Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Mas não está tudo bem. Ele não vai me deixar com uma chave, e isso é um saco. Estou com vontade de chorar.

Preciso de alguma distração, algo para mostrar a ele que está tudo bem. Dou uma olhada ao redor e avisto o bloco de papel e a caneta que ele deixa ao lado do telefone.

Vou até lá, pego o papel e a caneta e digo:

- Antes que eu esqueça, será que pode me dar o telefone da casa do elenco? Só para o caso de eu não conseguir falar com você no celular. Vou anotar o número no meu palmtop quando chegar em casa, porque me esqueci de trazer...

Reparo que uma sombra cruza o rosto dele e ele fica trocando o peso do corpo de uma perna para outra.

Não é bom sinal.

- Annie, o negócio é que...

Não dá para acreditar.

- O que é ? Também não é permitido falar no telefone lá?

- Não tem telefone. Quero dizer, tem um telefone público para fazer ligações...

- E ele não aceita chamadas?

- Talvez aceite. Não sei. Vou descobrir quando chegar lá, mas não tenho o número agora. O negócio é que vai ter mais duas dúzias de pessoas morando lá, com um telefone, e nós vamos passar o tempo todo ensaiando ou nos apresentando... então, acho que o que eu estou tentando dizer é que o telefone não vai ser a melhor maneira de a gente se comunicar.

- E o seu celular?

- Não sei. Quero dizer, você pode tentar, mas não sei se vai dar para deixar ligado muito tempo. Não vou querer que toque no meio do ensaio...

Certo, estou ficando puta da vida. Não tenho como evitar.

- Acho que e-mail também está descartado.

- Se eu tivesse um laptop, tudo bem... mas não tenho.

- Então, vamos escrever cartas e mandar pelo correio, como antigamente? - É a única coisa que consigo dizer para fingir que não estou nem aí e mascarar o sarcasmo que quer se infiltrar no meu tom. - Que maravilha. Vamos poder ser correspondentes, igual a Yvonne e Thor. Vai ser muito romântico.

- Quem?

- Tanto faz - digo, e me dirijo para o banheiro. - Você se importa se eu for primeiro?

- Não, tudo bem. Quero dar mais uma checada na mala para ter certeza de que não estou esquecendo nada. Vou estar apressado de manhã.

Certo. Apressado para ir embora daqui, para longe de mim...

Talvez não seja justo.

Eu sei que ele não está saindo de Nova York para fugir de mim. Mas, neste momento, que diferença faz?

Eu mal fecho a porta do banheiro e as lágrimas começam a escorrer. Ligo a água e dou descarga algumas vezes para abafar os enormes soluços que não consigo mais segurar.

Quando saio, ele está fechando o zíper da mala e parece mais animado.

- Está tudo pronto - informa.

Fico com o rosto virado para ele não ver que meus olhos estão inchados.

- Que bom. - Já volto.

Enquanto ele está no banheiro, apago as luzes e entro na cama.

Gostaria de dizer que, quando ele sai do banheiro, ele me toma nos braços e faz amor comigo de modo carinhoso... e que assim tudo fica bem entre nós.

Mas as coisas não acontecem assim.

Nós transamos, mas quem toma a iniciativa sou eu... quase por desespero, necessitando de uma prova de que tudo está bem.

Ele entra na minha. Mas é estranho, mecânico e... não sei. Talvez frio seja uma palavra forte demais.

Talvez não seja.

Só sei que Will cai no sono imediatamente depois que terminamos, encolhido do lado dele da cama.

E eu fico lá deitada, acordada, ouvindo a respiração ritmada dele e o zumbido do ar-condicionado e os ruídos abafados da rua lá embaixo.