Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Acho que vai ser mais fácil se as nossas últimas 24 horas juntos forem péssimas.

Sabe como é, se passarmos o tempo todo discutindo ou irritando um ao outro ou simplesmente entediados à morte.

Mas não é assim que acontece.

As coisas com Will estão melhores neste fim de semana do que jamais estiveram (ou, pelo menos, como há muito tempo não estão). Desde o início.

Um fato que contribui muito para isso é Nerissa estar viajando com Broderick, porque está calor e úmido e eu não tenho ar-condicionado em casa. Pudemos ficar no apartamento de Will sozinhos.

Não que tenhamos passado muito tempo por lá.

Na sexta à noite, ele me surpreendeu com entradas para ver Rent na Broadway. Ele já assistiu ao musical algumas vezes, mas eu nunca vi. Conheço todas as músicas porque Will tem o CD, e sempre quis ir... provavelmente porque consigo me identificar com as letras e com os personagens principais, um monte de nova-iorquinos duros que tentam ganhar dinheiro e pagar o aluguel em apartamentos péssimos no sul de Manhattan.

Pelo menos não sou HIV positiva, como a maior parte dos personagens. Infelizmente, consigo me identificar com as mazelas deles em quase todos os outros aspectos, apesar de não estar propensa a explosões musicais cheias de raiva quando as coisas não dão muito certo.

Depois do espetáculo, Will me levou para jantar em um cabaré onde alguns amigos dele se apresentam. Nenhum conhecido dele compareceu ao microfone naquela noite, mas não fez mal. Só estávamos meio escutando a música. Passamos quase o tempo todo conversando.

Não tenho muita certeza sobre o que falamos, mas demos muita risada e bebemos muito vinho.

Então voltamos para a casa dele, onde nossa transa foi ótima pela primeira vez em meses. Talvez tenha sido todo o vinho que tomamos, ou talvez o fato de saber que não vamos ficar juntos durante várias semanas.

Hoje de manhã, quando acordamos, saímos para comer bagels e depois passamos o dia todo passeando pelo Soho, onde Will comprou um par de brincos legais para mim e eu comprei para ele um porta-retrato de madeira entalhada. De brincadeira, disse que ele podia colocar uma foto minha e levar consigo no trem, mas, quando chegamos em casa, foi exatamente o que ele fez. Encontrou uma foto que não estava muito horrível (uma aprovada por mim) e colocou o porta-retratos na bolsa de mão.

Agora, sentados aqui bebendo pinot grigio depois de ter pedido comida chinesa, eu me vejo imaginando por que estava tão preocupada com o fato de ele viajar. Ele de fato parece estar preferindo não viajar, e disse mais de uma vez que vai ficar com saudade de mim.

- Então, o tempo provavelmente vai voar - digo, esperançosa, recostando-me na cama dele. Estamos sentados no chão, as caixinhas de comida de papelão plastificado branco ainda espalhadas ao redor. Um CD de jazz toca ao fundo.

- São três meses - diz ele, e não dá para saber se ele está concordando com o que eu disse ou discordando.

- Pense sobre como três meses não são muito tempo na verdade - digo. - Quero dizer, há três meses, eu ainda estava fazendo serviços temporários. Agora, estou trabalhando na Blaire Barnett... Espere, acho que isso não serve para comprovar o que quero dizer, porque parece que eu sempre trabalhei lá.

Will sorri.

- Certo, e que tal isto ? Há três meses eu peguei aquela infecção estomacal terrível e você levou água com gás e bolacha de água e sal para mim. Não parece que faz tanto tempo assim, parece?

Na verdade, parece que foi há séculos. E eu nunca devia ter ido dar uma de voluntária benevolente, igual a Clara Barton, da época da guerra civil, porque comecei a passar mal e vomitei no metrô (experiência que não recomendo mesmo, porque ninguém me ajudou e um grupo de adolescentes até riu da minha cara).

- Tenho uma melhor - digo, afastando a lembrança desagradável. - Faz uns três meses que fez um dia de muito calor e nós dois não precisamos trabalhar e fomos ao zoológico do Central Park de impulso. Lembra?

- Faz três meses? - pergunta ele, acomodando-se de modo a encostar o ombro no meu e esticar as pernas ao lado das minhas. - Achei que tinha sido em maio.

- Não, foi em março. Lembra? - Passo uma perna por cima das pernas dele, confiante porque não tem pêlo crescendo. Raspei hoje de manhã, agora que estamos de novo na época de usar shorts. Estou usando uma calça jeans preta cortada, com pernas compridas o suficiente para esconder todas as partes molengas e cobertas de celulite das minhas coxas. Minha pele é de um branco puro, e dá para ver pontinhos nas minhas canelas, onde estão os folículos, apesar de eu estar completamente raspada. Tem também algumas marcas roxas e azuladas. Uma graça.

Espero que quando Will retorne, além de ter perdido entre 15 e 20 quilos, eu esteja bronzeada (não me pergunte como). Talvez eu possa tomar sol na laje do meu prédio ou algo assim. Talvez eu até depile as pernas para que fiquem com aparência mais suave.