Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Atravesso a cidade a pé. É mais uma noite quente e úmida, o calor do dia aprisionado no concreto, irradiando para cima de mim enquanto caminho pela calçada. Saio esbarrando no corpo suado de desconhecidos, meu cabelo colado no pescoço e na testa. Não tenho muita tendência a suar, tirando na cabeça. É vergonhoso. Ao menor sinal de umidade, parece que alguém pegou uma mangueira e deu uma esguichada em mim, do pescoço para cima.

Quando chego ao restaurante, que fica no mesmo quarteirão do restaurante de sushi de que Will e eu mais gostamos, percebo que é um lugar comum de Tex-Mex. Oferece drinques frozen especiais para a happy hour, oferece salgadinhos e salsa grátis, com velas votivas brancas e luzinhas de Natal coloridas penduradas por cima do bar. Tem uma jukebox e, no momento, está tocando Steely Dan.

O lugar está cheio. Metade das pessoas que se apertam nas proximidades do bar parece estar se preparando para ir ao cinema. Alfonso está sentado na outra ponta, onde há menos gente, tomando um drinque branco espumante com pedaços de abacaxi e cerejas ao marasquino em um palito. Uma mulher ultrabonita com um tailleur de verão vermelho e cabelo encaracolado, preto e seco, está sentada na banqueta ao lado dele, bebericando um drinque similar.

Aliás, fico pensando que estão juntos até Alfonso ter de perguntar de novo qual é o nome dela quando a apresenta para mim.

- Sonja, é isso mesmo - diz ele. - E esta é minha amiga Anahí. Que está atrasada.

- Desculpe. Fiquei presa no trabalho, quando achei que já estava saindo. - Enxugo uma gota de suor que escorre na minha testa e coloco minha bolsa preta enorme no chão, entre as banquetas em que estão sentados, torcendo para que Sonja aproveite a deixa e vá embora.

Ela não aproveita a deixa e tira a jaqueta para revelar o top preto sórdido que tem escondido por baixo do tailleur.

Eu a detesto.

- O que quer beber, Anahí? - pergunta Alfonso, desviando o olhar de Sonja, que se estica para ajeitar a jaqueta no espaldar do assento.

- O que vocês estão tomando? - Tiro o cabelo molhado do rosto, desejando que aumentem o ar-condicionado. Está fresco aqui dentro, mas estou precisando de temperaturas árticas. Ou de um secador de cabelos.

- Estamos tomando alguma coisa que o barman sugeriu

- diz Alfonso, oferecendo o canudinho dele para eu experimentar.

- Não sabemos qual é o nome-diz Sonja com uma risadinha. - Mas é danado de forte.

- Danado de forte - concorda Alfonso, então se vira para Sonja e pergunta: - De onde você é? De Boston?

- Como é que você sabe?

- Tenho uma percepção extra-sensorial danada de boa

- diz ele, e ela cai na gargalhada, como se aquilo fosse a coisa mais hilária que ela já ouviu na vida.

- É melhor irmos com calma nesses coquetéis - diz ela a Alfonso. - Estou ficando tontinha.

Enquanto dou um gole no drinque cheio de rum e com gosto tropical de Alfonso, não posso deixar de notar que Sonja está muito ansiosa para transformar a si mesma e Alfonso, que acabou de conhecer, em Nós. E apesar de eu por acaso ser a metade de outro Nós (o Nós de Will e Anahí), sinto o ciúme borbulhando dentro de mim.