Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Na verdade, pensei que, se ele achasse que existia qualquer chance de acontecer alguma coisa romântica entre mim e ele, eu não estaria aqui, para começo de conversa.

E é por isso que Sonja não devia me irritar cada vez que lança um sorriso aberto e muito branco para Alfonso, ou pega no braço dele cada vez que ele conta uma piada engraçada (o que faz com freqüência).

Porque, vamos encarar, o cara é engraçado. Estou falando de engraçado no nível de Seinfeld, com um senso de humor super sarcástico e aquela maneira sutil e hilária de fazer observações deturpadas e óbvias a respeito da vida e da natureza humana.

Rir das piadas de Alfonso me deixa de tão bom humor que a noite passa sem que eu perceba, e a bebida desce tão fácil que estou começando a considerar Sonja um pouquinho mais tolerável. Quero dizer, basicamente, ela tem o direito de estar a fim de Alfonso. Ele é desimpedido. E eu tenho Will.

Além do mais, ocorre a mim que ela não tem como saber que Alfonso e eu nos beijamos (não que eu esteja bem certa do que isso tem a ver com qualquer coisa). Mas parece relevante quando começo a sentir os efeitos deste sei-lá-o-quê frozen.

Enxuguei meu primeiro drinque, e Alfonso e Sonja estão na metade do segundo quando a colega de apartamento de Sonja, Mae, finalmente aparece. Acontece que ela é uma investidora de banco asiática de tirar o fôlego, e eu também teria ciúme dela se não anunciasse, praticamente no mesmo instante em que foi apresentada a mim e a Alfonso, que tinha um noivo na Costa Oeste.

- Por que você está aqui se ele está lá? - pergunta Alfonso a ela depois de pedir mais dois drinques, um para Mae e outro para mim.

- Porque eu consegui emprego aqui primeiro - responde Mae.-Estamos planejando nos fixar em Nova York. Ele está terminando o doutorado dele, e daí vem para cá.

- Mas só depois do Natal - diz Sonja. - Eu fico dizendo a ela que é louca de passar tantos meses longe dele. Relações de longa distância nunca dão certo.

Será minha imaginação ou Alfonso está olhando diretamente para mim, de propósito?

-  Claro que funcionam - digo, de maneira quase áspera, acho, porque Sonja fica olhando para mim como quem não está entendendo nada e Alfonso tira sarro de mim, repetindo minhas palavras com um rosnado selvagem enquanto finge agitar garras no ar.

- Alfonso! - Mas não consigo deixar de sorrir.

- Não liguem para Anahí - diz ele para as outras. - O namorado dela está fazendo uma viagem de alguns meses. Está na temporada teatral de verão - completa com um sussurro, sacudindo a cabeça em um gesto solidário, como se tivesse acabado de me informar que Will foi vítima de algum desastre natural horroroso.

- Sinto muito - diz Sonja, fingindo solicitude. Digo fingindo porque não estou convencida de que alguma coisa nela não seja falsa, desde as unhas longas e feitas com perfeição até os peitos empinados e cheios. Parece que voltei a odiá-la.

- Eu não quis tocar em um assunto dolorido, Anahí - diz ela, e só falta me dar tapinhas de consolo no ombro.

- Não é um assunto dolorido.

- Só quis dizer que eu, pessoalmente, nunca tive sorte com relações de longa distância, e nunca conheci ninguém que teve. Mas isso não quer dizer que seja impossível.

- Claro que não é impossível - diz Mae. Dela, eu gosto.

- Confio totalmente no Jay - prossegue Mae. - E ele confia totalmente em mim. Só porque precisamos nos afastar durante um período isso não quer dizer que nossa relação esteja correndo risco.

- Mas vocês estão noivos - observa Sonja. - E, pelo menos, ele não é ator... Ah, Anahí, desculpe, lá vou eu de novo. Eu só quis dizer, pelo que ouvi falar, que é difícil ter uma relação estável com alguém que trabalha no show biz. Afinal de contas, atores têm de beijar outras pessoas, e também costumam viajar muito, não é mesmo?

- Para alguns, é verdade. - Não acredito na encenação de ops! dela nem por um segundo. Ela está fazendo de tudo para que eu pareça uma boba aos olhos de Alfonso.