Fanfics Brasil - CAPITULO II ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO II

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- Li a mensagem que o rei me enviou. - A voz profunda e forte não es­condia um certo tom de zombaria. Ou seria irritação? Dulce sentiu-se ofendida com a falta de consideração, em especial porque o barão fora direto ao assunto sem dar ao trabalho de lhes dar as boas-vindas de maneira educada. Ao pensar na longa noite passada ao relento, nas horas infindáveis dentro do salão sujo e frio e na escuridão que a impedia de enxergar seu anfitrião, a luva explodiu.

- Fico feliz em saber, meu lorde - ela respondeu altiva. - Esperamos tanto tempo que comecei a achar que ninguém em seu castelo sabia ler.

A resposta carregada de uni insulto velado fez com que o barão olhasse na sua direção, e apesar de não poder ver, sabia que um par de olhos hostis a fitavam de dentro das trevas. Entretanto havia chegado a um ponto tal de estresse emocional, que nada mais im­portava.

- Se você não tem intenção de se submeter à ordem continuou secamente -, então por favor nos diga para que possamos partir. Tenho uma longa jornada pela fren­te e muitas noites a mais para dormir ao relento antes de chegar em casa.

Um silêncio prolongado caiu sobre todos e Dulce teve vontade de esbofetear o desconhecido, de obrigá-lo a le­vantar-se e lhe prestar as honras a que uma dama da corte tem direito em vez de ficar sentado no meio das sombras, como um verdadeiro demônio vermelho.

- Minha lady... - Montmorency fez uma pausa, como se não conseguisse lembrar o nome da mulher que haviam lhe imposto como noiva. Dulce teve vontade de gritar de ódio. - Lady de Laci - ele continuou muito calmo. - Segundo esta carta, você devia escolher um marido dentre todos os cavaleiros do reino e escolheu a mim. Posso saber por quê?

Esforçando-se para manter-se serena diante de uma pergunta tão direta, Dulce mordeu o lábio inferior com força. Bem no fundo, esperara que Montmorency a recusasse e a mandasse embora de Dunmurrow, talvez com uma objeção delicada, talvez com uma reprimenda gros­seira. Só não imaginara que seus motivos seriam inter­rogados com tamanha ousadia.

Vendo-a hesitar, o barão voltou-se para Delamere.

- Você, senhor, responda-me. Será que esta dama é uma bruxa, para ninguém da corte se dispor a aceitá-la como esposa?

Dulce sentiu o rosto em fogo enquanto Delamere su­focava uma risada ao responder.

- Ela é conhecida por sua teimosia, meu lorde, en­tretanto muitos cavaleiros da corte a aceitariam de muito bom grado.

- Sim, pois trata-se de uma dama muito rica, não é?

A insinuação deselegante do Cavaleiro Vermelho não lhe passou despercebida. Como é que aquele homem tinha coragem de sugerir que somente o seu dinheiro a tornava atraente aos olhos masculinos? Dulce inspirou fundo e contou até dez, quando sua vontade era esganar o barão.

         - Na sua opinião, senhor, lady de Laci é uma mulher graciosa?

         Ela enrubesceu até a raiz dos cabelos enquanto Dela­mere a fitava intensamente. Aliás, o primeiro sinal de interesse que o emissário do rei demonstrava sobre a sua pessoa.

- Sim, meu lorde. É uma dama não muito alta, de constituição delicada. Os cabelos são tão ruivos que pa­recem entrelaçados do cobre mais fino. E os olhos... os olhos são prateados. Profundos, brilhantes como pedras preciosas. A beleza de minha lady é conhecida em todo o reino - Delamere concluiu um pouco sem jeito com a própria eloqüência.        ­

- O temperamento da dama obedece a mesma descrição?           ­

O emissário do rei teve a delicadeza de não responder. Dulce estava possessa de ódio. Nunca se sentira tão humilhada como naquele instante, em que dois homens discutiam suas qualidades e defeitos como se ela não passasse de um objeto à venda.

- E então você me escolheu, minha lady - Montmorency afirmou num tom ameaçador que a fez estremecer apesar da raiva. - Talvez os cavalheiros da corte fossem um tanto imberbes demais para o seu gosto e assim você pensou que o Cavaleiro Vermelho estaria melhor equipado para a tarefa de domá-la?

