados pela queda de um homem, tanto quanto dão sentido à própria vida. Pela primeira vez arrependia-se de estar marchando para uma batalha. Preferiria estar na floresta de Dunmurrow, cercado de silêncio e beleza, ao lado da­quela que lhe trouxera a felicidade.

Enquanto analisava as forças inimigas, Christopher se odiou por ter sido tão cego. Acreditando na ética que rege as lições de um cavaleiro, julgara que Hexham agiria com igual hombridade. Entretanto o barão se mostrara um covarde destituído de caráter e o atacara pelas costas depois de lançar um desafio direto, obrigando-o a deixar sua casa quase inteiramente desprotegida ao partir para a luta. Porém, por menor que fosse o seu exército em comparação ao adversário, iria enfrentar a batalha até o fim e, por Deus, sairia vencedor. Estava na hora do Cavaleiro Vermelho fazer jus à lenda criada em tomo da sua reputação e suplantar a si mesmo.

Num esforço deliberado, Christopher colocou de lado todos os outros pensamentos e concentrou sua atenção na única coisa que importava no momento: matar, porque a outra alternativa seria morrer.



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Autor(a): nathyneves

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Embora Christopher soubesse que seus homens es­tavam lutando bravamente, Hexham podia contar com reservas vindas do castelo e um número in­finito de mercenários que os atacavam de todos os flancos.Recuando um pouco para ter uma visão melhor da ba­talha, Christopher ergueu o elmo e limpou a testa, o suor escorrendo sobre os olhos e ensopando-l ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

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  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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