Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Já estou com o pé para fora da porta.

Latisha, Brenda e Yvonne estão me esperando na frente do prédio, fumando. E não são as únicas: a entrada está atulhada de fumantes de colarinho branco refugiados dos escritórios acima onde é proibido fumar. Yvonne não cansa de falar dos bons e velhos tempos; quando era permitido ter um cinzeiro na mesa e fumar o quanto quisesse, antes de a militância não-fumante intervir.

- Já estava na hora - diz Brenda, jogando a ponta do cigarro e amassando com o bico impossivelmente comprido de seu escarpin branco impossivelmente alto.

- Desculpem. Eu estava falando com Jake. - Acendo um Salem e trago fundo enquanto caminhamos rua abaixo.

- O que ele queria? - pergunta Latisha. - Precisa que você passe na lavanderia para pegar as roupas dele de novo?

- Não, desta vez, não. - Reflito um momento se devo contar a elas a respeito da multa por estacionamento em local proibido e chego à conclusão que não.

Latisha e Yvonne vivem me dizendo que eu preciso enfrentar Jake quando ele ultrapassa os limites da relação chefe/funcionária. Brenda, que é do tipo mais pacato, geralmente não se mete na conversa.

O negócio é que, na maior parte do tempo, eu não me importo de fazer coisas pessoais para Jake.

Certo, eu me importo sim. Mas não o suficiente para confrontá-lo.

- Então, Will vai viajar neste fim de semana, hein? - pergunta Brenda de um jeito que deixa claro que as três estavam discutindo a situação antes de eu chegar.

- E, ele vai cair fora - digo em tom despreocupado, cuidando para não queimar com o cigarro uma babá que passa empurrando um carrinho e em quem eu esbarro no meio da multidão que usa a calçada.

Caramba, o lugar está lotado (pululando de turistas empapados de suor, apesar de junho mal ter começado). Penso a respeito dos longos meses à frente e resolvo que preferiria passar o verão praticamente em qualquer lugar que não fosse aqui. Nem Brookside me parece ruim a esta altura.

- Vai sair com outras pessoas enquanto vocês estiverem separados? - quer saber Latisha.

- Caramba, não!

Mas preciso confessar que o rosto de Alfonso aparece na minha mente.

- O Will vai ficar com outras pessoas? - Não!

- Tem certeza?

- Tenho! Que coisa.

Latisha não diz nada, mas vejo os olhares que ela lança para as outras. Aperto os olhos para examiná-la melhor quando paramos em um sinal de pedestres fechado em uma esquina.

- Por quê, você não acha que ele vai ser fiel?

- Mostre um homem fiel para mim e eu mostro um eunuco para você - anuncia Yvonne, três vezes divorciada.

- Isso é ridículo - digo a ela. - Nem todos os homens traem. Meu pai não trai minha mãe.

- Como é que você sabe, fofa?

- Eu simplesmente sei. - E pode acreditar, sei mesmo. Meu pai continua louquinho pela minha mãe, mesmo depois de mais de 30 anos de casamento. Não me pergunte por quê. Às vezes, parece que a única coisa que ela faz é incomodá-lo. E, como já mencionei antes, ela é gorda, tem bigode e gosta de usar calça fuso, mas, apesar disso tudo, ele só a chama de Bella (que é "bonita" em italiano). O que prova que o amor é cego. O que explica muita coisa (incluindo o fato de Will ainda estar comigo).

- Ela está certa - diz Brenda. - O Paulie não trai.

Paulie é o namorado dela, e eles estão juntos desde o penúltimo ano de escola. Estão noivos desde o verão anterior ao início das aulas na mesma faculdade pública para que foram e agora, três anos depois, o grande evento está marcado para julho. Vai acontecer em um enorme salão de festas em Nova Jersey, e fomos todas convidadas, com acompanhante.

Quando recebi o convite, há algumas semanas, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a gentileza de Brenda

por me adicionar à lista de convidados, apesar de só nos conhecermos há alguns meses.

A segunda coisa que pensei (e devo dizer que foi uma idiotice completa) foi que Will poderia vir para a cidade para me acompanhar.

Naturalmente, ele disse que não poderia sair do teatro, principalmente em um fim de semana.

Vou levar Raphael no lugar dele. Eu poderia ir sozinha, mas Latisha vai com Anton e Yvonne vai com Thor, seu amigo por correspondência sueco. Eles se escrevem desde crianças, e finalmente vão se conhecer pessoalmente quando ele vier passar férias em Nova York no mês que vem.

Anton, o cafajeste local; Thor, o correspondente estrangeiro que, sabe-se, fala cinco línguas, sendo que nenhuma delas é inglês; e Raphael, a resposta homossexual às lindas de Baywatch, só que ainda mais vagabundo.

Realmente, é um trio dinâmico para se amar.