Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Diferentemente de mim, ele fica muito à vontade quando nu. Eu nunca conseguiria andar sem roupa na frente de ninguém, nem mesmo de Will. Principalmente de Will. Eu fica­ria muito acanhada de pensar que ele está olhando as minhas coxas fazerem a dança de gelatina delas e os peitos chegando perto do umbigo. Mas, bom, mesmo que eu tivesse um corpo perfeito, acho que não seria capaz de desfilar nua.

Mas todo mundo diz que isso muda quando se tem filhos. De acordo com minha irmã Mary Beth, que teve dois, ter filhos envolve ficar em uma sala de pernas abertas com desconhecidos que vão chegando para enfiar o braço até o cotovelo dentro do seu ventre. Ela diz que, depois disso, você deixa de se importar com quem a vê nua ou não. Deve ser verdade, porque Mary Beth acabou de entrar de sócia para uma academia e vive fazendo massagem e freqüentando a sauna. E estamos falando de uma garota cuja mãe teve de mandar um bilhete para a escola para que ela nunca fosse obrigada a tomar banho depois da aula de educação física na quinta série, tamanho o trauma que tinha de ficar nua em público.

Naturalmente, eu também tinha o mesmo trauma. Mas, quando cheguei à quinta série, minha mãe já havia passado pelos meus três irmãos, que eram tão indisciplinados que abaixavam as calças na minha frente e das minhas amigas, inclinavam-se para a frente e soltavam pum para se divertir. Eu tentei usar a desculpa da modéstia para me livrar do chuveiro depois da educação física, mas minha mãe não estava a fim de me mimar. "Não quer tomar banho na frente dos outros? Veja se supera!", foi mais ou menos a atitude dela em relação a mim.

- Bom, mas, de todo jeito, eu estava mesmo precisando do dinheiro - Will me informa. - Vou viajar daqui a algumas semanas, e não vou ganhar muito durante o verão.

- Achei que você ia receber.

- Vou, mas é uma fração do que eu ganho com o Milos. Vou tomar uma chuveirada. - Will se dirige para o banheiro. - Daí a gente sai para tomar o café da manhã.

- Para almoçar - corrijo, pegando um cigarro e o isqueiro.

- Tanto faz. Ei, sabe do que mais? Será que dá para não fumar aqui?

Faço uma pausa com o filtro do cigarro a meio caminho da boca.

- Porquê?

- Incomoda a Nerissa. Ela diz que as roupas dela ficam com cheiro de cigarro sempre que você vem aqui.

- Ah - devolvo o cigarro para o maço lentamente, tentando pensar em alguma resposta para isso.

Nem preciso. Ele fecha a porta atrás de si.

Não posso mais fumar na casa de Will ?

Desanimada com o rumo das coisas, arrasto-me até o sofá e sento, depois de pegar uma revista da pilha no chão. Entertainment Weekly. Will assina. Folheio sem prestar atenção, fervendo. Claro que Nerissa tem o direito de não querer ficar com o cheiro do cigarro dos outros. Compreendo o problema dela. Mas eu me sinto levemente inquieta e, acho, acanhada. Como se eu tivesse um hábito sujo e nojento que está atrapalhando a vida dos outros.

O que acho até que é verdade, mas Will nunca tinha se importado de eu fumar na casa dele. Às vezes, ele até acende um cigarro para mim quando saímos e diz que, se não precisasse cantar, com toda a certeza seria fumante.

Tem uma parte de mim (obviamente, uma parte irracional) que fica imaginando por que Will não me defendeu perante a colega de apartamento dele. Poderia ter dito a Nerissa que eu podia fumar no apartamento deles se eu quisesse, e que ela simplesmente teria de conviver com isso. Afinal de contas, ele foi o primeiro a morar ali. O nome dele está no contrato de aluguel, não o dela. Quanto mais furiosa eu fico de pensar nisso, mais quero um cigarro.

Não sou daquele tipo de menina que começou a fumar atrás das arquibancadas da quadra da escola no final do ensino fundamental, nem que cresceu em uma casa de fumantes. Na minha família, só o em-breve-ex-marido da minha irmã, Vinnie, e meu avô fumam, e meu avô está com câncer de pulmão já faz quase um ano.

Dá para achar que isso me amedrontaria o suficiente para largar, mas o cara está com quase 90 anos. Acho que vou largar daqui a alguns anos, quando estiver casada e pronta para engravidar, porque não acho justo expor um feto a todos os danos potenciais do alcatrão e da nicotina. Mas, até lá, o fato de eu fumar não incomoda ninguém.

Tirando, é claro, Nerissa.