Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Como eu conheço Kate, acho que estava esperando mais desta casa nos Hamptons... Acho que eu queria ver porcelana, cristal e castiçais.

Olho para a enorme combinação de cozinha e sala em que estamos e fico estupefata com a falta de elegância.

Os móveis são apenas funcionais, tudo bege e retangular, como a casa em si. O lugar parece vazio, mas há evidências de seus habitantes.

Garrafas de Snapple e exemplares do The New York Times de hoje atulham a mesinha de centro.

Um bule de café cheiroso, cheio até a metade, está em cima do balcão da cozinha.

Vários pares de sapatos estão espalhados em um tapetinho ao lado da porta.

Um som está ligado ao fundo... tocando hip-hop (não é meu tipo de música preferido).

Do outro lado da sala, há portas de vidro de correr que conduzem a um deque de madeira amplo. Além dele há dunas e, presumivelmente, a praia.

- Então, o que você acha? - pergunta Kate, cheia de expectativa.

- E legal.

- Não a casa - diz ela, como se eu já devesse saber. - O Billy.

-Ah, o Billy. Ele é legal.

A expressão desapontada e cheia de expectativa dela diz: Só isso? Então eu tento arrumar outro adjetivo que não seja arrogante.

- Ele é bonitinho também. - Realmente, sou uma pessoa muito articulada. - Muito bonitinho.

- E, ele é bonitinho - concorda Kate prontamente.

- Qual é a história entre você e ele?

- Como é que você sabe que tem alguma coisa entre a gente?

- Porque eu sou vidente, por que mais? Ela dá uma risadinha cínica.

- Então, o que está rolando entre vocês, Kate?

- A gente saiu junto ontem à noite. Todos nós fomos a um clube e... bom, você sabe. Não que tenhamos tido alguma privacidade quando voltamos para cá. Tem três pessoas em cada quarto, e somos 12... 13, incluindo você.

Então, sabe como é, as coisas não... avançaram de verdade - diz ela, toda recatada.

- Isso quer dizer que vocês não transaram?

- Claro que não! Acabamos de nos conhecer,  Anahí. - O sotaque sulista dela está mais evidente que o normal, e isso acontece sempre que ela faz tudo o que pode para mostrar que está ofendida e que é uma dama.

Acontece que eu sei que ela foi para a cama com o último caso dela (um sangue azul de Boston que estava de visita a Nova York a caminho da faculdade na Costa Oeste) na noite em que os dois se conheceram em alguma happy hour de um bar de vinho nos arredores da rua 40 Leste.

Mas, ei, se ela está a fim de defender sua virtude, quem sou eu para contrariar?

- Você gostou daqui? - pergunto a ela, quando me conduz escada acima e até o fundo do corredor, até o quarto que vamos dividir com outras duas mulheres. Vou arrastando minha mala degrau a degrau. Tump, tump, tump. Pesa uma tonelada.

- Estou adorando. É maravilhoso - responde Kate, e pára para me espiar por cima do ombro. - O que você trouxe aí? Tijolos?

- Só alguns shorts e um maio - digo, toda inocente. Na verdade, também trouxe várias roupas possíveis para

hoje à noite, porque não sei o que as pessoas vestem para ir a clubes nos Hamptons, e espero que não seja pouca roupa. Eu não uso peças mínimas.

Além do mais (só para o caso de eu terminar As vinhas da ira), tem a edição em capa dura de O grande Gatsby. É, o livro se ambienta no litoral norte e não nos Hamptons, mas me pareceu uma escolha literária lógica para um fim de semana em Long Island.

Maquiagem, protetor solar, xampu, condicionador e um secador de cabelo.

Tênis, sandálias e dois pares de sapatos baixos pretos, um chique, outro, não.

Ah, e seis latas de Iced Tea Snapple de groselha diet, para o caso de não haver nada assim à mão e eu me sentir tentada a me esbaldar com algo mais calórico.