Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Uma porta bate.

A voz de Alfonso chama meu nome.

- Estou aqui - aviso.

Deixo os pensamentos sobre Will de lado.

Só mais tarde (muito mais tarde) eu permito que retornem. Mais tarde, depois de eu ligar para o sistema de recados e deixar uma mensagem avisando a Jake que eu estava passando mal e ficaria em casa, e de passar a manhã toda assistindo a programas péssimos com Alfonso e a tarde ensolarada toda caminhando um pouco a esmo pela cidade para chegar ao meu apartamento.

Minhas roupas nojentas de ontem à noite estão enroladas em uma bolinha apertada, enfiadas em uma sacola plástica do supermercado D`Agostino`s e enfiadas no fundo da minha enorme bolsa de couro. Eu poderia tê-las jogado fora, mas acontece que acabei de encontrar um jeans velho em que eu não cabia mais havia um ano, e não consigo me livrar dele antes que possa aproveitar um pouco mais. É gostoso vestir a calça e sentir o zíper deslizando sem esforço... ver que sobram quase três centímetros no cós.

Sim, vou caminhando para casa. Apesar de minha cabeça doer e de meu estômago ainda estar levemente revirado, e minhas pernas não estarem exatamente firmes.

Eu poderia ter pego o metrô, ou até um táxi, e com certeza poderia ter caminhado até minha casa em menos de uma hora. Mas fico feliz com a liberdade desta tarde no meio da semana que não preciso passar atrás de uma mesa em um cubículo. Sim, a cidade é suja, cheia de gente, o clima quente e úmido faz com que tudo e todos tenham um cheiro nojento. No entanto, é gloriosa. Estou livre. Demoro-me no caminho em direção ao centro da cidade. Compro o Post e me sento nos degraus do prédio palaciano da Biblioteca Pública de Nova York na rua 42 para ler. Paro para tomar um sorvete italiano de um carrinho no Union Square Park e vou tomando enquanto caminho, até ficar tão derretido que preciso jogar o resto em um cesto de lixo de arame abarrotado. Compro duas garrafas de água mineral, uma só para me limpar e outra para beber. Entro e saio de lojas, olhando roupas de verão decotadas e sensuais que nunca poderei usar por não ser magra.

Será que não poderei mesmo?

Se eu continuar a emagrecer...

Se eu continuar a economizar...

Bom, nunca se sabe.

Inspirada, lembro a mim mesma que a primeira coisa que vou fazer ao chegar em casa é colocar no vídeo a fita de ginástica de Jane Fonda. Tenho feito os exercícios religiosamente quase todos os dias. Pode ser pensamento otimista ou apenas minha imaginação, mas parece que minhas coxas estão menos molengas, como se houvesse uma faixa de carne mais firme abaixo dos quadris. E tenho certeza que me sacudo menos e roço menos as coxas quando ando.

Quando chego ao apartamento, a fita de Jane Fonda precisa ficar em segundo plano em relação à secretária eletrônica.

Porque a luz de recado está piscando.

Quando estico a mão para apertar o play, desejo que seja um recado de Will.

Mas eu sei, sem dúvida nenhuma, que é Jake, ligando do trabalho. Tenho certeza que ele descobriu que não estou doente coisa nenhuma. Eu não pareci verdadeira no recado que deixei para ele. Ou alguém me viu caminhando pelas ruas e me entregou para o Departamento de Recursos Humanos.

É Jake.

Eu sei que é Jake.

Mas é Will.

- Anahí, desculpe por ter desligado naquela hora. Está tudo bem com você? - Pausa. - Você está aí? - Pausa. - Atenda o telefone se estiver aí. - Pausa. Suspiro. - Certo. Você não está. Aonde você está? É meia-noite. Vou ligar mais tarde.

Com essa mensagem, minhas esperanças aumentam.

Não é muito.

Nada de "Eu te amo", muito menos "Eu te perdôo".

Mas, pelo menos, ele ligou.

E vai ligar de novo.