Fanfic: Antes Mal Acompanhada Que Solteira

Agora estamos em Brookside, pegamos a saída e pagamos o pedágio. Reparo que tudo parece exatamente igual quando percorremos a rua principal com as lanchonetes de sempre e o famoso Aplebee`s. Já saímos do centro comercial minúsculo antes que seja possível dizer K-mart, e agora estamos indo em direção à casa de minha irmã. Vou passar a noite lá para que meus pais tenham uma surpresa amanhã, quando eu aparecer na festa deles.

- Queria que você ficasse comigo e Joey - diz Sara. Ela e o meu irmão moram em cima da garagem dos pais dela, onde estão há três anos, desde que se casaram.

Ela promete:

- Quando mudarmos para nossa casa nova, você vai poder ficar no quarto de hóspedes sempre que quiser, Anahí.

- Seria ótimo - digo, tentando imaginar como seria estar casada e feliz em uma casa com um quarto de hóspedes de verdade. Imagino se algum dia vou saber o que é isso. - Quando é que vocês vão se mudar?

- Fechamos o negócio em agosto, mas vai precisar de muita reforma.

- No Natal deve estar habitável - diz Joey.

- Ah, Joey, fala sério.- Ela dá um tapinha no braço dele.

- O que é? Estou falando sério, Sara.

- Não vamos esperar até o Natal para ir para nossa própria casa.

Não escuto muito enquanto eles discutem.

Fico olhando a paisagem pela janela enquanto atravessamos as ruas silenciosas e bem iluminadas da minha cidade natal. Passamos pela biblioteca de pedra cinzenta, pela escola de tijolinhos vermelhos e pelo trecho de calçada esburacado onde uma vez eu caí da bicicleta e precisei levar pontos no joelho. Fico imaginando se consertaram o concreto ali. Na última vez em que caminhei por aquele quarteirão, quando vim passar o último Dia de Ação de Graças na casa dos meus pais, ainda estava todo esburacado. Tem tanta neve aqui no inverno que a calçada nem é usada de outubro a março.

Brookside não é o tipo de cidade em que a Prefeitura se importa muito com reparos. E uma cidade de operários que já viu fábricas demais fechando as portas. Meu pai e Danny trabalham em uma das poucas fábricas que sobraram, e sempre existe algum boato de que ela também vai ser engolida por alguma grande corporação que vai resolver transferir as operações para o México ou para a Ásia. Minha mãe é famosa por afirmar que, se meu pai ficar sem emprego, ela pode alimentar a família inteira durante oito semanas com as coisas que guarda na despensa e com os produtos de seu pomar no quintal, dependendo da data da ocorrência.

Penso em algumas das festas que Milos tinha organizado nas últimas semanas: festas nas residências mais elegantes que eu já vi, com comida que custa mais do que minha mãe gasta o ano todo no Tops Market em Brookside.

Até pouco tempo, eu nunca tinha experimentado champanhe Don Perignon e caviar Beluga. Agora que dei um golinho e uma provadinha, não posso dizer que compreendo por que se faz tanto comentário sobre essas coisas.

Principalmente agora, de volta a Brookside, onde minha família inteira ainda vive de macarrão, pão branco e refrigerante. Imagino o que meus pais poderiam fazer com o dinheiro que os clientes de Milos gastam apenas em flores em um único evento.

Mas o engraçado é que algumas das coisas que minha mãe costumava fazer de olhos fechados hoje são consideradas haute-cuisine, comida italiana gourmet. Folhas de dente-de-leão refogadas, brócolis com alho, até pasta fagiolo. Comida de camponês, era como ela chamava.