Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Ah, sim, podia sim.

Porque acabou de me ocorrer que preciso ir ao banheiro.

Agora.

O que significa que preciso sair desta cama. O que significa que preciso sair de baixo da coberta azul-marinho de algodão que Alfonso deve ter usado para me cobrir ontem à noite.

E se eu estiver nua aqui embaixo?

Até onde eu sei, ele deve ter tirado minha roupa nojenta ontem à noite. Isso sempre acontece em filmes: o cara diz à garota de ressaca que precisou ajudá-la a tirar as roupas quando ela estava detonada. E ela percebe que ele deve tê-la visto nua.

Nos filmes, isso é sempre alguma coisa emocionante.

Nos filmes, a mulher bêbada não tem pelanca, celulite nem roupa de baixo antiqüíssima de algodão, com o elástico esgarçado.

Nos filmes, não tem vômito.

Nos filmes, uma mulher bêbada é fofa, adorável, fofa e vulnerável. Pense em Julia Roberts em O casamento do meu melhor amigo.

Certo, talvez não haja tantos filmes assim, em que esse tipo de coisa acontece, mas existem alguns.

Pelo menos dois.

Eu sei porque vi um.

Mas, bom, meus amigos, isto aqui não é cinema, de jeito nenhum. E vou ter um chilique se descobrir que não estou usando nada embaixo desta coberta.

Ergo a coberta e dou uma olhada. Que alívio. Ainda estou completamente vestida. Ainda estou completamente vestida com roupas emplastradas de vômito seco. Que amor.

- O banheiro? - pergunto a Alfonso, que já está de pé, mostrando onde fica.

Quando atravessamos o apartamento, vou reparando nos detalhes da casa. A estante de livros abarrotada. O pacote aberto de batatinhas Lays Barbecue no balcão da cozinha. As roupas que ele usou ontem à noite em uma pilha sobre uma daquelas cadeiras de madeira e lona estilo diretor que custam baratíssimo na Ikea.

Não há plantas. Não há CDs com músicas de seriados de TV Não há equipamento de ginástica.

O apartamento de Alfonso não tem nada a ver com o apartamento de Will.

Alfonso não tem nada a ver com Will.

Tento imaginar Will cuidando de mim durante uma bebedeira, mas me arrepio toda só de pensar o que ele ficaria achando.

Alfonso não parece nem um pouco abalado.

- Espere um pouquinho - diz ele ao abrir a porta do banheiro para mim.

Apóio-me fraca contra a parede, sentindo-me enjoada.

Alguns segundos depois, ele já está me entregando uma toalha, uma camiseta dobrada de qualquer jeito e um tipo de calça leve de moletom.

- Tome um banho, depois vista estas coisas - aconselha Alfonso. - Vai se sentir melhor. Vou dar uma corrida até a delicatessen para comprar bagels e café para nós.

- Café - repito, tentando descobrir se a idéia me faz ter vontade de tomar um pouco ou se me deixa mais enjoada. Acho que é um pouco dos dois.

- E bagels. Você precisa comer.

- É...mas você pode pedir comeram cheese sem gordura?

- Sem gordura. - Alfonso revira os olhos. - Por que ter este trabalho? Aquele negócio tem gosto de pó de giz com água.

- Cale a boca. Estou de dieta.

Alfonso me olha de cima a baixo em toda minha glória coberta de vômito.

- É, achei que parecia mesmo que você tinha emagrecido. Eu ia dizer isso ontem à noite.

- Mesmo? Você reparou? - É o primeiro toque positivo nesta manhã lúgubre.

- Com certeza. Vá tomar seu banho. Não sei quanto tempo vou demorar. A delicatessen geralmente está lotada neste horário no meio da semana.

Meio da semana? Cai a ficha.