Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Não, não desejava nada.

Com certeza eu quero me casar, mas, quando Will e eu nos casarmos (certo, se Will e eu nos casarmos), adoraria que a cerimônia fosse no outono, com bolo de abóbora e cobertura de cream cheese. Fico imaginando o que ele acharia disso, mas não pergunto.

- Então, Will, quer que eu passe na sua casa depois do cinema?

Eu já disse a ele (logo de cara) que ia ao cinema com Alfonso assistir a Queda acidental e que queria brincar de cupido entre Alfonso e Raphael.

Também fiz uma descrição minuto a minuto da festa, até a hora em que Raphael acendeu uma tocha tribal que tinha escondido no armário (desprezando minha advertência) e ficou desfilando com ela pelo apartamento, até incendiar a peruca de uma drag. Jones tentou salvar o dia jogando o tecido azul brilhante por cima do fogo para abafar, mas acontece que o pano era ainda mais inflamável que a peruca, e também pegou fogo. Por sorte, algum espectador de reflexos rápidos pegou a mangueirinha da pia e apagou o fogo com água. Eu fui embora pouco depois disso, dizendo a Alfonso que o encontraria à uma na frente do Cineplex Odeon da Oitava Avenida, a alguns quarteirões do apartamento de Will.

Estava pensando que, depois do filme, eu poderia ir até a casa de Will e pedir comida chinesa, ou algo assim.

Certo, o que eu estava pensando mesmo é que a gente podia transar. Já faz quase uma semana que não passamos a noite juntos e, da última vez (das últimas vezes), foi meio qualquer nota.

Mas Will acaba com as minhas esperanças ao sacudir a cabeça.

- Acho que não, tenho muita coisa a fazer depois da academia. Estou preparando as coisas para mandar antes para a casa do elenco, para não ter de carregar tudo na viagem de trem.

Eu poderia ajudá-lo a empacotar. Mas talvez fosse deprimente demais.

A menos que eu fosse com ele...

Mas, até agora, não consegui juntar coragem para pedir a ele.

Tento pensar em outra coisa sobre o que conversar.

Estamos em um reservado ao lado da janela. Will usa um casaco de moletom marrom com capuz de que eu gosto muito. É da L.L. Bean, e ele o tem desde que nos conhecemos, e não está nem um pouquinho esgarçado, diferentemente da maior parte do meu guarda-roupa cheio de falsificações.

Por cima do ombro dele, através do vidro salpicado de chuva, enxergo gente apressada carregando guarda-chuvas. Percebo que a paisagem é inteiramente cinza com manchas amarelas: capas e táxis. Quero fazer essa observação a Will, mas ele não vai ter como apreciar a estética com esse humor.

Pego o saleiro e coloco um pouco de sal na minha batata antes de colocar um pedaço na boca.

- Você devia tomar cuidado com o sal, Annie - diz Will.

- Se não estiver bem salgadinho, eu não consigo comer

- digo a ele com um dar de ombros.

Não há nada pior que comida sem gosto e sem sal. Meus avós, supostamente, deviam estar fazendo dieta com pouco sal, e nunca se viu nada com gosto pior que o molho de tomate sem adição de sal que eles tentaram servir a todo mundo em um domingo há alguns anos. Todos concordamos que era horrível, e minha avó prontamente voltou a fazer o molho de sempre. O médico vive dando bronca neles por causa da pressão ou sei lá o quê, de que eles deviam estar cuidando, mas eu não os culpo por não obedecer. Eu faria a mesma coisa.

- Depois de um tempo, você acabaria se acostumando

- observa Will.

- Talvez, mas não quero. Até parece que minha saúde está correndo perigo. - Nunca me sinto à vontade conversando sobre meus hábitos alimentares com Will. Acho que tenho medo que ele mencione o meu peso. Até agora ele nunca fez isso, mas eu tenho bastante certeza de que ele pensa que eu poderia muito bem perder alguns quilinhos.

Certo, uns 15 ou 20 quilos.

Por sorte, ele nunca disse nada.

E se a minha sorte continuar, nunca vai dizer.