Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Observo Will vestir jeans, um suéter grosso azul-marinho e tênis. Penteia o cabelo para trás depois de vestir a camisa e volta-se para mim:

- Está pronta?

Faço que sim com a cabeça, jogo a revista para o lado e pego de novo meu pulôver de moletom e minha bolsa preta.

Quando estamos nos dirigindo para a porta do apartamento, tento pegar a mão de Will. Ele não é muito adepto a demonstrações de afeição (diz que a família dele é do tipo frio). Como meus pais vivem abraçando praticamente todo mundo que passa na frente, minha tendência é gostar de pegar e ser pegada, talvez um pouco mais do que deveria. Mas Will agora já se acostumou comigo, e dá um apertão rápido nos meus dedos antes de soltá-los para apertar o botão do elevador (algo que poderia ter feito com a mão livre, mas talvez eu só esteja procurando motivos para sentir repulsa).

A verdade é que eu queria que Will fosse tão louco por mim quanto eu sou por ele. E às vezes fico achando que ele de fato é (só que não sabe como demonstrar).

Por exemplo, houve um período, há alguns anos, em que ele ficou me chamando de querida,

Eca.

Sabe do que estou falando? Com ele era querida, em vez de amor, ou fofinha, ou meu bem ou qualquer um dos apelidos que os namorados geralmente usam entre si. Talvez as intenções dele tenham sido boas, mas eu só ficava incomodada porque parecia uma palavra que uma professora solteirona de idade usaria para chamar uma aluna preferida. Sim, querida, pode ir ao banheiro, mas volte logo para não perder a prova de estudos sociais.

Não tinha absolutamente nada de afetuoso ou romântico naquilo, e simplesmente parecia forçado. Eu me encolhia cada vez que ele me chamava assim, principalmente quando estávamos em público, e sentia uma vontade desesperada de pedir que parasse. Finalmente parou, por conta própria. Talvez ele tenha percebido que eu nunca o chamava de querido em resposta, ou talvez tenha sentido que era tão artifi­cial para ele quanto eu sentia que era.

Naturalmente, assim que ele parou, comecei a sentir falta daquilo. Pelo menos era alguma coisa.

Eu gostaria que ele inventasse alguma outra maneira de demonstrar seu apreço, mas não sei como tocar no assunto. Não posso simplesmente soltar, do nada: "Sabe o que me deixaria feliz? Se você me chamasse de fofinha ou de amorzinho."

O que, na verdade, também não me deixaria nada feliz. Na verdade, faria com que eu tivesse ânsia de vômito.

Mas você sabe do que estou falando. Acho que eu só quero mais do que temos. E agora, com a viagem de Will, sinto uma urgência, uma necessidade de estabelecer uma relação mais completa.

Acho que três anos juntos é algo bem firme.

Mas estou pronta para mais. E não posso fazer nada contra isso.

Quando Will precisou dividir o apartamento e colocou um anúncio no Voice, eu fiquei magoada. Tinha torcido para que ele aventasse a possibilidade de morarmos juntos. Na verdade, eu finalmente tinha juntado toda a coragem possível para tocar no assunto certa noite, depois de muita ajuda de Kate e Raphael, mas, antes que eu pudesse abrir a boca, ele me contou que tinha achado Nerissa.

Então, vamos dar um passo atrás e avaliar a situação.

Um ator lindo, com um corpão e fobia a compromisso que está fugindo da cidade.

Uma secretária acima do peso, insegura e obcecada por compromisso que fica para trás.

Simplesmente não estou com uma sensação boa a respeito disso tudo.

Mas isso não impede que eu peça um cheeseburguer com bacon e rodelas de cebola na lanchonete da esquina do prédio de Will.

E isso não me dá coragem para perguntar se posso ir com ele.