Fanfics Brasil - CAPITULO VII ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO VII

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  Cristopher estava furioso. Andando de um lado para o outro, tentava se concentrar no que Cecil contava, mas era difícil. O servo lhe dizia coisas que preferiria não ouvir e cada palavra caía sobre sua raiva como uma chicotada em carne viva.

- E onde estão eles agora?

- Fui informado de que se dirigiram à aldeia, meu lorde.

- Depois de uma conversa informal, uma refeição gos­tosa e um passeio pela floresta - Cristopher falou entre os dentes.

- Aparentemente sim, meu lorde. Embora eu deva deixar claro que na minha opinião nenhum dos dois seria capaz de se comportar de maneira imprópria às posições que ocupam.

- De maneira imprópria! - A voz do Cavaleiro Ver­melho ecoou cheia de ira pelos aposentos enquanto um murro possante sobre a mesa quase partia a madeira em duas. Imprópria era um termo delicado demais para descrever o que poderia estar acontecendo. Melhor usar a palavra certa: infidelidade, adultério, traição...

- Meu lorde, talvez fosse mais prudente se preocupar com o que Afonso possa estar revelando à sua esposa do que com as ações de ambos. Porque se ela souber a ver­dade a seu respeito, terá uma arma de poder mortífero nas mãos.

A razão lhe dizia que os argumentos de Cecil em sensatos, porém, o que fazia transbordar sua raiva era mesmo a idéia do que seu vassalo e sua mulher poderiam estar fazendo juntos. O ciúme sim, o levava à beira do descontrole total. Entretanto a fúria contida já se tornara parte da sua vida. De que adiantava esbravejar quando sequer podia tomar as rédeas do próprio destino?

Com muito esforço, Montmorency recuperou o controle das emoções e quando voltou a falar, sua voz soava calma e tranqüila, apesar de cortante como o aço.

- Por favor, diga à minha esposa e ao meu vassalo que os espero para jantar comigo esta noite. - Ao per­ceber que o servo não se movera um centímetro do lugar, Cristopher irritou-se. - Agora! Vamos! Quero que os encontre antes que saíam para qualquer outro lugar juntos!

Pelo sangue de Cristo, quer eu a possua ou não, Dulce é minha mulher... aos olhos de Edward, aos olhos da igreja e aos olhos dos homens! Quero os dois na minha frente para que eu mesmo possa julgar... até que ponto andaram se comportando de maneira imprópria.

Assim que o servo saiu, Cristopher recomeçou a andar de um lado para o outro, diante da enorme cama de casal, fria e vazia. A ironia do fato não lhe passou despercebida.

Percebendo o adiantado da hora, Dulce tomou um banho rápido e deixou que Alice a ajudasse a vestir-se. Pelo menos desta vez a criada não contava as histórias de sempre sobre o terrível lorde de Dunmurrow. Parecia mais preocupada com o homem que Afonso enviara para lhe servir de guarda pessoal.

- O nome dele é Pascoal, embora tenha me pedido para chamá-lo de Pasqua. Como se eu quisesse manter essas familiaridades. Quando eu lhe disse para me cha­mar de senhora Alice, você precisava ver como o da­nado sorriu! Pois vou lhe dizer uma coisa, minha lady. Aposto que me sentiria muito mais segura num ninho de cobras do que tendo um homem como aquele à minha porta.

- Se você tem medo do tal guarda, então peça a Afonso para substituí-lo por outro.

Ignorando o conselho, Alice suspirou alto e continuou a resmungar.

- Duvido até que seja mesmo um soldado porque é baixo e magro como uma vara de marmelo. Como é que pode garantir a proteção de alguém? Talvez seu belo vas­salo o tenha mandado com o único propósito de debochar de mim.

- Ele não é meu vassalo e sim de meu marido ­- Dulce falou com firmeza. - Tenho certeza de que Afonso pouco se preocupou em escolher um homem cuja aparên­cia pudesse ou não agradá-la.

- Bem, se esse Pasqua é um exemplo, então os soldados de Dunmurrow são tristes figuras. Isto é, caso Dunmur­row possua soldados de verdade. Porque se as criaturas forem semelhantes ao lorde do castelo, não devem passar de sombras.