Delamere riu baixinho.

- Posso ver agora que foi um erro, meu lorde - Dulce retrucou friamente, o coração batendo descompas­sado no peito, as mãos cobertas por um suor gelado.

- Sim. Foi um erro... um erro seu, não é mesmo? ­- Seria impossível não perceber o desprezo contido em cada uma das palavras.

Como Dulce se recusasse a responder, um silêncio pesado caiu sobre o ambiente até que Montmorency vol­tar a falar, a voz destituída de qualquer emoção.

- Mas o que está feito está feito. Que assim seja. Cecil vá preparar a capela e leve o sacerdote para lá quando tudo estiver pronto. Sinto não estarmos acostumados a receber visitantes em Dunmurrow e a hospitalidade oferecida dentro do meu castelo é limitada. Con­tudo, faremos o melhor possível. - Com um breve aceno de mão, ele os dispensou fazendo o sangue de Dulce correr gelado nas veias.

- Espere! - Ela pediu sem esconder o desespero. ­- Meu lorde, posso falar com você em particular?

-Sim.

Obviamente aliviado por seu dever estar quase cum­prido, Delamere apressou-se a sair, seguido de Cecil. Dulce foi deixada só na companhia do Cavaleiro Vermelho, que permanecia escondido nas sombras. Que tipo de ho­mem se trancaria numa total escuridão quando lá fora reinava a plena luz do dia? De pé diante de alguém de quem sequer podia enxergar o rosto, ela se sentiu vacilar. Foi com muito esforço que se armou de coragem e deu um passo na direção da figura ameaçadora.

Um dos cachorros rosnou baixo.

- Parada, minha Lady.

Confusa, Dulce ficou imóvel durante alguns segundos e depois deu outro passo para a frente. Os cachorros voltaram a rosnar, o som assustador ecoando dentro das trevas.

- Parada, eu disse - Montmorency repetiu irritado. - Sente-se - ele completou com um pouquinho mais de delicadeza, apontando para o sofá perto da lareira. Isadora obedeceu como um cachorrinho ensinado.

- Meu lorde, garanto-lhe que essa história toda é um grande erro - ela começou, apertando as mãos geladas uma de encontro a outra no auge da aflição.

- Sim, é verdade. E a responsabilidade sobre esse erro monumental é toda sua. Você pensava que eu iria desafiar uma ordem do rei?

         O silêncio de Dulce confirmou as suspeitas do barão de Dunmurrow.

         - Então foi isso mesmo. - Montmorency riu amar­gurado.

         - Sua reputação é assombrosa, meu lorde.

         - Entendo. Talvez você achasse que eu poderia fazer a ordem desaparecer no ar como fumaça, usando um tru­que qualquer de feitiçaria?

Dulce engoliu em seco, incapaz de responder. Por um momento julgou tê-lo visto sorrir dentro das sombras.

- Bem, minha cara lady de Laci, suas maquinações deram errado e o plano foi por água abaixo. Não importa o que você tenha ouvido a meu respeito, porque nada neste mundo me faria desafiar meu rei. Devo muito a Edward e vou obedecê-lo. Agora que você fez sua cama, sugiro que deite nela.

Uma batida na porta anunciou a chegada do servo. Imediatamente Montmorency o mandou entrar.

- Cecil, por favor, acompanhe minha noiva aos seus aposentos. Vamos nos casar o mais depressa possível.

         As palavras firmes do Cavaleiro Vermelho soaram como uma verdadeira sentença de morte.

Embora Dulce estivesse sentada imóvel no quarto, sua mente fervilhava. Ainda dava tempo de fugir. Pre­cisava apenas abrir a porta e escapar daquele castelo amaldiçoado. Considerando a escuridão reinante, seria fácil passar despercebida. Mas o que a aguardava do lado de fora? Seria capaz de convencer os guardas a deixá-la sair? E quanto à ponte levadiça? Dulce praguejou baixinho, de uma maneira muito pouco feminina.

