Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

E é exatamente o que digo a Kate quando a encontro depois do trabalho para um drinque. Eu preferia ir direto para casa, mas ela ligou hoje à tarde e implorou para eu tomar um copo de vinho com ela em um café ao ar livre razoavelmente perto do meu apartamento. Disse que precisa de conselhos.

Mas já estamos aqui há quase 15 minutos e, até agora, ela só quis falar de mim. E foi por isso que Alfonso veio à tona, para começo de conversa.

Como Kate me perguntou como foi meu dia, e depois de eu contar para ela sobre o trabalho futuro com Milos e a encomenda de compra de chocolate para o aniversário da mãe de Jake, não tive como deixar de fora a parte relativa a Alfonso.

Tudo bem. Talvez pudesse ter deixado.

Talvez eu estivesse com vontade de falar sobre ele.

Sobre como eu me senti relutante ao vê-lo, e como espero não cruzar mais com ele.

- Tem certeza disso? - pergunta Kate em um tom meio sacana.

- Claro que tenho certeza. Por quê?

- Você deu um beijo nele...

- Ele é que deu um beijo em mim...

- E Raphael disse que ele é o maior gostoso.

- Raphael diz que todo mundo é o maior gostoso. Alfonso não é nada de mais.

E é verdade, ele não é mesmo. Não de acordo com os padrões de Kate. Não de acordo com o padrão da maioria das pessoas. Ele simplesmente é, por acaso, um cara comum, muito legal, simpático e de classe média. Tudo nele tem aquela normalidade típica da classe média. Talvez seja isso que o torna tão atraente. Não existem muitos caras como ele em Nova York.

Mas eu saí de uma cidadezinha cheia de gente normal de classe média. Nunca quis ser uma dessas pessoas, nem sair com elas.

Não que eu queira sair com Alfonso, apresso-me em lembrar a mim mesma.

- Bom, se você não tem nenhum interesse romântico por ele, não pode ser só amiga do Alfonso? - pergunta Kate. - O cara trabalha no mesmo prédio que você. Isso é uma espécie de sinal.

Kate acredita muitíssimo em sinais. Ela afirma que resolveu terminar com o namorado da faculdade quando eles estavam caminhando no parque um dia, discutindo, e um passarinho passou voando e fez cocô no ombro dele.

- Eu tenho amigos suficientes - garanto a Kate, e dou um gole no meu merlot antes de perguntar: - Sobre o que você queria conversar comigo?

- Minha mãe me ligou ontem à noite, quando voltei da praia. Disse que meu pai sofreu um golpe da última vez que a Bolsa caiu e eles querem que eu me mude para um lugar mais barato, ou que eu arrume alguém para dividir o apartamento.

- Nossa, é mesmo? Fico surpresa.

Para começar, tinha achado que ela queria falar comigo para pedir conselhos a respeito do caso novo com Billy.

E, depois, nunca ouvi Kate falar assim tão na cara-dura que os pais dela a sustentam. Quero dizer, não é segredo, mas ela não costuma falar assim com todas as letras.

- O que vai fazer? - pergunto.

- Não sei. Eu adoro meu apartamento. E tenho dois quartos. Achei que talvez... -A voz dela definha e ela gira o copo de vinho entre as mãos.

- Talvez o quê?

- Talvez você queira vir morar comigo. Não no dia I^a de julho - acrescenta, apressada. - Seria rápido demais. Eu sei que você precisaria dar o aviso contratual para sair do seu apartamento. Mas quem sabe no dia l² de agosto...

Minha mente está rodopiando. Morar com Kate?

O apartamento dela é lindo. Tem lareira e enfeites de gesso nas paredes, e uma varandinha. E fica em um dos quarteirões mais legais do Village.

Mas, e Will?

Se eu me mudar para a casa de Kate em agosto, não vou poder conversar com Will em setembro sobre a possibilidade de morarmos juntos.

- Quanto é o aluguel? - pergunto.

- Eu não cobraria a metade. Não seria justo, porque quero ficar com meu quarto, que é maior que o outro.

Ela está fazendo rodeios, dá para ver.

- Quanto é, Kate?

- Mil e quinhentos - oferece ela. Então, não preciso tomar nenhuma decisão.

- Não tenho dinheiro - digo. Caso encerrado.

- Mil e quatrocentos? - corrige ela. - Posso tirar os 100 extras dos serviços temporários que eu faço.

- Kate, não seria justo. E, na verdade, acho que você consegue mais de 1.500 pelo quarto. O apartamento é lindo.

- Eu sei, mas queria que você morasse lá comigo.

- Não dá - respondo, apesar de a oferta ser tentadora.

- Você disse que ia fazer alguns serviços de garçonete de bufê durante o verão. Você vai ganhar uma fortuna, Anahí. O suficiente para pagar a diferença do aluguel do seu apartamento para o meu.

Talvez.

Mas o problema não é o dinheiro.

É Will.