Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Mas, quando penso em Will, percebo que o 4 de Julho dele provavelmente está sendo fabuloso. Provavelmente está sob as estrelas, em uma praia à margem do lago, com todos os novos amigos.

O ônibus vai se arrastando pela faixa mais à direita da ponte.

Ouve-se uma explosão.

Dou um berro.

O velho acorda cuspindo.

A criancinha atrás de mim começa a dar gritos estridentes.

- São só fogos de artifício - fica repetindo a mãe.

Olho pela janela, e ela tem razão.

Há fogos de artifício por cima da cidade.

Mas percebo que me encolho a cada explosão, perguntando a mim mesma se estou imaginando coisas ou se a ponte treme mesmo cada vez que se enxerga um clarão de luz no céu.

Durante uma fração de segundo fico achando que a primeira explosão tinha sido uma bomba. Agora que sei que não passam de fogos de artifício, fico imaginando o que aconteceria se fosse mesmo uma bomba. Como Nova York é um alvo preferencial de terroristas, nunca é demais ficar achando que alguma mente maligna pudesse ter a idéia de mandar a ponte George Washington pelos ares no 4 de Julho.

O ônibus está quase se encostando à amurada, e não avançamos nada.

Se uma bomba explodisse neste exato momento, cairíamos direto no rio Hudson.

Iríamos nos afogar.

Iríamos morrer.

Estou suando em profusão, mas é um suor frio e pegajoso, e estou com muita dificuldade para engolir. Fica pior quando penso sobre o assunto; quero dizer, sobre a mecânica de engolir.

Ai, meu Deus.

Minha garganta está se fechando, não consigo respirar e estou presa.

Vou morrer.

Tomo cuidado para não olhar pela janela.

Se eu olhar pela janela e enxergar a amurada e o rio, vou perder as estribeiras.

O ônibus avança mais uma fração de centímetro.

Sinto que está se equilibrando precariamente na beiradinha da ponte.

Olho para os outros passageiros para ver se alguém está percebendo como nossa situação é precária, mas ninguém parece se abalar.

Por outro lado, também não devo parecer abalada.

Até parece que me joguei no corredor e tive um ataque ao estilo de Nino.

Ainda.

Avançamos.

Centímetro por centímetro.

Hora por hora.

O gran finale dos fogos de artifício explode no céu em uma confusão estonteante de luzes piscantes, fumaça e barulho.

Aperto as mãos no colo com tanta força que a unha do meu dedo indicador faz sangrar a palma da outra mão. Finalmente, graças a Deus, saímos da ponte. A medida que o ônibus vai abrindo caminho pelas ruas cheias da zona oeste, percebo que vou gradualmente me acalmando.

Quando chegamos à rodoviária Port Authority, meus batimentos cardíacos estão quase de volta ao normal.

Eu tinha planejado pegar o metrô para voltar para casa, mas a idéia de ficar presa em um túnel subterrâneo agora me parece aterrorizante. Preciso de ar. Preciso de um cigarro.