Apesar de ter trabalhado duro, planejado e esquema­tizado à exaustão,estava a um passo de se casar. E não rum algum almofadinha obediente e sim com um homem que sequer expunha a face à luz, um homem que se mantinha distante de todos! Dulce estremeceu violen­tamente, porém procurou reagir. O bruto não iria assustá-la. Também não iria fugir. A dignidade e o orgulho dos de Laci a manteriam de pé.

Uma batida repentina à porta interrompeu o curso de seus pensamentos. Oh, Deus, a última coisa que queria nesse momento era ser obrigada a ouvir os lamentos de Alice. Precisava concentrar-se em manter o próprio au­tocontrole e não agüentaria ter que consolar a criada também.

Entretanto não era Alice, mas o sempre-presente Cecil.

- Meu lorde a aguarda na capela, minha lady - ele anunciou, uma expressão impenetrável no rosto.

Dulce sentiu um aperto no coração, incapaz de acre­ditar que o tempo havia passado tão depressa. Sua ba­gagem continuava no salão lá embaixo, portanto ainda usava o mesmo vestido que trocara ao acordar. Sequer tinha consigo uma escova para arrumar os cabelos. Por outro lado, nada disso importava. O que aquele bruta­montes do Cavaleiro Vermelho pensava a seu respeito não fazia a menor diferença. Inspirando fundo, levan­tou-se e acompanhou Cecil como se estivesse marchando para a própria execução.

Os dois atravessaram alguns corredores estreitos até que finalmente chegaram à capela. O local estava tão escuro quanto o resto do castelo. Tendo perdido a noção das horas, Dulce não sabia se lá fora já anoitecera, porque com certeza as trevas dentro daquelas paredes não eram naturais, e sim provocadas por um homem.

De queixo erguido, caminhou para o altar tentando não prestar atenção nas poucas pessoas reunidas para assistir à cerimônia. Seria Alice num canto, benzendo-se e choramingando? Teria ouvido alguém murmurar as pa­lavras blasfêmia e adorador do diabo?

Reunindo todas as suas forças, Dulce lutou para manter a serenidade porque apesar da demonstração ex­terior de coragem não estava imune aos efeitos da at­mosfera ameaçadora de Dunmurrow. As sombras perpé­tuas, o odor de mofo e o silêncio pesado, pouco contri­buíam para fazer da capela a casa de Deus. Também os rostos ali reunidos em nada lembravam as fisionomias alegres que costumam enfeitar os casamentos.

Com muita dificuldade, evitou pensar nas palavras de Alice. O fato do Cavaleiro Vermelho apreciar a escuridão não significava que fosse um feiticeiro ou algum tipo de criatura do mal. Afinal já fora obrigada a enfrentar coisas piores na vida do que um punhado de sombras.

Montmorency a aguardava no altar. Uma figura alta e misteriosa ao lado do sacerdote. Ao se aproximar, Dulce tropeçou, sendo imediatamente amparada por uma mão forte, de dedos longos e ágeis. Ela levantou os olhos, buscando enxergar o futuro marido. Porém à escuridão era tão grande que nada pôde ver. Havia qualquer coisa de pagão em casar-se com um homem de quem sequer vira o rosto.

Recusando-se a se deixar intimidar, ela fitou o sacer­dote que, iluminado por um pequeno castiçal, era a única pessoa visível dentro da capela. O homenzinho parecia hesitar em dar início à cerimônia. Na verdade não podia culpá-lo. A escuridão que os cercava parecia uma coisa viva e pulsante, pronta para engolfá-los num vazio absoluto e ameaçador.

Quando Montmorency a tocou de leve, Dulce ficou rígida, a respiração suspensa. Embora soubesse que o contato seria breve, que os dois precisavam se dar as mãos para professar os votos, ainda assim não estava preparada para a experiência. Lutando contra pânico, obrigou-se a relaxar e para sua surpresa, apesar das previsões de Alice, o Cavaleiro Vermelho não possuía garras ou casco. A mão masculina lhe parecia inteiramente normal. Sem que pudesse evi­tar, ela estremeceu.

