Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

- O banheiro fica aqui - diz Kate, fazendo um sinal com a cabeça na direção de uma porta. - Por que você não se troca e a gente vai para a praia?

O momento da verdade.

Eu sabia que estava chegando, mas, agora que chegou, sou pega tão de surpresa como se ela estivesse me dizendo que eu ia ter de dirigir o carro da fuga enquanto ela assalta um banco.

Mas o sol está brilhando e o mar fica a metros de distância, e a única coisa que posso dizer é:

- Claro, eu já volto.

Afinal de contas, perdi mais de dois quilos. Talvez não seja assim tão mau... eu de maio, quero dizer.

Kate vai se colocar na frente do espelho atrás da porta do armário, solta o rabo-de-cavalo e começa a escovar o cabelo.

Começo a arrastar minha mala cheia de pedras para o banheiro.

- Por que você simplesmente não pega seu maio aqui? - pergunta Kate, com a boca meio fechada por causa das fivelas que segura entre os dentes.

-Ah, eu preciso procurar... está no fundo. Além do mais, preciso achar minha saída de praia.

Saída de praia.

Uma canga tie-dye já bastaria, mas, infelizmente, eu trouxe tudo, menos isso.

A coisa mais próxima que consigo encontrar é uma camiseta largona em verde-cáqui desbotado que parecia bonita quando eu comprei na Eddie Bauer no verão passado, mas, agora (pelo menos à luz amarelada que sai da luminária de cima da pia no banheiro sem janela), faz com que eu pareça linda mais branca e sem graça do que realmente sou.

Mas pelo menos serve para esconder meu maiô, um negócio preto pavoroso desenhado para "silhuetas cheias", com uma faixa roxa na barriga, supostamente uma ilusão de ótica para afinar a cintura. As pernas cavadas supostamente têm efeito parecido sobre as minhas coxas. Como isso pode acontecer eu não faço a mínima idéia, já que a lógica do bom senso dita que, se você quer esconder alguma coisa, deve mostrar menos dela, e não mais. Minhas coxas estão totalmente expostas em toda sua glória de casca de laranja, molengas abaixo da barriga que parece desafiar os limites impostos por esse tecido com memória ou sei lá o que a vendedora disse há muito tempo, quando eu o comprei.

Não tem espelho de corpo inteiro no banheiro, o que não sei se considero uma bênção ou uma maldição. Não faço a menor idéia de como estou com esta coisa.

Na verdade, faço uma idéia, sim. Por isso a camiseta verde que parece uma barraca. Coloco um short para disfarçar, junto com o único par de sandálias que tenho: chinelos de dedo pretos que pareceriam mais à vontade no meio de um deserto do que nessa praia cheia de frescura.

Saio do banheiro e encontro Kate lá parada, esperando por mim em uma saidinha de praia fofa atoalhada. As pernas nuas e os pés descalços dela estão bronzeados por igual, e as unhas dos pés estão feitas com um tom de rosa que combina perfeitamente com o biquíni novo. Ela é a própria perfeição do sul da Califórnia: loira, bronzeada e bonitinha, desde o cabelo com reflexos de sol que ela prendeu para cima de maneira relaxada até a tornozeleira de ouro que ela colocou em volta de um tornozelo magro.

É a tornozeleira que me pega.

É tão distinta/sexy... fica tão bem em Kate! E Kate fica tão bem com essa roupa, neste lugar.

Meu primeiro pensamento é que eu daria tudo para ser ela.

O segundo é: Graças a Deus que Will não está aqui. Eu não ia querer que ele me visse desse jeito. E também não ia querer que ele visse Kate desse jeito. O engraçado é que Kate nem o acha bonito, e Deus sabe que ela nunca faria nada, mesmo que achasse.

Mas não há dúvida em minha mente que Will acharia Kate bonita com tão pouca roupa, pronta para ir à praia. Qualquer homem de sangue quente acharia. Ao lado dela, sou absolutamente inadequada.

O último resquício de orgulho que restou dos dois quilos que eu perdi se desfaz e é substituído por desespero total.