Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Mary Beth atende no segundo toque.

- Você está viva! - diz ela.

- Como sabia que era eu?

- Identificador de chamadas. Acabei de instalar. Assim eu sei quando Vinnie liga e não atendo.

- Que bom para você. - Fico surpresa. Achei que ela ainda tivesse esperança de voltar com o ex-marido, pulando toda vez que o telefone toca, torcendo para ser ele ligando para se reconciliar.

- Meu terapeuta me obrigou a fazer isso. Ele diz que eu preciso parar de falar com o Vinnie, a não ser que seja por causa das crianças, porque isso só me deixa magoada e eu fico achando que existe esperança, mas não existe.

- O quê? O Vinnie anda ligando para dizer para você que existe esperança? - Isso sim é uma reviravolta.

- Ele anda ligando sim - responde Mary Beth com pesar. - Mas fica falando das mulheres com quem anda saindo e sobre as coisas que está comprando para a casa nova, e eu fico puta da vida porque ele está sendo o maior mão-de-vaca no acordo de divórcio. Acho que ele está tentando se vingar de mim, esfregando tudo na minha cara. E o George disse...

- Quem é George?

- Meu terapeuta. Ele disse que eu preciso parar de ouvir o que ele diz e parar de falar com ele...

- O Vinnie?

- Quem mais?

- Sei lá... o George?

- Não - responde ela, desanimada. - O George diz que eu preciso parar de falar com o Vinnie senão eu fico achando que há esperança.

Como ela consegue tirar esperança para o relacionamento dela nessa situação é algo que fica além da minha compreensão. Mas o negócio com Mary Beth é que ela provavelmente vai ser apaixonada por Vinnie para sempre, e contente com qualquer ligação que reste entre eles. Foi assim desde o momento em que começaram a ficar juntos, no fim do ensino básico.

- Ei, Mary Beth, você ainda está inscrita naquela academia? - pergunto, andando inquieta de um lado para o outro no apartamento minúsculo. Encho um copo d`água na pia e percebo que estou basicamente desidratada por causa de tanto vinho e molho de soja ontem à noite e café hoje de manhã.

- É, ainda estou inscrita, sim. Mas não tenho tido muito tempo para ir lá ultimamente. Por quê?

- Você perdeu peso? - Tomo um gole de água. Ugh, está quente. Abro a torneira de novo para deixar a água correr e esfriar, então jogo o resto do copo no vaso da folhagem, tentando lembrar quando foi a última vez que a molhei.

- Perdi um pouco de peso - diz Mary Beth. - Mas músculo pesa mais que gordura, sabe como é.

O que é uma desculpa descarada que ela está dando por não ter emagrecido nada.

E quem pode saber? Vai ver que estamos as duas fadadas ao sobrepeso devido à nossa herança genética.

Não.

Não posso aceitar que vou ser assim para sempre, resolvo, enchendo o copo mais uma vez na pia e indo até o outro lado do apartamento com ele na mão.

Paro na frente da porta do banheiro, que tem um espelho.

Eca!

Meu reflexo de corpo inteiro é detestável. Estou usando o mesmo short jeans preto de ontem, com uma camiseta branca meio esgarçada que vai até um pouco abaixo dos meus quadris. Apesar de o short cobrir a maior parte da zona flácida e cheia dos furinhos da celulite, o tecido não consegue esconder o fato de que são gordas e pelancudas.

Imagino o corpo magro de dançarina de Nerissa.

Sinto entusiasmo renovado pelo meu plano de dieta.

Vou fazer exercício também, todos os dias.

E vou beber oito copos d`água.

Dou um gole no copo que seguro. Certo, já é um bom começo.