Fanfics Brasil - CAPITULO VIII ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥

Fanfic: ***Bodas de Fogo*** ♥ D&C ♥


Capítulo: CAPITULO VIII

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Dulce aguardou, agarrando-se às cobertas como se pudesse manter afastado o Cavaleiro Vermelho e sua magia. Sempre se considerara uma mu­lher sensata, atenta à lógica dos fatos. Jamais procurara cartomantes ou implorara poções mágicas às aldeãs tidas como sábias na arte de lidar com as ervas e com o desconhecido. Também nunca acreditara que os rumo­res envolvendo o Cavaleiro Vermelho pudessem ser ver­dadeiros. Contudo não havia como negar que Cecil es­tivera em dois lugares ao mesmo tempo. Por mais que se esforçasse, não conseguia pensar numa explicação razoável e as outras eram apavorantes demais para serem levadas em consideração. Não suportaria ima­ginar que as histórias horríveis de Alice fossem ba­seadas em fatos reais.

O som da própria respiração, rápida e ofegante, era tão alto que não o ouviu chegar nem afastar as cortinas ao redor da cama. Ao sentir um corpo deitar-se ao seu lado, uma pele nua roçando a sua, foi tomada de intenso pavor.

- Você está com medo, esposa? - A voz seca e con­trolada do marido lhe trouxe um certo alívio. Afinal era apenas , não um demônio soltando fogo pelas ventas, com cascos em lugar dos pés e garras nas mãos. Sempre gostara do som daquela voz e da maneira como os lábios masculinos se fechavam sobre os seus num beijo demo­rado...Nunca experimentara um medo real, nunca levara realmente em consideração os boatos que o cercavam. Se ao menos... Queria contar sobre Cecil, perguntar sobre os aparecimentos misteriosos do criado, mas sua língua parecia grudada no céu da boca. No fundo, temia as res­postas que o barão pudesse lhe dar...

- Dulce, Dulce, minha esposa... - Christopher murmu­rou com tanta ternura que tocou-lhe a alma. - Me diga agora, você tem medo de mim?

- Não - ela respondeu, certa de que aquela era a pura verdade.

- Foi o que pensei ou de outra forma eu não teria vindo ao seu encontro.

Nervosa, ela passou a língua pelos lábios, querendo enxergá-lo apesar da escuridão profunda. Porém nada conseguia ver.

- Por que... por que você veio ao meu encontro?

- Descobri que sou muito ciumento, esposa, ao saber que você parecia ansiosa pela companhia de meu vassalo. - Havia um pouco de raiva, desespero e desejo contidos na explicação.

Sem que conseguisse entender bem por que, Dulce sentiu-se relaxar. Horas antes ficara furiosa com a mera sugestão de que passara tempo demais ao lado de Afonso, pois eram inaceitáveis quaisquer insinuações de que seria capaz de enganar o marido e se portar como uma criatura vulgar, sem um pingo de dignidade. Porém agora, em vez de raiva, experimentava uma emoção muito diferente, uma sensação estranha e ardente. O Cavaleiro Vermelho com ciúmes? Mal podia acreditar. Contudo, mesmo du­vidando, achou melhor tranqüilizá-lo para evitar futuros aborrecimentos.

- Meu lorde, sou uma mulher honrada. Eu jamais...

- Ótimo. - Christopher roçou o rosto delicado com as pontas dos dedos e aproximou-se, deixando-a trêmula de expec­tativas. - Fico feliz ao ouvi-la dizer isso, mas acho que está na hora de torná-la minha mulher de verdade. Está na hora de deixarmos claro que você pertence a mim, e a ninguém mais. Não foi culpa minha que você me escolheu - a voz masculina soava baixa e séria -, entretanto é um fato que não pode ser mudado. Guarde bem o que vou lhe dizer: costumo sempre manter o que é meu.

Não foi difícil entender a ameaça implícita. Christopher ma­taria qualquer homem que tentasse tomar o seu lugar, e talvez a ela também. Ele tinha poder para tal. Mesmo agora, se quisesse matá-la, não havia nada que pudesse fazer para impedi-lo.

