Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

O cheiro pesado de fritura me atrai para um fast-food que vende frango frito e cebola à milanesa, entre outros alimentos ricos em gordura que estão na lista dos meus preferidos. Estou prestes a pedir a refeição com três pedaços e milk shake quando dou uma olhada no reflexo do meu queixo duplo na bancada cromada do balcão. - Quero... humm...

O sujeito atrás da caixa registradora demonstra aquela impaciência típica de Nova York, com uma expressão basicamente hostil no rosto enquanto espera o meu pedido. -Uma Coca Light - anuncio, triunfante. Eu vou conseguir. Vou perder peso.

Enquanto bebo minha Coca Light (sem gás e com gelo demais), saio da praça de alimentação para um pátio. Tem gente por todo lado, lambendo sorvetes e mastigando batatas fritas com cara de quem não está nem aí.

Depois de acabar o refrigerante em alguns goles sedentos e jogar o copo em uma lixeira transbordante, caminho até a amurada para olhar o rio.

A superfície da água está salpicada de barcos, e, se ignorarmos a sombra da ponte do Brooklyn e a paisagem urbana apinhada por trás, quase dá para esquecer que estamos no coração desta cidade enorme. Que diabos estou fazendo aqui? Will foi embora, tenho um trabalho sem perspectiva alguma e um apartamento péssimo. Será que era esse tipo de vida que eu queria quando me mudei para Nova York? Minha vida poderia ser melhor que isso em qualquer lugar.

Inclusive em Brookside.

Brookside, onde minha família observa cada movimento que faço, imaginando quando vou me acalmar e me casar.

Onde não existem empregos interessantes nem pessoas criativas, onde conheço todo mundo e já fiz tudo que existe para fazer pelo menos alguns milhares de vezes, e onde já vi tudo que existe para ver...

Não.

Talvez eu não esteja convencida, neste momento específico, de que quero ficar aqui, mas com toda a certeza não quero voltar para lá.

Então.

Até eu descobrir o que quero fazer da minha vida, vai ser assim.

Minha vida é aqui, em Nova York, e é melhor eu começar a aproveitá-la ao máximo.

Afasto-me da amurada e vou em direção à escada rolante com determinação renovada, apesar de minha boca salivar quando passo na frente de um lugar que vende pizza e exala um cheiro forte de lingüiça e orégano.

Caminho com passos firmes em direção no norte, minha testa pingando de suor devido ao calor úmido.

Quando passo por um banco vazio na Thompkins Square Park e minhas pernas doloridas imploram para que eu descanse um pouco, uma bomba me atinge.

Ei, isso é fazer exercício!

Olhe para mim...

Estou fazendo ginástica por acaso.

Fico maravilhada com o fato de que essa caminhadinha que dei vale como exercício, e foi interessante e de graça (tirando a Coca Light).

Permito-me olhar algumas vitrines para descansar. Uma loja de móveis cavernosa exibe faixas enormes de Grande Inauguração. Examino as vitrines, admirando em particular uma enorme cama de carvalho. É aquele tipo de cama em que seria possível passar o dia inteiro, que pede pilhas de travesseiros e um edredom bem fofo de pena de ganso.