Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Sair para a calçada é como entrar em uma secadora de roupas que acabou de parar de girar. Uma parede de calor me acerta de cara.

Não tem sol, apenas um céu nublado cinzento além dos prédios altíssimos. Mas o calor já está opressivo, e ainda nem são nove horas.

Ainda nem estamos em julho.

Ainda faltam semanas para julho chegar.

E, depois de todo o mês de julho, vou ter de passar por agosto inteiro, antes que Will volte para casa e minha vida retorne ao normal.

Acendo um cigarro e trago fundo.

Por alguma razão, apesar do intestino desarranjado e da cabeça que pulsa, isso faz com que eu me sinta melhor.

Ser jogada de um lado para o outro no metrô da linha N em direção ao sul da cidade não tem o mesmo efeito.

Quando saio na Broadway, no East Village, dou uma olhada no relógio e percebo que Will já está no trem dele há muito tempo. Neste momento, já deve estar à uma hora ou mais de distância de Nova York.

Imagino-o sentado lá, olhando através da janela para a paisagem que passa, e pergunto a mim mesma se está pensando em mim.

De algum modo, sinto que não.

Não, sem dúvida está pensando no que vem pela frente.

E eu devia fazer o mesmo.

Com isso, lembro-me de que este deveria ser o primeiro dia do meu caminho na direção de uma nova eu: uma nova eu mais magra.

Ovos mexidos com manteiga: que maneira de começar uma dieta.

Mas, bom...

Não é isso que se deve comer naquelas dietas de alta quantidade de proteínas?

É o que eu vou fazer, resolvo, apressando o passo quando avisto o supermercado Food Emporium na esquina seguinte. Vou fazer um estoque de proteína e começar uma dieta de baixo consumo de carboidratos.

Ao entrar no estabelecimento, pego uma cestinha.

Eis o que compro:

Salsichas.

Ovos.

Bacon.

Carne-seca com sabor teriaki e caipira.

Queijos muenster e monterrey jack, apesar de a única diferença entre os dois, até onde eu sei, é o negócio cor de laranja. Aliás, o que é aquele negócio cor de laranja?

Na minha busca frenética por proteína, quase pego um pacote de frango à milanesa congelado, até perceber que a farinha de rosca o torna proibitivo. Droga.

Bom, nenhuma dieta é perfeita.

Pago a comida com meu cartão Visa porque só tenho 15 dólares que precisam durar mais três dias, até eu receber.

Meu apartamento, quando chego, está abafado e adquiriu um cheiro desconhecido durante minha ausência. Na verdade, é conhecido na medida em que era o cheiro que tinha na primeira vez que entrei nele. Uma mistura de Ajax, xixi de gato e um leve odor de curry. Agora também se juntou à mistura o cheiro de fumaça velha de cigarro.

Eca.

Sentindo a necessidade de ar fresco, abro a única janela, que dá para a rua. Agora consigo respirar, mas meus ouvidos são atacados pelo som de uma adolescente brigando com o namorado quatro andares abaixo. Ela não pára de gritar uma acusação atrás da outra, interrompida pelas reclamações ininteligíveis dele, na maior parte entremeada por Tá ligado. Às vezes o Tá ligado é repetido, como em "Tá ligado, tá ligado, eu nunca disse isso!" e "Tá ligado, tá ligado, sai fora, cara".

Imagino que é ela que ele está chamando de cara, mas, àquela altura, olho para baixo para me assegurar de que não há outros envolvidos. Tudo de que preciso agora é uma briga embaixo da minha janela.

Finalmente, o silêncio se instala lá embaixo. Bom, não silêncio exatamente. A confusão habitual da cidade continua lá, mas a discussão parece ter chegado ao fim.

Olho para baixo e vejo o casal feliz se abraçando, mais ou menos como se estivessem transando nos degraus de entrada da casa de alguém. Que amor. E agora?