Ainda assim estava longe de sentir-se apavorada por­que nunca desejara outro, a não ser o marido. Seu desejo era tão grande que sentia-se amolecida por dentro. O que havia naquele homem que a afetava tanto? Seria a voz profunda, a força física, o mistério que o cercava? As lendas que corriam o reino de norte a sul? As próprias sombras o que a atraíam tanto?

De repente o mundo pareceu cessar de existir. Res­tavam apenas ela e Christopher, juntos, no meio da total es­curidão. Exceto o calor do corpo masculino ao lado do seu, pulsando de promessas, tudo o mais perdera o significado.

Os planos de anular o casamento se dissolveram no ar como fumaça. Não tinha importância. Eram uma grande tolice mesmo. Descobria-se agora ansiando por coisas que jamais pensara desejar. Coisas que lhe pa­reciam extremamente sedutoras... e estavam dentro de seu alcance.

Bastava estender as mãos.

E foi o que ela fez.

Inspirando fundo, Dulce roçou o rosto no braço do marido, numa carícia leve e suave. Queria dizer alguma coisa, embora não soubesse bem o quê. Mas a vontade de falar desapareceu ao sentir os dedos dele tocarem-na nos olhos, no nariz, nos lábios, numa exploração gentil e delicada. Uma sensação inebriante começou a se espa­lhar em suas veias, arrastando-a num turbilhão delicioso.

Num movimento súbito, Christopher atirou os lençóis que os cobriam para o chão, levando-a a imaginar se a dor sobre a qual Alice lhe falara era iminente. No mesmo instante ficou tensa, aguardando o pior. Porém em vez de assustá-la, Montmorency simplesmente tomou alguns fios vermelhos entre os dedos e alisou-os devagar.

- Cabelos lindos, perfumados... - ele sussurrou antes de deixar a mecha cair sobre os seios nus da mulher, fazendo-a estremecer.

Então Christopher a beijou com uma ternura tão grande que Dulce só conseguia desejar mais e mais. Hesitante, to­cou-o no rosto com as pontas dos dedos. A pele macia mostrava ligeira aspereza na região dos maxilares. O marido devia ter feito a barba recentemente, pensou en­treabrindo os lábios. Logo depois perdia a capacidade de raciocinar com clareza. Ao sentir a língua ávida explorar o interior da sua boca, Dulce gemeu alto, maravilhada com as sensações que a percorriam de alto a baixo. Percebendo a intensidade da resposta feminina, Christopher aumentou a pressão do beijo, suas línguas se contor­cendo uma de encontro a outra num frenesi desespe­rado. Dulce tinha a impressão de estar à beira de um desmaio.

Sem que conseguisse evitar o impulso, deslizou as mãos sobre os ombros largos, apreciando a firmeza dos mús­culos bem torneados. Ele era quente e agradável ao toque. Excitada, continuou a acariciá-lo nas costas e nos ombros, apreciando cada centímetro daquele corpo atlético e viril.

De repente, como se fosse a coisa mais natural do mundo, Christopher pousou a mão sobre um de seus seios. Sur­presa com o gesto, Dulce deixou escapar um ruído de intenso prazer.          

- Você é linda - ele murmurou carinhoso. - Peque­na, mas de formas perfeitas. - Enquanto falava, Montmorency esfregava os mamilos rosados com habilidade, quase fazendo-a perder a cabeça.

Ele a beijou na boca outra vez. Foi um beijo ardente, profundo e breve. Ao senti-lo se afastar, Dulce experi­mentou um vazio terrível, um vazio que durou apenas alguns segundos, até os lábios masculinos se fecharem ao redor de seu mamilo intumescido.

Imediatamente ela arqueou as costas, entregando-se à carícia num abandono total. Reagindo de maneira ins­tintiva, puxou-o pelos cabelos, ansiosa para estreitar o contato. Christopher correspondeu, sugando ainda com mais for­ça e segurando-a pelas nádegas com firmeza.

Depois, bem devagar, deslizou os lábios sobre o estô­mago aveludado e ao redor do umbigo da esposa, aspi­rando o perfume daquele corpo sedutor.