- Por favor, certifique-se de que o guarda tenha uma boa refeição no jantar - Dulce ordenou depressa, an­siosa para livrar-se do falatório da criada.

- É o que farei. Pelo menos se o coitado engordar um pouco terá mais substância e não sairá voando por aí, na primeira lufada de vento.

Tão logo Alice se ausentou do quarto, Dulce suspirou aliviada e continuou a pentear os cabelos. Como ainda estivessem úmidos, resolveu deixá-los soltos em vez de trançá-los e prendê-los no coque habitual. Felizmente a criada encontrara algo novo com o que se preocupar, pen­sou sorrindo. Com um pouco de sorte, o irreverente Pasqua manteria Alice ocupada o suficiente para deixar de lado o Cavaleiro Vermelho. Precisava agradecer Afonso por ter mandado o guarda.

Ao se lembrar de como a criada chamara Afonso de "seu" vassalo, Dulce parou de sorrir. Seria normal esperar que os aldeões, na ausência constante do verdadeiro lorde, começassem a ver o vassalo como o senhor de Dunmur­row. Isso não estava certo. O instinto lhe dizia que Cristopher não iria gostar nada... se soubesse. Daria tudo para que aquela noite já tivesse terminado.

O fato é que preferia não partilhar a refeição na com­panhia do marido e de Afonso. Ainda se sentia um tanto culpada por ter passado o dia inteiro ao ar livre, embora soubesse que nada fizera de errado. Simplesmente esca­para à atmosfera pesada do castelo durante algumas ho­ras. Então por que a sensação de que traíra o marido? Por que preferia a luz à escuridão?         

Uma batida à porta arrancou-a dos pensamentos som­brios. No instante em que abriu e se deparou com o olhar de Cecil, percebeu que alguma coisa estava errada. Não que o criado tivesse alterado a expressão impenetrável do rosto. Aliás não conseguia imaginá-lo rindo ou cho­rando. Sempre austero, jamais demonstrava a menor emoção em qualquer circunstância. Porém hoje... ele parecia diferente. Positivamente preocupado.

- Meu lorde mandou avisá-la de que a espera para o jantar.

Seria impressão sua ou ouvira uma leve hesitação na voz do servo?

- Sim, claro. Sempre janto com o barão. Cecil, o que foi? Problemas sérios?

- Minha lady, sei que um homem da minha posição não deveria dizer nada... mas...

- Por favor, sinta-se à vontade para falar.

- Minha lady, o barão ficou furioso quando soube que você pareceu preferir a companhia do vassalo. Talvez ele tema que possa haver... falatórios.

- Falatórios? Falatórios? Como, se não mora ninguém neste castelo deserto?!

Todo o sentimento de culpa que viera experimentando por ter aproveitado o dia desapareceu num passe de má­gica. Sentia apenas raiva.

- Qualquer coisa que se diga de mim jamais poderá ser comparada aos horrores que se contam do Cavaleiro Vermelho. Os aldeões, por exemplo, adoram a história de que durante o dia o barão oferece sacrifícios humanos e à noite come corações de crianças no jantar!

Diante da explosão de Dulce, Cecil se retraiu e voltou à atitude servil e impessoal de sempre.

- Sim, minha lady.

Os dois caminharam para os aposentos principais sem trocarem mais uma palavra.

Falatórios! Que idéia ultrajante, absurda! Como é que seu marido, uma pessoa que jamais a levara para um passeio ou se dignara a sair do quarto para jantar no salão, podia se ofender com o fato de que ela dera atenção ao vassalo, um homem bem-educado e de confiança? Um soldado que provavelmente jurara lealdade ao seu lorde até a morte?

Como é que Montmorency pudera julgá-la capaz de trai-lo com tanta facilidade? Por mais que apreciasse a companhia do vassalo, nunca lhe passara pela cabeça um outro tipo de relacionamento que não fosse amizade.

Afonso era bonito sim, porém não tinha nada de especial. Apenas simpático e de boa aparência, como muitos dos cavaleiros que conhecera e a quem não dera a menor importância ou por quem não tivera o mínimo interesse. Na verdade, o único detalhe que diferenciava Afonso dos outros é que a presença dele aliviara um pouco o peso da escuridão.

