Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

É um homem bonito, com cabelo bem preto, pele café-com-leite e os cílios mais longos que já vi. Às vezes as pessoas o confundem com Rick Martin, e ele sempre entra na onda, dá autógrafos e fala com nostalgia da época do Menudo.

- Parabéns, fofo! - digo, dando um apertão nele.

- Você não se vestiu, Anahí!

- Não? - Finjo pavor e olho para baixo, como se espe­rasse me ver nua. - Não me assuste desse jeito, Raphael. Ele dá um tapa no meu braço.

- Eu quis dizer que você não se vestiu de acordo com o tema.

- O que você queria que eu colocasse ? Um biquíni? Pode acreditar, Raphael, é melhor assim - digo, fazendo um gesto para a blusa de gola alta preta por baixo do blazer pre­to, combinados com uma calça legal preta que eu consegui na French Connection. Espero que o efeito monocromático seja mais emagrecedor do que fúnebre. - Mas sua roupa está ótima.

- Gostou? - Ele dá uma voltinha do tipo modelo na ponta da passarela para exibir a camisa com estampa tropi­cal, o short curto e as botas de couro italianas. - Você não acha que está gay demais, Anahí?

Caso você não tenha notado, Raphael gosta de ficar repe­tindo o nome das pessoas. Ele gosta de pensar que isso é uma marca registrada dele nas conversas.

- Desde quando você se preocupa em parecer gay de­mais, Raphael?

- Desde que eu vi o homem que o Alexander trouxe com ele, Anahí, é uma delícia, e discretíssimo. Nunca daria para adivinhar que ele é homo, como o resto de nós. - Faz um gesto por cima do ombro para um homem bem bonito, com cara de heterossexual, envolvido em uma conversa pro­funda com Alexander e Joseph, que esta noite usam cangas iguais, com alianças de ouro iguais.

- O resto de nós? Fale por si - digo a Raphael, e com­pleto olhando para o suéter azul com gola careca e calça jeans do sujeito, que não estão de acordo com o tema. - Talvez ele não seja gay.

- Ah, faça-me o favor. Kate! - Raphael berra o nome dela quando ela se reaproxima de nós. Ele a agarra e dá um beijão nela (esse é o cumprimento padrão dele) e então dá um passo atrás, inclina a cabeça e faz uma careta, passando o polegar por cima do lábio superior. - Desculpe, deixei você toda suja com meu daiquiri.

- Ai, caramba. - Com o sotaque dela, que de repente aparece com força total, a palavra soa bem esquisita.-Isto aqui não é daiquiri, Raphael. Anahí!-Ela se vira para mim e pergunta, toda brava: - Isto aqui não está nada bom, não é mesmo? Continua bem vermelho e irritado, não é mesmo?

Eu fico na defensiva:

- Não está tão ruim assim.

- Não está tão ruim assim? O Raphael acha que é um bigode de daiquiri! - Kate sai correndo para o banheiro.

Em resposta ao olhar de questionamento de Raphael, explico:

- Ela depilou o buço.

Ele assente com a cabeça, em sinal de que compreende muito bem, e diz, com seu sotaque levemente latino:

- Coitadinha. E com a cor da pele dela... De pêssego com creme para pêssego com sangue. Anahí, depilar o buço é mortífero.

- Eu não tenho como saber. Prefiro descolorir.

- Pode acreditar. A depilação é mortífera.

 - Acreditar em você?

- Estou falando sério, Anahí. - Os olhos dele estão grandes e solenes.

Raphael tem dois estados de espírito básicos: Entusiasmo Frívolo e Preocupação Sincera. Neste momento, não está com a expressão que acompanha o Entusiasmo Frívolo.

- Você depila o buço? - pergunto, incrédula.

- Anahí, eu não faço isso. - Ele faz uma careta de nojo e estremece. - O Cristóforo é que faz para mim. - Cristóforo é o cabeleireiro e ex-namorado dele que anda saindo com um astro de novela supostamente heterossexual cujo nome não será citado.

- O Cristóforo depila o seu buço - repito, sem ter muita certeza se acho engraçado ou esquisito.

- E não só o buço. O rosto todo. Pode acreditar, Anahí, é melhor que fazer a barba todos os dias.

- Eu acredito, Raphael. Então, é assim que você mantém essa cara de menino?

- Você sabe como é. Vamos ali conversar com o Alexander e o Joseph. - sugere Raphael, rapidamente retornando ao modo Entusiasmo Frívolo quando me pega pelo braço.