Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

- Eu tenho namorado - digo a Alfonso, pousando a cerveja na bolacha de papel com um baque.

- Tem? Por que não me disse?

- Porque não pensei em dizer. Não me ocorreu que você achava que nós estávamos em um encontro.

Um encontro.

É incrível a maneira como a situação toda passou despercebida para mim, bem na minha cara. Acho que fiquei tão distraída com o que está acontecendo com Will que não prestei atenção suficiente no que estava acontecendo com Alfonso. Ou melhor, no que Alfonso pensou que estava acontecendo.

Eu traí Will. Totalmente por acaso, mas, mesmo assim, é traição. E logo aqui, no próprio bairro dele, em um bar aonde às vezes vamos juntos. E se alguém tivesse me visto aqui com Alfonso? Beijando Alfonso?

Mais uma vez, examino o bar para me assegurar de que não tem mais ninguém ali além do barman, que não está prestando a mínima atenção em nós. O lugar realmente está deserto.

Então, ninguém me viu traindo Will.

Will nunca vai precisar saber.

Mesmo assim, estou horrorizada.

Olho para Alfonso. Ele não parece horrorizado. Parece surpreso. E talvez um tanto decepcionado.

- Então, você tem namorado? - diz ele. - Quanto tempo?

Durante um segundo, não compreendo a pergunta. Durante um segundo, fico achando que ele quer saber quanto tempo mais eu acho que vou ter namorado. Fico arrepiada, achando que ele simplesmente está partindo do princípio de que eu e Will vamos terminar depois de passar o verão separados.

Então me lembro que ele não está sabendo disso. O que ele realmente quis dizer fica claro para mim, e eu o informo:

- Estou com Will há três anos.

- Tanto tempo assim? Então, é sério. Naturalmente, comento:

- Sim. Claro que sim. Muito sério. Bom, e é mesmo.

- Sabe do que mais? - Desço da minha banqueta. - Acabei de lembrar que tenho um compromisso.

- Mesmo?

Não. Mas estou me sentindo humilhada demais para ficar aqui com ele mais tempo. Além do mais, o beijo dele realmente me abalou.

Basicamente, o efeito foi me deixar toda acesa, e eu não posso andar por aí ficando toda acesa por causa de outros homens. Eu devo ficar com Will, e só com Will.

Pego minha capa de chuva e remexo a bolsa em busca de dinheiro. Jogo uma nota de 20 no balcão.

- Você vai mesmo embora? Assim desse jeito?

- É que... estou com pressa. Não acredito que me esqueci disso...

Isso significava Will.

- Bom, pelo menos me dê seu telefone. Podemos fazer alguma outra coisa juntos. Ter mais uma amiga mulher sempre é bom. - Ele pega um guardanapo e tira uma caneta do bolso.

Sim, ele tem uma caneta no bolso. Droga. Que conveniente para ele.

- Qual é seu telefone? - pergunta ele. Falo como uma metralhadora.

- Está anotado - diz ele, rabiscando no guardanapo. Não, não está anotado coisa nenhuma. Dei a ele o telefone dos meus avós com o código de área de Manhattan.

- Fique com isto aqui - diz ele, entregando a nota de 20 para mim. - Eu pago esta. Você nem vai comer as batatinhas.

- Tudo bem. Afinal de contas, não estou com tanta fome assim.

Ele continua segurando a nota de 20 com a mão estendida, e fico olhando para ela como se fosse algum tipo de inseto.

- Pegue - diz ele.

- Não, está tudo bem. Não posso deixar você pagar.

- Por que não? De verdade, não vou ficar achando que é um encontro se eu pagar - diz ele com um sorriso.

Agora chega. Estou caindo fora.

Ele enfia a nota de 20 no meu bolso e eu me dirijo à porta, correndo para a chuva com a capa aberta e o capuz abaixado.

Fico ensopada antes de chegar à esquina.

Meu primeiro instinto é correr direto para a casa de Will.

Se estivesse com a cabeça no lugar, eu faria uma pausa, refletiria e obedeceria ao meu segundo instinto, que é fugir para casa usando o metrô, tomar um banho e me enfiar na cama (ou melhor, no futon).

Em vez disso, sigo meu primeiro instinto.