Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

- Existem vícios piores do que sal - observo, ainda na defensiva. - Como...

- Fumar?

Dou um sorriso amarelo.

- Certo, sal e cigarro. Então, eu tenho dois vícios. Olhe pelo lado positivo. Pelo menos, não sou drogada.

Ele abre um sorriso.

- Por que você não tem nenhum vício? - pergunto, observando enquanto ele dá uma mordida na torrada. Integral e sem manteiga. Sem geléia.

Eu meio que fico esperando ele dizer que tem vícios sim (não que eu consiga pensar em algum).

Mas ele não diz. Só dá de ombros, sorrindo e mastigando sua torrada tediosa, confiante, sem vício algum.

- Olhe... e se eu fosse com você, Will? Quem foi que disse isso?

Meu Deus, fui eu quem disse isso? Parece que foi, porque Will parou de mastigar e está olhando para mim, confuso.

- Se você fosse comigo para onde? Que diabo eu tinha na cabeça?

Eu não estava raciocinando. O negócio simplesmente saiu, e agora não posso mais voltar atrás.

Tento desesperadamente inventar alguma outra coisa para dizer. Alguma coisa a adicionar, algo que fizesse sentido...

E se eu fosse com você...

E se eu fosse com você...

E se eu fosse com você...

...ao banheiro na próxima em vez que você for?

Não, não tem como sair dessa.

Agora que comecei, preciso terminar.

Largo o garfo, respiro fundo e então pego o garfo de novo, percebendo que largá-lo faz com que a coisa toda pareça cerimoniosa demais, como se eu estivesse prestes a fazer um comunicado importantíssimo.

E é exatamente o que vou fazer, mas não quero que Will entenda as coisas assim.

Isso só faria com que ele recuasse antes mesmo de pensar bem sobre o assunto.

Espeto um pedaço de ovo salpicado de pimentão verde e coloco na boca. Sempre é mais fácil parecer despreocupada quando se está mastigando alguma coisa.

- E se eu fosse junto com você na temporada de verão? Quanta despreocupação!

Minha voz sai como se alguém estivesse apertando minha garganta, e ele parece horrorizado.

- Ir comigo? - repete ele. - Você não pode ir comigo!

Tento engolir a porcaria do pedaço de ovo mastigado e quase vomito.

- Não estou dizendo assim, junto, junto com você - respondo rápido, para que ele se tranqüilize. - Só estou dizendo que eu poderia encontrar um lugar para ficar em North Mannfield e arrumar um trabalho de garçonete ou algo assim durante o verão. Daí nós não precisaríamos ficar afastados durante três meses.

- Anahí, não tem como nós dois ficarmos juntos neste verão! Eu vou apresentar uma peça diferente a cada duas semanas. Não vou ter tempo de ficar com você, mesmo que esteja a dois minutos de distância de mim.

Sinto um caroço na garganta, tentando passar pela bola molhada de pimentão e ovo que tenta descer. Não consigo falar.

Mas tudo bem, porque Will ainda não terminou. Ele largou o garfo e está sacudindo a cabeça.

- Não dá para acreditar que você me vem com essa bem agora. Quero dizer, achei que a gente tinha chegado à conclusão de que essa temporada de verão seria ótima para mim. Preciso fazer isso pela minha carreira. Você sempre soube disso, Anahí. E agora vem me dizer que acha ruim.

Finalmente consigo engolir o ovo e o caroço.

- Eu não disse que acho ruim, Will. Eu só disse que quero ir com você.

- Mas você sabe que não é possível, certo? Olhe, eu sei o que você está tentando fazer. Quer que eu me sinta culpado para mudar de idéia e ficar aqui. E eu...

- Não estou fazendo nada disso! Um silêncio desconfortável se instala.

- Você queria mesmo ir junto comigo?

- Queria! Quero dizer, não junto, mas... Eu só queria ficar perto de você.

Sinto-me ridícula, abandonada e em pânico. Sinto-me como uma menininha cujo pai está tentando deixá-la na escola primária contra a vontade dela.

- Mas, Annie... - Ele não sabe o que dizer. Pelo menos, não caçoa de mim. Nem parece mais estar bravo.

Ele parece... preocupado.

Percebo, com uma pontada de enjôo no estômago, que rompi os limites que sempre tomo tanto cuidado para respeitar em relação a ele.

Sufoquei Will, o Homem Que Precisa de Espaço.

- Certo, bom, só achei que devia perguntar o que você achava - digo, tentando parecer que não estou nem aí.

Pego minha xícara de café e percebo que o leite talhou todo na superfície. Eca. Devia estar azedo. Coloco a xícara de novo em cima do pires e procuro algum tipo de distração, desejando que tivesse sobrado alguma coisa no meu prato além da folhinha do morango e da casca de laranja do enfeite que eu já devorei.

Não tenho nada para comer.

Nada para fazer.

Will não diz nada.

Não faz nada.

Isso é terrível. Eu nunca deveria ter tocado no assunto.

Não desse jeito.

Deveria ter traçado um plano mais eficiente.

Deveria ter ensaiado o que queria dizer, de modo que ele não fosse pego de surpresa. De modo que eu não ficasse parecendo uma desesperada grudenta.

Mas, lá no fundo, eu sei que, independentemente de quando e como eu tocasse no assunto, ele nunca acharia boa idéia eu ir para North Mannfield.

Então, bom, pronto.

Está resolvido.

Vou passar o verão aqui em Nova York. Sem Will.