Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Mas, quando dobro a esquina da avenida B para a rua 14, pouco mais de uma hora depois, percebo que estou com fome de novo. Certo, por que isso acontece? Achei que comer muita proteína deveria fazer com que você se sentisse satisfeita durante mais tempo, mas parece que não é o caso.

Talvez a dieta de proteínas não seja uma idéia tão boa assim.

Kate já está no restaurantezinho quando eu chego. Está parada bem perto da porta, lendo as críticas gastronômicas penduradas na parede.

Está usando um vestido de linho amarelo sem mangas e sapatos baixos combinando, e seu cabelo está preso com uma piranha. Está com a aparência de quem devia estar em um almoço ao ar livre no jardim de alguma casa bonita em Connecticut, e não neste buraco com iluminação fraca que apresenta a decoração excêntrica típica do East Village.

As paredes são pintadas de vermelho forte, o chão é zebrado de preto e branco com manchas roxas ocasionais. Dezenas de mobiles estão pendurados no teto, feitos de talheres retorcidos pendendo de barbantes amarelos amarrados em cabides comuns de arame. Eles giram vagarosamente com a brisa quente que sai dos ventiladores de teto baixos.

Um balcão acompanha todo o comprimento do lugar, e o resto do salão é ocupado por mesinhas plásticas com aparência robusta e cadeiras pintadas em cores psicodélicas.

O clone de Rob Lowe atrás do balcão faz um sinal para que sentemos em qualquer lugar.

Escolhemos a mesa mais próxima da porta aberta, O lugar não tem ar-condicionado e os ventiladores de teto não refrescam nem um pouco.

Duas outras mesas estão ocupadas; fora isso, o lugar está vazio.

- Então... tudo bem com você? - pergunta Kate com seu sotaque carregado do Sul no momento em que nos sentamos. O rosto dela, com maquiagem aplicada com perfeição, está preocupado.

- Por quê? Não pareço bem? - Você parece meio... triste.

Será que é assim tão óbvio? Achei que estava parecendo despreocupada e contente. Pelo menos, essa era minha intenção.

- Bom, é claro que estou triste. - Estico o braço e pego um cardápio da pilha de cartões plastificados entre o saleiro e o pimenteiro. - Só faz algumas horas que Will foi viajar. Mas vou me acostumar.

- Talvez seja bom para você ficar longe dele. Assim vai ter a oportunidade de... de...

Espero com muita paciência que ela diga algo, mas sei que ela quer que eu a ajude.

- Assim vai ter a oportunidade de descobrir quem é sem ele - diz ela finalmente.- Vai poder explorar o que existe no fundo do seu ser.

- Obrigada, Oprah.

- Estou tentando demonstrar meu apoio. Sabe como é, enxergar a luz no fim do túnel.

- Pelo menos foi melhor que a reação da minha irmã quando falei com ela agora há pouco. Ela disse que eu devia estar arrasada.

- E está? Claro que sim.

- Claro que não! - Fico olhando fixamente para o cardápio. - Arrasada é uma palavra muito forte. As pessoas ficam arrasadas quando o marido as troca por outra mulher. Ficam arrasadas quando perdem um filho. Ou o emprego. Ou até quando terminam um namoro. Will e eu não estamos terminando... só vamos ficar separados durante alguns meses.

Estou falando demais. Ela assente com a cabeça.

- Olhe para as mulheres de militares - digo, pegando embalo. Socorro! Preciso parar de falar.

Continuo tagarelando.

- Os maridos militares viajam durante meses a fio com regularidade. Vão para outros países e participam de missões perigosas... Quero dizer, eu estaria arrasada se Will estivesse em outro país em uma missão perigosa, mas, pelo amor de Deus, ele só está encenando peças de verão a 300 quilômetros daqui... se chegar a tanto.

Kate assente com a cabeça de novo.