Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Fumei pela primeira vez no segundo ano da faculdade. Minha amiga Sofia tinha começado a fumar havia pouco tempo para emagrecer, e afirmou que tinha funcionado. Claro que no ano seguinte ela foi parar na clínica Cleveland com um sério distúrbio alimentar, então o hábito do cigarro era o menor dos problemas dela. Não foi o melhor exemplo para mim, mas eu achava que ela parecia bacana quando fumava e, como sempre, eu estava disposta a tentar qualquer coisa (tirando comer menos e fazer mais exercícios) para perder peso.

O que eu não daria para ser magra, penso, olhando para uma página dupla de estrelas de Hollywood no Festival de Cinema de Cannes. Peitão, cinturinha, quadril zero, nada de coxa. Não entendo. Quero dizer, no meu mundo, peitos grandes são básicos. Venho de uma longa linhagem de mulheres bem-dotadas nesse quesito. Se você acha que meu peito é grande, precisava ver minha avó por parte de mãe. Ela ainda usa aqueles sutiãs com bojo pontudo ao estilo anos 1940, e dá para ver quando ela vem chegando a quarteirões de distância. Ela se orgulha muito do que chama com relutância de "silhueta".

Eu, não. Poderia passar muito bem sem a minha silhueta. Eu trocaria com muito gosto tudo que se encontra entre as minhas costelas e a minha clavícula por um peito liso, se viesse junto com o corpo de garota de dez anos que eu tanto cobiço (aquele que supostamente saiu de moda com as modelos jovens demais há anos). Vai nessa. Até parece que corpos à Ia Rubens algum dia vão voltar à moda.

Ouço Will no chuveiro. Está cantando alguma música ao estilo Rogers e Hammerstein. Na minha opinião, a voz dele é ótima. Às vezes fico desejando que ele deixe esse negócio todo de Broadway de lado e grave um disco pop. Mas ele não quer. Sonha em fazer sucesso no palco.

Até agora, só fez uns dois musicais off-off Broadway (um era um revival de algum espetáculo obscuro; o outro, um texto original de um cara que ele conheceu no curso de teatro). Ambos saíram de cartaz em poucas semanas.

É por isso que a temporada de verão pode mesmo ser muito boa para ele.

Só não posso deixar de querer que ele demonstre um pouco mais de remorso por me deixar para trás. Ou que peça para que eu vá com ele, em vez de ficar fazendo com que eu espere pelo momento certo para fazer a sugestão eu mesma.

Mas ainda não pensei em todos os detalhes: o que exatamente eu faria se o acompanhasse. Quero dizer, eu sei que não ia poder ficar junto com Will, que vai se hospedar na casa do elenco. Mas será que é tão difícil assim encontrar um quartinho para alugar durante o verão em alguma cidadezinha sem graça, quase uma hora ao norte de Albany? E deve haver trabalho lá, porque o lugar recebe turistas no verão. Eu realmente não sou muito seletiva. Posso trabalhar como garçonete, ou babá.

Sei o que você está pensando, mas, veja bem: adoro a idéia de não ter de pegar o metrô para ir a um trabalho em horário comercial nesta cidade quente e fedida, no qual vou ter de passar o dia inteiro atendendo o telefone de outra pessoa e tirando fotocópias. Seria muito libertador passar um tempo fazendo outra coisa.

No que diz respeito à carreira na publicidade... Bom, sempre existe a possibilidade de achar outro emprego em outra agência no outono. Ou uma outra coisa qualquer. Afinal de contas, até parece que eu já me decidi definitivamente a ser redatora publicitária. Simplesmente me pareceu algo que eu podia fazer com meu diploma de letras.

Em vez de dar aula.