Em Belvry, sempre vivera rodeada de pessoas, podendo escolher com quem conversar. Mas aqui, em Dunmurrow, as opções eram praticamente inexistentes. Cristopher se dig­nava a lhe dirigir a palavra apenas durante as refeições. Restavam Alice, com suas histórias bizarras, o tocador de flauta, a cozinheira e a filha. Cecil não contava por que se mantinha sempre calado. Afonso surgira como uma alternativa à atmosfera solitária do castelo. Até que o Cavaleiro Vermelho conseguira arruinar tudo. E era isso o que mais a enfurecia. A certeza de que o prazer de um dia passado ao ar livre fora perdido para sempre.

Dulce entrou no quarto de mau humor, os olhos buscando a silhueta alta do marido. Pretendia colocar a história toda em pratos limpos imediatamente, en­tretanto a presença de uma terceira pessoa a fez mudar de idéia.

- Minha lady - cumprimentou-a Afonso.

Talvez Cecil tivesse exagerado a seriedade da irritação de Cristopher, pensou. Talvez ela mesma se agitara tanto a troco de nada.

- Minha lady. - O tom de voz de Montmorency soava calmo e controlado, deixando-a um pouco mais aliviada. Para sua surpresa, seu lugar à mesa fora colocado ao lado do vassalo. Uma espécie de armadilha, talvez?

- Cristopher, você se esqueceu de dizer que a beleza de sua esposa supera a da mais bela jóia.

Ao ouvir o elogio do vassalo, Dulce quase se engasgou com o vinho. Será que aquele insensato não tinha noção do quanto era perigoso despertar a ira de Montmorency?

- Na aldeia as pessoas comentam que agora foi en­contrado um anjo para o nosso Cavaleiro Vermelho. Mas eu não imaginava que os aldeões falavam de maneira tão literal.

Ela ficou tensa, aguardando a explosão do marido. Po­rém nada aconteceu.

- Sim, é o que dizem todos os que tiveram o privilégio de contemplar sua beleza.

Apesar das palavras gentis, Dulce sentiu-se desas­sossegada. Havia algo de ameaçador escondido sob o man­to da delicadeza. Um perigo crescente emanava da figura escondida nas sombras. Será que Afonso não era capaz de perceber?

Aparentemente não, porque as palavras seguintes do vassalo não demonstravam qualquer tipo de cautela.

- Cristopher me contou que esse casamento foi arranjado por Edward, minha lady. Você não ficou surpresa ao des­cobrir que seria esposa do Cavaleiro Vermelho? Muitas mulheres ficariam apavoradas com a perspectiva, considerando a reputação de Montmorency.

- Não, não fiquei nada surpresa, uma vez que a es­colha foi minha. Eu o escolhi. - E pelo jeito, foi um erro terrível, teve vontade de acrescentar.

- Você o escolheu? Não estou entendendo.

Dulce queria sumir da face da terra. Hoje pela manhã pensara haver colocado um ponto final na curiosidade de Afonso, mas pelo visto o vassalo estava ousando ainda mais nas perguntas. E bem na presença do Cavaleiro Vermelho!

- Edward me permitiu escolher um marido dentre todos os cavaleiros da corte e me decidi pelo barão Montmorency. - Como Cristopher não demonstrasse qualquer objeção à conversa, esperava que o marido dei­xasse claro que o arranjo não fora do seu agrado. En­tretanto ele continuou em silêncio. O que estaria pen­sando, calado dentro da escuridão? Se ao menos pudesse enxergá-lo...

- Verdade? - Afonso continuou interessado. - Mas você mesma me disse que nunca havia se encontrado com Cristopher antes. O que a levou a tomar uma decisão assim?

Será que aquele homem nunca ia parar com o inter­rogatório? Por que seu marido não interferia?

- A reputação do barão é impressionante.

- Ah! Quer dizer que você ouviu falar sobre o desem­penho dele nas guerras?

- Sim. - Cansada de tantas perguntas, Dulce de­cidiu que acabaria contando a história inteira, com todos os detalhes, se Cristopher não interviesse. Diria que fizera aquela escolha insensata na esperança de ser recusada, que jamais passara pela sua cabeça tornar-se esposa do barão Montmorency.

Afonso sorriu para si mesmo. Com certeza havia mais nesta história do que o casal parecia disposto a contar.