Entretanto não foi um estremecimento de medo, mas um arrepio de excitação que a percorreu da cabeça aos pés.  Surpresa, Dulce não sabia como decifrar aquela emoção estranha, despertada pelo roçar da pele de Montmorency na sua. Jamais sentira algo assim. Seria o seu comportamento inesperado o resultado de algum feitiço? Estaria sob um encantamento lançado pelo Ca­valeiro vermelho?

A possibilidade quase a deixou fora de si. Porém, em vez de se entregar ao pavor cego, procurou se concentrar nas palavras do sacerdote. Percebendo que continuava nervosa, contou até dez. Depois até vinte. Afinal estava longe de ser uma mulher ignorante, capaz de acreditar em magia negra. Por outro lado, era difícil se convencer do contrário quando segurava a mão de um homem en­coberto pela escuridão.

De repente Dulce se convenceu de que encontrara uma explicação lógica para aquela sensação esquisita. Não estava acostumada à proximidade física. Tendo sido criada na companhia de irmãos pouco afetuosos e do pai, de quem sempre mantivera uma distância respeitosa, jamais soubera, ou quisera, externar afeição. Tocar al­guém era algo estranho... e em geral repugnante.

Ainda se lembrava muito bem do barão Rothschilde, um cavaleiro que conhecera na corte. Numa tentativa revoltante de cortejá-la; o homem a pressionara de en­contro à parede e a beijara na boca, os lábios úmidos e nojentos enchendo-a de asco. Dulce o chutara na virilha antes de escapar correndo, mais decidida do que nunca a jamais se submeter a um marido.

Entretanto estava casando-se com um homem infini­tamente mais repulsivo do que Rothschilde. Seria mes­mo? O estranho é que não experimentava nojo agora e sim um prazer desconhecido e inexplicável. Havia algo de assustador no Cavaleiro Vermelho. E algo perturbador também. Isso sim, a inquietava.

Dulce lançou um olhar na direção do cavaleiro ao seu lado cuja alta estatura a fazia sentir-se ainda mais pequenina e indefesa. Fosse por magia ou não, tratava-se de um homem forte e poderoso. A mão que segurava a sua poderia esmagá-la como a uma casca de noz. Como seria hoje a noite? O pensamento era tão apavorante que não ousava deter-se nas implicações.

Você fez a sua cama, agora deite-se nela. As palavras de Montmorency retomaram à sua mente como um aviso. Os dedos longos que mal a tocavam agora, diante do sacerdote, poderiam perder a delicadeza na privacidade do quarto. Enorme e com o rosto escondido pelas sombras, o Cavaleiro Vermelho poderia muito bem ser algum tipo de demônio. Um demônio com quem seria obrigada a deitar-se hoje a noite.

Como se percebesse seu estado crescente de aflição, Montmorency apertou-lhe a mão com firmeza. Absorven­do o poder que emanava daquela figura sólida, Dulce teve forças para reunir um resto de coragem e acompa­nhar a cerimônia até o fim. 

Embora tivesse a impressão que o barão lhe transmi­tira calma e confiança no momento em mais precisara, ela ficou aliviada quando as mãos de ambos se separaram. Entretanto o alívio teve curta duração. Antes mesmo de se recobrar da intensidade das emoções, foi tomada nos braços e apertada de encontro a um peito largo.

Dulce deixou escapar um murmúrio de surpresa. Era estranho sentir o corpo de um homem pressionando-lhe os seios. Talvez se pudesse enxergá-lo, a sensação seria menos inquietante. Porém a escuridão da capela dava a Impressão de que estavam a sós, separados do resto do mundo... E sua única tábua de salvação era o Cavaleiro vermelho.

Desorientada, ergueu as mãos, os dedos trêmulos emaranhando-se nas dobras da túnica daquele que acabara de se tornar seu marido. Imediatamente Montmorency deslizou as mãos pelos ombros delicados, até tocá-la na base do pescoço. Cada centímetro de pele acariciada pelos dedos masculinos parecia ganhar vida, ficando em fogo. Então ele a beijou na boca. Foi um beijo rápido e impe­tuoso, que terminou antes mesmo que Dulce percebesse o que estava acontecendo. Desnorteada, piscou várias ve­zes, porém não conseguia vê-lo. Como se num sonho, aguardou, cheia de expectativa... embora não soubesse bem o quê. Ao sentir as mãos de Montmorency percorrem seus braços, ela prendeu a respiração, um calor intenso tomando conta de suas entranhas. Levada por um impulso incontrolável, apoiou-se no corpo viril e ergueu o rosto...