- Abra suas pernas para mim - pediu num tom rouco e sensual.

Sem vacilar um segundo, Dulce fez o que lhe foi pedido, embora um início de pânico começasse a domi­ná-la. Será que o marido era mesmo feiticeiro? Será que estava presa de um encantamento e por isso o obedecia sem oferecer qualquer resistência? Mal se reconhecia na­quela mulher impetuosa e desenvolta.

- Christopher - ela sussurrou, a voz carregada de paixão. - Por acaso você... me enfeitiçou?

Por um instante ele ficou tenso e pareceu fitá-la fixa­mente dentro da escuridão, como se pudesse desvendar-­lhe a alma.

- Não lancei nenhum feitiço sobre você, esposa, a não ser aquele que é tão antigo e eterno como o tempo... a atração entre um homem e uma mulher. Não tenho ne­cessidade de encantamentos ou bruxarias para mim ou para você... Porque nós faremos nossa própria mágica esta noite.

Dulce sentiu os lábios firmes tocarem-na na parte interna das coxas antes de procurarem... o ponto escon­dido da sua feminilidade. Maravilhada, ela suspirou fun­do, até que os suspiros foram se transformando em ge­midos de prazer. Gemidos descontrolados e ofegantes.

Simplesmente não conseguia acreditar no que estava acontecendo. Pela primeira vez sentia-se grata pela com­pleta escuridão. Assim poupava-se o embaraço de ver a si mesma com os joelhos flexionados e as pernas abertas... enquanto o Cavaleiro Vermelho a beijava daquela, ma­neira íntima e ousada com sofreguidão. O impressionante é que não sentia a menor vergonha, apenas desejava mais. Mais...

Só foi perceber que falara alto quando o marido res­pondeu.

- Mais? Sim, Dulce, você terá muito mais - ele sussurrou, movendo-se sobre ela cuidadosamente. - Des­de o momento em que nos casamos, mal tenho conseguido pensar em outra coisa a não ser em possuí-la, esposa. - Montmorency falava com dificuldade, a respiração ace­lerada, o corpo sob rigoroso controle.

- Por acaso você tem idéia de como as nossas refeições juntos eram um verdadeiro tormento para mim? Sim, eu precisava comer, mas minha fome não podia ser saciada com alimentos. Meu apetite era outro... - Christopher alojou a cabeça do pênis na entrada úmida e escorregadia, aguardando o momento de penetrá-la. - Sabia que toda noite, quando nos sentávamos à mesa, eu só queria jogar tudo para o lado e carregá-la direto para a cama, ou possuí-la no chão mesmo, diante do fogo?

Ao ouvir aquelas palavras, vibrantes de paixão, sen­tiu-se excitada além do suportável. Tudo no mundo dei­xara de importar, a não ser a ponta rígida do membro masculino roçando a parte mais sensível de seu ser, como se implorando para ser recebida.

- Quero me enterrar dentro do seu corpo...

Porém Dulce já quase não podia ouvi-lo. Louca de desejo, cravou as unhas nas costas largas e ergueu os quadris, procurando alívio para o ardor que queimava suas entranhas como ferro em brasa.

Perdida num emaranhado de sensações poderosas e desconhecidas, mal percebeu quando o marido começou a penetrá-la.

- Posso sentir o seu prazer - Christopher murmurou num tom tenso e sensual, arrepiando-a da cabeça aos pés. ­- Posso sentir sua barreira também,- e saber que, de fato, ninguém nunca a tocou, minha esposa. Saiba agora que você é minha, apenas minha - ele completou com uma pontada de triunfo.   ­

Então Montmorency se enterrou dentro da esposa numa investida única e profunda, deixando a quentura macia absorver o impacto da masculinidade intumescida. Dulce cerrou os dentes, tentando conter um grito de dor enquanto, numa reação instintiva, procurava se afas­tar do marido para aliviar a ardência e o desconforto entre as pernas. Porém Christopher a segurou pelos quadris com firmeza, impedindo-a de mover-se. Lentamente, re­petiu as investidas num ritmo crescente, rápido e impe­tuoso, até que, gemendo alto de prazer, derramou a se­mente da vida até a última gota.