E como adoraria saber os detalhes! Conhecendo Cristopher há anos, ouvira todos os rumores que envolviam a figura do Cavaleiro Vermelho, rumores que desencorajariam a mais determinada das donzelas. Ainda assim a bela herdeira de Belvry escolhera o lorde de Dunmurrow. Por quê?       ­

Somente uma mulher ,com inclinações para a feitiçaria, para a magia negra, buscaria a companhia de um homem de quem se contavam horrores. Porém poderia jurar que a nova castelã possuía um espírito puro, alguém que preferia a luz às trevas.           

- Então você queria um guerreiro poderoso para pro­teger as suas propriedades?

De repente Dulce se deu conta de que não valia a pena tanta aflição. Se Afonso era vassalo de Cristopher, devia saber, melhor do que ninguém, como e o que o Cavaleiro Vermelho era. Qualquer pessoa do reino conhecia os boa­tos que cercavam o lorde de Dunmurrow.

- Eu o escolhi por causa da sua reputação - ela falou aparentando tranqüilidade. - É claro que você já deve ter ouvido todas as histórias que se contam sobre o barão Montmorency, ou será que eu preciso colocá-lo a par dos rumores? Meu marido é chamado de Cavaleiro Vermelho devido à sua associação com o diabo.

- Também é um poderoso feiticeiro, capaz de trazer a Dunmurrow os bruxos do mundo todo a fim de aprender os seus segredos. Depois os descarta porque prefere con­jurar sozinho. É também alquimista, astrólogo e o responsável direto por toda a sorte de mal-feitos. Na ver­dade, pode-se culpá-lo de tudo que assola o reino, desde cerveja estragada até doenças e mortes. Com tantos po­deres, ele deve ser o cavaleiro mais forte da terra, maior ainda do que o próprio Edward. Você não acha, Afonso?

O vassalo parecia, pela primeira vez, completamente perdido e, ao responder, decidiu-se pela cautela.

- Talvez as histórias que cercam o lorde de Dunmur­row sejam um tanto exageradas. Todos sabem que os camponeses têm um gosto especial pelo sobrenatural.

Dulce sorriu, satisfeita pelo embaraço de Afonso. Pelo menos conseguira virar o jogo.

- Talvez, mas você devia ter cuidado em não irritar meu marido, ou ele pode transformá-lo num sapo. - Ou então mantê-lo, para sempre, dentro dessa escuridão, ela pensou amarga. Qual punição seria pior? Determinada a não responder outras perguntas, Dulce bebeu um pou­co de vinho e procurou se concentrar no jantar.

- Não precisa se preocupar, minha lady. Tenho mais utilidade a Cristopher assim como sou. Um sapo encontraria muitas dificuldades para obter o respeito dos soldados. Ninguém entenderia meu coaxar. Para não mencionar o fato de que seria impossível achar uma montaria ade­quada, imagino.

A idéia de uma criatura parecida com um sapo mon­tada num cavalo deu-lhe vontade de rir. Porém ao per­ceber que nenhum som vinha das sombras, o comentário espirituoso perdeu a graça. Cristopher não parecia partilhar o humor da piada. Talvez fosse melhor parar com aquela conversa já. Embora não acreditasse que seu marido pu­desse transformar o vassalo num sapo, não tinha dúvidas que o barão saberia encontrar outras maneiras de de­monstrar seu desagrado.

E com certeza Montmorency estava bastante irritado. O lorde de Dunmurrow permanecera imóvel, uma pre­sença sombria e ameaçadora durante toda a refeição. Por um curto espaço de tempo os dois homens até che­garam a falar sobre a guerra travada contra os galeses, porém quando o assunto foi abandonado, um silêncio pe­sado caiu sobre o ambiente. Mesmo o entusiasmo natural de Afonso perdeu o brilho e a graça.

Finalmente, quando Dulce falou sobre a tarde pas­sada ao ar livre, Cristopher não demonstrou qualquer interesse sobre os aldeões ou sobre as condições em que suas terras se encontravam. Se alguma pergunta lhe era feita, res­pondia com monossílabos secos. Até quando ela agüen­taria ficar ali, sentindo todo o peso do mundo sobre as costas? Daria tudo para estar em seu quarto agora. Sozinha.

- Devo admitir que fiquei surpreso com as mudanças que sua lady fez em Dunmurrow. Nunca pensei que o velho salão principal pudesse parecer tão aconchegante. E desta vez não vou nem queixar da comida.

