Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Certo, talvez ela não seja assim tão maldosa.

Talvez seja o rum que está fazendo com que eu a despreze.

Enquanto vou bebendo meu segundo drinque, que desce com muita facilidade, lembro-me com atraso que estive tão ocupada hoje à tarde que não tive tempo de almoçar. O dia inteiro, só comi cereal integral com uva-passa, leite desnatado e uma banana que engoli pela manhã, antes de sair de casa.

Alguém pede mais uma rodada antes que eu dê o pri­meiro gole da nova bebida; já percebo que estou falando arrastado.

Mas só um pouco.

E parece que ninguém mais repara.

Sonja, que é gerente de produção em alguma editora obscura, diz a Alfonso que pode arrumar para ele algum trabalho de revisão. E Mae está no celular, falando com seu noivo distante, que aparentemente liga para ela toda noite neste mesmo horário.

Penso em como não falei com Will desde antes de ir à casa dos meus pais na semana passada. Cheguei em casa na segunda à noite cedo, achando que ele ia ligar, mas não ligou. Trabalhei na inauguração de uma galeria para Milos ontem à noite, e não tinha nenhum recado na secretária eletrônica quando voltei para casa.

Por que ele não me ligou, droga?

Por que eu não posso demonstrar confiança, como Mae, a respeito da durabilidade da nossa relação a distância?

Minha cabeça está inundada de idéias cheias de álcool a respeito de Will. Confiro meu relógio. São quase dez. Fico imaginando se ele já voltou para a casa do elenco depois da apresentação desta noite. O que aconteceria se eu ligasse para lá?

A pergunta é unicamente retórica, claro, porque eu não tenho um número de telefone para falar com ele.

Mas digamos que eu ligue para o auxílio à lista e consiga o número principal do teatro, e que a pessoa que atender me dê o número do telefone público na casa do elenco.

Digamos que não esteja ocupado, para variar (Will me disse que está sempre ocupado, então não adiantava me dar o número), e que alguém atenda e eu mande chamar o "Will.

O que ele vai dizer quando descobrir que sou eu?

Será que vai ficar surpreso?

Caramba, vai sim.

Agradavelmente surpreso?

Claro.

Ou talvez não.

É difícil saber.

Enquanto Mae manda beijos pelo celular e Alfonso anota o telefone de Sonja em um guardanapo, eu fico obcecada pelo meu plano.

Preciso ligar para Will. Preciso.

Bebo mais um pouco do meu drinque. Este está mais forte. Com menos frutas.

Preciso falar com ele hoje à noite. Agora.

Meu coração bate forte.

Percebo que estou começando a sentir a mesma coisa que senti na outra noite no ônibus e, antes, no meu apartamento.

Desta vez não é tão intenso. Mas estou com medo. O que está acontecendo comigo?

A jukebox toca a todo volume uma canção dos Eagles.

Olho para Alfonso.

Ele está absorto por Sonja e com o que ela está dizendo, seja lá o que for.

Mae ri ao celular.

O barman despeja rum em um liquidificador.

Será que ele colocou alguma coisa no meu drinque?

Dou mais um gole cauteloso.

Não tem gosto de nada tóxico.

Só está forte.

O drinque de todo mundo saiu da mesma fornada, e ninguém parece estar intoxicado, então sou só eu. É só aquela coisa esquisita acontecendo de novo.

Preciso ligar para Will.