- Você pode se retirar para seu quarto agora. Espero-a para jantarmos juntos. - Ele deu-lhe as costas e afas­tou-se, deixando atrás de si apenas a escuridão.

Assombrada pelo que acontecera, Dulce teria per­manecido ali parada, imóvel, se um som vindo do altar não lhe chamasse a atenção. Esquecera-se por completo do sacerdote.

Será que somente alguns minutos haviam passado? Por que então a sensação de que Montmorency e ela tinham ficado sozinhos, envoltos por um manto de som­bras, durante toda uma eternidade? Entretanto a capela não parecia tão às escuras agora. As poucas pessoas pre­sentes conversavam num tom normal, incapazes de per­ceber o que lhe acontecera.

Mas o que lhe acontecera?

         Não sabia dizer ao certo. Por um louco instante tivera a impressão de que não existia capela, sacerdote, teste­munhas,.. apenas Montmorency e ela, juntos... tocando-­se. Ainda podia sentir o calor das mãos fortes na sua pele, a pressão do peito largo, a boca... Dulce passou os dedos de leve sobre os lábios. Era como se aquele homem a tivesse marcado com um ferro em brasa.

Percebendo o absurdo dos pensamentos, abaixou a mão com força, certa de que as histórias de Alice estavam dando asas à sua imaginação. Fora apenas um beijo de protocolo, nada além. O fato de não estar acostumada a receber atenções masculinas transformara um aconteci­mento banal em algo fora do comum. A circunstância anormal em que o casamento fora realizado acabara im­pedindo-a de raciocinar com clareza. Montmorency não apertara sua mão para lhe transmitir coragem e segu­rança, como chegara a pensar, porque ele continuava ir­ritado. De outro modo não a teria mandado para o quarto tão secamente.

Dulce mordeu os lábios nervosa. As coisas estavam acontecendo depressa demais para o seu gosto. E tudo era tão estranho que não conseguia entender, mesmo sempre tendo se considerado uma pessoa capaz de ana­lisar qualquer situação com perspicácia. Sentia-se inse­gura, e não gostava nada disso. Por natureza, e vocação, Dulce gostava de dominar, de dar a última palavra em qualquer questão. Contudo começava a se achar impo­tente em Dunmurrow. Dentro do castelo transformara-se numa prisioneira das trevas, a noiva infeliz de um marido que não a queria.

Parecia-lhe impossível que seu plano, traçado com to­dos os detalhes e o maior cuidado semanas atrás, pudesse ter terminado daquela maneira desastrosa. Do dia para a noite, tornara-se esposa do Cavaleiro Vermelho, uma figura densa, ameaçadora, capaz de exercer controle não apenas através de suas excentricidades mas através do simples toque das mãos também.

 

De volta ao quarto, Dulce descobriu que seus baús haviam sido entregues. Um lembrete final de que não poderia voltar para casa. Inquieta, passou os dedos sobre o anel que Montmorency lhe colocara no anular esquerdo, o sinal de que seria obrigada a viver naquele lugar frio assustador para sempre.

Embora sua vontade fosse deitar na cama e chorar, ela ordenou a Alice que desfizesse a bagagem. Depois abriu a porta e chamou por Cecil.

- Há mais velas que eu possa usar? - O servo fitou-a ansioso e murmurou um sim quase inaudível. - Então faça-me o favor de trazê-las. Não posso suportar nem permitir essa escuridão permanente. Existem criadas ou homens no castelo para fazer o serviço de limpeza?

- Tem uma lavadeira.

- Pois mande-a a minha presença agora mesmo.

Cecil concordou com um aceno e se retirou depressa, o rosto coberto por uma palidez mortal.

- Quero que alguém limpe este quarto - Dulce falou para Alice. A criada, que permanecia parada no mesmo lugar, continuava gemendo e se revoltando contra o destino que as mandara para aquele antro esquecido por Deus. Dulce achou melhor ignorá-la e abriu as ja­nelas. A lufada de ar, embora gelada, era limpa e fresca, trazendo luz às trevas. Atentamente, estudou o ambiente.