- Minha esposa é bem qualificada para a posição que ocupa, não é, Afonso? - Cristopher indagou num tom estranho.

- É sim, meu lorde. Você teve muita sorte.

Dulce corou e empurrou o prato para o lado. De al­guma maneira não conseguia acreditar que o Cavaleiro Vermelho partilhasse a mesma opinião do vassalo. Porém as palavras do marido pegaram-na de surpresa.

- Sim - Cristopher concordou. - Ela é meu presente de Natal, um prêmio que eu não procurei, mas ainda assim, muito valorizado.

Montmorency só devia estar concordando com Afonso por uma questão de cortesia, ela decidiu. Afinal o barão odiara a intervenção de Edward. Oh, Deus, só queria ir para seu quarto. Não suportava mais aquele jogo de in­diretas e sentimentos ocultos.

Entretanto tinha mesmo coragem de culpar Cristopher por tanta amargura? Afinal não fora ele quem procurara uma esposa. Ela sim, o obrigara a aceitar uma situação já definida.

De repente Dulce se deu conta de que a vida em Dunmurrow não passava de uma farsa. E o que mais doía, o que mais feria seu orgulho, era a rejeição e a indiferença do Cavaleiro Vermelho.

Não, aquele tipo de pensamento não servia para nada, apenas para lhe dar indigestão. Preocupar-se com o que Cristopher dizia ou fazia era uma grande tolice. Afinal não fora ela mesma quem erguera uma barreira ao redor do coração anos atrás, para se proteger das palavras duras de seu pai e irmãos? Cerrando as mãos em punho, Dulce abriu a boca para pedir licença e se retirar. Porém não foi rápida o suficiente.

- Ouvi dizer que a sua voz é ainda mais bela do que a de um pássaro, minha lady. Será que poderíamos ser brindados com uma amostra de seu talento? - Afonso pediu.

A última coisa que ela queria fazer no momento era cantar diante desses dois homens como um animalzinho ensinado. Na verdade sentia-se irritada e desgostosa com ambos... e com a espécie masculina em geral. Antes que pudesse formular uma desculpa educada, seu marido veio em seu auxílio.

- Não esta noite. Vou me retirar cedo - Cristopher anun­ciou.- Você deve estar cansado também, Afonso. Foi um longo dia.

- Sim, é verdade. - Compreendendo a sutileza do comentário, o vassalo levantou-se imediatamente e se preparou para sair. Dulce quase fez o mesmo até per­ceber que não seria sensato deixar os aposentos do marido na companhia do outro. - Foi um prazer, minha lady. E mais uma vez, dou-lhe os parabéns, meu lorde.

Cristopher murmurou qualquer coisa ininteligível em res­posta. Embora notasse uma certa animosidade entre os homens, não conseguia entender o motivo e nem a ma­neira como ela própria poderia ter contribuído para isso.

Sabia apenas que precisava escapar da atmosfera sufo­cante daqueles aposentos. Contendo a ansiedade, conti­nuou sentada e imóvel até ouvir a porta se fechar atrás de Afonso. Então levantou-se. A voz de Cristopher, profunda e suave, surpreendeu-a.

- Dulce?

- Sim? - Não era possível que o barão pretendesse obrigá-la a ouvir um sermão sobre a tarde passada nu companhia do vassalo! Apesar de ter a consciência tranqüila, pois nada fizera de errado, sentia-se esgotada demais para discutir. Só queria que aquele dia terminasse.

Só queria dormir e esquecer.

- Não deixe nenhuma vela acesa em seu quarto e mantenha as cortinas da cama bem fechadas. Irei pro­curá-la esta noite, minha esposa.

Dulce quase perdeu o equilíbrio, atordoada por sen­sações estranhas em que se misturavam surpresa e um pouco de medo. Ela fitou a escuridão intensamente, ten­tando enxergá-lo através das sombras. Porém seu esforço foi em vão. Nervosa, passou a língua pelos lábios secos antes de dar a única resposta possível.

- Sim, meu lorde.

Com o coração aos pulos, chegou até a porta que Cecil mantinha aberta esperando-a, mas dispensou a compa­nhia do criado com um gesto de mão e preferiu atravessar os corredores sozinha. Precisava de tempo para pensar, para dominar as emoções desencontradas que sufocavam­ lhe o peito.

