Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Alfonso: o rapaz bacana, gentil nobre, gay; Alfonso se inclina na minha direção e coloca a boca dele na minha de um jeito completamente heterossexual.

Fico estupefata demais para fazer algo que não seja o natural.

Quero dizer, corresponder ao beijo.

Só dura alguns segundos, mas é em câmera lenta para o que poderia ser um beijo amigável fechando um brinde amigável transformando-se em um beijo romântico. O tipo de beijo que é carinhoso e apaixonado mas não sentimental nem molhado. O tipo de beijo que a gente sente na boca do estômago, naquele lugar palpitante onde os primeiros indícios da excitação sempre aparecem.

Sim, fico excitada com o beijo. Excitada, e estupefata, e confusa.

Alfonso pára de me beijar (mas não porque sente alguma coisa errada). Ele simplesmente pára quando termina. Afasta-se um pouco e olha para mim, com um sorrisinho no rosto.

- Mas... - Fico olhando para ele.

O sorriso desaparece.

- Sinto muito. - Ele olha em volta.

Somos as únicas pessoas ali, tirando o barman, que assiste a um jogo de beisebol dos Yankees na televisão em cima do balcão, e do garçom, que se enfiou na cozinha.

- Não foi bom? - Alfonso quer saber. - Porque eu fiz sem pensar. Senti vontade de fazer, então fiz. - Ele parece um pouco preocupado, mas não em pânico.

Eu estou em pânico. - Mas...

- Sinto muito - ele volta a dizer, parecendo um tantinho menos confiante. - Não era minha intenção...

- Mas você é gay! - digo a ele, selecionando as palavras certas dentro de um turbilhão de pensamentos. Ele parece chocado.

- Eu sou gay?

Pelo menos, eu achei que eram as palavras certas.

- É, você é gay, sim - digo, naquele tom estridente e agudo que se usaria para discutir com uma morena que estivesse tentando convencê-la de que é loira.

- Isso é novidade para mim - diz ele, claramente surpreso.

Lá vai ele com aquela coisa de se fingir de sério. Mas, desta vez, não é engraçado.

- Pare já com isso, Alfonso - digo. - Isso é sério.

- Isso é sério mesmo. Porque eu sempre achei que era heterossexual. Talvez tenha sido por isso que não deu certo com a minha namorada.

Ele está brincando de novo. Pelo menos no que diz respeito à última parte. Mas talvez não a respeito do resto. Confusa, digo: - Achei que era um namorado.

- Ele era uma namorada. Ela era uma namorada. - Ele vira a banqueta um pouco e apóia os cotovelos no bar atrás de si. Parece relaxado. E continua definitivamente surpreso.

Preciso relaxar. E preciso de uma bebida. Dou um gole na cerveja. -Anahí, juro que não sou gay. Engulo a cerveja.

- Por que eu marcaria um encontro com você se eu fosse gay? - ele quer saber.

Cuspo a cerveja e um pouco do líquido escorre pelo meu queixo. Enxugo com a manga e repito:

- Um encontro?

- Espere, você não achou que isto fosse um encontro? - pergunta ele, de sobrancelhas franzidas. - Achei que você tinha me convidado para sair.

- Quem sou eu, aquela atirada da Sadie Hawkins? Eu convidei você para assistir a um filme comigo. Não para um encontro. Eu queria que você saísse com o Raphael.

- Quem? - Ele olha em volta e então diz: - Ah, o Raphael. O cara da festa. Você queria que eu saísse com ele?

- Queria! Vocês formariam um casal perfeito - digo, em um tom daqueles de fofoqueira experimentada mas acho que já está um pouco tarde para isso.

- Um casal perfeito. - Alfonso assente com a cabeça. - Tirando a parte de eu não ser gay.

- Certo.- Estou totalmente passada com essa informação, agora que tenho certeza que ele não está tirando sarro da minha cara.

Tomo mais um gole enorme de cerveja, tentando digerir a bomba.

Fisicamente, ainda estou em êxtase por causa do beijo. Quero dizer, ele beija superbem. Superbem. E percebo quanto tempo faz que não sou beijada desta maneira. Will e eu nunca mais nos beijamos de verdade. Nós só transamos... e, como eu disse, nem isso acontece com muita freqüência ultimamente, e, quando acontece, não tem beijos e é bem meia-boca.

Ai, caramba. Will.