Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

De acordo com Raphael, Alexander e Joseph, que já devem ter trinta e tantos anos, moram juntos há anos em um apartamento de um quarto alugado em Chelsea, desde antes de o bairro se transformar em antro de celebridades e lojas de rede enormes. Alexander é um negro alto, com barba, que estudou em uma das melhores universidades dos Estados Unidos, nascido em uma família abastada de Westchester. Joseph tem origem italiana, é baixinho, estudou em universidade pública e nasceu em uma família proletária em Long Island; mas, atualmente, eles compartilham tantos maneiris-mos que às vezes fico achando que são parecidos.

Jones passa e entrega copos novinhos de daiquiri para todos. Esta fornada está ainda mais forte no rum que a anterior, mas desce fácil e já estou me sentindo meio tonta. Tonta o bastante para sentir a necessidade de fumar um cigarro atrás do outro ou devorar toda a tigela de salgadinhos.

Opto por fumar e vou acendendo um cigarro na ponta do anterior.

- Então, o que mais você escreve além de catálogos, Alfonso? - pergunta Raphael, com timidez fingida.

Geralmente, ele sabe muito bem fingir timidez, mas hoje não está funcionando. Pelo menos não com esse sujeito, que não parece se interessar por Raphael. Ou talvez simplesmente não esteja percebendo nada (mas não faço a menor idéia de como ele consegue ignorar o flerte sem trégua de Raphael).

A única outra opção é se ele for heterossexual. Mas, de algum modo, duvido. Quando três drag queens totalmente montadas com saiote de capim e sutiã de coco passam por nós, fico me perguntando o que um sujeito heterossexual e razoavelmente adorável estaria fazendo em uma festa como esta. Ainda por cima, em Nova York.

De jeito nenhum.

- Eu escrevo orelhas de livros - responde Alfonso com um dar de ombros.

- Não acredito! Alfonso, mas que maravilha! - diz Raphael com voz estridente, como se Alfonso tivesse acabado de dizer para ele que tinha conseguido uma ponta como extra em Buffy, a caça-vampiros.

- Pode acreditar, não é assim tão interessante - responde Alfonso, fazendo uma cara um tanto acanhada.

- Que tipo de livros? - pergunto.

- De tudo. Suspense, histórias de amor, auto-ajuda, ficção gay, culinária... qualquer coisa.

- Ficção gay? Será que eu já li alguma coisa que você escreveu, Alfonso? - pergunta Raphael, tão entusiasmado quanto uma animadora de torcida do Brookside fazendo seu show de erguer pernas durante o intervalo do jogo.

- Eu só escrevo a orelha da capa - observa  Alfonso mais uma vez, encolhendo-se com um pouco de vergonha.

- Eu sempre leio a orelha. É por isso que compro livros - diz Raphael a ele.