Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

- Então, quais são as novidades? - pergunta minha irmã.

Fico tentada a contar meu plano de auto-aprimoramento, mas antes que consiga decidir se devo ou não tocar no assunto, ela diz, como se tivesse acabado de se lembrar:

- Ah, o Will vai viajar por estes dias, não vai?

- Foi hoje de manhã.

- Você deve estar arrasada.

Esse é o problema da minha irmã. Ela é igualzinha à minha mãe (quero dizer, pessimista). Preciso me policiar o tempo todo para não agir assim também.

Sabe como é, com a minha mãe e Mary Beth, o copo está sempre meio vazio.

Não que haja qualquer coisa que faça pensar que este copo específico esteja meio cheio: quero dizer, o Will está me abandonando.

Mas há vários exemplos em que minha irmã reagiu negativamente a alguma coisa que aconteceu na minha vida em vez de tentar me incentivar.

Tipo quando eu achei este apartamento e contei para Mary Beth, a reação dela não foi achar legal que eu tivesse encontrado um lugar que pudesse pagar para morar, mas sim que eu tinha concordado em pagar uma quantia de dinheiro ridícula por um lugar que nem tem quarto separado.

Seria de se pensar que eu já estivesse acostumada a esta altura, mas ela está me dando nos nervos.

- Sabe do que mais? Preciso ir agora. Vou encontrar uns amigos para almoçar.

- Que amigos?

- Kate e Raphael.-Como se fizesse alguma diferença. Ela não conhece nenhum dos meus amigos de Nova York.

- O Raphael... ele não é homossexual?

Eu mal consigo me segurar para não cair na gargalhada, não só por causa da palavra que ela usou, mas também pela maneira cheia de dedos, bem típica de Brookside, com que ela fala, e como dá ênfase às duas últimas sílabas.

Seria mais fácil dizer simplesmente gay.

- É isso aí - digo a Mary Beth.- É esse mesmo.

Dá para perceber que ela está se esforçando para manter a mente aberta.

-Bom, divirta-se, Anahí. Ah, e acho que você devia pensar em vir fazer uma visita no mês que vem, no aniversário de casamento de mamãe e papai. Estamos pensando em dar uma festa para eles. Vão fazer 35 anos de casados.

-Não sei... Vai ser difícil conseguir alguma folga do trabalho. - Eu ainda não tenho direito a nenhum dia de férias, e não vou receber nenhum até completar seis meses no emprego, mas a Latisha disse que às vezes é possível conseguir um dia de folga, depende só do chefe.

Espero que Jake me deixe ter um fim de semana prolongado em breve, e pretendo usar a ocasião para visitar Will, não para ir a Brookside.

- Veja o que você consegue, Anahí. Mesmo que venha só passar o fim de semana. Desde a Páscoa você não aparece por aqui. Os meninos estão com saudade...

- Vou tentar - digo, ao ser pega de surpresa por uma onda de saudade de casa. É porque ela mencionou os meninos, meus sobrinhos. O filho dela, Vince (Vincent Carmine Rizzo Júnior, mas graças a Deus ninguém nunca o chama assim), tem quatro anos. Nino está quase com três. Os dois têm cabelos pretos encaracolados, enormes olhos escuros brilhantes e corpinhos gorduchos, e eu os adoro. Ficam sempre pulando ao meu redor, querendo que eu os pegue no colo, me enchendo de beijos e abraços.

Se eles ficassem por perto o dia todo, eu não me sentiria tão mal com o fato de Will partir.

- Veja o que você pode fazer para vir. Nós todos estamos com saudade - diz minha irmã.

- Vou tentar - digo de novo.

Mas, desta vez, estou falando com sinceridade.

Desligamos o telefone. Tomo mais um gole de água... que continua morna... e faço uma careta.

Então ligo para Raphael.