Era um quarto pequeno e pobremente mobiliado. Ape­nas uma cama e um pequeno sofá defronte a lareira. As paredes estavam cinzas, o assoalho quase negro e o cor­tinado da cama empoeirado. A visão não podia ser mais desanimadora.

- Este quartinho miserável é um verdadeiro insulto... minha lady. - A serva estava vermelha de raiva. - E uma desgraça para qualquer dama e em especial para você, acostumada a viver rodeada de conforto e beleza. Oh, céus, não há sequer uma cadeira neste antro!

- Julgando pela ausência de mobiliário no castelo, posso me julgar uma mulher de sorte por ter esse sofá. Fazer almofadas para deixá-lo mais confortável será uma tarefa fácil.

Edith fez uma careta, trazendo um sorriso aos lábios de Dulce pela primeira vez desde que haviam posto os pés em Dunmurrow.

- Aliás, considerando a idade desta construção, diria até que somos afortunadas. Olhe só a lareira! - Ela estremeceu, imaginando uma cela fria e sem janelas, gra­ta pelo pouco que a cercava. Depois pensou nos aposentos principais, normalmente ocupados pela esposa do barão, e estremeceu outra vez. Entretanto o arrepio que a per­correu de alto a baixo era estranho, uma sensação que não conseguia explicar.

Sacudindo os sentimentos despertados pela lembrança do marido, Dulce abriu a boca para dizer que preferia estar numa cela nua do que na alcova de Montmorency. Mas resolveu ficar calada. Os aposentos do Cavaleiro Vermelho se assemelhavam às descrições que Alice faria da própria moradia do diabo e não estava com nenhuma disposição para ouvir as comparações da velha criada.

Já ouvira tolices além da conta.

- Este quarto me servirá bem depois de limpo - Dulce insistiu mais asperamente do que pretendia. As condições dos aposentos eram mesmo precárias, porém, como em todo o castelo, o grande problema centrava-se na sujeira, algo que podia ser consertado. - Se a lava­deira não puder nos ajudar, então você e eu faremos o trabalho sozinhas até que mais mulheres possam ser tra­zidas da aldeia. E posso lhe garantir que elas virão! Não importa a que custo.

De repente Dulce pareceu fazer uma descoberta sig­nificativa.

- Dinheiro! - ela exclamou surpresa. - Alice! Talvez esse Cavaleiro Vermelho, tão feroz, seja pobre! Talvez a ausência de servos signifique que se trata de um feudo improdutivo. O castelo tem poucas velas porque não há como comprá-las. É possível que nenhum aldeão saiba como fabricá-las tampouco.

Embora Alice não parecesse muito convencida com os argumentos, Dulce continuou a falar, tentando de­sesperadamente encontrar uma explicação plausível para o estado de abandono em que a propriedade se encontrava.

- Se o problema é dinheiro, isso pode ser remediado com facilidade. Mandarei que me tragam o que precisa­ mos de Belvry. Ou melhor... podemos nos mudar para Belvry! - Ela sentou-se na cama, maravilhada com a idéia que lhe ocorrera e com a esperança que a possibi­lidade lhe trouxera.

Talvez, quem sabe talvez, Montmorency ficaria feliz em ser dono de uma propriedade próspera e não se im­portaria de morar em Belvry pelo menos durante uma parte do ano. Cheia de expectativas, Dulce fitou Alice, porém a criada balançou a cabeça de um lado para o outro, cheia de desânimo.

- Talvez, minha lady, talvez. Contudo, apesar da pobreza, deve existir madeira o suficiente nas redondezas para sejam feitas tochas, pelo menos para iluminar o salão. Não consigo entender por que aquele espaço todo é mantido nas sombras. É até perigoso.

A esperança que começara a crescer em seu coração perdeu o significado. Alice estava certa, claro. Não ha­veria nenhuma mudança para Belvry. O instinto lhe dizia que o Cavaleiro Vermelho estava muitíssimo bem em Dunmurrow, envolto na mais total escuridão.



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Autor(a): nathyneves

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

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  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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