O medo era até fácil de entender e controlar porque não acreditava que o marido fosse um tipo bestial, inu­mano. Tinha quase certeza absoluta que Cristopher sofrera alguma espécie de desfiguração que o forçava a viver nas trevas para se ocultar de olhares apavorados ou pie­dosos. Embora a idéia de dormir com alguém assim lhe causasse apreensão, o pavor era de longe superado pela excitação estranha que palpitava em seu ventre. Então ele não a estava rejeitando e essa crença era suficiente para fazê-la sentir-se nas alturas. O. que servia para con­fundi-la ainda mais.

Cecil estava em seu quarto, preparando os aposentos para a noite, e Dulce mandou-o retirar-se. Depois sen­tou-se na cama, satisfeita que Alice não iria passar a noite ali. As duas haviam desenvolvido uma rotina que lhe permitia saborear a privacidade total depois do jan­tar. Até agora fora um tempo dedicado à leitura ou ao planejamento das atividades do dia seguinte. Não lhe passara pela cabeça, não desde a primeira noite sob o teto de Dunmurrow, que essas horas poderiam ser usadas para o propósito óbvio. Contudo, hoje à noite, cumpriria o destino reservado às mulheres casadas...

De súbito foi tomada por um acesso de pânico, como se o Cavaleiro Vermelho pudesse chegar a qualquer momento.

"Não deixe nenhuma vela acesa", ele dissera. Dulce olhou ao redor, procurando algum ponto de iluminação.

Imediatamente reparou que todos os castiçais haviam sido removidos. Por um louco instante perguntou-se se Cristopher tinha conseguido fazê-los desaparecer num passe de mágica. Então lembrou-se de Cecil, que em geral não costumava ir ao seu quarto àquela hora da noite. Claro que o criado levara todos os castiçais consigo.

Dulce suspirou aliviada. Porém seu alívio não durou mais do que alguns poucos segundos ao pensar que ao sair dos aposentos do marido deixara Cecil parado junto a porta. Entretanto fora encontrá-lo dentro de seu quarto! Ela estremeceu violentamente, um arrepio de pavor per­correndo-a de alto a baixo. Cecil não poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo. Nenhum ser humano seria capaz de realizar tal feito... a menos que fosse uma ques­tão de bruxaria.

A menos que se tratasse de um demônio. Todas as histórias de Alice voltaram à sua mente com uma pre­cisão de detalhes apavorantes. Angustiada, Dulce cer­rou as mãos nas beiradas da cama com tanta força que os nódulos dos dedos ficaram brancos e doloridos. Oh, Deus, por que hoje, dentre todas as noites, precisara en­frentar essa revelação monstruosa? Hoje, dentre todas as noites, quando aguardava a chegada iminente do Ca­valeiro Vermelho em pessoa? Seu marido, o homem que decidira fazer valer seus direitos de esposo...

Gemendo baixinho, ela encostou a cabeça no travesseiro sem saber o que fazer ou onde encontrar conforto para o tumulto interior que ameaçava partir sua alma em pedaços. Não havia ninguém a quem recorrer, ninguém com quem se aconselhar. Podia contar apenas con­sigo mesma.

Um ruído do lado de fora do quarto obrigou-a a sair daquele estado de estupor e pela primeira vez, desde o dia de seu casamento, Dulce teve medo do que poderia descobrir caso enxergasse o marido à luz do dia. Talvez a ignorância fosse melhor e as trevas a protegessem de uma verdade a qual não estava preparada para enfrentar. Rapidamente, desvencilhou-se das roupas e meteu-se sob os lençóis, trêmula e assustada.

E naquela escuridão absoluta, em que não se enxer­gava sequer um palmo adiante do nariz, aguardou que seu destino se cumprisse.



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Autor(a): nathyneves

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Dulce aguardou, agarrando-se às cobertas como se pudesse manter afastado o Cavaleiro Vermelho e sua magia. Sempre se considerara uma mu­lher sensata, atenta à lógica dos fatos. Jamais procurara cartomantes ou implorara poções mágicas às aldeãs tidas como sábias na arte de lidar com as ervas e com o desconheci ...


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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

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  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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