Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Naturalmente, Will tinha detestado aquele filme. Achou que a atuação era péssima, o roteiro, piegas e nada realista.

- Ah, eu também adorei esse aí! - diz Alfonso, vestindo o casaco de chuva de sarja com capuz de enfiar pela cabeça, ao pararmos logo antes da porta. - Caramba, continua chovendo.

- Que dia horrível. Nunca vou conseguir achar um táxi. - Suspiro, remexendo nos bolsos da calça jeans em busca de um bilhete de metrô que eu achei que tinha.

- Quer tomar uma cerveja?

- Uma cerveja? Agora? - Surpresa, ergo os olhos para ele. Então dou uma olhada no relógio (como se fizesse alguma diferença). Como se existisse um horário adequado para tomar cerveja em um domingo chuvoso em Manhattan.

- Ou... você tem algum compromisso?

- Não! - respondo rápido demais. Porque eu realmente quero tomar uma cerveja. É um milhão de vezes melhor que voltar para meu apartamento solitário enquanto fico pensando em Will na casa dele, encaixotando seus pertences.

- Ótimo. Então, vamos tomar uma cerveja.

Visto minha capa de chuva. É uma daquelas amarelonas que os turistas usam, e faz com que eu pareça tão grande quanto um ônibus escolar antigo visto de trás. Eu me preocuparia com isso se estivesse com Will (na verdade, foi exatamente o que aconteceu antes, quando saímos do restaurante), mas, naturalmente, não preciso me preocupar na companhia de Alfonso. Essa é a parte boa de ter amigos gays. A gente tem companhia feminina sem o ângulo competitivo da TPM das mulheres e sem as complicações da atração sexual.

- Aonde a gente pode ir? - pergunta Alfonso.

- Conheço um bar legal a um quarteirão daqui - digo a ele. - Passo bastante tempo nesta região.

- Eu também.

- É mesmo?

- Na verdade, eu moro por aqui.

- Mesmo? Onde?

- Na rua 54, perto da Broadway.

- Não brinque.

- Você também mora por aqui?

- Não. Moro no East Village.

- Mesmo? Então, por que marcou de nos encontrarmos aqui, tão longe?

Não quero entrar no assunto todo de Will, então digo simplesmente:

- Eu tinha um compromisso aqui mais cedo, então achei que fazia sentido. Então, tem algum lugar aonde você quer ir? Já que este é mesmo o seu bairro...

- Não, vamos tentar o lugar que você falou. Sempre estou disposto a experimentar coisas novas. Ei, eu sou um cara espontâneo, está lembrada?

Sorrio para ele e reparo que está usando outro suéter com gola careca com jeans.

- Estou vendo que hoje você optou pelo bege.

- O que posso dizer? Hoje o dia está para bege. Mas parece que você não concorda. Você sempre usa preto? - pergunta ele, examinando minha roupa.

Jeans preto. Camisa meio bata de manga comprida preta que camufla minhas coxas (ou pelo menos gosto de pensar que tem esse efeito).

- Sempre - digo a ele.

- Por alguma razão especial?

- Emagrece - respondo prontamente, e ele sorri.

- E eu aqui achando que você estava tentando fazer algum tipo de afirmação política, artística ou espiritual.

- Eu? Que nada, sou só uma garota cheinha que tenta se fazer passar por uma tábua.