Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Reparo que os dentes dele são brancos e bonitos... ele tem aquele tipo de sorriso que, se fosse de um personagem de desenho animado, teria um brilho refletido nos dentes da frente. Está usando uma camisa social de mangas compridas com calça caqui e gravata amarela. As mangas estão dobradas para cima, e vejo que o antebraço dele está bronzeado.

- Está indo à lavanderia? - pergunta Alfonso, fazendo um gesto na direção da minha túnica indiana embalada em plástico.

- Na verdade, estou chegando de um almoço, hmm, de uma reunião - digo. Agora sou eu que estou com vontade de me estender. - Eu tive de falar com uma pessoa. É um cara de um bufê para quem vou trabalhar - completo, por alguma razão sentindo necessidade de dar os detalhes da minha vida para esse estranho quase completo.

Às vezes eu faço isso. Só quando estou nervosa.

E Alfonso 0`Hanlon me deixa nervosa.

Se ele não tivesse me beijado, tudo estaria bem. Quero dizer, sim, seria um pouco estranho o fato de eu ter achado que ele era gay e a gente ter ido ao cinema de uma maneira platônica quando ele achou que era um encontro. Mas o beijo deixou as coisas muito sem jeito.

E a razão para isso é que...

Eu gostei.

Fiquei totalmente feliz de ser beijada por Alfonso 0`Hanlon.

Pior ainda, vê-lo novamente me faz desejar que ele me beije de novo. Aqui. Na boca. Neste corredor estreito e lotado de gente de uma delicatessen sujinha da Terceira Avenida.

Alguém esbarra nele por trás, e ele dá um passo para mais perto de mim para deixar a pessoa passar.

Agora o rosto dele não está longe do meu, e preciso confessar: sinto uma vontade desesperada de que ele jogue os braços em volta de mim e me beije até me deixar inconsciente.

Mas ele não faz isso.

Apenas sorri e diz:

- Estão fazendo um sanduíche para mim.

- O quê? - Fico olhando estupefata para ele, tentando decifrar as palavras, perguntando a mim mesma por que parece que ele está falando outra língua, se ele fala em inglês normal. Não faz o menor sentido. Será que eu andei bebendo ?

Não. Talvez seja o fato de eu ter andado tanto no sol quente...

- Preciso ir lá pegar antes que dêem para outra pessoa - completa ele, enigmático.

- O quê? - pergunto mais uma vez.

Do que é que ele está falando? Será que sou eu ou ele está simplesmente divagando?

Ou foi ele que andou bebendo ou eu perdi alguma coisa enquanto fantasiava a respeito de beijá-lo.

- Meu sanduíche - diz ele, e aponta para o balcão do outro lado do salão.

- Ah. - Dãã. Agora eu entendi.

- Pedi um de rosbife com queijo suíço e só vim aqui pegar um refrigerante - diz ele, fazendo um gesto com a lata. - Então, acho que eu...

- Claro, vá lá - digo, praticamente empurrando-o para longe.

Porque o negócio é o seguinte: enquanto o rosto dele estiver a centímetros do meu, não dá para ficar muito tempo me segurando para não beijá-lo.

- A gente se fala - diz Alfonso, e acena para mim da fila do sanduíche ao mesmo tempo em que eu me encaminho para a fila do caixa com minha garrafa de Snapple.

Aceno em resposta, dizendo a mim mesma que não é ele. Poderia ser qualquer cara mais ou menos bonito, e eu teria reagido da mesma maneira. Nove dias de celibato me deixaram totalmente tarada e chateada. Simplesmente não tinha reparado nisso até Alfonso aparecer e eu me lembrar do beijo.