Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Mesmo agora, logo cedo pela manhã (pelo menos, no que é considerado cedo pela manhã na agenda de Will, mas que pode ser a hora do brunch na agenda de qualquer outra pessoa), o cheiro dele é ótimo, e ele está fantástico com o visual amassado, bem sexy. De algum modo, ele não tem hálito de quem acabou de acordar; o cabelo dele não está amassado.

- Acordei você? - pergunto, colocando-me na ponta dos pés para lhe dar um beijo na bochecha, que mal tem barba por fazer.

- Tudo bem. - Ele boceja e vai andando com cuidado na direção da cozinha, onde enche um copo no bebedor com água Poland Spring, esmagado no canto entre o fogão e a geladeira.

- Como foi a noite passada?

- Exaustiva. Um monte de velhas largadas do East Side com seus maridos infiéis. Um bar de martínis e carpaccio de carne, apesar de carpaccio já estar ultrapassado há anos.

- E os martínis?

- Com esse pessoal, sempre fazem sucesso.

Preciso mencionar que Will trabalha para um serviço de bufê de Manhattan, o Eat Drink Or Be Married (Coma, Beba ou se Case). Ele ganha muito dinheiro trabalhando como garçom em eventos particulares como casamentos e jantares de caridade. A maior parte dos convidados é de figurões, e, às vezes, ele fica sabendo de fofocas imundas sobre as celebridades, algo que acho fascinante.

- Olhe, Annie, eu sei que a gente devia ir à festa do seu amigo hoje à noite, mas vou ter de trabalhar.

- O quê? - Decepção dilacerante. - Mas nós estamos planejando isso há semanas. É o aniversário de 30 anos do Raphael.

Preciso esperar até que Will tome todo o copo d`água, algo que faz oito vezes por dia, até que diga:

- Eu sei, e eu tinha pedido ao Milos para me dar a noite de hoje de folga, mas ele não tem outra saída. O Jason caiu no rinque ontem e torceu o tornozelo.

Jason, um dos outros garçons, por acaso é Jason Kenyon, ex-patinador artístico olímpico. Não sou muito de acompanhar esportes, mas até eu já ouvi falar dele (acho que ganhou uma medalha de bronze há alguns anos no Japão). Agora está tentando fazer carreira de ator aqui em Nova York, e deve estar tão duro quanto todo mundo, porque está disposto a colocar uma espécie de túnica indiana, carregar bandejas monstruosas e tirar o prato da mesa de gente rica. Não que não valha a pena. Eles ganham 20 dólares por hora, sem contar as gorjetas.

- O Milos não pode arrumar outra pessoa para cobrir o Jason? - pergunto.

- Ele não quer qualquer um. É um casamento importante de celebridades nos Hamptons, e ele só quer garçons de certa qualidade lá.

- Que bom para você, mas e eu?

Will coloca o copo na pia, se inclina e me dá um beijo na bochecha.

- Desculpe, Annie.

Faço bico, depois pergunto:

- Que celebridade?

- Não posso dizer.

- Não pode dizer? - Fico olhando boquiaberta para ele; ou melhor, para as costas dele, já que foi para o outro lado do apartamento. Vou atrás. - Nem para mim?

- Jurei confidencialidade completa - responde ele friamente, tirando a camiseta térmica de manga comprida e jogando dentro de um cesto de roupa suja próximo.- Mas amanhã você vai saber. Vai estar em todos os jornais.

- Então, conte agora. Estou louca para saber.

- Não posso. Veja bem, eu nem sei exatamente onde o casamento vai acontecer. Não querem que ninguém ligue para a imprensa e forneça os detalhes. Tenho de dar uma senha para o motorista que for me buscar na estação de trem, daí ele vai me levar até lá. Estão mesmo fazendo muito segredo.

Louca da vida com o ridículo desse cenário todo de agente secreto, digo:

- Caramba, Will, o que você acha que eu vou fazer? Ligar para a coluna social?

Ele ri e tira a cueca samba-canção de flanela. - Amanhã você vai saber de tudo.

- Junto com o resto do mundo - resmungo, observando enquanto ele alcança o cesto de roupa suja de novo.