Por um momento Dulce conseguiu apenas prestar atenção à dor, mas depois outros detalhes ganharam im­portância. O peso de Christopher, surpreendentemente recon­fortante sobre o seu próprio corpo; a camada fina de suor que cobria os braços e as costas musculosas; mechas dos cabelos dele roçando a sua têmpora, a respiração baixa, ofegante, e estranhamente vulnerável do Cavaleiro Ver­melho. Estar deitada e abraçada ao marido lhe desper­tavam sentimentos que iam além da dor e do prazer... Sentimentos que não conseguia definir e que a emocio­navam de uma maneira misteriosa e intensa.

Tomando o rosto de Christopher entre as mãos, ela o acariciou na testa, nos olhos, no pescoço. Então começou a beijá-lo com delicadeza no queixo e ao redor da boca até que os lábios de ambos se encontraram, suavemente a princípio, depois cheios de sofreguidão. Surpresa, Dulce sentiu uma pressão insistente dentro de si e percebeu que o pênis estava de novo ereto.

Desta vez não houve necessidade de palavras. Prote­gidas pela escuridão, mãos e bocas se procuravam com avidez, explorando músculos firmes e curvas macias, as­pirando suor e aromas secretos. Dulce ergueu as pernas e cruzou-as ao redor da cintura de Montmorency, para que nada ficasse entre os dois a não ser essa coisa in­tangível e indescritível, capaz de ir além do prazer obtido por seus corpos. Essa coisa que os envolvia como um manto vivo e protetor, capaz de fazê-los experimentar o gosto da eternidade.

Se Dulce soubesse distinguir a verdade, teria cha­mado isso de amor.

Ao acordar, sua primeira reação foi de que tivera um sonho confuso e perturbador. Ela estremeceu, sentindo um frio repentino apesar dos lençóis que a cobriam. Então inspirou o perfume do quarto, impregnado de odores sen­suais, e se deu conta do ardor entre as pernas. Hesitante, tocou os lábios inchados com a mão trêmula.

- Christopher? - chamou dentro da escuridão.

Mas não havia nada nem ninguém no meio das som­bras. Apenas uma quietude extrema.

Cautelosa, levantou-se, vestiu um robe e aproximou-se da lareira onde o fogo estava quase extinto. Depois de reavivar as cinzas, sentou-se no sofá, o pensamento voan­do longe, o coração batendo descompassado no peito, o sangue latejando dentro das veias.

Com os olhos fixos no crepitar das chamas, Dulce se deu conta de que já não havia como voltar atrás. A sorte estava lançada. Jamais teria coragem de requerer a anulação do casamento porque não tinha a menor von­tade de separar-se do marido. No começo Christopher a atraíra de uma maneira misteriosa, porém agora, as coisas ha­viam tomado um rumo inesperado e ele ganhara uma dimensão muito maior.

O modo como haviam feito amor superara seus mais loucos sonhos. Surpreendia-se consigo mesma por ter sido capaz de expor-se com tanta sensualidade e ousadia. Ape­sar de um certo embaraço por sua própria falta de pudor, sabia que não vacilaria um segundo antes de repetir o ritual erótico outra vez... e outra vez... até que enfim se sentisse saciada. Também não podia jogar a culpa sobre os ombros do marido, acusando-o de tê-la enfeitiçado. A verdade é que o desejava com uma paixão que beirava ao desatino. Queria que ele ainda estivesse ali, na sua cama, ao alcance das suas mãos. Então o beijaria nos lábios e tocaria cada centímetro do corpo forte e viril de guerreiro até...

O corpo de Christopher! Dulce inspirou fundo ao pensar que seu marido era fisicamente perfeito. Não percebera qualquer desfiguração que pudesse justificar aquela preferência pelas sombras. Ao acariciá-lo no rosto com as pontas dos dedos também não descobrira sinais de ferimentos, queimaduras ou mesmo de pequenas im­perfeições, a não ser uma cicatriz na altura de um dos olhos. Entretanto era uma marca tão minúscula que não levaria nem o mais vaidoso dos homens a se es­conder do mundo. 

