Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Este não é um bom dia. De manhã, queimei a mão com a cafeteira da copa adjacente ao departamento das secretárias. E agorinha mesmo, quando estava indo ao banheiro, escorreguei em um azulejo molhado e caí de bunda no chão com tudo. Seria de se pensar que o acolchoamento extra que existe na região serviria para amenizar a queda, mas agora estou morrendo de dor.

Jake aparece atrás de mim na hora em que estou tentando enfiar o memorando na abertura apropriada pela qüinquagésima vez.

- Algum problema, Anahí?

Viro para trás e vejo que ele traz estampado no rosto um sorrisinho sarcástico. A esta altura, já sei que não é nada pessoal. Que essa é a expressão normal de Jake, a não ser que o cliente esteja por perto. Mesmo. Independentemente das circunstâncias, Jake encontra um motivo para dar um sorrisinho sarcástico. Se eu digo que a mulher dele está no telefone, ele dá um sorrisinho sarcástico. Se digo que o representante da NBC cancelou a apresentação de amanhã, ele dá um sorrisinho sarcástico. Se digo a ele que a companhia de investimento de que ele é cliente mandou entregar algum documento, ele dá um sorrisinho sarcástico.

Para ser sincera, ele é o tipo de cara que eu consideraria o maior idiota se não fosse meu chefe. Ele fica babando em cima de mulheres quando elas não estão olhando, ri sempre que alguém faz alguma besteira sem querer e (estou começando a achar) trai a mulher, Laurie. Isso realmente me deixa louca. Estão casados há pouco mais de um ano, e eu nunca cheguei a ser apresentada a ela, mas é muito simpática sempre que nos falamos ao telefone. Às vezes, quando ela liga, Jake faz uma careta, revira os olhos e manda dizer que está em reunião. Eu sempre me sinto culpada quando faço isso, porque Laurie fica muito decepcionada e parece que nem desconfia que estou mentindo.

Ao mesmo tempo, ultimamente, por mais ocupado que possa estar, ele sempre atende os telefonemas de uma mulher chamada Monique. Supostamente, é amiga dele. Se quer saber minha opinião, homens casados não deviam ter amigas chamadas Monique. E algo me diz que Laurie não sabe da existência de Monique.

- Pode falar comigo quando terminar aí? - diz Jake, enquanto o aparelho de fax começa a apitar com o código de erro de novo e prende a primeira folha do memorando com força mortífera.

- Pode ser depois do almoço? - pergunto, puxando o papel em um esforço inútil para arrancá-lo do aparelho.

- É só um segundo - responde Jake. E completa: - Uau, tome cuidado, se não vai rasgar e você vai ter de imprimir de novo. -, antes de seguir pelo corredor de volta a sua sala espaçosa. Um momento depois, ouço a pancadinha reveladora de uma pequena bola de basquete Nerf batendo na parede atrás do aro que fica acima da mesa dele. Dá para imaginá-lo sentado ali, com seus sapatos pretos bem engraxados apoiados em cima da mesa, dando lances preguiçosos.

Não me entenda mal. Ele é um cara ocupado com um trabalho importante, e é ótimo no que faz. Mas quando não está em alguma reunião com figurões nem apresentando alguma idéia ou fazendo uma exposição, Jake gosta de relaxar e de se divertir. Ele come nos melhores restaurantes da cidade. Faz encomendas dos catálogos mais caros. Adora golfe e tênis: esportes de cavalheiros. Outro dia eu o ouvi ao telefone fazendo uma encomenda de equipamento de pesca na Orvis que custou mais do que eu ganho em um mês. Ultimamente, ele anda procurando um imóvel em Westchester para uma casa de campo e diz que precisa ter um lago ou um riacho particular para pescar.