Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Atravessamos a sala até o lugar onde eles estão. No trajeto, pego um daiquiri da bandeja de um garçom praticamente nu, usando só uma sunguinha fio-dental, que é praticamente só músculos e barriga de tanquinho.

- Você contratou garçons? - pergunto a Raphael, que sacode a cabeça.

- Anahí! Esse é o Jones - diz ele. - Vocês já se conhecem.

-Jones? Só Jones?

- Só Jones.

- Não me lembro dele.

- Lembra sim.

- Não, não lembro.

- Claro que lembra, Anahí. Ele é o dançarino. Aquele de Long Island? Que tem fetiche por saiote de tule?

Raphael tem o hábito irritante de insistir que você conhece pessoas ou esteve em lugares, e você não faz a menor idéia do que ele está falando. Acontece o tempo todo. Eu costumava discutir com ele.

Agora só dou de ombros e entro na onda, fingindo que conheço Jones.

Repare que a turma de Raphael, assim como a indústria da música, tem muita gente que atende por um nome único. Jones e Cristóforo. Cher e Madonna.

Não sei o que fazer com essa conclusão, mas me parece importante. Quando vou comentar com Raphael, ele prossegue com a explicação.

- O Jones vai fazer parte do coro na temporada de verão de Hello Dolly! no Texas, como se não tivesse um lugar pior para ir, então eu disse a ele que pegasse uma bandeja e fingisse que estava ensaiando para o espetáculo. Achei que ele ia colocar um smoking, ou alguma coisa clássica com abas, mas, Anahí, sabe como o Jones é, tem uma necessidade infernal de exibir o físico.

Como eu disse, não conheço Jones nem sua necessidade infernal de exibir o físico, mas finjo que sei exatamente do que ele está falando e reviro os olhos, acompanhando Raphael. Mesmo assim, preciso perguntar, porque não compreendo a relação:

- Hello Dolly?

- Sim, sim, sim, você sabe, sim... Tem aquela cena no Harmonia Gardens com os garçons dançarinos.

Eu sei mesmo, mas, antes que possa dizer a Raphael, ele se apressa, partindo do princípio de que eu não tenho a menor noção do que ele está falando.

- Sabe, o concurso de dança e a escada e "como é bom ver você de volta ao seu lugar". Shh, shh, estamos quase lá - diz Raphael, impaciente, abanando a mão loucamente para mim, como se fosse eu que estivesse falando sem parar.

"Quase lá" significa que estamos quase na frente de Alexander, Joseph e o objeto da mais nova paquera de Raphael. Talvez seja só porque ele está posicionado ao lado dos dois homens mais vaporosos do lugar, mas ele me parece altamente discreto e... bom, normal. Normal demais para o gosto de Raphael.

- Aruba... Jamaica... Aah, quero ir lá com ele... Anahí, ele não é adorável? - Raphael cochicha no meu ouvido, durante os acordes iniciais da música Kokomo, que está tocando em volume máximo no som.

- Ele é bem fofo - concordo. - Mas não adorável. Ele fica passado.

-Anahí! Como é que você pode dizer uma coisa dessas? Ele é adorável com certeza absoluta.