Ela estremeceu, sem saber se a conclusão lhe trazia alívio ou desaponto. Se seu marido era perfeito, qual a razão de viver trancado numa escuridão eterna? Não gostava sequer de cogitar as teorias apavorantes de Alice. Devia haver alguma coisa que lhe passara des­percebida, alguma coisa que não conseguira notar no auge da paixão.

E o que pensar de Cecil, o servo, que parecia atravessar paredes como fumaça, movendo-se como um espectro a mando do senhor? Perdida no prazer sensual, acabara se esquecendo de que o criado estivera em dois lugares ao mesmo tempo. Por mais que se esforçasse, não con­seguia encontrar uma explicação lógica para as suas dú­vidas. Oh, Deus, e se o marido fosse um feiticeiro de fato? Talvez os sentimentos estranhos que a abalavam não passassem do resultado de algum tipo de bruxaria. Talvez não fosse dona de si mesma nem responsável por suas ações.

A lembrança da visita de Christopher ao seu quarto continuou assombrando-a durante todo o dia, certos detalhes pi­cantes fazendo-a enrubescer nos momentos mais inespe­rados. Ainda bem que não vira Afonso ou acharia difícil encará-lo porque a mudança que lhe ocorrera devia estar estampada na sua face. Também não ficara surpresa quando Cecil a informara de que o cavaleiro partira de manhã cedo, Christopher encontrara uma maneira de deixar claro seu ciúme e tomara uma atitude concreta para cor­tar o mal pela raiz. Entretanto não achava certo que o marido punisse o vassalo sem motivo e pretendia dizer­ lhe isso assim que se encontrassem.

O aparecimento do servo acabou por lhe desviar a aten­ção para problemas mais imediatos.

- Por acaso você retirou as velas do meu quarto ontem à noite?

O homem não hesitou um segundo antes de responder.

- Sim, minha lady. Estava cumprindo ordens de meu lorde.

- Mas... - Dulce passou a língua rapidamente pelos lábios ressecados, uma sensação angustiante no peito.

- Pode ir agora - murmurou, esforçando-se para manter as emoções sob controle. Cecil fez um breve aceno com a cabeça e afastou-se depressa.

Atormentada, não conseguia evitar as suspeitas que cercavam seu marido. Porém, bastava se lembrar do que acontecera na noite anterior para todas as preocupações perderem a importância e se dissolverem ao sabor do vento. A verdade é que seu corpo latejava de desejo, an­siava pelas carícias de Christopher, apesar do medo... apesar de tudo.

Impaciente, colocou uma capa pesada e saiu do castelo.

Precisava respirar um pouco de ar puro. Quem sabe assim não conseguiria colocar os pensamentos em ordem? Mas apesar de seu empenho, continuou confusa. Seus olhos, como se tivessem vontade própria, procuravam sempre a torre onde o Cavaleiro Vermelho permanecia envolto pela escuridão absoluta. Fosse por feitiçaria ou por um outro motivo qualquer, desejava o marido desesperadamente.

Contudo, Montmorency não requisitou sua presença na hora do almoço e ela comeu no salão principal, na companhia de Alice. Só esperava que a velha criada não percebesse seu estado de confusão interior e nem como seu corpo de mulher ganhara novos contornos. Porém o que a Incomodava de fato era que seu marido ainda não a procurara depois do que haviam partilhado juntos.

Então lembrou-se do que ele dissera, sobre como as refeições a dois acabavam transformando-se num terrível suplício. É, talvez fosse melhor não se verem durante algum tempo. O problema é que não podia evitar o desejo insistente que dava a impressão de vi-la-á pelo avesso. Ainda bem que Alice estava ocupada demais para notar o rubor de seu rosto e a sua crescente inquietude.

- E quem lhe deu permissão para jantar na minha companhia? - a criada perguntou a um homem baixo e atarracado, sentado do outro lado da mesa.

