Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Que cara legal. De repente, pego-me pensando que talvez ele seja legal demais para Raphael. Não quero dizer que Raphael não é maravilhoso, mas quando se trata de romance, ele é meio instável. Ele já deixou para trás mais do que alguns corações partidos, e não posso suportar a idéia de ver Alfonso, alguém tão bacana, gentil e nobre assim, de coração partido.

O que me faz lembrar do ex de Alfonso. Fico imaginando o que aconteceu, mas não posso pedir detalhes porque ele já se mostrou relutante em falar sobre o assunto. Bem nessa hora o garçom aparece. Ele é todo vaporoso e efeminado, e fica praticamente babando em cima de Alfonso quando pedimos cervejas e as batatinhas. O negócio é que Alfonso não tem aquela beleza típica de um ator, por exemplo. Ele é bem bonitinho, mas há algo nele ainda mais atraente que o visual. Talvez seja a expressão dos olhos risonhos irlandeses dele, ou o sorriso rápido, ou a atitude, genuinamente legal. Seja o que for, o garçom assumidamente gay não deixa passar, e eu também não.

Pena que ele não é heterossexual.

Percebo que essa frase está se transformando no meu novo mantra. Se Alfonso não fosse gay, e se eu não tivesse Will...

Mas se Alfonso não fosse gay e eu não tivesse Will, nós provavelmente não estaríamos aqui juntos, e tenho bastante certeza de que não estaríamos pedindo batatinhas com cheddar e bacon nem falando das minhas pelancas excessivas, que é o que faço quando estou com Raphael ou Kate.

De todo modo, duvido que eu fosse o tipo de Alfonso.

Por outro lado, continuo surpresa, mesmo depois de três anos, por ser o tipo de Will. Afinal, ele tem sim aquela beleza típica de atores de cinema, e eu não sou nenhuma deusa. Felizmente, os relacionamentos vão além do visual. Pelo menos, é o caso do nosso. A atração física teve papel importantíssimo no motivo por que eu fiquei a fim de Will, mas acho que ele ficou a fim de mim por eu ser uma das poucas pessoas que compreenderam o sonho dele de romper com a vida de cidadezinha do Meio-Oeste e vencer em Nova York. Aquela ambição incontrolável de escapar da vida mundana na qual tínhamos nascido era o que existia de comum entre nós, aquilo que acabou por nos unir.

Agora, parece que está nos afastando. Caramba, Will vai me deixar para trás. Talvez não para sempre, mas por enquanto, e isso me magoa. Magoa tanto que, assim que o garçom se afasta e Alfonso olha para mim, ele pergunta:

- Qual é o problema, Anahí? Tento parecer alegre.

- Nada. Porquê?

- Você está triste por causa de alguma coisa. Dá para ver.

- Não me surpreende. Nunca consigo esconder nada de você, Alfonso. Você sempre me conheceu melhor do que eu mesma me conheço - digo, fingindo seriedade.

Ele dá risada. Então, diz:

- Sabe, parece mesmo que a gente já se conhece há bastante tempo. - Percebo que ele não está fazendo piada.

Também percebo que ele tem razão. Parece que somos velhos amigos. E seria ótimo ter um amigo como Alfonso. Uma mulher que mora sozinha em Manhattan jamais pode ter amigos homens demais.

- E, a gente devia fazer isto de novo - digo a Alfonso, quando o garçom traz as cervejas. - Adoro ir ao cinema em uma tarde chuvosa de fim de semana.

- Eu também. Quase tanto quanto adoro cerveja com batatinha com cheddar e bacon.

- Vamos brindar a isto.

- Saúde. - Ele ergue a garrafa dele e faz um brinde na minha.

Sorrimos um para o outro. Você já está sentindo o que vem por aí? Com o diabo, eu juro que não senti. Ele se inclina para a frente e me beija. Isso mesmo.