Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

O conjugado de Will fica no vigésimo sexto andar de um arranha-céu com porteiro, recepção de mármore e três elevadores. É o mais próximo que minha mente estreita de menina do interior conseguia imaginar como a moradia típica de Nova York. Estou falando do prédio. O apartamento é uma decepção. Mas não é sempre assim?

Quando era criança, em Brookside, eu via TV o tempo todo. Principalmente sitcoms, e a ambientação da maior parte deles era em Nova York. Portanto, eu me habituei a ver o apartamento de dois quartos de Monica e Rachel com janelas enormes e saída de incêndio com cara de sacada, e o prédio de tijolinhos dos Huxtable em Brooklin Heights com um pátio de verdade e o espaçoso apartamento de um quarto de Jerry Seinfeld, completo com a vizinhança maluca.

Rá.

Você já conhece meu apartamento.

O de Will, eu descreveria como pouco mais do que um aposento quadrado mais ou menos grande, com janelas quadradas de vidro assemelhadas às de um escritório em uma ponta e, na outra, uma cozinha separada do tamanho do patamar da escada na casa dos meus pais, em estilo Queen Anne. A cama dele fica perto das janelas; o futon e a cômoda de Nerissa, atrás do já mencionando biombo, perto da cozinha. Entre os dois há um sofá de couro preto meio cafona que Will comprou do ocupante anterior, porque a noiva não deixou que ele levasse aquilo para o apartamento novo. O equipamento de ginástica de Will e sua estante abarrotada de CDs, roteiros, revistas Playbill e alguns livros, a maior parte clássicos em brochura que ele não conseguiu revender na livraria da faculdade depois de dois semestres de literatura norte-americana.

Por ter autorizado minha entrada pelo interfone, seria de se esperar que Will estivesse me aguardando com a porta aberta, ou pelo menos que estivesse perto dela. Mas precisei bater duas vezes e, quando ele finalmente vem abrir, está todo amassado e bocejante: é óbvio que acabou de sair da cama.

Mas ele está fabuloso, mesmo assim. Pelo menos, aos meus olhos. Kate certa vez anunciou, depois de dois bourbons caubói no Royalton, que ela acha que Will tem um certo arzinho gay, e que ela não se sente nem um pouquinho atraída por ele. Isso me incomodou profundamente, por motivos que não sou capaz de compreender. Desde então, há momentos em que olho para Will e me vejo à procura de sinais de homossexualidade latente, meio esperando que ele desmunheque, dê saltinhos ou lance um olhar de luxúria para James, seu porteiro bem fornido e bonito demais para ser hetero. Até hoje ele nunca fez isso, e não sei o que ele tem para Kate considerá-lo afeminado. Ela nem sabe sobre as plantas que ele tinha na faculdade e que, aliás, continuam muito viçosas, tantos anos depois, no peitoril da janela dele.

Talvez seja a coisa do teatro musical: tantos atores são gays mesmo, e ela não consegue se livrar desse preconceito por ser do Sul, do interior. Ou será que sou só eu que atribuo todas as dificuldades psicológicas dela a esse fato?

De todo modo, até onde eu sei, Will é a masculinidade personificada. Pense em uma mistura de Noel de Felicity com Ben de Felicity, e Will é mais ou menos o resultado. Ele tem 1,86 m de altura, rosto barbeado, maxilar definido e covinha no queixo. O cabelo dele é castanho-escuro e farto, que já ficou incrivelmente bom com costeletas, descabelado abaixo das orelhas ou bem curtinho, como está agora. Os olhos não exatamente azuis, não exatamente cinzentos dele são do meu tom preferido de suéter no catálogo da J. Crew, descrito como Fume. Ele faz ginástica o tempo todo, e isso significa que é esbelto e musculoso. Com freqüência, usa camisas pretas de gola alta, e sempre passa colônia.

No lugar onde eu me criei, colônia, assim como jóias, é algo usado apenas por homens italianos (incluindo meu pai e meus irmãos) ou Jason Miller, o cabeleireiro local de orientação sexual ambígua. Certo, ambígua só para minha mãe, que já especulou mais de uma vez como é estranho um homem tão gentil e bonito não ter se casado até hoje. Minha mãe também acha, sem questionamento, que Lee Harvey Oswald agiu sozinho, que O. J. Simpson está atrás dos verdadeiros assassinos da mulher e que durante toda a minha vida adulta tenho ido à missa de domingo e à confissão de sábado.

De todo modo, talvez tenha sido a coisa da colônia que abriu espaço para o comentário de Kate a respeito de Will ser gay.