Apesar do tom pouco amigável, o soldado sorriu, as feições simpáticas demonstrando um enorme bom humor. Seria ótimo se Alice pudesse assimilar aquele estado de espírito, Dulce pensou suspirando. Quem sabe assim não poria um fim nas histórias irritantes envolvendo fei­tiços e bruxos.

- Afonso Clinton me deu permissão, senhora. Também me mandou ficar ao seu lado dia e noite. É o que estou fazendo. Obedecendo ordens de meu superior.

Então tratava-se do famoso Pasqua, o guarda-costas que o vassalo designara para acompanhar Alice as vinte quatro horas do dia. O problema é que os dois pareciam tão diferentes quanto a água do vinho. Como poderiam se entender?

- Oh, é mesmo? - a serva indagou irônica. - É melhor ter cuidado com as palavras e com a maneira como se dirige a mim, meu senhor, ou será posto desta porta para fora, esteja certo. Não sou de brincadeira.

- Não me venha com essa história, quando você sabe perfeitamente o quanto sentiria minha falta, em especial durante as longas noites frias de inverno...

Dulce ficou atenta, certa de que Alice passaria um sermão furioso no atrevido. Porém a resposta da criada não passou de um resmungo pouco entusiasmado.

- Como se você pudesse me proteger. Quase sequer tem carne sobre esses velhos ossos.

Pasqua recostou-se na cadeira, sorrindo de uma orelha à outra e parecendo muito à vontade com o desenrolar do diálogo.

- É, mas tenho carne suficiente onde interessa, não é, Alicezinha?

- Não vou ficar aqui parada, ouvindo essa conversa indecente. Especialmente na presença da minha lady.

Dulce retribuiu o sorriso do soldado. Os cabelos bran­cos do homem deixavam claro que ele já havia passado da idade de se preocupar com o efeito que suas palavras pudessem ter sobre terceiros.

- Minha lady tem o jeito de uma mulher bem amada - respondeu Pasqua. - O que não é de se estranhar, considerando o tamanho do marido. Não creio que ela ficará ofendida com a troca de algumas palavras entre você e eu. - Enquanto Dulce tentava não corar ao ouvir o comentário, a criada levantou-se decidida. - Es­pere, ainda não terminei minha refeição - Pasqua pro­testou.

- Você tanto pode ir como ficar, porque não me im­porto a mínima.

Terminando de engolir um bocado generoso de comida e agarrando um pedaço de pão com as mãos, o soldado saiu quase correndo atrás de Alice, como um cachorrinho seguindo o dono.

Fascinada, Dulce observou o casal se afastar. Alice parecia caminhar de maneira diferente, um ondular sua­ve nos quadris. Desde a morte do marido, ela jamais se envolvera com homem nenhum. Será que aquela impli­cância com o soldado não passava de encenação, uma fachada para disfarçar sentimentos mais profundos? Se­ria ótimo, um verdadeiro alívio. Talvez com alguma coisa, ou alguém, para mantê-la ocupada, finalmente acabaria aceitando a nova vida em Dunmurrow.

A idéia a fez pensar na sua própria mudança de ati­tude. Depois da noite anterior já não podia considerar o castelo como uma residência temporária. Estava ali para ficar. Os planos para anular o casamento esquecidos no calor dos braços do marido.

A verdade é que desejava assumir a posição de esposa de Christopher em todos os sentidos, de todas as maneiras pos­síveis, mesmo sabendo que a relação dos dois provavel­mente nunca seria tranqüila e relaxada. Suspeitava que Montmorency jamais se sentaria ao seu lado na mesa do salão principal ou a acompanharia em passeios pelos arredores. .

O Cavaleiro Vermelho continuava envolto numa teia de mistérios, talvez agora mais do que antes, e apesar da paixão que os unia, Dulce sentia-se inquieta no que dizia respeito ao marido. De vários modos ele continuava sendo um completo estranho.

Embora Dulce tivesse passado a tarde inteira entre­tida com inúmeras tarefas, seus pensamentos continua­vam voltando para Christopher e o jantar que deveriam parti­lhar à noite. Por mais que se esforçasse, não conseguia banir a visão do marido amando-a na escuridão do quarto.

