Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Eu me desmancho em mais uma onda de lágrimas.

Alfonso dá tapinhas nas minhas costas e faz sons de Pronto, pronto.

Sinto-me profundamente reconfortada.

Até que o telefone toca.

Até que ele atende e percebo que está falando com Sonja. Ele leva o telefone para um canto distante e tenta abaixar a voz, mas eu escuto o suficiente para saber que ele está no processo de desmarcar um encontro com ela. Sou egoísta (e talvez sinta ciúme), e por isso não o impeço.

Quando ele desliga o telefone, pergunto, toda inocente:

- Quem era?

- Sonja.

- Ela está na praia? - pergunto esperançosa, achando que talvez eu tenha me enganado.

- Não, acabou voltando para casa mais cedo por causa do tempo. Parece que amanhã também vai chover o dia inteiro.

- Então, você marcou alguma coisa com ela hoje à noite?

- A gente tinha marcado, mas eu cancelei. Não faz mal. Nós só íamos ao cinema.

- Para ver que filme? - Medo ponto com.

- Ah! - Eu me recuso a ficar mal por causa disso. De acordo com a crítica, estou fazendo um favor a ele. Mesmo assim ofereço, mas de maneira não muito convincente: - Pode ir com ela. Vou ficar bem.

- A gente remarcou para amanhã - diz ele com um dar de ombros. - O tempo hoje está ruim demais para sair caminhando pela chuva. Além do mais, eu não abandonaria você quando precisa de mim.

- Não?

- De jeito nenhum. Sou um cara legal.

- Você é um cara legal - digo a ele. - Achei que o Will era um cara legal, mas...

Mas, pensando bem, será que algum dia eu achei mesmo que o Will era um cara legal? Ele sempre foi ensimesmado e distante, e nunca quis se comprometer.

- Eu sei que provavelmente vamos ter de terminar - digo a Alfonso, tirando mais um lenço de papel da caixa que ele colocou ao meu lado, com tanta consideração, no futon. - Quero dizer, isso já estava rolando há um tempo. Por que tem de ser tão torturante? Por que eu me sinto como se estivesse em estado de choque?

- Porque, mesmo quando é inevitável, dói. Mas é um tipo de dor que faz bem para a gente. Meio parecido com fazer ginástica. É preciso sentir dor antes de ver os músculos se fortalecendo.

Lanço um olhar cheio de dúvidas para ele. Ele dá de ombros.

- O negócio é o seguinte: você pode estar sentindo uma agonia agora, e vai sentir por um tempo, mas, no longo prazo, isso vai ser a melhor coisa que aconteceu a você, Anahí.

Não digo nada.

Estou pensando que ele está errado. - Algum dia, você vai se sentir grata por Will ter dado o fora. Vai ter vontade de agradecer a ele.

- Por me dar o fora.

- Por dar o fora.

- Não quero ofender, Alfonso, mas se isso é o melhor que você pode fazer, é um saco. Só estou dizendo para o caso de você ficar achando que fez com que eu me sentisse melhor ou qualquer coisa do tipo.

- Anahí, estou falando sério. - Ele coloca o rosto bem pertinho do meu e me olha bem nos olhos. - Você vai superar tudo isso. Vai ficar tudo bem. Isso é para o seu bem.

- Isso é para o meu bem? - Agarro uma almofada e enfio na cara dele. - Eu vim aqui porque achei que você era o único amigo que ia ficar quieto e me deixar chorar.

- Então vou ficar quieto e deixar você chorar - diz ele, e coloca a almofada atrás da cabeça, recosta e pega o controle remoto. - Mas você não se importa se a gente assistir à TV enquanto você chora, não é? Porque passei o dia inteiro na frente do computador escrevendo, e agora estou a fim de assistir a algum lixo que não me faça pensar.