Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Bom, mas enquanto Will e eu conversávamos sobre outras coisas, percebi que eu estava criando uma imagem mental da divertidíssima Esme, sem dúvida uma morena confiante e graciosa, com senso de humor afiado e queda por pegadinhas. Queria saber mais a respeito dela, mas ele só a mencionara superficialmente, e só porque eu tinha perguntado. Eu não quis parecer um clichê: a namorada ciumenta, enxerida, a distância.

E, no entanto, eu me transformara exatamente nisso.

Will contou que o elenco do primeiro espetáculo tinha sido escolhido. Era West Side Story, e ele faria o papel de Shark.

Dava para ver que ele ficou decepcionado por não ter sido escolhido como protagonista, apesar de ter se apressado em dizer:

- Mas minha voz não é boa mesmo para interpretar o Tony.

- É boa sim! - protestei, cheia de lealdade.

Ele pareceu irritado comigo quando observou que a cada duas semanas fariam um novo espetáculo, e que a gerência do teatro tinha prometido que todo mundo receberia um papel de protagonista mais cedo ou mais tarde.

- Bom, quando você for o protagonista, estarei na primeira fila, Will.

De algum modo, devido ao silêncio dele, também percebi que essa não tinha sido a coisa certa a dizer.

Ele pareceu desatento, e não conversamos muito (ele disse que outras pessoas queriam usar o telefone e que tentaria me ligar de novo depois do fim de semana). A estréia é sábado à noite (hoje), e, depois, vai ter uma festa para o elenco. No domingo, tem matinê e outra apresentação à noite. Na segunda, o teatro fecha, igual à Broadway, e acredito que é quando ele vai me ligar.

Então, aqui estou, em uma manhã ensolarada de sábado, viajando em um ônibus cheio de frescura com outros moradores de Manhattan com a pele sem ver sol há muito tempo em direção à praia. Há vários tipos de Wall Street bem bonitos a bordo, e hordas de garotas do Upper East Side com vestidos de linho, e grupos de gays com sacolas de compras penduradas nos braços: garrafas de vinho francês, manjericão fresco e queijo de cabra.

Comi um grapefruit de café da manhã antes de sair de casa, mas já estou faminta. Um chiclete sem açúcar não ajuda em nada. Um cigarro ajudaria, mas não posso fumar no ônibus, então vou ter de me contentar com um Trident até chegarmos ao nosso destino.

Trouxe comigo As vinhas da ira, O grande Gatsby e a última edição da revista She, uma cortesia de Raphael. Eu costumava assinar a revista, mas, agora que Raphael trabalha lá, ele me dá todas as edições de graça, então não renovei a assinatura.

Sem me dar conta, opto pela She e por uma entrevista com Kate Hudson em vez dos problemas da família Joad. Vou guardar a jornada deles em direção ao Oeste para quando eu fizer o mesmo, ao voltar para Manhattan amanhã à noite.