Como algo proibido se torna sempre mais desejado, gostava de imaginar aquele corpo musculoso sobre o seu, aquela boca quente e ávida de encontro à sua pele nua, aquelas mãos experientes provocando-a de uma maneira ousada e sensual...

- Boa noite - ela falou entrando nos aposentos prin­cipais, a voz trêmula de emoção apesar do esforço para manter a calma.

- Esposa - ele respondeu simplesmente, com um breve aceno de cabeça.

O tom seco de Christopher deixou-a atônita. Não esperava tanta indiferença depois da intimidade que haviam des­frutado juntos. Será que seria sempre assim? Encontra­rem-se apenas durante as refeições sem que nada de­monstrasse a mudança ocorrida no relacionamento de ambos? Ou talvez não houvesse ocorrido mudança algu­ma. A noite anterior poderia não ter representado nada para Christopher, exceto o desempenho de um dever para tor­ná-la sua esposa de fato.

Perturbada com a possibilidade, Dulce comeu em silêncio. Entretanto a cada vez que seus dentes se fe­chavam sobre uma fatia de carne não conseguia pensar em mais nada a não ser nas mordidas delicadas que o marido espalhara sobre seu corpo nu. Ainda bem que a escuridão do quarto impedia Montmorency de notar o seu rubor...

- Você está quieta hoje - Christopher falou de repente. ­- Alguma coisa errada?

Ela permaneceu imóvel durante alguns segundos, con­siderando qual resposta deveria dar. Mesmo que a ques­tão envolvendo o aparecimento de Cecil em dois lugares ao mesmo tempo a tivesse atormentado o dia todo, não ousava expor as dúvidas em voz alta. Temia despertara ira do Cavaleiro Vermelho e as explicações que ele poderia lhe dar. Às vezes a ignorância dos fatos acaba nos protegendo de um mal maior. Também não tinha coragem de falar sobre as sombras eternas que pairavam sobre os aposentos principais muito menos sobre o de­sejo incessante que sentia pelo marido.

- Não há nada de errado comigo, meu lorde.

Christopher resmungou qualquer coisa e os dois continuaram comendo em silêncio. Dulce procurava desesperadamente um sinal de que aquela figura distante e impessoal do outro lado da mesa fosse o amante ardente e carinhoso que a procurara na noite anterior.    

- Espero que você não esteja esperando por Afonso.

- Não - ela retrucou cautelosa. - Cecil me disse que o vassalo partiu esta manhã bem cedo... - Silêncio. - Você acha justo mandá-lo embora tão depressa... .es­pecialmente quando o Natal se aproxima?

- Então você já sente falta dele? - A voz de Montmorency soava baixa e ameaçadora, fazendo-a pensar nos boatos que o cercavam. O Cavaleiro Vermelho era famoso por sua selvageria nas batalhas e pela força física extraordinária. As mesmas mãos que a tinham acariciado poderiam fazê-la parar de respirar com facilidade...

- Sinto falta da companhia, não do homem.

A reação de Christopher, um resmungo entre os dentes, deixou claro que ele continuava com ciúmes do vassalo. Dulce sorriu satisfeita. Talvez, no final da contas, ontem à noite não fora apenas uma questão de cumprir o dever marital. Talvez o marido a desejasse agora, tanto quanto ela o desejava... Me possua, pensou apaixonada. Me possua neste instante, sobre o tapete, sobre a mesa, em qualquer lugar... Bem que tentou dizer as palavras em voz. alta, porém faltou-lhe coragem.     .

- Você já não tem companhia... suficiente? Não bas­tam Alice, Cecil e os novos servos trazidos da aldeia? Sem contar os aldeões que pretende conquistar com a simpatia de castelã nata. Meu salão principal já não tem um movimento adequado? Para que mais gente espa­lhando-se pelos corredores?

