Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

- Está pronta? - pergunta Alfonso, virando-se para mim.

- Espere, os créditos - digo, sem tirar os olhos da tela. - Você quer ver os créditos?

Will e eu sempre ficamos até o fim dos créditos. Mas este não é Will. E, de todo modo, estou louca para discutir o filme com Alfonso, por isso digo:

- Tudo bem, não faz mal.

- A gente pode ficar se você quiser.

- Não, não é nada importante. - Eu me levanto, segurando a caixa tamanho jumbo quase vazia de chocolates confeitados Snowcaps.

- Quer mais pipoca? - pergunta Alfonso quando nos dirigimos para o corredor. - Ou será que eu jogo fora?

- Não, não jogue fora - digo, ao mesmo tempo em que coloco a mão dentro do balde e pego um punhado. Adoro pipoca de cinema, principalmente com manteiga. Will nunca quer pedir manteiga, porque, segundo ele, não é manteiga de verdade (é um tipo de gordura amarela derretida, impregnada de substâncias químicas). Não que ele teria vontade de pedir manteiga mesmo que fosse manteiga, porque manteiga tem muita gordura e calorias.

Alfonso pediu com manteiga extra. Nem me consultou. Talvez tenha achado que eu sou o tipo que gosta de gordura derretida extra.

Sei lá.

É um alívio estar com alguém como ele depois daquele café da manhã desastroso com Will. Quando nos separamos na frente da academia dele, foi estranho. Ele disse que me ligaria à noite, mas eu quase desejei que não ligasse. Tenho medo que ele traga à tona o fato de eu querer viajar com ele. Ou talvez tenha medo que ele não toque no assunto, e daí vai ficar para sempre aquela coisa enorme entre nós dois, de que ninguém fala.

Enquanto isso, aqui está Alfonso, enfiando o balde de pipoca de novo embaixo do meu nariz, incentivando-me a comer mais.

- Então, o que você achou? - pergunta ele, pegando mais um punhado de pipoca. - A grande reviravolta foi tudo que você estava esperando?

- Não sei. - Reflito sobre o assunto. - Quero dizer, não foi assim tão chocante quanto Sexto sentido. Acho que se criou suspense demais.

- Era por isso que eu não queria tanto assim ver esse filme.

- Você não queria ver? - pergunto, e paro no meio do corredor.- Mas você veio comigo. Não era obrigado a ter vindo comigo. Ai, meu Deus, acho que meio que era sim. Olhe, eu não queria arrastar você até aqui.

- Não me arrastou.

- Ah, fala sério, Alfonso. Eu praticamente ordenei que você viesse comigo. Acho que fiquei achando...

- Tudo bem - diz ele prontamente. - Eu não liguei. Todo mundo que conheço também já assistiu, então achei que era minha única chance.

- Pena que não atendeu a tanta expectativa. Quero di­zer, eu fiquei surpresa com o fato de a coisa toda ser um sonho, mas você não achou meio broxante?

- Não sei. Achei meio parecido com aquele conto "Um incidente na ponte de Owl Creek". Já leu?

- Está brincando? O conto de Ambrose Bierce? Eu me formei em inglês. Devo ter lido uma dúzia de vezes para cadeiras de literatura e criação de texto.

- Eu também - diz Alfonso. - Eu me lembro de realmente adorar esse conto quando li pela primeira vez, na escola. Achei que no fim a reviravolta era mesmo surpreendente, sabe como é, que era uma coisa tipo uma fuga da consciência no último instante antes de morrer. Esse filme foi algo assim também. Eu gostei.

- Mas você não adorou. Ele dá de ombros.

- E você?

- Eu queria mesmo ter adorado. Já faz um bom tempo que não assisto a nenhum filme ótimo. O último que eu adorei foi um da Gwyneth Paltrow que saiu no Natal.