- Sim - Dulce respondeu baixinho, sabendo que a presença de nenhuma daquelas pessoas poderia satisfa­zê-la. Era a companhia do marido que desejava, era a atenção dele que procurava. A idéia lhe parecia até absurda porque sempre fora um tipo independente, capaz de apreciar a solidão e jamais precisara de alguém Mas não é a mesma coisa - retrucou afinal. - E podem discutir assuntos variados, nem sabem ler ou jogar xadrez. Tampouco sabem caçar...

Somente depois de terminar de falar foi que Dulce se deu conta do que dissera. Muitas daquelas atividades exigiam luz, portanto Christopher não podia realizá-las enquan­to permanecesse trancado na escuridão. Sem que tivesse intenção de magoá-lo, acabara colocando o Cavaleiro Ver­melho na mesma categoria dos ignorantes ou aldeões sem instrução. Ansiosa para corrigir o erro antes que o marido explodisse num acesso de fúria, apressou-se com­pletar conciliatória:

- Talvez você pudesse sair comigo um dia desses.

-Não!

- Por que não? - ela implorou suspirando. - Porque devemos sempre nos encontrar cercados pelas som­bras? Eu sei que você não é o demônio que se esforça para fazer os outros acreditarem que é.

- Tem certeza disso? - A voz dura de Christopher trazia uma ameaça embutida. Trêmula, Dulce levantou-se, disposta a sair dali. - Onde você vai? - ele indagou secamente.

- Quando você tenta me irritar ou amedrontar perco toda a vontade de permanecer na sua companhia ­ela respondeu altiva, erguendo a cabeça num gesto de desafio.

- Talvez você deseje a companhia de outro?

- Talvez se eu o visse mais, não me sentiria tão so­zinha, meu marido! - Dulce falou entre os dentes.

- Você sente a minha falta tanto assim?

Apesar de perceber a ironia e o deboche da pergunta, deixou os sentimentos virem à tona.

- Sim. E se você prestasse mesmo atenção em mim, saberia o quanto isto é verdade. Foi um prazer ontem, poder passear por suas terras, poder apreciar os arredores de Dunmurrow. Por que não podemos cavalgar juntos? Eu gostaria de lhe mostrar os planos que andei fazendo para a leiteria. A floresta é linda e tem uma cascata bem no meio das...

- Chega - Christopher cortou-a decidido. - Não me fale sobre o que não pode ser, não me fale sobre o impossível.

- Mas por quê? Por quê? - Dulce insistiu exaspe­rada. - Sou sua esposa! Será que você não pode me explicar que motivo é esse que o mantém na escuridão?

- Minha esposa! Uma donzela arrogante, sobre quem eu nunca havia posto os olhos antes, invade meu castelo e exige que sua despose do dia para a noite! E você quer que eu confie nela? - Ele riu, o som breve destituído de humor. Havia apenas uma enorme amargura.

Dulce permaneceu imóvel alguns segundos, atordoa­da pelo sarcasmo capaz de feri-la com a frieza do aço. Como é que pudera pensar que o amava? Tinha ódio de si mesma por imaginar tamanho absurdo.

Agarrando-se a um resto de orgulho, cruzou os apo­sentos com passadas largas e saiu, batendo a porta com força.

 



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Autor(a): nathyneves

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Comentários do Capítulo:

Comentários da Fanfic 60



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  • stellabarcelos Postado em 27/10/2015 - 02:17:36

    Muito perfeita! Foi lindo! Amei

  • JokittaVondy Postado em 14/07/2014 - 18:29:06

    PERFEITA <3 Amei o final

  • sophiedvondy Postado em 21/09/2013 - 22:50:29

    embora seja pequena é perfeita, linda parabéns <3 quem gosta de fic? leiam a minha pfvrr http://fanfics.com.br/fanfic/27130/sumemertime-adaptada-vondy-vondy

  • larivondy Postado em 24/06/2013 - 13:17:00

    ameeei, linda a história *-*

  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:50

    li a sua web e amei parabens perfeita..

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  • claudia_miranda Postado em 15/03/2013 - 17:50:49

    li a sua web e amei parabens perfeita..

  • eduardooliveira Postado em 27/10/2011 - 20:06:44

    Para quem é vondy e tem orkut, vá nessa fanfic: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=118052479 ,se gostar,comente! =)


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